O que fica de fora numa conversa com Toby Driver
Fazer entrevistas é uma das maiores palhaçadas do jornalismo escrito. Desde cedo me ensinaram a mutilar o texto, mudá-lo, virá-lo do avesso e retransformá-lo como me apetecer. O objectivo será sempre atingir aquilo que ele não tem à partida: a sensação de imediato da rádio e da televisão. Para isso, vale tudo – menos dar o dito por não dito, mas isso já depende de cada um.
Na música, e esta é uma das partes mais agradáveis de falar dela, o objectivo é sempre o mesmo: dar a conhecer. Não é preciso encostar ninguém à parede, a não ser que se trate de um representante da SPA, ou algo do género. Ainda assim, enquanto se tenta fazer com que um amontoado de palavras se assemelhe a uma conversa, há sempre alguma coisa que não fica bem encadeado e acaba por ficar de fora.
Exemplo disto mesmo é a entrevista que eu e a Ana Beatriz Rodrigues fizemos ao Toby Driver, quando ele passou por cá com os seus Kayo Dot, e que eu acabei por editar. Dessa conversa, houve uma parte que sempre me melindrou por não “caber” no produto final (e este excerto, especificamente, é um conjunto de perguntas da Ana Beatriz):
Espero que não leves a mal, mas acho que o Choirs of the Eye tem algumas semelhanças com Jeff Buckley. É uma influência para ti?
TB: Vocal, ou musicalmente?
Ambos, diria eu. E é uma comparação recorrente.
TB: Sim, também já li isso em vários sítios. Há alguns momentos, dois em particular, onde as vozes são algo que o Buckley faria. Mas não acho que o resto do álbum o seja, de todo. Há uma coisa interessante do Jeff Buckley: toda a gente gosta do Grace, mas a maioria das músicas não foram escritas por ele. Por isso é algo difícil dizer o que é realmente o Jeff Buckley.
Mas acho que é mais fácil encontrar semelhanças no álbum póstumo dele, com músicas feitas por ele, o Sketches for my Sweetheart.
TB: Sim, eu conheço esse álbum. Mas acho que quando estava a trabalhar no Choirs of the Eye ainda só tinha ouvido o Grace.
E ficaste desapontado com a comparação?
TB: Não, não. Eu gosto mesmo muito do Grace e acho que o Jeff Buckley era um grande vocalista. Eu costumava treinar a minha voz a cantar por cima desse álbum, por isso, sim, no que à voz diz respeito, a influência está inquestionavelmente lá. No Choirs of the Eye especificamente. Daí para a frente estava mais interessado em tentar outras coisas.
Que outros nomes é que te influenciam?
TB: Vocalmente, gosto muito do King Dyamond, da Björk, do Thom Yorke, dos Radiohead, e do Peter Murphy, dos Bauhaus. E deve haver mais uns quantos. Se me lembrar eu envio por e-mail (risos).
O malandro nunca enviou o e-mail.
3 Comments:
Apesar de gostar muito de Kayo Dot (os dois primeiros álbuns, essencialmente, o que veio a seguir alienou-me por completo) nunca achei na voz do Toby algo de notável. E até acho que é o ponto mais vulnerável do último trabalho de MOTW.
No entanto, ontem estive a ouvir o novo de ASVA e acho que é o melhor contributo vocal dele até à data. Não necessariamente a nível técnico (até porque não tenho grandes conhecimentos para fazer afirmações dessas) mas neste registo ele consegue criar uma carga emocional, até visceral, muito forte. E o tom da sua voz adequa-se bastante bem ao tipo de sonoridade que os ASVA praticam.
Já agora, acho que o Presence of Absence vai ser um dos meus discos do ano.
Ainda não ouvi o novo de ASVA (tenho esse grande buraco, este ano; e vontade não falta, de o ouvir), mas confesso que admiro imenso a capacidade vocal do Toby. Não é um vocalista dos demónios, mas tem uma amplitude bastante (e não muito :P) louvável.
Vamos lá ver se apanho o Presence of Absence.
André, avisa-me se não o encontrares. Está muito bom e tal como o Zé diz é capaz de ser o seu melhor trabalho vocal...
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