O melhor Heavy Metal do mundo?
Uma das verdades mais bem escondidas que guardo comigo é a de realmente sentir um fascínio pelo bom velho heavy metal forjado nas leis dos inícios de 80. Sim, eu sei que é uma coisa demasiado datada: calças de cabedal, rebites, cabelos longos arrepiados, franjas, bigodes…, mas é o mesmo sentimento que nutre a paixão de amantes de filmes exploitation ou banda desenhada antiga, por exemplo.
Mas atenção: isto não significa que tudo o que venha á rede seja imediatamente peixe do bom! Há uma linha ténue, mas imensamente importante que divide aquilo que será o bom Heavy Metal tradicional daquilo que é o mau gosto. E é neste campo que surgem os Manilla Road, uma das bandas mas interessantes do género e que mesmo após tantos anos (formaram-se em 1977!), continuam a trabalhar e a produzir, mesmo que nunca tenham tido o reconhecimento que merecem.
Se calhar parte da chave do seu sucesso é essa. Quem sabe se (infelizmente) não teriam chegado ao ponto de serem uns Manowar (exemplo típico do metal acéfalo e de mau gosto)?
“Crystal Logic” é o terceiro álbum oficial da banda e é talvez aquele que me consegue prender mais, muito em parte pela grande dinâmica criada ao longo do disco, nunca perdendo tempo em faixas demasiado melosas, apesar de ter uns muitos bons momentos mais lentos e quase doom e com uma boa dose de riffs mais rápidos com toque de cavalgada épica muito à NWOBHM! Ouçam bem a faixa “Necropolis”!
Acima de tudo, aqui não existe “palha para encher”, nada está a mais. Todos os arranjos, melodias, passagens têm uma razão de ser e não temos momentos fracos ao longo do disco.
Podemos bem dizer que não existe um único riff mau neste disco! Mark Shelton, o guitarrista, vocalista e principal compositor da banda é Deus! A sério, depois disto toda a gente que “come” heavy metal de piroso deveria ter vergonha na cara. Isto é épico e bom, sem ter qualquer momento de fraqueza. Acima de tudo é dos poucos álbuns que tenho que realmente me põe a cantarolar baixinho as músicas.
É o disco perfeito para se colocar ao lado de um “Melissa” de Mercyful Fate ou um “Mob Rules” de Black Sabbath, por exemplo.
Shelton é ainda um óptimo vocalista, com um trimbre muito próprio, bem longe do registo agudo de um Rob Halford ou de um falseto á King Diamond. A sua voz consegue verdadeiramente emanar uma sensação de “passado”, funcionando muito mais como um narrador, um contador de histórias, que nunca cai em exageros de virtuosismo ridículo, tal como a música no seu todo.
Não esperem também encontrar aqui um som límpido e plástico. Existem falhas, ruídos mas nem por isso deixa de ser bem potente. Aliás, o som em toda a discografia de Manilla Road revela o quanto eles pertenciam a uma liga diferente do comercialismo exacerbado dos gigantes do Metal. A música sempre foi o essencial e através dela podemos experienciar ao máximo o que o termo “Metal” carrega consigo.
Exemplo de persistência e honestidade, após tantos anos, Manilla Road continuam activos, na sua cidade no meio do Kansas a contar histórias de bárbaros, eras perdidas e terras há muito esquecidas. É o que o bom Heavy Metal consegue fazer: criar imagens, narrativas visuais fantásticas sem nunca nos fazer sentir envergonhados de percorrer esse trilho.
É apenas Heavy Metal e não pretende ser mais que isso. A sua importância reside nisso mesmo.
Nada temam. Ouçam isto, porque é bom e evitem pensar nos lugares comuns ao género, pois se eles aqui existem, são bem explorados não há que ter vergonha nenhuma disto.
(nota de rodapé muito importante: eu detesto tudo o que é Manowar, Rhapsody e afins! MUITO!)
Momento gráfico de conotação épica por André Coelho.
24 Comments:
Eu adoro Rhapsody. Não é Heavy Metal lol. É Power!!!! até te digo mais. Tenho cd´s originais deles lol
Estou contigo nessa. ODEIO MUITO Manowars, Rhapsodys e afins.
A unica incursão que tive no Heavy/Power foi o segundo disco dos Lost Horizon, que tinha umas malhas do caneco, mas já nem sei por onde anda...
E que tal levar assim com um "Triumph of steel", com o grande épico "Achilles, Agony And Ecstasy In Eight Parts" logo a abrir, ou com um "Symphony of Enchanted Lands" para ver se isso passa?
Passar não passa, mas posso-vos é garantir que estou a mandar a minha posta de pescada e se não concordam com ela, estão no vosso direito assim como acho muito bem que defendam o vosso ponto de vista e que continuem a gostar de Manowar e Rhapsody.
naSum, tens razão é Rhapsody
é Power. Apenas fiz a associação pelo facto de também serem uma banda de Metal e pelo facto do seu imaginário ser bastante próximo ao de Manilla Road (aliás, podemos traçar esse paralelismo entre grande parte do Heavy e do Power Metal, ora pensem lá bem).
Acima de tudo, ouçam o raio do "Crystal Logic" e espero que gostem tanto dele como eu! ;)
Por acaso prefiro os "nossos" Ironsword.
Eu gosto de Manowar :X....Já tive um cd de Rhapsody que tratei de vender :D
Hmm, compreendo André. Tás no direito de não gostar assim como o Neuroticon. Odiar até eheh. A única banda que ainda ouço de Power actualmente é mesmo Rhapsody. Quando era mais novo ouvia muito power. Lost Horizons, Gamma Ray´s, Luca Turilli´s, HammerFall´s, Dragonland´s, Sonata Artica´s etc etc. Manowar nunca gostei. Devias experimentar ouvir o "Symphony of Enchanted Lands" dos Rhapsody. Sim há um certo paralelismo mas eu nunca fui fã do Heavy Metal...não sei.
Já ouvi muito power/heavy metal, mas actualmente só mesmo Lost Horizon,Kiuas e Hibria.Foram as únicas que sobreviveram ao tempo.
Heavy Metal?
Iron Maiden!
De heavy assim o que conheço e gosto é Wolf e Slough Feg. A ver se ouço MR.
E Iron Maiden, claro.
Olha, Susana, Slough Feg são um bom exemplo de banda influenciada por Manilla Road, por exemplo!
E alguém mencionou Ironsword!?!? AAAAAAAAAAHHHHHH Isso até me dá vontade de correr em pelota com um machado! Que cena máscula!
Musicalmente prefiro os Ironsword aos Manilla Road, e neste caso acho que "os alunos superaram o mestre".
Sim, percebo o que queres dizer Kustu. Apesar de tudo, acho que o unico disco realmente SEM falhas que Manilla Road tem é mesmo o "Crystal Logic". Nos outros há sempre qualquer coisa menos boa ou musicas que simplesmente enchem. Ironsword acabam por pegar naquilo que os Manilla fizeram de melhor e trabalham em torno disso.
Esqueci-me de Iron Maiden,também adoro.E uma nova que descobri : Enforcer.
Neste momento ouço mesmo mt pouco de Power Metal. Antes de explodir aqui em Portugal, lembro-me de ter ido a um fest com entrada livre no Seixal em que tinham lá Hammerfall, Gamma Ray, Jag Panzer,... e a afluencia foi pequena. Cheguei a ver Rhapsody ao vivo e fiquei mt desiludido, pq não tinha nada a ver com o disco, devido a falta dos arranjos. Continuo a achar o "Symphony of enchanted lands" um album épico e excelente na vertente do género, mas ao vivo não gostei mesmo nada do resultado. Quanto aos Manowar, neste momento é de facto triste o que eles têem feito com a carreia deles. Existe já falta de criatividade. No etanto tenho de louvar os trabalhos mais antigos da banda. Nunca se pode julgar uma banda só por um tema ou um album menos conseguido. Não é correcto, no meu ponto de vista. Posso dizer que prefiro o velho speed metal à vertente mais moderna PM em que me deixa aborrecido dps de algus minutos. Há uma banda que nunca gostei. Não sei o que tocam agora, mas ha uns anos atrás eram um dos pilares do P.M., que são os Edguy.
Mannila Road? Não conhecia o tema e gostei =) Existem muitas perolas por descobrir.
Vou sacar o Crystal Logic por curiosidade, confio nos gostos do André. A verdade é que eu e o HM tradicional não nos damos muito bem, mas se curtir aqui estou eu para admitir :)
Estou a ouvir e estou a gostar.
Há que distinguir claramente a linha do Heavy Metal original que teve origem em Inglaterra, das réplicas que aconteceram na Alemanha e EUA, e que acabaram por assumir diferentes denominações tais como o Power Metal.
Os Iron Maiden talvez sejam o exemplo maior dessa linha original, que de forma tipicamente britânica, se manteve aparte de fusões e permaneceu inalterada no tempo. Isto enquanto lançou as bases para tantos outros géneros e derivações, muitos deles também tipicamente britânicos.
Foram estes pirosos de “chains & leader” dos anos 70/80, que criaram a ramificação principal do rock’n’roll e abriram o caminho para todas as abordagens alternativas ao rock que temos hoje.
Enfim, somos uns privilegiados por ainda podermos conhecer a base e usufruirmos do que daí surgiu. Portanto, não entendo bem a forma algo envergonhada, como alguns aqui “assumem” que até apreciam Heavy Metal e até têm alguns álbuns em casa.
Com os melhores cumprimentos
Caro Mafarrico, espero que não te tenha criado a ilusão de que me envergonho de ouvir Heavy Metal! Longe disso! Tenho muitos álbuns de Metal (genericamente falando) e ouço-os regularmente.
E sim, é preciso reconhecer que se não fossem os tais "pirosos" que referes não teríamos mais de metade das bandas apresentadas nos cartazes ali do lado direito do blog.
Seja como for, o principal objectivo deste meu post não foi de todo abrir o precedente a uma exposição de gostos tidos como "proibidos" (sabe-se lá porquê), mas sim dar a conhecer uma fantástica banda de Metal que pouca gente conhece e que pelos vistos influenciou muitos!
Afinal, quem faz músicas sobre o Conan merece tudo!
Caro André,
O meu comentário, eventualmente um pouco agreste, não tinha o intuito de o eleger a si especialmente como alvo.
Apenas me permiti um breve desabafo. Sendo eu um consumidor compulsivo de música não-mainstream há já mais de duas décadas, tenho tido a oportunidade de observar o lento progredir de formas e estilos musicais e de constatar a forma intrincada como uns evoluem a partir de outros.
Daí ter vindo em defesa de um género musical, que padece do problema de ser incompreendido desde a sua génese, e de se ver agora renegado por aqueles que talvez não o tenham vivido tão intensamente. Isso, e porque me estava mesmo a apetecer fazer uma ode ao Heavy Metal.
Quanto aos Manilla Road, pouco mais há a dizer quanto à sua grandiosidade. Basta ler a forma épica e avassaladora como os próprios se auto-descrevem no site oficial da banda. Não é para meninos!
Caros, nunca, salvo por acidente ou sem saber que, ouvi Manilla Road. O teu post deixou-me curioso.
Não tenho nenhum disco de Manowar mas cheguei a ouvir com alguma regularidade e a possuir algumas tapes, e quem faz um tema como Blood of my Enemies não pode ser assim tão acéfalo.
Quanto ao facto de se odiar alguma coisa em termos musicais, não compreendo. Para odiar é preciso perder tempo com.
Blood of my Enemies, mas que grande malha. Os Edge of Sanity fizeram o favor de fazer uma versão como deve de ser desse clássico.
Isto pode parecer estranho, mas na minha perspectiva os Manilla têm temas que podiam ser duma indie qualquer dos anos 2000. Consigo ouvir algumas bandas do género a fazerem covers deles e a soarem bem.
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