Koboku Senju
Depois de uma mini-tour nos países nórdicos e uma breve passagem pelo Japão, foi a vez dos EUA receberem o quinteto dos japoneses Tetuzi Akiyama (guitarra) e Toshimaru Nakamura (mesa de mistura sem entradas) e dos noruegueses Martin Taxt (tuba), Eivind Lønning (trompete) e Espen Reinertsen (saxofone e flauta), denominado Koboku Senjo. O primeiro disco deste grupo saiu há um par de meses pela norueguesa Sofa Music e apresenta uma espécie de extensão do grupo formado há dois anos pelos mesmos músicos sem a presença de Nakamura.
O concerto em Filadélfia teve lugar na galeria Fleischer / Ollman, no primeiro andar de um edifício histórico bem no centro da cidade onde a maioria da actividade nocturna acontece.
O grupo oscila ora entre momentos mais melódicos (seja pela guitarra de Akiyama ou pela presença dos sopros) ora por outros mais abstractos que vão do pulsar do feedback da mesa de mistura de Nakamura e da percussão metálica dos sopros até a deambulações de textura e dinâmica. A presença “electrónica” de Nakamura, por comparação com o quarteto atrás mencionado e em contraste com a restante instrumentação acústica, traz um novo elemento de surpresa constante (muitas vezes a roçar o subversivo minando direcções que se constroem para talhar novos caminhos inesperados) para além de libertar os sopros, do seu papel de manipulação do timbre do todo, para outras aventuras. O concerto começou com um longo período onde saxofone e trompete criaram uma massa sonora hipnótica para ser repentinamente cortada pela distorção de feedback de Nakamura, o pulsar grave da tuba e os acordes soltos de Akiyama num dos momentos mais dinâmicos e rítmicos de toda a noite. A partir daí oscilou entre o mais próximo do silêncio e momentos mais ruidosos dando cada músico espaço aos restantes para introduzirem as suas ideias e sons. Notou-se uma atenção acrescida de cada músico relativamente aos outros, especialmente entre os norugueses e dos noruegueses para com os japoneses, procurando constantemente novas dicas para criar momentos de sinergia amplificada. Perto do final tudo se conjugou para uma extensão que lembrou ennio morricone e os westerns spaghetti, com os sopros a criarem uma melodia dramática, pano de fundo à guitarra slide de Akiyama. Em muitos momentos durante o concerto, tal como nesta extensão final, parecia que estavam em jogo elementos pré-compostos, mas uma conversa com os músicos no final indicou o contrário, tendo sido o concerto completamente improvisado.
Serve também este post para chamar, mais uma vez, a atenção para o grande guitarrista japonês Tetuzi Akiyama. Se o comentário da revista The Wire de há uns anos, onde se afirmava que o japonês estaria a “desafiar o título de guitarrista mais interessante do planeta”, poderá parecer excessivo, não há dúvidas que é um dos mais inventivos de sempre de tal instrumento.
Dos discos a solo destacam-se: “Relator” [2001], “Don’t Forget to Boogie” [2003] e “Route 13 to the Gates of Hell” [2005] e a monumental faixa da compilação “Wooden Guitar” [2003] onde se encontra ao lado de nomes como Jack Rose, Sir Richard Bishop e Steffen Basho-Junghans. A discografia colaborativa é imensa e atravessa várias abordagens. Se tivesse de escolher um só disco penso que escolheria “Till We Meet Again” [2005] em dueto com a electrónica percussiva de Jason Kahn – apesar de o disco não estar bem alinhado na sua totalidade, algumas das faixas encontram Akiyama no seu melhor.
Não esquecer também que Akiyama tem dois discos em editoras portuguesas: “Terrifying Street Trees” [2006] a solo na Esquilo; e “Moments of Falling Petals” [2009] em trio com Éden Carrasco e Leonel Kaplan na Dromos. Em Filadélfia falou-se novamente num regresso a Portugal, ainda este ano, após mais de dois anos de ausência – vamos a ver se as estrelas se alinham para tal.
Para terminar, Akiyama no seu mais destrutivo e ruidoso, num dueto com Michel Henritzi, recentemente em Portugal pelas mãos da Amplificasom. Este concerto saiu em disco com o nome “Broken Blues” [2007].
E com isto termino (da melhor maneira) as minhas transmissões do outro lado do atlântico e a minha colaboração online com a Amplificasom pelos próximos tempos.
4 Comments:
Bela homenagem, o Tetuzi já merecia.
Vi-o duas vezes ao vivo graças à tua Esquilo (a qual desejo que regresse aos concertos em breve agora que estás quase de volta) e tenho um ou dois discos dele, inclusive esse editado pela Dromos que mencionei aqui:http://amplificasom.blogspot.com/2010/01/o-primeiro-dromos.html
André, se ainda não os ouviste, tenta arranjar os discos que mencionei dele - certamente te vão interessar.
A beleza expressa pelo artista não pode acordar em nós uma emoção cinética nem uma sensação puramente física. Acorda...uma estase estética, uma piedade ideal ou um terror ideal, uma estase evocada, prolongada, e finalmente dissolvida por aquilo a que eu chamo o ritmo da beleza...J.Joyce...
music speak for itself and for us
Totalidade do concerto em Dallas, Texas, da mesma tour, aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=Uq4kvnv5xYc&feature=related
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