05 maio, 2010

Cornelius Cardew


Cornelius Cardew e a Liberdade da Escuta.
8 MAIO – 26 JUNHO
Culturgest, Porto
website



Tem-se falado muito pouco desta exposição e série de concertos que vão ter lugar na Culturgest do Porto de Maio a Junho deste ano. A inauguração da exposição e o primeiro concerto vão ter lugar já este fim-de-semana (dia 8) e todo o programa é imperdível. A exposição é gratuita e os concertos são só 5 EUR cada (melhor negócio é comprar uma assinatura de 5 bilhetes por apenas 18 EUR).

Cornelius Cardew foi um dos mais importantes compositores vanguardistas da segunda-metade do século XX. Em jeito de resumo rápido de uma carreira vasta: estudou piano e composição na Royal Academy of London. Foi para Colónia e estudou / trabalhou com Karlheinz Stockhausen. Descobriu os grandes compositores vanguardistas americanos (Cage, Feldman, etc) tornando-se um intérprete celebrado das suas peças. Começou a compor as suas próprias peças mais vanguardistas, incluindo o monumental Treatise [1967] (longa obra gráfica críptica e visualmente desafiadora). Explorou mais profundamente o seu interesse na improvisação e nas estruturas free-form (escreveu mais para a frente, em 1971, “Towards an Ethic of Improvisation” onde se incluem as muito discutidas “7 virtudes que um músico pode / deve possuir”). Foi membro inicial dos míticos AMM (com Keith Rowe, Eddie Prévost e Lou Gare) tendo participado no primeiro disco seminal da banda (ouvir “AMM 1966” na Matchless – disco obrigatório!). Fundou, juntamente com Howard Skempton e Michael Parsons, o influente ensemble vanguardista The Scratch Orchestra. Chateou-se com a vanguarda e a sua incapacidade de intervir socialmente. Tornou-se marxista-leninista e depois maoísta. Escreveu o infame “Stockhausen Serves Imperialism”. Quis aproximar a música das massas – iniciou a composição e interpretação ao vivo de músicas de inspiração popular (ouvir o disco “Four Principles of Ireland and Other Songs” na Ampersound). Morreu atropelado em 1981 – os amigos mais próximos acreditam que foi assassinado (e apontam várias razões: ligações à extrema esquerda, racismo ou terrorismo [ligações ao IRA]).

Deixou uma obra vasta que nos últimos 5 anos tem sido alvo de crescente atenção. Frederik Rzewsky dos MEV disse que não conseguiria adivinhar o que estaria a fazer agora Cardew caso fosse vivo mas que tinha a certeza que seria algo inimaginável que nos iria certamente surpreender.

Para o ciclo de performance estarão presentes no Porto, entre outros, alguns dos seus antigos colaboradores e amigos, conhecedores a fundo e reconhecidos intérpretes da sua obra. Vamos ter Keith Rowe (dias 14 e 15 de Maio), Marcus Schmickler (22 de Maio), Christian Wolff (28 de Maio), Rhys Chatham (18 de Junho), John Tilbury (19 de Junho) e Terre Thaemlitz (25 de Junho) entre muitos outros com interpretações não só de peças de Cardew mas também de Howard Skempton, John Cage, Michael Parsons e Christain Wolff.

Quem quiser saber mais sobre Cardew tem à disposição dois livros essenciais: “A Cardew Reader” onde estão compilados a maioria dos seus textos mais importantes (acompanhados de comentários e ensaios de outros músicos) editado em 2006 e “Cornelius Cardew: A Life Unfinished”, uma megalito biográfico de mais de 1000 páginas, escrito por John Tilbury ao longo de vários anos e editado em 2008. Ambos os livros na Matchless Recordings. “Towards an Ethic of Improvisation” está disponível gratuitamente na UbuWeb

Para terminar uma página (183) da pauta gráfica “Treatise”


O único comentário negativo é o facto de se ter “contratado” comissários estrangeiros para organizar a exposição e ciclo de performances quando há no nosso país conhecedores do trabalho, pelo menos musical, de Cardew e suas ramificações.

2 Comments:

At 5.5.10, Blogger ::Andre:: said...

O Tiago chamou-me a atenção e imprimi o programa para analisar melhor (só tinha o dia do Rowe na agenda). Vou marcar presença :)

 
At 6.5.10, Blogger Luis said...

Hey André,

Tenta apanhar o máximo de concertos - vão certamente valer a pena.

Em particular também acho que te interessará o Rhys Chatham, numa rara oportunidade de o ver em Portugal. Foi um dos minimalistas da NYC e influenciou gente como o Glenn Branca e os Sonic Youth (O Thurston Moore tocava com ele no final dos anos 70).

http://www.myspace.com/rhyschatham

 

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