Já se ouve 2011...
Voltei a tentar, mas a certo ponto deixei de ter prazer. E a música é isso, certo? Os tops de revistas, zines ou mesmo o dos leitores do blog que decidiram participar, quando os mesmos têm várias pessoas/ votações envolvidas, parecem-me fazer sentido. Esses satisfazem-me e levam-me à descoberta de mais rodelas. Nas individuais já não encontro grande objectivo. Eu pelo menos não consigo atribuir um valor aos discos, não me apetece procurar razões que diferenciem o meu vigésimo sexto do vigésimo sétimo preferido, nem sequer consigo encontrar aquele que, no meio de dezenas, mais prazer me deu quando no fundo também passei o ano a descobrir discos de outras décadas que tanto ou mais satisfação me deram. E mais: ficaram discos por ouvir que por este ou aquele motivo ainda não o consegui fazer. Acima de tudo, recorde-se 2010 como uma excelente colheita e despeço-me de vocês com a lista, sem qualquer tipo ordem, dos álbuns que mais rodaram por aqui e os 10 preferidos dos restantes membros da Amplificasom:
Oneohtrix Point Never - Returnal [Mego]
Hairy Bones - Live at Fresnes [PNL 2010]
Lean Left - The Ex Guitars meet Nilssen-Love-Vandermark Duo Vol. 1 [Smalltown Superjazz ]
Schlippenbach Trio - Bauhaus Dessau [Intakt]
Ufomammut - Eve [Supernatural Cat]
Gil Scott-Heron - I'm New Here [XL]
Little Women - Throat [Aum Fidelity]
Peter Brötzmann, Massimo Pupillo & Paal Nilssen-Love - Roma [sr]
Barn Owl - Ancestral Star [Thrill Jockey]
Prins Thomas - Prins Thomas [Full Pupp]
Actress - Splazsh [Honest Jon's]
Master Musicians of Bukkake - Totem Two [Important]
Eleh - Location Momentum [Touch]
Helena Gough - Mikroklimata [Entr'acte]
Menace Ruine - Union of Irreconcilables [Aurora Borealis]
Year of No Light - Ausserwelt [Conspiracy]
Flying Lotus – Cosmogramma [Warp]
Thee Silver Mt. Zion - Kollaps Tradixionales [Constellation]
Catherine Christer Hennix - The Electric Harpsichord [Die Schachtel]
David Maranha - Antarctica [Roaratorio]
High on Fire - Snakes For The Divine [E1 Music]
Demdike Stare - Liberation Through Hearing [Modern Love]
Samsara Blues Experiment - Long Distance Trip [World in Sound]
Peter Broderick - How They Are [Bella Union]
Aloe Blacc - Good Things [Stones Throw]
anbb - Mimikry [Raster-Noton]
Black Mountain - Wilderness Heart [Jagjaguwar]
Brian Eno - Small Craft on a Milk Sea [Warp]
Celeste - Morte(s) Nee(s) [Denovali]
Crippled Black Phoenix - I, Vigilante [Invada]
Hype Williams - Untitled [Carnivals]
Jailbreak - The Rocker [Family Vineyard]
Kylesa - Spiral Shadow [Prosthetic]
Magda Mayas - Heartland [Another Timbre]
Neil Young - Le Noise [Reprise]
Oceansize - Self Preserved While the Bodies Float Up [Superball]
Peter Brötzmann & Hamid Drake - Brøtzmann-Drake [BRÖ]
Sun Araw - On Patrol [Not Not Fun]
The Dillinger Escape Plan - Option Paralysis [Season of Mist]
Mulatu Astatke - Mulatu Steps Ahead [Strut]
Twilight - Monument to Time End [Southern Lord]
Ariel Pink's Haunted Graffiti - Before Today [4AD]
Eduardo:
Enslaved - Axioma Ethica Ondini
Horseback - Invisible Mountain
The Tea Club - Rabbit
Sailors With Wax Wings - Sailors With Wax Wings
Ufomammut - Eve
Cough - Ritual Abuse
Samsara Blues Experiment - Long Distance Trip
Intronaut - Valley of Smoke
Deftones - Diamond Eyes
Sleepy Sun - Fever
Jorge:
Year of No Light - Ausserwelt
Bongripper - Satan Worshipping Doom
Twilight - Monument to Time End
Kvelertak - Kvelertak
Rosetta - A Determinism of Morality
More Than Life - Love Let Me Go
The Secret - Solve et Coagula
Intronaut - Valley of Smoke
Black Breath - Heavy Breathing
Dawnbringer - Nucleus
Miguel:
Arcade Fire - The Suburbs
Deftones - Diamond Eyes
Gayngs – Relayted
The Sword - Warp Riders
Trash Talk - Eyes & Nines
Norma Jean - Meridional
Peter Broderick - How They Are
World´s end girlfriend - Seven Idiots
Orelha Negra - Orelha Negra
Gold Panda - Lucky Shiner
10. The Ocean - Heliocentric / Anthropocentric (Pelagic)
9. Twilight - Monument to Time End (Southern Lord)
8. Alcest - Écailles de Lune (Prophecy) / Intronaut - Valley Of Smoke (Century Media)
7. Envy - Recitation (Temporary Residence)
6. Ufomammut - Eve (Supernatural Cat)
5. Rosetta - A Determinism of Morality (Translation Loss)
4. Year of no Light - Ausserwelt (Conspiracy)
3. Enslaved - Axioma Ethica Odini (Nuclear Blast)
2. Anathema - We're Here Because We're Here (Kscope)
1. Agalloch - Marrow of The Spirit (Profound Lore)
Caspar Brötzmann e o seu trio Massaker foram recentemente confirmados para o dia curado pelos Sunn O))) no Roadburn. Não tendo dúvidas que isto se deveu à insistência e persuação de Stephen O'Malley, uma das grandes inspirações para ele, o mérito é grande, mesmo mesmo grande. Ao contrário do pai, Caspar andava desaparecido do mundo musical: não grava discos há mais de dez anos (sendo que o último como Massaker foi o incrível Home em '95) e as aparências em palco são tão raras que este concerto vai ser algo histórico, é já até um dos momentos de 2011. A todos que têm bilhete: depois contem-me como foi!
Se o outro tópico tinha o nome de Fender vermelha, este tem mesmo que ser algo como "cuecas brancas". Que não se desvalorize, o que esta miúda faz vale tanto como o Marclay. É um estudo científico sobre o relacionamento entre o corpo humano, neste caso constituído pelos atributos feminos, e a guitarra/ música. Não? Ok...
Peter Broderick, Greg Haines, Azevedo Silva
"O que veio primeiro? A música ou a miséria? As pessoas preocupam-se com crianças a brincar com armas, a verem filmes violentos, como se a cultura da violência fosse consumi-las. Mas ninguém se preocupa se ouvem milhares de canções sobre sofrimento, rejeição, dor, miséria e perda. Eu ouvia música pop porque era infeliz ou era infeliz porque ouvia música pop?"
"Nunca saberemos o que é viver fora do Estado, o que é não pertencer ao Estado, porque o Estado se apodera de nós e constitui a nossa identidade e as regras da nossa sociedade ainda antes de nele termos nascido."
Constantinopla 1910. As ruas da cidade são invadidas por cães errantes. O governo recém-eleito, influenciado por um modelo de sociedade ocidental, recorre a peritos europeus para escolher um método de erradicação, antes de decidir, brutalmente e sozinho, deportar massivamente os cães para uma ilha deserta, ao largo da cidade.
Estávamos em 1961 e muita coisa estava para acontecer ao mundo, tudo o que era/ é cultura ocidental estava prestes a implodir. Em Brownsville, Tennessee, o cineasta David Blumenthal, que estava na zona a filmar um documentário sobre a migração negra para o norte, tropeça numa lenda do Blues: Sleepy John Estes.
É o que dizem, mas neste caso a cidade só interessa por ter sido palco de um concerto absurdamente perfeito. 22 de Dezembro de 2008 é a data, Casa Del Jazz o local. Peter Brötzmann no Tenor e a caminhar para os 70 anos numa forma incrível; Massimo Pupillo, mais conhecido pelos seus riffs nos Zu e talvez inspirado pelos ares da sua terra, no seu melhor trabalho de sempre; e Nilssen-Love que com as baquetas na mão é sempre um reflexo de quem tem à sua frente, ou seja, neste caso perfeito (não é por acaso que em meia dúzia de linhas repito este adjectivo). O álbum está dividido em três temas e nisto da música pouco gosto de descrições, há uma necessidade de se sentir o que se ouve e ponto. É isso que sugiro, descubram este disco a tempo de irem para os vossos tops. Aliás, faço-vos uma promessa: faltam umas trezentas e tal horas para o final do ano e os vossos melhores trinta e três minutos e dezassete segundos de 2010 serão aqueles em que o primeiro tema deste disco estiver a rodar. Tenho dito.
Sunn O))) - Alice
A actual conjuntura do negócio musical assim o permite e a época é propícia: acreditemos no pai Natal! Há uns anos vi os Pixies em Coura, recentemente os Godflesh e os Swans em Birmingham, e começo a contar os trocos para ir ver os GY!BE no próximo ano. Tudo exemplos de bandas que julgava nunca as ver em cima dum palco. A minha avó já dizia que só não há cura para a morte por isso enquanto os membros de bandas até então defuntas forem vivos podemos e devemos sonhar. Em cima, foto dos Godspeed em Londres. Alguém foi? E alguém se lembra da passagem deles por Portugal?
Estando eu a degustar sofregamente a leitura do "The three stigmata of Palmer Eldritch" do Philip K. Dick, lembrei-me de vir aqui perguntar: quem de vós aqui lê ficção científica? Quais os sub-géneros dentro deste género que mais prazer vos dão?
Como prometido, alguns bilhetes estão à venda na Lost Underground desde ontem. Por aqui, as reservas vão em tão bom ritmo que eu diria que vamos esgotar o concerto até ao final de Dezembro. Já agora, porque não oferecerem a entrada mágica como presente de Natal?
Assange, Julian Assange. Vilão para uns e herói para outros, é hoje julgado e provavelmente extraditado por um crime que todos sabemos que não cometeu. Foi uma maneira nada subtil dos states reforçarem a ideia que são a maior democracia do mundo e o país mais livre do mundo até se meterem com ele. Mas vejamos os dois lados: numa época em que, quer queiramos ou não, dependemos dos Estados Unidos para a estabilidade ocidental em todas as áreas, fará sentido o “desvio” da correspondência diplomática? Ou o que faltou foi apenas uma filtração do conteúdo por parte de Assange e a sua equipa de forma a evitar polémicas desnecessárias?
Não me lembro da primeira vez. Talvez Mono em 2004? Também não me lembro quantas vezes entretanto já fui a um dos bares mais porreiros do Porto, mas lembro-me de vários concertos que se tornaram inesquecíveis. E isto sem contar com os da Amplificasom: o primeiro de sempre com os Enablers, Shooting Spires na noite em que Jacko morreu, e Part Chimp há uns meses atrás numa daquelas noites perfeitas.
"David Cameron, stop saying that you like The Smiths, no you don't. I forbid you to like it." (...) David Cameron hunts and shoots and kills stags – apparently for pleasure. It was not for such people that either 'Meat Is Murder' or 'The Queen is Dead' were recorded; in fact, they were made as a reaction against such violence."
São uma banda que está no coração de muitos de nós. Reconhecemo-los por serem intensamente ferozes e abrasivos, por criarem uma atmosfera brutal que é balanceada entre doses maciças e experimentais como só eles o sabem fazer. E quem são eles? Uma banda que está na terceira década da sua carreira, uma banda que está no seu auge, uma banda que nos arrasa ao vivo. Na passada segunda-feira testemunhei um dos melhores concertos da minha vida e desejo a todos vós que lêem estas linhas a oportunidade de um dia verem os Neurosis em pleno palco. A setlist foi mais ou menos isto:
No dia seguinte ao concerto perfeito dos Ulver, tive a oportunidade de rever o O’Sullivan e se há coisa que não me vou esquecer desse jantar foi do facto dos seus olhos sorrirem quando, já não me lembro porquê, falamos dos Talk Talk. No dia seguinte googlei pelo "Laughing Stock" e nunca mais ouvi a banda com os mesmos ouvidos. Não tardei a comprar o original, não tardei a ouvir tudo o que havia para ouvir. E nem sequer é muito, a carreira destes ingleses durou cerca de dez anos, mas eu tinha para mim que os Talk Talk tinham um grande álbum pop – "It’s My Life" – e pouco mais. Esse disco foi realmente o que os catapultou para o seu sucesso (comercial), mas a banda foi muito mais do que meia dúzia de hits, basta ouvi-los a deixarem os synths de lado em "Spirit of Eden" e a abrirem os braços a uma nova fase mais experimental e jazzística. É verdade que na altura foi um fracasso, mas arriscar-me-ia a dizer que o pós-rock começa aqui em 1988 e não em ’94 quando Simon Reynolds inventou o termo motivado pelo "Hex" dos Bark Psychosis. Ouçam o primeiro tema, a pedra estava lançada. Voltando atrás, aliás à frente, é pelo último disco – o já mencionado Laughing Stock de ‘91 – que estou verdadeiramente apaixonado. Faço play durante três ou quatro vezes aos cinco minutos e trinta e três segundos de "Myrrhman" e só depois vou avançando pelo álbum fora, todo ele uma “obra de assombrosa complexidade e beleza imensa”. Um disco que mistura rock, jazz, clássica, ambiente e que na altura estava muito à frente do seu tempo. Hoje continua a ser uma obra-prima não reconhecida…… até ao momento em que o ouvimos.