O poder da música
Com as leituras paradas, roubo o tópico ao Homem que sabia demasiado para me lembrar o quanto este livro de Oliver Sacks - Musicofilia - está a ser uma bela companhia:
"Li muitas vezes que a musica é uma realidade completamente distinta. Foi só nos últimos dias de vida do meu pai que comecei a compreender o poder da musica. Quase com cem anos, o meu pai começara a perder a noção da realidade. Devido à doença de Alzheimer, o seu discurso começou a ficar desconexo, os pensamentos isolados, a memória fragmentada e confusa. Quando a conversa começava a ficar dispersa colocava um CD de musica clássica de que ele gostasse, carregava no play e via a transformação. O mundo do meu pai passava a ser lógico e claro. Já não havia confusão, falhas, não ficava perdido e, o mais surpreendente de tudo, não se esquecia. Era um território familiar. Por vezes o meu pai respondia à beleza da musica chorando simplesmente. Como é que podia emocionar-se com esta musica se se tinha esquecido de todas as outras emoções da sua vida – a minha mãe, a minha irmã e eu em crianças, as alegrias do trabalho, da comida, do viajar e da família? Onde é que a música lhe tocava? Onde está a paisagem onde não há esquecimento? Como é que se libertou de outra memória, uma memória do coração que não está presa ao tempo ou ao lugar, aos acontecimentos ou mesmo aos seus amados?"
Carta de Kathryn Koubek a Oliver Sacks.
4 Comments:
Estou a ler também. Estava à espera de menos ciência (não conhecia o autor), mas este livro tem tanta coisa surpreendente e insólita a contar tanto dentro como fora do mundo científico que acaba por valer muito a pena.
Alguns capítulos são impressionantes. Aqueles casos de amnésia que ele descreve...Os casos de parkinson também me emocionaram profundamente.
Quando ele fala dos músicos que desenvolvem aquela neuropatologia que lhes afecta os dedos e a forma como alguns deles ficam extremamente infelizes, não pude deixar de recordar o Kris Angylus... o seu caso é, sem dúvida, um dos mais dramáticos.
Oh! E como estou ciumento dos sinestetas música-cor... DO WANT! Ahaha
Está na minha lista de livros a comprar.
pedro nunes
Eu também estava à espera de menos ciência, mas por um lado não é aquela cena académica que aborrece. É como tu dizes, alguns capítulos são mesmo interessantes e no fundo também aprendemos sobre o nosso cérebro. Isto é livro para ler e reler.
Ainda no outro dia tive a sorte de ter uma aula na clínica do sono da Dra Teresa Paiva em Lisboa e no meio da conversa ela explicou o caso de uma senhora que estava lá que sofria de ataques epilépticos provocados por... música de igreja. :x Esse livro descreve bastante bem todas estas histórias esquisitas da nossa fisiologia. O Homem Que Confundiu a Mulher com um Chapéu tem casos mais insólitos e é mais levezinho para quem gostar :P
Por outro lado, o Seeing Voices é um excelente livro para pensar nas pessoas mudas e na fisiologia da comunicação.
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