A ciência no século XXI
Desde que a administração Bush subiu ao poder, a ciência tem sofrido um descrédito junto da população sem precedentes desde o Iluminismo. Cortes nos apoios, legislar contra a investigação de células estaminais com um fundamento ético-religioso e o agravar do celeuma Mundo Cristão vs Mundo Islâmico têm relevado a ciência para segundo plano.
Carl Sagan, ao falar sobre a equação de Drake (que mede estatisticamente a possibilidade de existirem civilizações inteligentes no Universo conhecido) refere que o maior problema chega quando uma civilização atinge o ponto em que se pode auto-destruir, e que a probabilidade de isso acontecer é muito elevada, dado até hoje não existir conhecimento de qualquer prova irrefutável de contato com outras civilizações extraterrestes. Mais recentemente, Michio Kaku, um dos fundadores da string field theory, e um apaixonado por estas questões, fala sobre os estágios das civilizações, dividindo-os em 4 partes, do tipo 0 ao tipo 3. Segundo ele, a Humanidade está na viragem da de tipo 0 (civilização que ainda depende da energia fóssil) para a tipo 1(civilização com o poder de controlar todos os fenómenos do seu planeta, desde terramotos a furacões a erupções vulcânicas), que ele prevê que aconteça nos próximos 100 anos. Isto, claro, se a Humanidade não se auto-destruir até lá.
Não vemos estes cientistas a falar de apocalipses, vemos sim uma desilusão velada no ser humano, que parece cada vez mais rejeitar a ciência em detrimento de folclore e crenças que não deveriam ultrapassar o espectro da fé, colocando em causa o progresso científico da nossa civilização.
19 Comments:
fazer com que o 'povo' perceba porque é que uma maçã cai ao chão é fácil. Mas as aventuras mais recentes tipo LHC e células estaminais já começa a ser mais complicado.
isso e o facto de se ter dado demasiada importância aos cientistas e desde então terem aparecido uns quantos senhores ("terapia quântica", "o segredo", ...) a aldrabar em massa e a descreditar quem faz boa ciencia...
wtv lol eu só gostava que as pessoas tentassem sequer perceber quão espetacular é a fibra óptica e os computadores/TVs com que lidam todos os dias :\
Isso da maçã nao é tão linear. Uns dizem que ela cai devido à gravidade, outros que foi Deus que a fez cair, outros que sim foi a gravidade mas foi Deus que criou a gravidade, logo Deus fez a maçã cair e por ai fora
isso é para quem não deixa a maçã, simplesmente, cair, sem cordelinhos...
O grande problema é as pessoas acharem que sabem a "verdade" (seja religião ou ciência) e fazer disso um modo de vida. Deixem a maçã cair que um dia chegamos lá e entende-se (não pela religião mas pela ciência).
Não acredito muito na hipótese de auto-destruição, mas eu engano-me tantas vezes ;)
Um cientista nunca pode achar que sabe a verdade. Se achar, não é um cientista
a não ser, Scometa, que tenha descoberto (depois de, necessariamente, muito duvidar) a validade de um teorema ou a lógica indiscutível de um axioma, certo? Fora isso, tens razão, claro, pois de outro modo será tão dogmático quanto o arauto de qualquer religião.
por acaso vi ontem um documentário sobre o fim do mundo em 2012. :P a conclusão? a acontecer, pode ser em qualquer altura. \oo/
"Um cientista nunca pode achar que sabe a verdade."
Mas procura-a da mesma forma que a religião já a diz ter encontrado.
Vera, dentro da "discussão filosófica" sobre aquilo que é ou deveria ser a ciência eu lembro-me sempre de Karl Popper, quando ele fala que uma teoria científica nunca pode ser verdadeira, apenas verosímil e que prevalesce aquela com a maior capacidade de resistência à refutação.
Quantos séculos prevalesceu a teria antropocêntrica do Universo? Ou de que apenas existia a nossa galáxia? E por ai fora. É essa a piada da ciência, poder dizer "eu não sei tudo" mas apresentar provas válidas e aplicáveis na sociedade de muita coisa.
Adriano, a procura é a mesma, porque é essa a génese do ser Humano, a capacidade de questionar as coisas. Responde-me a isto: se a religião já encontrou a verdade, então qual o propósito da investigação cientifica? Conhecer Deus? Se for essa a resposta, corre sérios riscos de sair desiludida com a resposta
Só uma correcção, a escala de desenvolvimento civilizacional de que o Kaku fala é a Escala de Kardashev
Na minha visão (muito pessoal) a religião não encontrou a verdade, assumiu sim "uma" verdade e não se desviará 1mm até ser mesmo necessário.
A investigação cientifica não está à procura de verdade está a compilar factos, a seguir um novelo à procura não necessariamente de deus, mas que em última instância poderá ser a resposta cabal para tudo e ser a "mesma" verdade da religião (ainda que voltemos ao porquê da maça ter caído).
Claro que o que se entende por Deus é sempre o problema principal, e a palavra na sua génese tem sempre o significado abstrato o suficiente para não ser descabido. Eu sou um engenheiro de formação, sem convicções religiosas desde tenra idade, e estou à vontade para confessar que acho que se confunde imenso a religiosidade com espiritualidade. Aliás acho mesmo que a diferença entre religião/ciência e religiosidade/espiritualidade é a mesmíssima coisa: Tentam responder a perguntas ancestrais, de resposta impossível até hoje mas que fará sentido um dia (se não nos apagarmos até lá).
Respondendo à tua pergunta com uma analogia apropriada que resume um pouco tudo isto: Estará errado um fã de black metal quando diz que para ele a coisa mais importante do mundo é o metal/black metal? Que é o melhor estilo musical do mundo, e que o complementa como mais nada na sua existência? O mesmo pode ser feliz só a ouvir apenas black metal (=religião) mas perde tudo o resto por não ter uma abordagem mais abrangente. Eu simplesmente costumo dizer que gosto de música, que me complementa a minha existência desde que me conheço. Não recuso nenhum estilo musical, pois tento à minha maneira investigar a mesma até ter uma opinião formal (provavelmente a que estará madura pouco tempo antes da minha morte e servirá da minha verdade) (=ciência, no estado atual de conhecimento). E somos ambos funcionais, e ambos vamos chegar ao fim com aprendizagens distintas (onde nenhuma poderá ser sequer relevante). Para mim o sumo de toda esta nossa existência é exatamente a soma das aprendizagens coletivas, pois individualmente poucos são relevantes. Acho também que não somos relevantes como individualidade, o que conta é o que construímos e imaginamos. Como o mel que a abelha produz nos ser mais preciso para o dia a dia, mas sem a polinização as coisas eram tramadas para toda a engrenagem. Podemos passar a vida a deliciar-me com o mel ou dedicar-me a proteger a polinização como objetivo de vida. Um pode fazer sentido para a nossa vida por cá, o outro pode ser exatamente o que conduzirá a que possamos estar mais tempo por aqui.
Os estados de evolução do Michio Kaku fazem imenso sentido (e influenciaram imenso a minha verdade atual), e corro o risco que mesmo para grande maioria dos seres humanos da nossa realidade consideraria muito facilmente como Deus, seres do estado de evolução 2 ou 3, até 1 para uma minoria dos humanos já é um Deus possível.
Posso estar redondamente enganado, mas a ciência vai substituir o papel da religião lá para o estado 1 do Kaku (progressivamente). Se não acontecer, então aí sim fico mesmo desiludido com tudo isto ;)
a,
http://bit.ly/jfQjHV
There are things known and there are things unknown, and in between are the doors of perception” - Aldous Huxley
Adriano, estou contigo em muita coisa. Eu nãoconfundo espiritualidade com religiosidade. Aliás, respeito imenso credos e fés. O meu problema vem com a ideia da palvra revelada que os grandes livros sagrados (biboia, tora e corão) representam, pois neles está A verdade revelada por Deus himself. Isto, por exemplo, impediu o progresso cientifico em mais de 1000 anos no mundo ocidental (até basicamente ao renascimento) e impede o progresso e a liberdade em muitos dos paises islâmicos de hoje. Ciência e Religião não se misturam. A ciência deve ser isenta, mesuràvel, refutável, experimental, tudo coisas que são contrárias ao pensamento religioso que se baseia nas sagradas escrituras.
No entanto, eu discordo tanto do criacionista que procura na ciência mais argumentos para as suas crenças, como do ateu que nela procura a prova da não-existência de Deus. São estas quezílias que estragam tudo hoje.
Pessoalmente, a mim não me interessa saber se alguém criou isto tudo, ou se há vida depois da morte, etc. Mas é um facto que interessa à maioria das pssoas, e é aqui que entram as confusões todas, porque de um lado encontramos gajos enfiados debaixo da terra a fazer colidir particulas para tentar recriar o big bang, e do outro cada vez mais pessoas a acreditar que o mundo tem menos de 10000 anos e a querer fazer prevalecer as suas ideias na sociedade, ensiná-las na escola e achar que isso é um direito porque ensinar que o Homem descende dos primatas é um sacro-insulto. Para mim isto é regredir. Quanto muito até aceitaria que se colocassem as perspetivas religiosas numa ou duas aulas de história, mas querer dar o mesmo relevo ao cracionismo do que ao evolucionismo num contexto escolar é muito perigoso.
Mais ainda, o 11 de Setembro criou um temor tão grande sobre a ideia de fanatismo religioso, que não foi só o Islão a tomar partido disso. As democracias, cuja base assenta tanto na liberdade como no laicismo, estão hoje ameaçadas não só por um colapso económico como pela ideia de que as religiões devem ter um papel preponderante nas decisões dos estados.
A verdade é que quando se pensava que o progresso científico iria substituir a religião, verifica-se precisamente o contrário.
Eu entendo e partilho a tua frustração, mas acho que é uma questão de tempo para que este impasse de pensamento religioso seja diluído. Mais duas ou três gerações? Só agora começamos a sentir a velocidade/ritmo de vida a aumentar e estamos finalmente na posse de informação em tempo real. Parte da razão desta teimosia tem sido precisamente a velocidade de sedimentação do que foi ensinado, e um inegável conforto por quem se sente bem por haver um entidade superior a quem pede desejos, pareceres e agradece sempre que algo bate certo ou simplesmente corre menos mal.
E tens toda a razão com a regressão perigosíssima, é um facto que me ultrapassa como isso acontece nos tempos de hoje, mas ao mesmo tempo este pedaço de terra está numa fase tramada onde apenas a evolução tecnológica seguiu sem grandes contestações. É preciso agora uma revolução política/económica/social desta nova forma de vida que nos espera, e ninguém sabe muito bem o que fazer. Talvez a ciência tenha de dar algum espaço aos outros, mas irremediavelmente a humanidade começa a precisar desta não para encontrar deus mas para arranjar um substituto de petróleo ou energia nuclear. A ciência deixará de ser um inimigo que procura demonstrar que a verdade da religião não é a correta, e começa a ser acusada por não ter solução para os problemas da humanidade remetendo a verdade ordem primordial de todas as coisas para segundo plano.
Tenho sempre a tendência de linearizar as coisas, mas só assim se podem comparar e questionar. E sou meio otimista tb, por isso quero acreditar que um dia chegamos lá.
Obrigado pelo tema ;)
a,
Mas a ciência já encontrou muitas soluções para os presentes problemas da sociedade. O maior problema são as pessoas que apenas usam a ciência com base no lucro. Nós estamos completamente esclavizados por este capitalismo selvagem, é um termo muito che guevara, mas é a mais pura das verdades. Não se trata de conspirações ou de esquerdistas drogados de barba que só querem ser do contra. Ja podiamos estar livres de muitas doenças, mas as farmacêuticas não querem; já podiamos não estar dependentes de combustíveis fósseis, mas se hoje tens tios sam no Iraque é para que ainda os usemos durante mais algumas décadas.
Nós estamos cientes, nós sentimos estas injustiças e hipocrisias, e esta ideia de que não podemos fazer nada está a fazer crescer um bicho muito negro dentro de nós
Totalmente verdadeiro. E como achas que se pode inverter o lucro/money como a força motriz da sociedade? E mais em concreto, como seria a base económica que todos dizem que tem de mudar para ter sintonia com a desvalorização do lucro e valorização do mérito?
É que eu não sei mesmo por onde começar sequer a pensar nisto.
Adriano, já me fiz essa pergunta algumas vezes e também não tenho imaginação para tal...
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