Glenn Jones – Against Which the Sea Continually Beats (Strange Attractors, 2007)
Glenn Jones passou quase duas décadas a imprimir talento na banda Cul de Sac, um grupo que pode ser enquadrado no género Post-rock experimental. Uma história documentada em nove álbuns e colaborações com duas luzes inspiradoras de Jones. Falamos de “The Epiphany of Glenn Jones” 1996, gravado com John Fahey tido como um dos mestres da guitarra clássica e “Abhayamudra” 2004, gravado com Damo Suzuki vocalista da seminal banda Can.
A viagem de todos os sons deste novo disco, Against Which the Sea Continually Beats, podia começar em qualquer parte do mundo, em qualquer pedaço de terra onde jorrasse suor e lágrimas. Mas comecemos pela influência mais ou menos subliminar do Delta Blues. O Delta é considerado como um dos mais antigos estilos de Blues, nascido na zona do Mississippi Delta, espaço rico no solo e pobreza das pessoas. Alguns músicos refugiavam-se no Blues para afundarem a tristeza e o único apoio que tinham era uma maldita guitarra. Este estilo tão marcadamente enraizado no espaço não impediu que outros músicos provenientes de outras localidades reivindicassem pertencer ao som de Delta. Jones em temas como “Island” faz referência ao seu espaço, neste caso à Island of Martha’s Vineyard, um lugar remoto onde este e vários músicos encontram a força do mundo – Jack Rose e James Blackshaw foram alguns dos que lá gravaram com grandes resultados. O que se retira do Delta não é apenas uma questão de sentimento, tem também a ver com um som característico onde se ouvem ritmos e toques de slide-guitar muito próprios. No fundo falámos de tons transversais aos outros estilos de Blues.
Neste segundo disco de Jones percebe-se a intimidade de alguns dos temas, toca para os amigos que partiram e para aqueles que cá ficam e ama. Num tema como “David and the Phoenix” é demonstrado carinho pelo livro infantil com o mesmo nome, escrito em 1957, que trata das aventuras de um rapaz e uma Fénix, uma amizade entre espécies diferentes.
John Fahey é o nome supremo que paira sobre todo o disco pela forma como se pressente a sua genialidade a trespassar os dedos de Glenn Jones. “The Teething Necklace (for John Fahey) é uma composição que tinha sido moldada durante uma tour com Jack Rose, mas acabou por se tornar num pedaço musical único e arrepiante. Jones decidiu terminá-la quando soube da morte de Fahey em 2001 – um tema superior em direcção ao paraíso.
A linguagem aqui usada é instrumental, o virtuosismo não é pensado, é virtuosismo sentido. Uma simples nota pode ser o suficiente para chegarmos aquele ponto em que a mera explicação não é o suficiente para suprir a intensidade do momento. A música despojada de forma primitiva, despida, um micro junto ao corpo da viola saldando-se em duas semanas de gravações, tendo sido algumas músicas registadas à primeira tentativa. Muitas histórias de vida cruzam-se despertando uma certa banalidade pelo facto de pertencerem a um ciclo de tantas outras, sendo poucas aquelas que nos mudam para sempre. Against Which the Sea Continually Beats não é um disco revolucionário mas pode perfeitamente marcar uma vida. Dedilhados luminosos, entoações vibrantes, mestria no finger-picking com que recentemente James Blackshaw nos encantou a todos. A saudade, os sonhos, a Folk livre no coração. O vibrar dos fios de aço transportam-nos para um psicadelismo especial, com influências que tanto podem vir da América como do Oriente, podem invocar Ragas tão distantes no espaço mas tão próximas na essência, músicos como Ravi Shankar ou Steffen Basho-Junghans. Um disco especial...
A viagem de todos os sons deste novo disco, Against Which the Sea Continually Beats, podia começar em qualquer parte do mundo, em qualquer pedaço de terra onde jorrasse suor e lágrimas. Mas comecemos pela influência mais ou menos subliminar do Delta Blues. O Delta é considerado como um dos mais antigos estilos de Blues, nascido na zona do Mississippi Delta, espaço rico no solo e pobreza das pessoas. Alguns músicos refugiavam-se no Blues para afundarem a tristeza e o único apoio que tinham era uma maldita guitarra. Este estilo tão marcadamente enraizado no espaço não impediu que outros músicos provenientes de outras localidades reivindicassem pertencer ao som de Delta. Jones em temas como “Island” faz referência ao seu espaço, neste caso à Island of Martha’s Vineyard, um lugar remoto onde este e vários músicos encontram a força do mundo – Jack Rose e James Blackshaw foram alguns dos que lá gravaram com grandes resultados. O que se retira do Delta não é apenas uma questão de sentimento, tem também a ver com um som característico onde se ouvem ritmos e toques de slide-guitar muito próprios. No fundo falámos de tons transversais aos outros estilos de Blues.
Neste segundo disco de Jones percebe-se a intimidade de alguns dos temas, toca para os amigos que partiram e para aqueles que cá ficam e ama. Num tema como “David and the Phoenix” é demonstrado carinho pelo livro infantil com o mesmo nome, escrito em 1957, que trata das aventuras de um rapaz e uma Fénix, uma amizade entre espécies diferentes.
John Fahey é o nome supremo que paira sobre todo o disco pela forma como se pressente a sua genialidade a trespassar os dedos de Glenn Jones. “The Teething Necklace (for John Fahey) é uma composição que tinha sido moldada durante uma tour com Jack Rose, mas acabou por se tornar num pedaço musical único e arrepiante. Jones decidiu terminá-la quando soube da morte de Fahey em 2001 – um tema superior em direcção ao paraíso.
A linguagem aqui usada é instrumental, o virtuosismo não é pensado, é virtuosismo sentido. Uma simples nota pode ser o suficiente para chegarmos aquele ponto em que a mera explicação não é o suficiente para suprir a intensidade do momento. A música despojada de forma primitiva, despida, um micro junto ao corpo da viola saldando-se em duas semanas de gravações, tendo sido algumas músicas registadas à primeira tentativa. Muitas histórias de vida cruzam-se despertando uma certa banalidade pelo facto de pertencerem a um ciclo de tantas outras, sendo poucas aquelas que nos mudam para sempre. Against Which the Sea Continually Beats não é um disco revolucionário mas pode perfeitamente marcar uma vida. Dedilhados luminosos, entoações vibrantes, mestria no finger-picking com que recentemente James Blackshaw nos encantou a todos. A saudade, os sonhos, a Folk livre no coração. O vibrar dos fios de aço transportam-nos para um psicadelismo especial, com influências que tanto podem vir da América como do Oriente, podem invocar Ragas tão distantes no espaço mas tão próximas na essência, músicos como Ravi Shankar ou Steffen Basho-Junghans. Um disco especial...
4 Comments:
Excelente texto para um excelente disco. É um dos meus favoritos este ano e até cheguei a escrever três linhas sobre ele aqui: http://amplificasom.blogspot.com/2007/03/rodar.html
Grande Glenn, já o trazíamos cá :P
Pois chegaste, e eu ainda não o ouvi :-s
Excelente texto Pedro. Tenho mesmo que ouvir isto!
Isto é muito bom!!!
O novo de James também já merecia destaque, tá excelente.
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