05 junho, 2011

Abstenção

As sondagens indicam 43% de abstenção, nas eleições mais importantes desde que as mesmas são livres em Portugal. Quase metade dos eleitores decidiram não ir votar. Porquê?

26 Comments:

At 5.6.11, Blogger jorge silva said...

queres mesmo voltar a essa conversa?...

 
At 5.6.11, Blogger Scometa said...

Ja sei a tua perspetiva e a da Vera, já sabem o que penso disso. Mas também sabes que a maior parte dos abstencionistas não o faz pelas mesmas razões que tu. Simplesmente, estão-se nas tintas.

 
At 5.6.11, Blogger jorge silva said...

Para abreviar tudo o que se vai seguir: as minhas opiniões já foram bem expressas aqui por altura das eleições presidenciais e não as vou repetir. Quanto a estas eleições: por altura da demissão do Sócrates comentei, num post teu, "cá estaremos no rescaldo das eleições para apontar o dedo aos verdadeiros culpados de tudo isto que, como sabemos, são os abstencionistas". A tua resposta foi que isso não iria acontecer porque, pelas movimentações populares, facilmente se adivinhava uma participação massiva nestas eleições... bem,cá estamos nós!...

 
At 5.6.11, Blogger João Veiga said...

estava calor pá! praia e tal :P

 
At 5.6.11, Blogger Unknown said...

Eu não sei o porquê destes resultados da abstenção, mas posso falar por mim.
Eu sempre fui um acérrimo defensor do voto. Em tempos até admitia que o voto deveria ser obrigatório, com consequências para quem não votasse!
E curiosamente, nestas eleições não votei.
Todo o contexto sócio-cultural que o mundo atravessa nestes dias de incerteza me fizeram desacreditar na política, em qualquer política.
Porque mesmo sendo decididamente de esquerda, não me revejo em nenhuma das esquerdas que são propostas...
O meu caso é este, já não sinto que as alternativas políticas sejam viáveis, e talvez seja este o caso de algum povo por aí...

 
At 5.6.11, Blogger Saturnia said...

Tens razão Jorge, tinha como impensável que nestas eleições se mantivesse esta abstenção. Mas para mim é sintomático do país que temos. Não deixo de estar muito desiludido com isto.

Neuroticon, isso é desistir, é desistir de teres uma voz no teu país, mesmo que não te identifiques com ninguém, desacreditar em toda a classe política é pousar as luvas e arrumar para o lado as decisões. Se és de Esquerda, então devias filiar-te num partido e tentar, dentro dele, fazer ouvir a tua voz de descontentamento. Porque se desistirmos disso, estamos a desistir da democracia.

 
At 5.6.11, Blogger Unknown said...

Saturnia, não me vou filiar em nenhum partido porque não sou ovelhinha para ir atrás de tudo o que um partido diz.
Muito sinceramente, não acho que tenha desistido de ter uma voz, desisti de manifestar a minha voz por qualquer um dos partidos. Mas a abstenção é uma manifestação!
Acho também que no que toca a política, não se vota conscientemente. Quer queiramos quer não, Portugal ainda é um país um bocado analfabeto, é a realidade. E o que se vive no panorama político é um certo clubismo. É votar na "nossa camisola" porque sim, não porque estamos informados sobre o programa de cada partido...
Acho que alguma coisa vai ter de mudar, o sistema de partidos está muito desacreditado...

 
At 5.6.11, Blogger jorge silva said...

Parece-me que anda aí alguém com a conta do blogger errada aberta!!! :D

 
At 5.6.11, Blogger Scometa said...

LOL Jorge, tal e qual! Esse comentário é da minha autoria!

 
At 5.6.11, Blogger Unknown said...

Bem me parecia que "conhecia" aquela opinião :p

 
At 6.6.11, Blogger Ocelot said...

Admito que não tenho grandes conhecimentos sobre o que se passa na nossa política.
Eu estava para votar em branco, mas acabei por não o fazer. Até pode servir como forma de protesto em relação aos partidos que temos, mas também é verdade que os votos em branco ou as abstenções não têm qualquer efeito prático. A comissão nacional de eleições divulgou, inclusivamente, um documento que afirma que os votos em branco não têm qualquer efeito que não seja meramente estatístico. Não servem para nada, a não ser para dar mais votos aos "grandes" partidos, nomeadamente o PS e o PSD. Não sei se alguém votou num desses partidos, mas caso alguém o tenha feito, perdoem-me, mas pelo que vejo nos últimos anos tem sido sempre assim: Só temos visto vitórias do PSD ou do PS. Ou seja, por exemplo o PSD governou mal durante um mandato e o pessoal esteve insatisfeito e então quiseram uma mudança, que foi para o PS e a alternância entre 2 partidos tem tido sempre assim... parece que é um tabu pensar em votar nos tais partidos de esquerda ou nos comunistas.

Não estou a dizer que estes são os partidos honestos, e como disse acima, não estou ligado a nenhum partido e o meu conhecimento de política não é do melhor. Mas perguntou-me: se as pessoas não querem uma mudança, não seria melhor votarmos num partido que nunca teve oportunidade no poder? Isso não seria uma probabilidade maior de mudança? Votar nos mesmos é mudança ou é continuidade?
Então em quem votei? Decidi votar num partido minoritário.

 
At 6.6.11, Blogger Scometa said...

E a isso, Ocelot, se chama voto consciente. Podes não ter as melhores noções de política, mas pensaste antes de votar e não votaste apenas por "clubismo".

 
At 6.6.11, Blogger Ocelot said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 6.6.11, Blogger Ocelot said...

Curiosamente, devo tudo ao "Animal Farm" de George Orwell para começar a ter umas pequenas noções sobre o mundo da política. As falsas promessas que nos são implementadas, a nossa memória curta sobre os acontecimentos e que tudo o que fazemos (os sacrifícios) são um bem necessário para o País. E nesse livro, o autor faz uma analogia com uma quinta, onde nesta tem vários tipos de animais e de forma humorística e satírica, mostra como somos manipulados e dominados pela media e pelos nossos governos.

Estou a ler agora o "1984" do mesmo autor, e também está bastante interessante.

 
At 6.6.11, Blogger Pereira said...

Ocelot, achas mesmo que a Europa permitiria um partido que não seja de centro ou centro-direita governar Portugal? A coisa vai rodar sempre entre PS e PSD.

Eu não votei porque não tenho dinheiro para atravessar os mil e tal km's que separam Lisboa do Funchal sempre que me apetece, e só soube das alternativas demasiado tarde.

E discordo da ideia de que a abstenção é uma manifestação.

 
At 6.6.11, Blogger Carlos said...

Neuroticon seres membro de um partido não implica que sejas um ovelha como dizes. Eu não concordo com TUDO o que o "meu" partido diz, no entanto uma das vantagens de teres um papel activo no partido é mesmo essa, poderes expressar o teu desacordo e oferecer outros pontos de vista. Mas concordo contigo em relação ao que dizes sobre o sistema partidário que temos, que não vejo como eficaz nem realmente democrático.

O Ocelot toca num ponto curioso. Ainda hoje ouvi dizer "Portugal tem dois partidos". Ora eu quando fui votar esta tarde entragaram-me uma folha cheia deles. Ou então dizem-me "O teu partido tem bons ideais, mas um voto neles é um voto perdido porque nunca hão-de ganhar". Se toda a gente que pensa assim votasse nele possivelmente já estaria no poder, e mesmo não estando ganha mais presença na Assembleia, o que já representa uma vitória.
Mas como diz o Ocelot, existem partidos "tabu" ou que "só servem pra fazer barulho", os comunistas comem criancinhas e dão uma injeção atrás da orelha aos velhinhos, os bloquistas fumam substâncias ilícitas, e os outros grande parte nem os conhece e nem vale a pena pensar neles por serem tão pequenos.
Enfim, mais quatro anos do mesmo e provavelmente no fim destes virão mais quatro.

 
At 6.6.11, Blogger Carlos said...

Pereira a questão da Europa não é nada que não tenha um solução relativamente "simples" e que não tenho sido já sugerida pelos tais partidos de esquerda, mas esse parece ser outro tema tabu.

 
At 6.6.11, Blogger Ocelot said...

Carlos, se calhar nem é preciso esperar tanto para outro "espectáculo". Como o povo começa a ficar mais saturado, daqui a 2 anos cai o governo e o PS volta à ribalta nessa altura e já ninguém se lembrará do Sócrates, mas sim do Passos como o grande demónio. Era disto que queria falar sobre a "nossa" memória curta. Mas sim, caso aguente os 4 anos, apostaria agora que é o PS a ganhar. Tem sido praticamente assim. Como disseste: "só temos 2 partidos"


Pereira, não percebi o que quiseste dizer, mas se estás a falar sobre os grandes da UE, sim, eles preferem ter os 2 partidos habituais onde já têm a máquina mais que oleada para entrar nas regras do jogo deles (da UE).

Mas e se por acaso um partido mais pequena agora ganhasse? Sim, A UE caía em cima deles, a fazer pressão para entrar no jogo deles. Mas também isso acontece porque o povo tuga assim o permite, nunca tomamos uma posição séria. Conformismo é o substantivo que nos predomina. Na França por exemplo, o povo nesse aspecto é extremamente unido e às vezes até partem para extremos. E isso, segundo percebi, "apenas" aconteceu porque queriam aumentar a idade da reforma dos 60 para os 62. Se os franceses tivessem que levar apenas com metade do que nós já levámos, então já teríamos uma campa para certos indivíduos "delá de cima".

 
At 6.6.11, Blogger Carlos said...

Não me admiraria Ocelot. O PSD ganhou porque é fácil fazer uma campanha dizendo que há uma crise e que o governo é o responsável por ela. Mas as pessoas não se apercebem que esta é uma crise europeia, e que Portugal foi simplesmente um dos primeiros afectados, sendo um dos "elos mais fracos". Criticar e culpar o Sócrates por tudo o que acontece em Portugal é moda, mas eu estou convencido que não vai levar muitos meses até que essas mesmas pessoas expressem saudades deste governo.

Obviamente a UE não admitiria um governo que não se submeta às regras de Bruxelas e possivelmente seríamos premiados com embargos como acontece com países como a Bielorrússia, Venezuela e Cuba só porque se atrevem a ter um sistema económico diferente (logo, uma "ditadura"), ou como aconteceu quando tivemos a NATO a fazer exercícios para estes lados aquando da "ameaça" de um regime (realmente) socialista em Portugal, mas são alguns desses países que nos mostram que é possível resistir.

 
At 6.6.11, Blogger Pedro said...

Também eu fui defensor do voto, e ontem lá fui eu pôr uma cruzinha, mas parece-me que foi a última vez.


Como o Neuroticon ali muito bem disse, a ideia de seguir um partido sem questionar não dá para mim. Seja à direita, seja à esquerda. Ambos têm alguns pontos razoáveis, mas em portugal trata-se a política como clubes de futebol, tem-se um e acabou. Apoia-se esse e não se fala bem do adversário. Nunca.

Como se isso não fosse suficiente, os partidos preferem campanhas (onde gastam balurdios btw) onde preferem atacar-se mutuamente, e não apresentam uma única medida que realmente procure ajudar a população.

População essa que depois vota ora num ora noutro, ignorando os partidos mais pequenos.

Vou eu formar um partido sendo eu apartidário? Vou me juntar a um partido na esperança de ser ouvido, sabendo que se tiver alguma ideia contra esse mesmo partido vou ser posto de lado? Porque seja onde for, os partidos têm os seus próprios interesses, e uma coisa é certinha: esses interesses não são o nosso bem-estar.


Por isso, chamem desistir se quiserem. A democracia é bonita quando é bem feita.

Para mim, acabou.

 
At 6.6.11, Blogger André Forte said...

eu, que sou pastor, acho seriamente que o problema do nosso desinteresse pela política está nos partidos. estarmos em partidocracia, mais do que em democracia, desvaloriza imensamente o voto das pessoas. o meu pai, por exemplo, votou CDU sem conhecer as listas do partido por Coimbra. e não foi o único.

as pessoas não sabem, realmente, que votar é uma decisão de prescindir do nosso poder de decisão em prol da pessoa em quem decidimos confiar. por norma, por não me identificar com isto, nem costumo votar. mas sabendo a tango que se preparava (e que está a acontecer, para todos os efeitos, com o demónio africano e decidir tudo com o cuspidor de bolo-rei e com o FMI).

mas o facto de estar tudo centrado na política partidária acaba por não deixar alternativa de decisão aos já indecisos e isso leva ao desinteresse pela política - não nas urnas, mas na vida quotidiana. ser humano é ser-se político (na distinção anglófona, é ter interesse por politics e não por policy). estar tudo concentrado nos partidos retira o interesse por uma vida política, porque ela não tem ecos na sociedade de espectáculo e, infelizmente, é como se não existisse.

 
At 6.6.11, Blogger Ocelot said...

Pode ser um pouco off-topic, mas acho que tem o seu interesse:

Curiosamente tive uma conversa interessante num café com pessoal amigo sobre uma situação curiosa e confesso que nunca tinha pensado nisso, que é sobre a inflação, Vejamos: Antes de termos a moeda do euro, tínhamos o escudo, e alguns exemplos de preços:

Café: 50 escudos (50 centimos agora)
Gasolina: +- 100 escudos (+- 1,50€ agora)
Bilhete de cinema: 300 escudos (6 euros!!!)
Salários: mais ou menos igual


Se virmos bem, desde que temos a moeda €, os preços da maioria dos produtos duplicou no mínimo enquanto que os salários mantiveram-se. E o custos das coisas continuam a subir ano após ano. Como é que vamos conseguir sobreviver assim? Como é que iremos ter poder de compra assim? É mais que complicado.

 
At 6.6.11, Blogger António Pita said...

O problema da abstenção enquanto manifestação é que não encontra reflexo dentro do tabuleiro do jogo político. O voto branco ou nulo sim. Porque, num caso absurdo de esmagadora concentração de votos assim, ir-se-ia colocar a questão fundamental da legitimidade. Estamos longe desta realidade? Estamos: porque os 43% não são um número real, por causa dos eleitores fantasma. E os votos brancos/nulos são cerca de 4%. E não são os 43% que exprimem uma vontade. São os 4%. Em democracia, claro está.

Depois há outro problema: os abstencionistas que o fazem conscientemente e como forma de protesto, são metidos no mesmo saco dos veraneantes de domingo, e dos que utilizam argumentos pouco informados como o "são todos iguais" ou "querem é todos mamar".
O voto branco ou nulo não. Põe no mesmo saco pessoas que não se revêem com nenhum partido e pessoas insatisfeitas. Formam um protesto, mas um protesto mais direccionado e mais esclarecido.

Soluções são complicadas. Como já se conclui aqui, o poder dos partidos políticos é gigantesco, a clubite também. E é complicado reverter isto, porque a legitimidade dos nossos governantes vem de nós próprios. E não do autoritarismo de qualquer cabeça.

Pessoalmente, tenho pena que não haja partidos de esquerda que não sejam de contra-poder. Acho que houve a ilusão de que o Bloco poderia ser esse partido do poder - à semelhança do PP do outro lado. Mas também provaram que não. E foram penalizados.

 
At 6.6.11, Blogger Scometa said...

Isso, Ocelot, é onde entra o chamado Estado Social. Para tu teres um mercado mais competitivo, há setores onde efetivamente os nossos empresários preferem sair do país a ter que suportar sequer o nosso salário mínimo. Provavelmente, verás os salários mínimos a descer, e não a subir. Isto irá certamente acrescentar novas dificuldades às famílias em situações mais precárias, que só poderá ser atenuado com um estado social forte, com ajudas sociais seguras em áreas como a saúde ou a habitação. Mas o que se perspetiva é, para além de salários mais fracos, as ajudas sociais diminuirem. E é daqui que eu adivinho que dentro de um ano iremos ter convulsões sociais nunca vistas no nosso país.

Acho que esta abstenção tem que provocar uma reflexão e debates profundos.

 
At 6.6.11, Blogger André Forte said...

Certo, António, mas nenhuma das hipóteses que apresentas anula a importância que a Abstenção tem. Revela desinteresse pela vida política, uma face essencial da vida humana, e tem de ser tida em conta, não como uma coisa de pessoas que não têm voz, mas como um erro grave do sistema, neste caso a nível de educação.

Atenção, de salvaguardar que eu sou um abstencionista, por norma. Só levanto o meu rabo para votar para as autárquicas e ter ido votar, desta vez, foi, até ver, sem exemplo, porque estava ciente da viragem à direita que isto tomar e do quão assustador isso é.

 
At 7.6.11, Blogger António Pita said...

Mas repara André (o Forte, devido ao sítio) eu não me pronunciei em relação a isso por ser neste sítio. Onde assumo desde logo participarem pessoas cientes e críticas da realidade. Eu não pretendo anular a importância desta abstenção - embora tenha referido os eleitores fantasmas. Relativizo-a, com o que disse no último comentário, mas não nego (antes pelo contrário) que é a classe política que provoca este desencanto, esta falta de esperança no poder político partidário.
Porque, no fim de contas, temos uma democracia jovem, assente num sonho (falo do de Abril), que nunca foi cumprido, posto nas mãos de pessoas que nunca o evitaram, e de que a malta jovem e instruída como nós está farta. E queremos afirmar que isso acabou!

Encontrar a vós correcta para o dizer é que é muito complicado. E/ou desafiante, dependendo de onde te pões na "luta".

 

Enviar um comentário

<< Home