14 janeiro, 2010

O laço sem música

Estranho, foi uma sensação estranha ter passado duas horas e meia numa sala de cinema sem ouvir um único tema. Nada no início, nada no final. Minto, ouviu-se os temas que os personagens interpretavam esporadicamente. Nada mais. Pergunto-me qual terá sido a intenção do Haneke? Acho que foi das coisas que me deixou mais curioso…

(Se fazem questão de ver o filme parem aqui!)

Quanto ao filme, é um belo retrato a preto e branco duma Alemanha do início do século XX. É uma obra-prima, um futuro clássico, é ir ao cinema ver Cinema. Inteligência e densidade narrativa, suspense, personagens esculpidas, planos fotográficos para não esquecer… São as tais duas horas e meia que ninguém dá conta, ficaríamos na sala a noite toda se tal fosse possível.

O filme passa-se todo numa aldeia alemã. Podia ter sido noutra aldeia qualquer, mas neste caso em concreto era alemã. Nela encontramos uma excelente panorâmica hierárquica de toda uma sociedade (quase que apetece fazer um organigrama) envolvida num ambiente de puritanismo, fanatismo religioso, medo e obediência onde crimes inexplicáveis começam a acontecer. Abrem-se janelas, nunca se fecham, e quando se dá a notícia do assassínio de Franz Ferdinand eis que toda a aldeia respira de alívio. O que acontece depois já todos sabemos, infelizmente. O que não sabemos é que o mal estava enraizado há muito tempo atrás.

7 Comments:

At 14.1.10, Blogger Priscilla Fontoura said...

Vou vê-lo hoje. Li uma entrevista do Michael Haneke e, o homem apesar de ter começado tarde, sabe muito bem o que faz. Na entrevista ele diz que só gosta de ter música nos seus filmes quando a música faz mesmo parte do filme, o caso de "A Pianista"; quando não faz parte do argumento ele recusa-a. É uma referência para mim. Este filme tem muito a ver com a infância protestante do M H.

 
At 14.1.10, Blogger Unknown said...

Haneke é um dos melhores cineastas da actualidade.
O "não uso" da música é uma tendência que já vem de longe, principalmente no cinema europeu, mas ha mais exemplos, como o ainda recente vencedor do Oscar de melhor filme: No Country For Old Men, que tem a sua música reduzida ao mínimo, apenas poucos minutos.

 
At 14.1.10, Blogger Priscilla Fontoura said...

O No Country é mais um filme entre muitos sem música, acho que não há mesmo música nenhuma. A utilização da música nos filmes tem que ser tão bem pensada como os outros componentes que fazem um filme. Por outro lado, o Hitchcock não queria incluir no Psycho a tão conhecida "facada", imaginem... faria toda a diferença.

 
At 15.1.10, Blogger Pereira said...

A mim "estragaram-me" a ante-estreia : 1/3 do cinema passou o filme todo a rir sem razão aparente. Enfim.
Mas é ganda filmaço.

 
At 15.1.10, Blogger Hélder Costa said...

Adoro os filmes do Haneke, estou muito curioso por ver este :D

 
At 18.1.10, Blogger Crestfall said...

Globo de Ouro para o Laço.

 
At 20.1.10, Blogger ::Andre:: said...

Esclarecido Fontoura :)

Depois de Cannes e do Globo, o Oscar para melhor filme estrangeiro também será dele.

E acho que vou novamente ao cinema...

 

Enviar um comentário

<< Home