08 setembro, 2011

Que músicos é que vão mudar o futuro?

Ontem li um artigo do LA Times sobre o Bob Dylan. E fiquei, realmente, pensativo sobre que artista é que teria esse impacto nas gerações futuras. Mas vamos, primeiro ao contexto.

Nos anos 60, nos EUA, com o explodir da guerra do Vietname e com a grande onda de contestação que havia, então, no país, havia, também, um grande número de artistas pop naturalmente aceites pelas rádios. Não falo só de Dylan, mas dos Doors, com o seu Lizard King a falar dos direitos dos índios, do próprio Hendrix, de Joplin e a lista podia continuar. É um fenómeno que não entendo na sua totalidade, mas fazer parte da onda de rock emergente, na altura, era tão aceite pelas classes no poder como um cavalo trípede e isso estava directamente ligado com ter uma posição e uma opinião vincada relativamente ao clima belicista que se vivia na América. Galinha e ovo, mas é óbvio que ambos acabam com penas.

Contudo, o LA Times dá uma perspectiva em que não havia pensado antes: Dylan é, provavelmente, o mais influente de todos estes nomes; mesmo que não musicalmente, social e, o ponto de enfoque da reportagem do diário californiano, juridicamente. Isto porque, na altura em que as consciências das pessoas que actualmente formam as classes de poder se estavam a desenvolver, as músicas de Dylan eram altamente difundidas nas emissoras e deixavam, realmente, uma marca nas pessoas que o ouviam, essencialmente por falarem de assuntos palpáveis (ouça-se Hurricane). O resultado? Bob Dylan é cantautor/músico mais citado, e um dos autores mais referidos, em resoluções jurídicas na história recente da América. E estamos a falar, a nível de referencias, de uma diferença de troféus de Manchester United para o Benfica (e não me lixem que os do United valem 10 vezes mais; ou valem para mim, que sou do Sporting).

Ora, se tivermos em conta os tempos em que vivemos, há um sem número de condicionantes que me leva a crer que o tempo dos tipos que fazem a diferença já passou – a começar pela o fenómeno da internet, a passar pelos próprios “artistas” que andam por aí a vender o corpo. Será que a Britney Spears vai ser uma influência para o primeiro ministro de 2030 que decidir impor mais austeridade e perceber que, “ups, I did again”, enterrou ainda mais o país? Será que o Jay-Z vai estar na mente de um importante empresário que, cheio de problemas, continua a engatar miúdas? Será que a Rihana vai ser o motivo que vai levar uma mulher do futuro a usar um guarda-chuva? Ou, mais no nosso campo, será o Varg Vikernes ponderado como um exemplo de conduta a seguir e queimar igrejas vai passar a ser uma obrigação constitucional?

Eu, a seguir, seguiria sempre os ensinamentos de uma banda instrumental: ficar calado e fazer uma festa do caraças sempre que possível. Obrigado, Grails, por me ensinarem que há sempre maneira de usar o botão de edit na vida.

PS: Caso haja algum benfiquista lesado, leia-se, na metáfora da bola, Benfica no lugar de Man United e Ala Arriba no lugar de Benfica.

4 Comments:

At 8.9.11, Blogger Susana Quartin said...

Tenho esse artigo no Courrier para ler :).

Bom, o único nome que me surge agora é PJ Harvey, embora esteja longe de ter a mesma dimensão.

 
At 9.9.11, Blogger Daniel said...

Thom Yorke, por exemplo, apesar de com um papel bem mais contemplativo do que os exemplos que referes. Vai demonstrando a sua repúdia em relação à podridão da sociedade, sem no entanto fazer disso um mote de vida.
De resto, acho que é apanágio desta nossa geração uma descrença enraizada mesmo nos mais incorformados. No fundo não nos iludimos. Já tivemos muitos exemplos, já percebemos que nada de significativo vai mudar. A mesmo que alguma catastrofe assim o obrigue.

Susana, é verdade. A PJ abanou as terras de sua majestade. Ainda assim. foi rapidamente esquecido...

 
At 9.9.11, Blogger André Forte said...

também já li um artigo que relaciona o novo álbum da PJ com a onda de contestação que houve em Espanha, na Grécia e por aí fora, mas não sei se a vamos citar :P

 
At 9.9.11, Blogger António Pita said...

Eu julgo que este tipo de icones não aparece de forma tão evidente por causa da industrialização das artes. Basta olharmos para quais eram os grandes filmes e os grandes músicos dos anos 50, 60, 70 e os compararmos com o que temos actualmente. O espectáculo, o fogo de artifício, a cultura pop, simplesmente, ganharam.

 

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