04 novembro, 2010

Como fazer uma curta metragem em Portugal


Tendo eu sido um visitante das sessões de curtas metragens que decorreram nos Caminhos do Cinema Português em Coimbra, venho aqui com mais um magazine de ajuda a novos cineastas. Como podes tu então, jovem petiz, fazer uma curta metragem para passar num festival?

Em primeiro lugar tens que fazer tudo em inglês para alimentar uma vã esperança de te poderes internacionalizar. Provavelmente ganharás o Euromilhões primeiro, mas pelo menos a esperança não morre. Não tens ideias para um guião? Mas quem te disse que precisas de um? Fazes uso de um conceito muito em voga chamado “cenas maradas“. E o que são cenas maradas? Bem, basicamente é filmares uma lata de atum em cima de um alguidar de pepinos ou a tua avó a dormir enquanto fazes um plano de 360 graus desfocado. Depois editas na versão pirata do Adobe Premiere que sacaste da Net, metes slowmotion e usas os plugins com nomes mais bizarros que por lá encontrares, dando prioridade aos que comecem por Alucino-qualquer coisa. Ok?

Música… Que música meter? Como não vais passar nunca dos festivais de amadores podes usar qualquer música porque ninguém te vai foder o juízo com os direitos de autor. Depois usa muito musica minimalista ou tecnos manhosos arritmicos, estilo Clint Mansel, Orbital ou Aphex Twin. Podes sacar da net a OST do Pi. Ajuda. Mete também uns poemas obscuros e surreais de algum poeta que encontres na Internet, mas que seja pouco conhecido para pensarem que é teu. Deixa sempre estas confusões no campo do ambíguo, porque nunca te farão perguntas concretas e pensarão sempre que é teu.

Se conseguires convencer umas gajas quaisquer a posar nuas, aproveita. Dá um ar de modernidade e avant-guarde. Mas pede-lhes que não rapem a pintelheira para manter um aspecto ousado e anos 70. Não lhes filmes a cara, não vão aparecer lá no liceu fotos da desgraçada. Estudantes de teatro e dança dão um bom alvo. Mas, por amor de Deus, pede-lhes que rapem os sovacos.

Dá-lhe um título em inglês e mete-lhe uma versão, tipo “Nubian Flower 1.02″ para dar um ar de tecnológico. Filma cenas na TV, aponta a camara directamente para o sol, filme cenas tradicionais com a tal música que falei anteriormente. Lembra-te que a cultura ciberpunk e as cores saturadas estão na moda, assim como tudo o que estiver fora de contexto.

No final, quando te perguntarem o que significa tudo, diz-lhes que exteriorizaste os teus sentimentos sob a forma de pesadelos gráficos em que os sonhos intervêm como personagens secundárias. Usa palavras como: dogma, paradigma, alienação do ser ou mesmo Oximoro e Pleonasmo.

In CinemaXunga

5 Comments:

At 4.11.10, Blogger Scometa said...

No ponto! ahah

 
At 4.11.10, Blogger Crestfall said...

Ahahah. Importante: O Adobe Premiere tem mesmo de ser uma versão pirata!

 
At 4.11.10, Blogger ::Andre:: said...

Obrigado, Pedro! Mais uma vez.

 
At 5.11.10, Blogger João Veiga said...

epá... nem mais! lolol :| essa do Adobe foi na mosca :P excelente, como sempre lolol

 
At 8.11.10, Blogger Mete Nojo said...

mete nojo approves this message

 

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