30 abril, 2010

Aronofsky













Comecei a conhecer a obra de Darren Aronofsky (apesar do apelido é nova-iorquino de gema), a partir do seu primeiro filme - "Pi" (1998) - ter ganho o Prémio de Melhor Realizador do Festival de Cinema de Sundance. "Pi", filmado numa inquietante fotografia a preto e branco, é uma incrível viagem surreal pela mente de um génio matemático que tenta compreender a natureza, o homem e os mecanismos da bolsa (!) através de fórmulas matemáticas. Foi uma estreia estrondosa por parte de Aronofsky, com um filme altamente engenhoso, uma montagem frenética e uma notável utilização da banda sonora (de Clint Mansell, ex-elemento do grupo Pop Will Eat Itself).
Quando vi o filme pela primeira vez, confesso ter pensado imediatamente que Aronofsky se tinha estreado no cinema com uma obra independente tão retumbante como a primeira obra do David Lynch, o mítico "Eraserhead" (1977).
"Requiem for a Dream", o filme seguinte, (2000) conseguiu o difícil feito de superar a originalidade do primeiro filme. Espantosa meditação sobre o mundo das dependências (drogas, televisão, substâncias diversas) e do universo degradante (físico e psicológico) que provocam a quem se submete a elas. A actriz Ellen Burstyn foi nomeada ao Óscar de Melhor Actriz pela sua impressionante interpretação. Darren Aronofsky consegue, neste "Requiem for a Dream", construir aquele que será o filme definitivo (e sem moralismos primários) sobre um certo mundo actual, desfasado da realidade e repleto de mentes alienadas.
Dois anos depois, surge "The Fountain - O Último Capítulo", o realizador e argumentista Darren Aronofsky decide repartir a narrativa em três momentos e espaços distintos: a época das conquistas quinhentistas, o presente e o futuro. Com uma qualidade visual e plástica deslumbrante, "The Fountain" debruça-se sobre temas eternos como a transcendência da alma, a ideia do amor como linha condutora de todas as nossas acções, a memória como elemento catalisador e uma certa reflexão filosófica sobre a mortalidade.
Por conseguinte, com "Pi", "Requiem for a Dream" e "The Fountain", Aronofsky criou uma trilogia de grande coerência estética (ainda que possa não parecer) e de invulgar fulgor artístico. Uma espécie de primeiro capítulo para uma longa carreira. Com o recente e já oscarizado "The Wrestler" (meditação sobre um herói caído em desgraça) , Aronofsky volta a dar cartas no cinema contemporâneo. Vamos ver o que nos espera, daqui a um ano, o seu próximo projecto chamado... "RoboCop".
Esperemos que este filme de cariz manifestamente comercial e de encomenda, não desvirtue as imensas qualidades deste cineasta que um dia disse "When I go to movies I generally want to be taken to another world". Não queremos todos?
Um trailer de "Pi" com a fantástica banda sonora de Clint Mansell (registo drum'n'bass old school):
PS - Com este post termino a minha colaboração de dois meses com o "Amplificasom". Obrigado!

O que mais querem ver no SWR?

Não percam Celeste, Zeni Geva e KK Null!!!
Bom festival a todos, vemo-nos lá \m/

Year of no Light: lembram-se do ano passado?


Foi estrondoso, surpreendente até. O vocalista tinha acabado de sair da banda, a maior parte dos fãs não estava sequer a par e a actuação metamorfósica completamente instrumental deixou toda a gente rendida (até aqueles metaleiros que suaram em The Haunted). Foi um grande grande concerto: temas, som, jogo de luzes, as duas baterias numa batalha... Nada falhou de uma banda que merecia, sem dúvida, muito mais destaque. Curiosamente, esta semana comecei a ouvir o novo Ausserwelt e reconheci alguns dos temas tocados nesse inesquecível concerto. Pode-vos parecer estranho ou se calhar ainda não o digeri bem, mas não ouvia uma viagem destas com tanta qualidade e genuidade desde os GYBE. A confirmar em breve, para já tudo me soa bem e diferente.

29 abril, 2010

Resistentes

Todos nós tivemos bandas que ouvimos até à exasutão, ao ponto de fazerem parte da nossa história, mas que não tiveram grande sucesso para as massas. Eu coleccionei bastantes, e hoje passados estes anos reconheço que algumas envelheceram bem, ou provavelmente estavam bastante à frente da sua era. "The most underrated metal bands ever!" - pelo menos no meu livro.


Holy Terror
De longe a minha maior referência em thrash. Muito abaixo de Testament ou Slayer em popularidade, esta banda conquistou-me quando tive acesso à compilação Speed Kills 4 de 1989. Na altura emprestaram-me o LP completo (obrigado Julião) que passou para K7 de culto até se perder e ser subtituída por CD e recentemente por vinil (edição nova e a original de Terror and Submission e Mind Wars).

Hoje pode parecer um som bastante datado (bastam os "solas tu primeiro, que eu solo depois e alternamos que é fixe e o pessoal gosta" - típico do fim da década de 80) mas Holy Terror é aquela banda que, numa altura onde tudo soava ao mesmo, tiveram a felicidade de encontrar um vocalista que tinha referências diametralmente opostas aos outros elementos - dizia-se sobretudo fã de The Who.



Lembro-me de uma review da Metal Hammer da altura que os tratava como uma banda mediocre, e certamete não estão à altura de uns Slayer, mas recomendo que ouçam mesmo o Mind Wards de início ao fim. Após estes anos todos, o tema A fools Gold / Terminal Humor é o que provavelmente estava mais a frente.



Reuniram-se em 2008 para uns concertos (sem o vocalista original que está desaparecido) e são a banda de metal mais underrated ever!


Anacrusis
Anacrusis não é uma banda fácil: a voz tem um registo que afasta segunda audições, mas o CD Manic Impressions é um caso sério. Foi uma das centenas de bandas que o António Sérgio promoveu no lança chamas, e numa altura em que o Gothic dos Paradise Lost e o Badmotorfinger dos Soundgarden captavam todas as atenções, Anacrusis ficou muito naturalmente para trás.



A banda fez uma remistura deste CD em 2006 que falha miseravelmente em ser mais relevante do que a mistura original.


Confessor - Condamned
Em 1991 música nova era sinónimo de ver o Headbangers Ball e gravar os videos para depois ir digerindo com calma em VHS. Os Confessor foram uma das bandas cuja voz custou imenso a entrar, mas este baterista tornou o tema um clássico.




Kyuss
Não serão ilustres desconhecidos (pelo menos hoje em dia), mas eu intoxiquei-me absurdamente com os kyuss durante anos (até Tool surgir) foi um loop absolutamente infernal ao ponto que os deixei de ouvir por saturação. E se hoje têm o reconhecimento que merecem, na altura conhecia poucos que deixavam caír o queixo quando se falava de kyuss (olá Camaraman Metálico :)






Pan-Thy-Monium - Khaoohs & Kon-Fus-Ion

Projecto de Dan Swano que na altura parecia puxar demasiado a corda - com o uso de saxofone e voz death metal do piorio. Ouçam lá para os 5 minutos até ao fim e comprovem como isto ainda soa bem e actual.




Cynic - Focus
Não será particularmente desconhecido à maioria, mas este CD foi um caso único que surgiu em pleno período de Death Metal com elementos de jazz e uma voz digitalizada. Imensos músicos viram no Focus um lufada de ar fresco e até hoje se sentem influências (eu costumo chamar os Intronaut os filhos de Cynic, especialmente a nível do trabalho de baixo).




The 3rd And The Mortal - Painting on Glass
Painting on Glass é um dos álbuns fundamental (e bastante esquecido) do metal experimental e ambiental (quase que diria que nem pertence à categoria metal). De uma sensibilidade notável, este é provavelmente é o trabalho que merecia estar em todas as colecções em casa. Fundamental.





Celestial Season - Solar Lovers

Tirando o violino e alguns elementos que facilmente os cristalizam nos anos 90, esta banda soa particularmente bem e fresca após estes anos todos. Pyogenesis teve mais reconhecimento que Celestial Season e não me parece que hoje os consiga ouvir tão bem como este CD.






Only Living Witness - Innocents
O CD Innocents (1996) entrou para a minha colecção numa série de promos que a Century Media oferecia frequentemente. Não sendo propriamente um estilo de música que consumia, o hardcore dos Only Living Witness era de tal forma contagiante com algumas pitadas de peso sabbathiano que durou durante anos na minha playlist e ainda é revisitado ocasionalmente. Se são fãs de Corrosion of Conformity (era Deliverance) isto está no mesmo degrau mas com uma produção mais suja e crua. Recomenda-se o download.



Devem certamente conhecer igualmente uma música com a voz de Only Living Witness, convidado dos Converge em Grim Heart / Black Rose



Reuniram-se igualmente em 2008 para uma série de concertos bastante concorridos.

E por aí? Que resistentes recomendariam?

Alejandro Jodorowsky - o realizador maldito


É um dos grandes cineastas malditos e de culto da história do cinema da segunda metade do século XX - Alejandro Jodorowsky. E bastaria um único filme para atestar esta premissa: "The Holy Mountain" (1973).
Jodorowsky mudou-se nos anos 50 para Paris onde viveu e conheceu os escritores Fernando Arrabal e Roland Topor, com quem fundou o mítico grupo teatral "Movimento Pânico" (fundia humor e terror). É também conhecido como escritor e autor de banda desenhada (ou novelas gráficas).
Há um dado curioso em relação ao filme "The Holy Mountain": o cineasta chileno foi financiado inteiramente por John Lennon e Yoko Ono para fazer realizar o filme, visto que estes ficaram impressionados com o seu filme anterior, "El Topo" (1970). "The Holy Mountain" é um filme iconoclasta, repleto de misticismo e simbolismo, e situações completamente inusitadas. Provocador face à religião e seus rituais, Jodorowsky subverte e corrompe quaisquer referências religiosas e sexuais com uma linguagem visual irreverente e um sentido de humor absurdo. Conta-se que, para fazer este singular filme, o realizador esteve vários dias sem dormir ao lado de um mestre Zen.
Influenciado pelo imaginário estético mais bizarro de um Fellini e pelo surrealismo de um Luís Buñuel, Alejandro Jodorowsky - que chegou a estudar mímica com Marcel Marceau - tornou-se num cineasta de culto reverenciado por nomes como David Lynch, David Cronenberg ou George Romero. Vendo os seus filmes percebe-se porquê.
Ver trailer de "The Holy Mountain".

Uma espécie de newsletter para quem não recebe no mail

Olá a todos,

Foi bonito o Abril. Improv no 17º andar do D. Henrique, noite épica e suada em KYLESA, MOUTH OF THE ARCHITECT a tocarem quase duas horas com o enorme Steve Mackay dos Stooges a assistir... Foi, foi impecável, mas Maio está quase aí e aproximam-se mais umas empreitadas.
Sábado e Domingo há o segundo Especial Amplificasom no já mítico SWR em Barroselas. No ano passado, num único dia, tivemos a presença dos australianos GREY DATURAS e dos franceses YEAR OF NO LIGHT. Este ano a malta porreira da SWR vai-nos aturar durante o fim-de-semana para duas estreias há muito aguardadas: sábado há CELESTE e domingo os históricos ZENI GEVA. KK NULL, projecto a solo de noise fodido do Kazuyuki, terminará esta colaboração num novo palco o que prova que este festival quer cada vez mais continuar a evoluir tanto na oferta como na diversidade.Uns dias depois, dia 6 para ser exacto, há ALTAR OF PLAGUES na Fábrica de Som (metro: Heroísmo). Depois de no passado os termos colocado no Bracara e em Lisboa, desta vez os irlandeses vêm para uma data mais intimista e apresentar o seu novo EP "Tides". Na primeira parte teremos uma leitura do livro de Stig Dagerman "A Nossa Necessidade de Consolo É Impossível de Satisfazer" pelo nosso amigo JORGE SILVA. Os bilhetes custam 6€ e podem reservar o v/ lugar para o mail do costume.Dia 19 há ALUK TODOLO, uma mescla de krautrock com black-metal. Estrearam-se há uns anos no Out.Fest, mas esta é a primeira vez que passam pelo Porto. Mais uma vez o concerto terá lugar na Fábrica de Som e a primeira parte.....foda-se, a primeira parte é do grande EUGENE ROBINSON. O Eugénio é vocalista dos Oxbow, jornalista, actor, lutador, escritor e é uma das personagens mais fixes do avant-filha-da-putice-garde contemporâneo. Ele vem com o objectivo de fazer uma leitura do seu novo livro, mas, mesmo sem prometermos nada, imaginamos o gajo a subir ao palco para uma jam com os Aluk embora vamos tentar convencê-lo a não tirar a roupa. A Fábrica é pequena, há que ter cuidado. Agora a sério, esta merda é imperdível. Os bilhetes valem 7 e também já podem ser reservados.
Para terminar este semestre (ou não), dia 25 há SHELLAC e MISSION OF BURMA em Serralves. Esta noite é mais uma colaboração entre a Amp e o Mouco e...palavras para quê? São os Shellac e os Burma, não sabemos o que dizer a não ser partilhar um sorriso de orgulho e satisfação por tais bandas nos confiarem as três datas da tour. Espreitem info na ZDB para Lisboa, Festival Sinsal em Vigo, e em relação ao Porto já podem adquirir bilhetes no museu de Serralves. Muito em breve também em serralves.pt

É tudo, chateamo-vos mais em breve, mas continuem a espreitar o nosso blog diariamente (vale a pena).

Qualquer dúvida, sugestão, reclamação, cartas de amor ou ódio não hesitem em escrever-nos.

Obrigados.

Abreijos,
AMPLIFICASOM

Enough Records: Profan / Josué, O Salvador

É com muito prazer que vejo estes cogumelos surgirem na Enough Records.

Directamente da fonte:
Split entre a banda de Doom Palaeolitico Josué, o Salvador em Busca da Perdição e o som arrastado nefasto dos Profan. Grafismo por André Coelho.
A edição está também disponivel em edições físicas de 50 CDr (edição de autor, cópias disponivéis por email ou fisicamente na Louie Louie e Lost Underground no Porto) e 100 K7 (em colaboração com Bubonic Records).

Link

Ontem: United Scum Soundclash & Steve Mackay

Já esqueci o início surreal a solo dum dos nove músicos que fizeram parte desta noite inesquecível. Foram uns minutos inapropriados, mas quando damos conta de Gustavo Costa e João Filipe a subir para as respectivas baterias então sabemos que temos concertaço. A eles juntaram-se os elementos do colectivo Soopa, Henrique Fernandes, Scott Nydegger e o mestre dos mestres Steve Mackay. Os riffs andaram à volta daquilo que vai ser o novo álbum a solo do sax dos Stooges (gravado no Porto), mas houve muito improviso sempre mediado pelo próprio. Foi uma excelente noite, uma daquelas noites cheias de talento e história que pensamos que só acontece lá fora. Ainda bem que não. Já aqui o disse que estas noites Exploitation são para levar muito a sério...

28 abril, 2010

O free Thurston Moore

Para quem se interessa pelas correntes free-noise-rock nem sempre é muito explícita a promiscuidade por trás desses gêneros. Se pensarmos em muitos ícones do rock mais visceral e inventivo teremos uma noção mais clara sobre a representatividade do jazz livre em sua estrutura. A questão não é especular quem influenciou quem, mas tentar compreender que há elos vitais entre os sons de um lado e de outro (mesmo que a massa de fãs, um pedaço em cada ponta, prefira ignorar o que se passa no outro extremo). Passamos pelos que dizem admirar o gênero, como Iggy Pop: “Coltrane me deixa louco. E tinha também caras como Albert Ayler. Tudo isso dava voltas ao nosso redor”; pelos que admitem certa influência, como Wayne Kramer, do MC5: “estávamos tentando seguir o rumo apontado por Sun Ra, Ayler, Coltrane, Pharoah Sanders e Archie Shepp. Essa era a música que nos inspirava”; e mesmo os que chamaram free jazzistas para alguma gravação, como Lou Reed, que convocou o trompetista Don Cherry para tocar em “The Bells”.

Talvez muitos fãs do Sonic Youth já tenham se atentado ao fato de Thurston Moore sempre falar em entrevistas sobre free jazz e livre improvisação. E o envolvimento de Moore é muito mais intenso do que o de um simples interessado no gênero: o cara já tocou e gravou com figuras como Evan Parker, Derek Bailey, William Hooker e Mats Gustafsson. Para ouvidos atentos e mais informados, não é difícil entender de onde vem as longas sequências de improvisação-noise presentes em muitas músicas do Sonic Youth: Pipeline/Kill Time, Total Trash, The Diamond Sea... Homenagens e participações também estão lá (mas acabam muitas vezes por passar despercebidas). Títulos como "Karen Koltrane" e "Mariah Carey [Kim Gordon] & The Arthur Doyle Hand Cream" ou a participação dos saxofonistas Don Dietrich e Jim Sauter, do Borbetomagus (uma das primeiras bandas free improvisation-noise)em "Radical Adults Lick Godhead Style". (ps: o saxofonista Arthur Doyle é um dos grandes nomes ignorados e esquecidos do free jazz mais underground, sendo sempre citado por Thurston Moore.)

Um dos mais presentes parceiros de Moore é o saxofonista sueco Mats Gustafsson. (Moore, Gustafsson e Jim O’Rourke (produtor de alguns álbuns do Sonic) tem um grupo, no melhor esquema free form, o Diskaholics Anonymous Trio).
De sua parte, Gustafsson se proclama devedor do rock garage sueco e, com sua banda The Thing, uma das melhores surpresas dos últimos anos, tem explorado, em releituras free-instrumentais perturbadas, músicas de figuras como PJ Harvey, Yeah Yeah Yeahs, The Sonics e White Stripes.
Para quem nunca viu, Thurston Moore e Mats Gustafsson em ação:

Dark Ambient

A música ambiental tem frequentemente associado um estigma difícil de inverter, o facto de ser monótona, repetitiva e soltar um Zzzzzz a quem não tiver mentalmente preparado para as paisagens mais áridas. Mas eu que sou um tipo das multimédias, e são os detalhes (não a força bruta) que rezam a história. Esta compatibilidade estética/visual/ambiente foi a minha porta de entrada para este universo de ambient/experimental por onde tenho andado bastante nos últimos anos. Começou portanto por um complemento à profissão, mas o movimento está de saúde com grandes nomes de músicos e recomenda-se, por isso decidi divulgar algumas referências de que gosto particularmente e poderão ser apelativos ao pessoal mais metal.

Lustmord
Não sei bem onde ouvi Lustmord pela primeira vez, mas foi de tal forma relevante que comprei todas as edições disponíveis - faço isso com a maioria das bandas que me apanham de surpresa. Até já andava lá por casa um CD dos velhinhos SPK (Zamia Lehmanni: Songs of Byzantine Flowers) quando soube por esta altura que ele tinha dado uma mãozinha nas samples e engineering.



Não é dificil entender que esta música ambiental é por excelência cinematográfica (confirmado por uma sobrinha minha quando me disse uma vez enquanto ouvia Lustmord - "Estás a ver um filme? É o Senhor dos Anéis?").

Pessoalmente já tive bastantes provas de que o audio é por si só mais forte que qualquer elemento visual, mas quem quiser ver os dois reunidos de uma forma bastante interessante poderá ver a curta metragem Zoetrope que tem a banda sonora de Lustmord.



Não conheço ninguém que faça isto melhor que o Lustmord, por isso deixo mais uma.




Svarte Greiner
Metade dos grandes Deaf Center, Svarte conseguiu abrir as trincheiras de um novo tag "acoustic doom/experimental". Tenho uma pena imensa em não possuir o LP, mas não fui a tempo. Fundamental!




Thomas Köner - La Barca
Saindo um pouco da temática dark, o mais recente de Thomas Köner é o melhor álbum de 2009 em ambient/experimental. Thomas Köner é um media artist - um artista que faz música a acompanhar as suas obras, e este trabalho é do mais vívido e intimista que já ouvi com field recordings. Recomenda-se headphones e estado de espírito compatível para flutuar e observar o som nos induz. Este trabalho tem notoriedade suficiente para abrir um novo sub-tag no ambiental - perfeito para ao fim do dia se desistir do stress.




HECQ - Night Falls

Ben Lukas Boysen é o meu Sound Designer preferido, com quem tenho o prazer de trabalhar sempre que o orçamento assim o permita (raramente diga-se). A obra dele não será o melhor exemplo para este tópico, mas o CD Nigh Falls é tudo o que se pode desejar.




ON.
Ouvir Aqui.
Este projecto, editado pela type, reune o Sylvean Chauveau (que se o mês de Abril não terminar depressa ainda vou escrever sobre o último CD) e Seteven Hess (Pan American) e lança também algumas direcções interessantes neste espectro.

Lost Underground: nova loja

A loja dos amigos Oscar e Iolanda atravessa a rua e o cruzamento da Almada e abre portas no nº 446 (uns metros acima da anterior). Está com muito bom aspecto, é aparecer para comprar discos (cds, lps, etc), revistas, bilhetes para concertos, apreciar os nossos posters nas paredes e tal...
A malta de longe sempre pode espreitar aqui: LU

27 abril, 2010

Ando viciado


As influências dizem tudo:
Loud Amps, Anger, Raw Hardcore, Old Metal, Anger.................

Poison Idea, Celtic Frost, Bathory, Bastard, Deathside, Sacrilege, Anti Cimex, Mob 47, Crucifix, Discharge, Dismember, Entombed, Nihilist, Necrophobic, Grave, Death, Autopsy, Slayer, Possesed, Master, Sodom, Kreator, Morbid Saint, Repulsion, Accept, Trouble, Black Sabbath, Danzig...

Consegue-se sentir o respirar do abrangente número de influências e não se ouve nada de propriamente inovador por aqui, no entanto este jeito de homenagem não é prejudicial. Graças à clareza e simplicidade com que denunciam as suas intenções e a uma execução incisiva e demolidora, conseguem ser obreiros de um punhado de temas variados e consistentes que lhes rendem um carácter próprio, capaz de vingar por si. O álbum flui extraordinariamente bem, mas particularmente viciante é o Death n'Roll à lá Entombed era Wolverine Blues na forma de I am beyond e Unholy virgin.

Isis + Melvins = 12

Split de doze polegadas a sair no próximo mês para celebrar a tour em conjunto de ambas as bandas. Isis com dois temas saídos das sessões do Wavering Radiant: Way Through Woven Branches (já ouvida na versão nipónica do disco) e The Pliable Foe; Melvins com duas versões de dois temas novos que vão sair no próximo álbum: Pig House e I’ll Finish You Off. Quero!!!

E amanhã onde vamos?

United Scum Soundclash c/ Steve Mackay (The Stooges)
Maus Hábitos, Porto
Quarta-feira 28 Abril, 22H30
Amén.

Onde vamos dia 29 de Maio?

Já alguma vez foram a Sabrosa? Apontem na agenda, dia 29 de Maio é para lá ir. É um Sábado, faz-se a viagem junto ao Douro, o tempo deverá estar bom, a entrada do concerto é gratuita... Talvez a última oportunidade para o ver ao vivo? Talvez, talvez... Estarei lá!

26 abril, 2010

M.I.A. e Romain Gavras arrasam


É a bomba do momento. Eis o videoclip oficial do novo tema "Born Free" de M.I.A. - realizado pelo polémico realizador Romain Gavras, filho do cineasta político Costa-Gavras. O videoclip "Born Free" é uma curta-metragem de 9 minutos de pura adrenalina visual.
Num mundo aparentemente utópico, militares (polícia? forças especiais?) com a bandeira dos Estados Unidos estampada no uniforme, caçam e abatem grupos de jovens ruivos com uma violência gráfica inusual na estética do videoclip. Se o jovem Romain Gavras já tinha causado polémica com o vídeoclip "Stress" que fez para Justice, então deve preparar-se para polémica a dobrar com este impressionante trabalho, numa espécie de metáfora sobre conflitos étnicos de diversas regiões pelo mundo.
Chamo a particular atenção para os fantásticos últimos 4 minutos do videoclip, em que sons e imagens se conjugam para um final em imparável crescendo de intensidade. Brutal.
Para ver em ecrã inteiro e com boa resolução, clicar aqui.

Aluk Robinson: os posters



André Coelho

Menu Deftounes

Diz-se por aí que é o melhor Deftones desde o White Pony… Eu não tenho como hábito entrar em comparações, não creio que seja a melhor forma de se avaliar algo, mas talvez tenha percebido o que se quis dizer com isso. De qualquer maneira, há bandas ou álbuns que ficam ligados a determinadas épocas da nossa vida e esse disco que tinha malhas como Change, Digital Bath, etc bateu quando tinha 18 ou 19 anos. Ainda mora lá em casa, mas teria o mesmo impacto se fosse editado hoje?

Diamond Eyes continua com aquele som próprio da banda (que começa na afinação da guitarra até ao efeito da voz do Chino) que foi outrora (ainda é?) injustamente catalogada, mas daí a deixar cicatrizes... Este álbum é uma espécie de fast music. Na altura sabe bem, ficamos de barriga cheia e com uma falsa sensação de consolo, mas duas horas depois estamos novamente cheios de fome.

25 abril, 2010

Dia da Revolução

Well look out

Well I’m sick
I’m so sick
Of a lot of people
Tryin’ to tell me
What I can and can’t do
With my life


And I’m tired
I’m so tired
Of a lot of people
In a lot of high places
Don’t want you and me
To enjoy ourselves
Well I’m through with people
Who can’t get off their arse

To help themselves change this government
And better this society‘
Cos it’s shit
But hold on a second
I smell burning
And I see a change

Comin’ ‘round the bend
And I suggest to you
That it takes
Just five seconds
Just five seconds
Of decision

To realise
That the time
Is right
To start thinkin’ about
A little…Revolution!

24 abril, 2010

O fatídico "Clube 27"



É um fenómeno recorrente os ícones da cultura popular serem imortalizados quando morrem. Mesmo que sejam famosos e talentosos em vida, se morrerem jovens e, sobretudo, de causa trágica e misteriosa (suicídio, acidente, homicídio), é certo e sabido que se tornam ícones eternos no imaginário popular.
O fenómeno só podia ter começado com uma arte de massas: o cinema. Rudolfo Valentino, primeiro ídolo do cinema mudo morreu aos 31 anos em 1926 e deixou em total histeria milhões de admiradoras (conta-se que várias mulheres cometeram suicídio devido ao desespero). Depois, foi James Dean que morreu vítima de um acidente de carro com 24 (precoces) anos, em 1955, imortalizando a sua figura como referência incontornável da cultura do século XX.
De resto, foi com Dean que se incutiu no imaginário das estrelas pop a máxima : "Live fast, die young and leave a good-looking corpse". Muitos levaram à risca esta filosofia de vida.
Mas seria a partir de 1969 que a morte de artistas famosos - nomeadamente músicos - tomaria um rumo verdadeiramente iconográfico. Começou em 1960 com a morte de Brian Jones (Rolling Stones), seguiu-se a morte de Jimi Hendrix e Janis Joplin em 1970. O líder carismático dos The Doors, Jim Morrison, morreria em circunstâncias misteriosas um ano depois. Este quarteto de mortes foi apelidado de "Clube 27" (nas imagens), pelo facto de todas estas figuras da música terem morrido com a idade de 27 anos. Mera coincidência?
Conta-se que foi um desejo mórbido de se juntar a este clube que o líder dos Nirvana, Kurt Cobain, se matou em 1994, também com 27 anos. Que insondável e misterioso desígnio se esconde por detrás deste fenómeno que leva à morte artistas populares como estes aos 27 anos? Apesar deste ser o quinteto mais famoso deste fatídico e mórbido clube, muitos outros artista/músicos se podiam incluir no rol dos falecidos com 27 anos. A saber:

- Pete de Freitas, guitarrista dos Echo and The Bunnymen
- Robert Johnson, guitarrista de blues
- Dave Alexander, baixista dos The Stooges
- Gary Thain, baixista dos Uriah Heep
- Kristen Pfaff, baixista das Hole
- Jeremy Michael Ward, músico dos The Mars Volta
- Mia Zapata, vocalista do grupo punk The Gits
- Ron McKernan, teclista dos Grateful Dead
- D. Boon, vocalsita do grupo punk Minutemen
- Rupert Brooke, poeta inglês
- Jean-Michel Basquiat, artista plástico
- Jonathan Gregory Brandis, actor americano
- (...)

Ian Curtis não quis esperar para entrar no "Clube 27" e, 4 anos antes de chegar a essa idade, cometeu suicídio. Mesmo não havendo nenhum "Clube 23" no qual pudesse estar representado, não é por este facto que o espírito do cantor dos Joy Division não vive no panteão mais alto dos ícones musicais de toda a história.

Rosetta - Ayil

Em Julho em tour Europeia com City of Ships! Mais informação aqui!

23 abril, 2010

SHELLAC: bilhetes à venda*

*para já só em Serralves. Mais dia menos dia também online.

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The CHARQUE side of the moon

O The Dark Side of the Moon é um dos discos mais importantes da história da música, estamos todos de acordo, e aos Pink Floyd tributos são coisa que não lhes faltam. Mas hoje que é dia de ressaca, eis que esta perspectiva brasileira se torna numa bela companhia. Excelente trabalho do paraense Luiz Félix que com muita vontade e imaginação conseguiu dar um sotaque diferente ao clássico sem lhe comprometer o conceito.

Terás sempre o porno, Sasha

Está quase a fazer um ano que abri um tópico sobre Sasha Grey, a estrela porno que entrou no último Soderbergh e no último Current 93! Veste t-shirts dos Joy Division, dá-se com malta como Billy Corgan, David Tibet ou ou Dave Navarro, vê Godard, escreve sobre doom, drone, etc… Enfim, uma actriz fora do normal que até se safa bem na sua profissão. Também disse que ela tem um projecto chamado aTelecine. Este tópico só serve para acrescentar que a miúda pode ter nascido para muita coisa…menos para a música.
http://www.myspace.com/atelecine

Os Novos Clássicos - 2ª Parte

Jóhann Jóhannsson
Islândes (mais um) que dá cartas em música clássica e electrónica magistral, é um dos responsáveis pela tag post-classsical ou neo-classical com o trabalho de estreia Englabörn de 2002 e voltou em força em 2009 com o novo trabalho "And In The Endless Pause There Came The Sound Of Bees" uma banda sonora para a curta metragem Varmints.






Hauschka
Compositor que vive em Düsseldorf, Volker Bertelmann tem a particularidade de colocar objectos estranhos por entre as cordas do piano originado peças que mais parecem vindas de um piano defeitoso. Foge das convenções, e criou assim um estilo muito peculiar e aos meus ouvidos original. Começem com o CD ferndorf.



Em 2010 lançou um CDR-EP de edição reduzida a 300 exemplares - Small Pieces, de onde destaco a faixa unknown onde viaja uma voz feminina que remete para radiohead. Candidato a loop eterno até ao próximo trabalho.




Max Richter
Porventura o nome mais conhecido e divulgado desta vaga de compositores, e por isso dispensa palavras adicionais. Max Richter consegue transformar o simples no extremamente belo. Esta que deixo é a minha preferida, e pouco tenho mais a dizer além de ser a música mais perfeita que conheço.





Rachel Grimes
Rachel pertence a uma das minhas bandas favoritas da actualidade (Rachel's) e este álbum a solo, baseado apenas em composições para piano, torna-a numa referência obrigatória neste post. Dispensa palavras, necessita de headphones.







Tiago Sousa
É Português, e tem um futuro promissor no panorama de música nacional. É fã de Satie e Debussy sem complexos e transporta ainda para esta música a viola acústica que o acompanhou no trabalho anterior. Fundamental.




Peter Broderick + Machinefabriek
Está é a dupla e faixa do ano de 2009. Sozinhos prefiro Machinefabriek, juntos fazem algo novo - aquelas misturas que resultam em algo único, sem se saber bem o porquê.




Nils Frahm
Até o Thom Yorke o recomendou numa entrevista. O CD The Bells é também incontornável. Apesar de bastante mais convencional quando comparado com tudo o resto que mostrei, vale a pena ouvir.

A noite de ontem...





Mais uma, mais uma daquelas para não esquecer. Primeiro a surpreendente visita do STEVE MACKAY dos Stooges. O Senhor é uma pessoa tão genuína, tão culta, tão interessante. Foi uma honra e um prazer.
A banda surpresa foram o duo FUJAKO com um dub viciante e do melhor que se faz por aí. Para mim, foi o concerto da noite, foi incrível. Obrigado Jonathan e Nyko.
Os MOUTH OF THE ARCHITECT eram, como já se esperava, malta porreira. Supostamente deviam ter tocado uma hora, mas acho que gostaram tanto de nós todos que...foi aquilo que vocês assistiram, um concerto que não parecia ter fim, uma viagem pela madrugada fora.
A todos que se deslocaram ao Porto-Rio, não esquecendo a incansável Fátima e o staff do barco, o nosso obrigado. Repito, mais uma.


fotos: Silva

22 abril, 2010

Até logo!!!

A última vez no barco




Kylesa... Belo dia, belo concerto. Logo regressamos ao barco para mais uma viagem, capitão MOTA ao leme.

Sam Gopal: quem é o tipo da esquerda?

21 abril, 2010

Próximas reuniões

Já nada nos surpreende. Dos Led Zeppelin aos Faith No More passando pelos Godflesh ou os Sleep, as bandas até então defuntas, mais ano menos ano, acabam por subir ao palco novamente. Que vos parece que podemos ter em breve? Eu queria uns Khanate, uns Botch...

Times New Viking: estágio para SY


Não conhecia os Times New Viking, mas estava curioso e ontem fui vê-los ao Plano B em mais uma noite da Lovers. Saí quase totalmente rendido daquele lo-fi indie rock e creio que foi um excelente estágio para a próxima sexta. Que álbum recomendam?

Rock-A-Rolla amanhã em MOTA

Ainda temos um par de cópias. Apitem se estiverem interessados em adquirir uma cópia amanhã no concerto de Mouth of the Architect.
A Rock-A-Rolla 25 traz Kayo Dot a falarem de Coyote, Red Sparowes e o seu novo disco, Ufomammut a dizerem que Eve é o único álbum que não os aborrece, a nova contratação da Southern Lord Black Breath, o casal Jucifer que vai estar no SWR dia 30, Eugene a falar do clássico Fuckfest recentemente reeditado, montes de reviews, notícias, críticas a concertos, etc etc.

Um Roadburn diferente

O vulcão islandês fintou os peregrinos. Bandas como os Jesu ou Shrinebuilder não sairam de casa, outras como os Earthless deram dois concertos, horários alterados... Hoje o Victor Lima disse que amanhã vai repetir MOTA no Porto pois teve oportunidade de os ver e arrasaram. Aos que já chegaram, apitem no outro tópico as vossas experiências: Roadburn 2010

Polly Jean deixa a Inglaterra a tremer

Arvo Pärt

Seguindo a tónica de clássico e começando a de ambiente, o trabalho de Arvo Pärt é de longe o que me tem feito mais companhia neste último ano. O reportório deste Estónio é em grande parte centrado em temáticas religiosas, e não é por acaso que a sua música transporta consigo esta religiosidade. Munida de uma quietude e pureza intocáveis, é bem conhecida a história em que doentes em fase terminal com SIDA pediam para ouvir a sua obra Tabula Rasa de 1977 vezes sem conta, após as passagens regulares de uma das enfermeiras como forma de atenuar de alguma forma o impossível.

Um dos meus primeiros contactos com a obra de Pärt foi no ano de 2006, na TV2 numa Curta chamada Phantom Limb de Jay Rosenblatt. São 28 minutos sobre luto e morte, difíceis de tolerar, mas filmados com uma beleza única - apenas possível por alguém que perdeu o irmão quando tinha 7 anos. Imediatamente comprei o DVD e ficou na prateleira desde então, pois não é um filme que seja para rever mas sim para possuir. Quando vi a primeira vez foi este excerto que me chamou a atenção pela música, e não conheço muitas coisas tão triviais (imagem e música) que em conjunto digam tanto. Quando recentemente esta música entrou em loop eterno na minha playlist, de alguma forma tive o presentimento que era a do filme. Confirma-se.




E por fim, algo bastante recente de um outro músico, que tenho acompanhado desde 2007 com o excelente Daydreaming, e que antecipou este tópico ao ver que a edição está praticamente esgotada. Trata-se de Rafael Anton Irisarri, que acabou de lançar um novo EP (apenas em vinyl) e que inclui uma versão do Für Alina de Arvo Pärt. Só já está disponível aqui, por isso os interessados podem encomendar asap.



Muito do que se anda a fazer neste florescente reino de ambient/classical tem muita raíz no trabalho de Pärt (Rafael Irisarri, Ólafur Arnalds etc), mas quem os pode censurar?

20 abril, 2010

"Audio Culture"


Comprei este livro na Amazon inglesa há uns cinco anos. É uma obra notável que aborda as múltiplas ramificações estéticas e artísticas que a música contemporânea representou nas últimas décadas. Com base na análise e crítica a músicos tão díspares e influentes como John Cage, Brian Eno, Glenn Gould, Ornette Coleman, Fred Frith, Jon Rose, Simon Reynolds, Pauline Oliveros, Paul D. Miller, David Toop, John Zorn, Karlheinz Stockhausen entre muitos outros, o autor discorre sobre a intersecção entre as várias linguagens musicais: minimalismo, música concreta, improvisação, experimentalismo, avant-rock, ambient, electrónica, free-jazz, etc
Uma semana depois de começar a ler "Audio Culture -Readings in Modern Music", por motivos profissionais, fui buscar à estação de autocarros um músico que iria tocar na Guarda: Chris Cutler, um eminente músico e compositor que foi membro de bandas tão marcantes do panorama avantgarde como Henry Cow, Art Bears, Cassiber, entre muitas dezenas de colaborações musicais com outros músicos/grupos de estéticas comuns.
Ora, quando cheguei à estação de autocarros, já Chris Cutler estava à minha espera. Encontrava-se de pé, encostado a um muro e a ler um livro. À medida que me fui aproximando, reparei no livro que estava a ler: "Audio Culture: Readings in Modern Music"! Foi um bom mote de partida para uma conversa sobre música que teve início no jantar e se estendeu depois do magnífico concerto que deu nessa noite. É que Chris Cutler é um dos compositores referenciados no próprio livro.

Rosetta - A Determinism of Morality

Pode ter a pior capa de sempre, mas por aqui é o mais esperado de 2010!

Shellac: o cartaz

Atenção: os bilhetes ainda não estão disponíveis.

Fucked Up

Vídeo de uma sessão que os Fucked Up fizeram com Duchess Says (Annie). Rock.
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Gojira 1954

Já que o blog tem tido mais cinema nos últimos tempos, aqui vai um pequeno post com uma descoberta sonora recente num filme. Ontem vi pela primeira vez o Godzila (Gojira em japonês) original - o filme que deu origem a todo o fenómeno (doentio e sem sentido?) que se seguiu. Para minha admiração, os efeitos sonoros das cenas em que aparece o dito "monstro" são mesmo muito bem conseguidos e bastante experimentais para a época (falámos de 1954).

Para minha sorte, alguém compilou alguns dos rugidos do filme original no youtube, e podem verificar aqui (ouvir em volume máximo):



Qual Masonna ou Keiji Haino......

E ainda resultam melhor quando combinados com as orquestrações da banda sonora, por exemplo na sequência dos créditos iniciais onde o noise dos rugidos distorce (e "desloca") o tema principal interpretado em cordas.

O que dizer do filme em si: a única coisa que quero mencionar é que me parece mais uma das tentativas subliminares dos japoneses em por um lado colectivamente enterrarem a bomba e os seus efeitos e por outro lado revivê-la metaforicamente. Se alguém aqui já foi ao Japão e especialmente a Hiroshima, com a mínima perspicácia, saberá do que estou a falar.

Discos

Segue uma lista de discos que são exclusivamente para troca.
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Free Jazz. Top 10. Anos 2000.

Não gosto de listas e seleções de ‘tops’. Minha intenção ao fazer esse ‘Top 10’ foi a de mostrar que o free jazz e a free improvisation seguem como formas vivas de criação musical radical. Quando falo sobre free jazz, muita gente demonstra encarar esse gênero como algo datado, que teve seu momento/papel histórico e que depois desapareceu (ou ficou apenas revolvendo-se sobre cinzas passadas). Muito dessa visão deve-se, sem dúvida, a Winton Marsalis e aos críticos que o compraram como a grande última revelação do jazz. Não que o trompetista não seja qualificado e dono de um som refinado. Mas sua visão estreita sobre o que representa o mundo jazzístico causou danos maiores do que muita gente imagina... O free jazz se consolidou como um mundo sonoro próprio e continua rendendo obras geniais, novos músicos inventivos e muita coisa boa que merece ser ouvida e conhecida. Essa lista se propõe apenas a destacar alguns músicos e álbuns que mantiveram o gênero vivo nesta década, neste século. A ordem é aleatória: o 1º não é mais relevante que o 10º _e muitos outros, é óbvio, ficaram de fora. Todos os citados merecem ser conhecidos e desfrutados com a mesma urgência...


1º Ivo Perelman / “Suite for Helen F.” (2003)
Disco do saxofonista brasileiro executado por um ‘duplo trio’: dois baixos, duas baterias e o sax-tenor de Ivo. Álbum duplo, não recebeu a atenção que merecia e, parece, já está fora de catálogo. Talvez o grande trabalho de Perelman.



2º The Thing / “Garage” (2005)
O saxofonista sueco Mats Gustafsson é um dos mais ativos e contagiantes músicos da atualidade. Com seu power trio “The Thing” tem buscado aliar as forças do free jazz com as do punk-rock-garage. O disco traz poderosas versões de Aluminium (The White Stripes) e Art Star (Yeah Yeah Yeahs).




3º Peter Brotzmann / “The Fat is Gone” (2007)
O sempre tão falado Peter Brotzmann continua se reinventando a cada dia. Aqui, alia-se a Gustafsson (sax) e Paul Nilssen-Love (bateria) para criar um disco fantástico. A primeira faixa (Bullets Through Rain) é uma das mais intensas das últimas décadas.



4º David S. Ware / “Renunciation” (2007)
Álbum de despedida desse que foi o maior quarteto dos 90. Ao lado de William Parker, Mattew Shipp e Guillermo E. Brown, Ware aparece aqui mostrando faixas novas (“Ganesh Sound”, “Renunciation Suite”) que nunca receberam versão em estúdio. Obrigatório.



5º Paul Flaherty / “Beloved Music” (2006)
Encontro do mítico saxofonista Paul Flaherty com o novato baterista Chris Corsano. A dupla gravou, nos últimos anos, pelo menos uma meia dúzia de duos como esse. Como Charles Gayle, Flaherty passou anos de grandes dificuldades e esquecido na cena musical.



6º Ken Vandermark/Nilssen-Love / “Dual Pleasure” (2002)
A dupla também reaviva esse formato clássico do free jazz: o duo sax-bateria. Vandermark, oriundo de Chicago, lidera uma série de projetos desde os 90, sempre pautado pela música livre e inovadora.




7º Tsahar/Kowald/Murray / “MA” (2002)
Esse disco marca o encontro de três escolas distintas do free jazz: na bateria, o americano Sunny Murray, que faz parte da história dos primórdios do gênero. No baixo, o alemão Peter Kowald, morto em 2002. No sax, o israelense Assif Tsahar, destaque dos anos 90.



8º William Parker / “O’Neal’s Porch” (2000)
Quando se fala em baixo no jazz, as pessoas ainda pensam em Ron Carter, Jimmy Garrison e Ray Brow. Ainda obscuro para o grande público, William Parker é, sem dúvida, ‘o nome’ do instrumento na atualidade. Aqui aparece com seu quarteto.



9º Ibarra/Courvoisier/Léandre / “Passaggio” (2002)
Passaggio traz três das maiores instrumentistas da atualidade em inspirado trio piano-baixo-bateria. Das três, a baterista Susie Ibarra é a mais envolvida com a cena free jazz, tendo sido parceira de Tsahar e pertencido, durante os 90, ao David S. Ware Quartet.



10º Matthew Shipp / “Nu Bop” (2002)
O pianista norte-americano dialoga com sonoridades eletrônicas para criar um disco muito swingante e contemporâneo. Na época do lançamento, chegou a ser rotulado pela crítica como “funky avant-garde jazz”. Essa é apenas uma das variantes sonoras do prolixo e criativo Shipp.