A nostalgia dos anos 80 não é um exclusivo nacional, como se pode facilmente perceber pelo conteúdos de entretenimento com que somos bombardeados ultimamente. Se inicialmente era o simples revivalismo, sem justificação, hoje em dia começam a aparecer estratégias ardilosas para nos enfiarem aqueles malvados anos casa adentro. Daí a razão de existir de Rocker, um filme de Jack Black sem Jack Black. Durante 90 minutos Hair Metal e Glam Rock misturam-se com pop rock Hanna Montana, adultos convivem com adolescentes a roçar o limiar da legalidade, e música horrível cruza-se com… bem, com mais música horrível. The Final Countdown dos Europe também está lá presente, mas desde que os Europe foram cabeças de cartaz no Festival do Marisco 2010 de Olhão pode-se dizer que não há lugar onde os Europe não estejam.
O problema com todos os filmes de bandas é o esquema narrativo simplista, sempre Disney, seja qual for a origem do filme. Uma banda miserável começa a tocar numa garagem com todas as desvantagens possíveis e imaginárias. Há sempre um handycap físico ou emocional que faz dessa banda a mais improvável banda a suceder no mercado. Mas devido à grande força de vontade dos seus membros, à excepcional qualidade das suas composições, a banda começa singrar localmente. Aparece um agente que diz “gostei do que vi, vou fazer-vos universalmente famosos”. Nesta fase há a montagem animada com música heróica e bem disposta da banda a conquistar os palcos. E no milésimo de segundo que antecede o momento da glorificação mundial da banda, um dos membros sai causando um desabamento catastrófico e a morte imediata de todos os sonhos. Mas esperem, há mais… Quando tudo parece perdido, quando todas as esperanças haviam vertido para os pântanos do desespero, eis que uma situação totalmente inesperada (totalmente) faz com que esse aparente ponto negro seja o catalisador para o estrelato e da fama eterna. Final apoteótico com performance ao vivo perante uns fans tão alucinados que embaraçariam qualquer concerto dos Beatles no seu auge. Créditos finais.
Mas a verdade é outra. Quem não tem cunhas, conhecimentos, connectings ou favores a cobrar não vai a lado nenhum. É uma verdade tão universal como a protagonista de qualquer série, filme, telenovela que ainda não tenha curriculo na área ter que fazer mamadas, gangbangs e DPs para ser escolhida para determinado papel. É assim, porque eu sei que é assim…
Voltando ao filme. Não, não compensa. É fraquinho. Um Jonas Brothers com um tipo a fazer macacadas. Nem música, nem qualidades técnicas, artísticas ou sociais se lhe reconhecem. É o verdadeiro degredo, um filme morto à nascença. Tivesse este filme há 10 anos atrás e eu teria adorado. Hoje em dia, na ressaca de todos os filmes com temáticas hasbeens e wanabees não tenho a mesma opinião. Mas o certo é que temos um excelente actor a enxovalhar-se e a fazer figuras desnecessariamente embaraçosas numa jogada que não lhe deve ter valido grande valor comercial.
E agora vamos àquilo que vos incomoda mais neste momento. Sim, os Europe vieram mesmo ao Festival do Marisco 2010 de Olhão. Pois, eu também acho que é um novo ponto baixo para qualquer banda rock ex-glória dos 80s que se preze, não desfazendo no Festival de Olhão que é muito interessante. No final dos anos 80 fui para lá arrastado pelos meus pais e obrigado a assistir a um concerto do Júlio Iglesias e, tirando o concerto, tinha tudo aspecto de organizadinho e decente. Aliás, do próprio Júlio Iglésias também não se pode gabar a carreira meteórica, porque um concerto organizado para os clientes do Continente de Portimão (2008) também não é propriamente um passo em frente.
1 Comments:
Fantástico!!! Um bem hajas por todos estes tópicos deliciosos.
Enviar um comentário
<< Home