05 maio, 2011

As Artes Inúteis

Artes inúteis é do pior que há. Por se movimentarem nos círculos artísticos, a maioria das pessoas tem alianças a defender, egos que precisam de se alimentar mutuamente, entre outras coisas, que levam a que muita coisa fique por dizer. No meu caso, sou um pouco tipo parasita nestas andanças. Nos meios da literatura, pintura, design e mais algumas coisas, molho o pincel e meto as minhas colheradas, mas não posso dizer que os meus principais amigos estejam nesses meios. O meu diálogo sobre as artes é com livros e revistas, portanto ninguém pode mandar vir comigo de volta, logo há o fenómeno das coisas perfeitamente abjectas, cuja validade devia ser questionada, que eu não consigo compreender. A primeira questão a ser colocada a qualquer objecto cultural devia ser 'qual é a tua validade?'. Livros que não deviam ser escritos, exposições só para fazer número, quadros cujos autores não sabem o que devem significar para além dos números, é tudo parte do mesmo. E depois, mais grave, é que as pessoas que conhecem essas farsas e as distinguem, não explicam ao público comum que há coisas que são realmente aquilo que parecem, horríveis. Isto não é uma atitude arrogante; a título de exemplo, eu como em qualquer tipo de pratos. Sei o que é um prato bem desenhado, o que é um prato útil ou um pouco prático, no entanto é-me indiferente, porque o que eu quero é comer. Se há pessoas que ficam indecisas, quase embasbacadas pelo exercício que é ler um livro, nesse caso, e pela minha experiência, eu sei dizer o que está bem e está certo. Portanto, acho que devo denunciar, com veneração para os que excedem os limites da arte e com desprezo para os que se limitam a existir.
Dalí dizia que devíamos fazer os museus de bicicleta e parar apenas em frente a um ou dois quadros, e se eu não defendo essa ideias (e sou um perfeito idiota quando comparado com o Dalí), percebo o que ele quer dizer e defendo-o. De Londres sou capaz de escrever praticamente todos os pintores representados nos principais museus públicos, no entanto uma volta comigo por eles vai ter várias menções ao que eu chamo de 'palha'. A palha nos museus é terrível, não porque não alimente ninguém ali, mas porque é uma desonra para os outros quadros com que ombreia. Atesta a falta de coragem dos curadores em substituírem a palha por um extintor ou algo mais útil. O que se designa por povo, tem dificuldade em filtrar o que uma instituição oferece, já que deposita confiança em demasia naquilo que no fundo são decisões de pessoas iguais a elas. Claro que há uma série de pressupostos que devem ser assimilados, mas quando estão bem coadjuvados com as lições que a história nos deu, qualquer um deve permitir-se a fazer comentários negativos sobre as selecções. Claro que, depois, parte da humildade de cada um, ou do possível humor que usam, em criticar ou ridicularizar as instituições, mas este tipo de diálogo é importante, até porque aprende-se bastante em saber o que está mal.
O melhor de haver tantas coisas más? As boas serem tão boas, tão inálcançáveis.

7 Comments:

At 6.5.11, Blogger Pereira said...

Hmm... Se não é teu objectivo com este post parecer arrogante, cuidado.É que parece. Acho que não há arte inútil, há subjectividade. Há arte boa,e há merda. Há Dostoiévski e Dan Brown , Aki Kaurismäki e Michael Bay, Wolves in the Throne Room e Dimmu Borgir. É tudo válido, a perspectiva é que muda =]

 
At 6.5.11, Blogger Saturnia said...

Não acho um post arrogante.
É tudo uma questão de "filtros":formação,gosto,tendência para, subjectividade, rejeição, estética, aceitação, manias "intelectualóides", amadurecimento...

Com o passar do tempo tornamo-nos muito mais selectivos, críticos e nem tudo o que gira nos convence.
Em tudo há que separar o trigo do joio e este século está cheio dele.

 
At 6.5.11, Blogger Pereira said...

Claro. Só não devemos confundir as coisas. O facto de não gostarmos de algo não significa que isso não tenha lugar no mundo...

 
At 6.5.11, Blogger Anagrama Orgânico said...

Pereira, claro que não. :)
Aquilo que eu me refiro tem a ver com a necessidade de o público questionar as coisas. Tem a ver com a validação de pessoas por parte das instituições que levam a opinião pública por arrasto.
A minha opinião é apenas isso, e para as pessoas que fazem coisas que eu não gosto, acho que devem haver espaços para elas, simplesmente não em detrimento daqueles que eu acho que merecem e não lhes sai a lotaria.
Cumprimentos!

 
At 6.5.11, Blogger Scometa said...

Olha, quem me dera que aqui pelo Porto houvesse mais palha nos museus. Hoje vou dar um giro por Bombarda, mas por exemplo, a minha última passagem por Serralves não ficou sem um travoamargo de desilusão por tãofraca curadoria. De qualquer das formas, o Porto ainda peca pela falta de "classicismo" na oferta dos museus, tanta contemporaneidade chateia

 
At 6.5.11, Blogger Anagrama Organico said...

Por acaso também fiquei com essa impressão. Já me levaram a essa rua Miguel Bombarda, e depois voltei lá por mim, não fiquei muito bem impressionado. Claro que é melhor haver do que não haver, mas as galerias que vi expunham as coisas sem contexto, o que no caso da arte contemporânea, se não for bem explicado o propósito, perde-se tudo e torna-se ridículo. Mas claro que o Porto até está bastante bem servido com Serralves, a Casa, etc, que para o número de habitantes que serve, é mais do que bom.

 
At 7.5.11, Blogger Pereira said...

Ok Anagrama, tinha ficado com uma impressão diferente do teu post, mas o teu comment clarificou tudo, obrigado =]

 

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