“Os Limites do Controlo”, filme pós-rock.
Independentemente das reacções extremas que continuará a obter, “Os Limites do Controlo”, o novo filme de Jim Jarmusch, é, até ver, uma obra quase insuperável na transposição para cinema da estrutura que conhecemos às músicas de ruminam e incham até estoirar numa avalanche de guitarras e ruído. A banda-sonora ficou bem entregue aos Boris e conta também com a participação dos Earth. Com duas bandas tão capazes de criar dimensões desérticas, Jim Jarmusch ampliou o espaço sonoro de um filme que convida a que cada um o preencha com a sua imaginação.
Até certo ponto, “Os Limites do Controlo” recorda também “Like Herod” dos Mogwai: contém-se repetidamente numa rotina circular até abrir as comportas da narrativa para a entrada de novos personagens e elementos (como o violino e a guitarra). Perto do fim, a execução do “Americano” não poderia ser mais parecida com o clímax de guitarras que se verifica em “Like Herod” antes de esmorecer definitivamente (“Os Limites do Controlo” também termina com a sensação de bomba desarmada).
Não é de agora a proximidade de Jim Jarmusch com os trâmites da música: filmou Neil Young em “Year of the Horse” e costuma recrutar músicos para os principais papéis (Tom Waits e John Lurie em “Down By Law”). Um realizador afeiçoado aos aspectos mais expansivos do rock era o autor certo para conjugá-los numa colossal composição de 116 minutos (só mesmo desafiada pelos duplos álbuns que possam ultrapassar as duas horas). É assim que se fundem linguagens. Grande álbum.
5 Comments:
Mas a banda sonora é composta apenas por músicas já existentes, certo?
Gosto de Jarmusch, não é dos meus preferidos mas gosto do seu tom derivativo nos seus filmes... Resta esperar e saber se o filme resulta...
É capaz de ter originais de Boris. O nome nos créditos é dos Boris.
O Jarmusch é um bom autor e ousou fazer um filme que é também uma alegoria do compromisso para com a arte. Creio que o filme trata também do próprio Jarmusch e de como está no cinema.
O filme e a respectiva ost já foi mencionada aqui no tasco. Para mim, é só O filme do ano e só não vou vê-lo outra vez porque as cadeiras do Bom Sucesso deixam-me o cu quadrado.
Jarmusch é enorme, é sinónimo de cinema. Temos que nos deixar envolver nos filmes dele e apreciar cada detalhe. A sensação de ter os filmes dele na "cinemateca" lá em casa e saber que os posso ver quando me apetece é maravilhosa.
Não há originais no filme, há sim um ou outro tema que foram editados. Ouvimos a banda dele - Bad Rabbit - como Sunn, Earth ou Boris. O bom gosto musical dele da ainda mais aura aos filmes e não escondo um certo orgulho por ter sido um dos responsáveis pela vinda a PT destas bandas.
Dead Man é um dos filmes da minha vida...
Para quem não comprou o Ipsilon de sexta, leiam entrevista e afins aqui: http://cinecartaz.publico.clix.pt/noticias.asp
Filme do ano?
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