Música e geografia
Parece-me óbvio afirmar que a música e a geografia estão relacionadas, mas pergunto: até que ponto é o lugar e o seu desenvolvimento cultural/ social/ económico/ político a influenciar a música ou o contrário também é possível? A cena de Manchester poderia ter surgido noutra cidade? O black metal norueguês teria tanto impacto noutro país? Mesmo sabendo que os blues têm raízes africanas, conseguem-no imaginar como um estilo europeu?
6 Comments:
Eu acho que está de facto bem relacionada a música com a geografia, o que de certa forma seria equivalente dizer "a música e a visão". O Fado é completamente influenciado pela arquitectura portuguesa típica dos centros históricos de Lisboa e Coimbra. O Black Metal tem muita inspiração dos lagos "assombrados" das terras nórdicas. O Punk britânico inspira-se nos cenários frios e grosseiros típicos do Reino Unido. A música latina no geral também se encontra muito influenciada pelo calor, pelo sol. Sendo que os E.U.A. de certa forma possuem tudo isto, trata-se de um país mais recente e como tal possui um pouco de todas estas influências. Concluindo, de certa forma tudo influencia a música, no entanto penso que os cenários visuais são os que mais influenciam. Veja-se por exemplo nossos gostos musicais mediante as diferentes estações do ano.
Existe, de facto, uma intrínseca ligação entre a música e o factor geográfico. Mas mais do que o clima ou paisagem, a distância a que estamos dos centros musicais europeus impede em larga escala a difusão da música nacional, principalemnte no que diz respeito ao underground. Aliado a isto está o factor socio-económico, sendo que Portugal é um país relativamente pobre dentro da UE,e para muitas bandas o sonho de sair do país é demasiadas vezes barrado pelo facto de andarmos sempre tesos. Isto para não falar que para nós fica sempre muito mais caro sair em tour pela Europa do que uma banda holandesa, francesa, belga, etc.
Mas Portugal tem também outro problema bastante grave a todos os níveis, que tem um impacto igualmente profundo naquilo que pode ser considerado como "insignificância" no panorama musical internacional. Nós continuamos arraigados a uma noção de status quo pré 25 Abril. Em muitos foruns eu vejo os mais velhos sempre a aconselhar os mais novos a levar a música como um passatempo, que o melhor é dedicarem-se aos estudos para serem engenheiros ou doutores. Porque esta ainda é a nossa realidade. Se não és um doutor ou um engenheiro não passas de um pobre zé-ninguém, sem voz ou poder reivindicativo. Quem vive fora dos grandes centros urbanos percebe o que quero dizer. As pressões que são feitas sobre os nossos petizes, no sentido em que a música nunca deve ser encarada como algo para levar a sério, tem um reflexo também bastante importante naquilo que é o nosso underground e principalmente no facto de serem raras as bandas que arriscam a sério. Não se trata só de manter o emprego, trata-se muitas vezes de um sentimento de vergonha e embaraço que nos é incutido desde pequenos pelos anciãos da praça pública, que funciona a um nível subconsciente atroz e é, para mim, o factor principal do porquê da música portuguesa ter um impacto quase zero no mundo. É muito mais socialmente aceitável no nosso país ser um engenheiro e levar a música como um hobby, do que fazer como tantos outros lá fora, que andam de supermercado em supermercado, de obra em obra, porque a música é para eles o mais importante na vida. E eu contra mim falo, infelizmente.
wtf... então qual é a justificação para que haja tantas bandas fora dos centros urbanos?
Anyway, claro que a música está muito relacionada com a geografia, tal como qq característica de uma cultura ou mesmo o código genético "comum" de cada país/zona. Será que a música foi a primeira forma de linguagem? :P Muitos acreditam que sim, que a música e a poesia eram a mesma coisa e só depois com a necessidade de formalizar é que se passou para a prosa e escrita/diálogo mais regrado/científico.
A própria linguagem influencia a música que se faz.
Hoje em dia estas coisas já são muito mais complicadas por vivermos com tanta informação de todo o lado... Acho que aquilo que acaba por ser o grande factor de inspiração surge não só nas memórias, mas tb (para falar do tema desta entrada no blog) no ambiente à nossa volta. De certeza que alguém que vive nuns subúrbios atarefados tem muito mais propensão para se sentir ligada a coisas diferentes de alguém de uma zona mais tranquila ao pé do mar.
mas btw essa da difusão musical é uma treta lol cá em PT claro que é mais difícil dar logo o grande salto, mas isso a culpa é, acho eu, da falta de dinheiro/poder para dar cabo do que se passa nas grandes editoras. Os membros das bandas underground (ou como quiseres chamar) dos outros países também levam a música praticamente como um hobby... têm os seus cursos, as suas profissões... n é fácil em lado nenhum. É precisa muita força de vontade e dedicação :3
Eu falo do que conheço. A grande parte das entrevistas que leio de bandas, das duas uma: ou têm um emprego com uma certa flexibilidade que lhes permita andar em tour (o que é extremamente raro), ou então são obrigados a despedir-se para fazer a tour, e quando regressam tentam de novo arranjar emprego. Vê o exemplo de Callisto, a tour deles é merdosa mesmo, e se fores a ver eles raramente dão concertos fora da finlândia. Porque todos trabalham e é-lhes muito dificil conciliar férias em conjunto e nesse periodo específico conseguir agendar locais de concertos.
"wtf... então qual é a justificação para que haja tantas bandas fora dos centros urbanos?"
Claro, bandas há em todo o lado. Agora sê um bocado realista e insere as portuguesas no mercado underground internacional. Achas que temos um quinto do impacto que a maior parte das outras bandas tem? Lê algumas revistas estrangeiras e vê quantas vezes se fala de Portugal.
"Os membros das bandas underground (ou como quiseres chamar) dos outros países também levam a música praticamente como um hobby... têm os seus cursos, as suas profissões... n é fácil em lado nenhum. É precisa muita força de vontade e dedicação :3"
Errado e certo. Errado na cena do hobby.Mais uma vez te digo que me dês exemplos de bandas que gostas que digam que a música é um hobby. Para um músico verdadeiro a música nunca poderá ser um hobby. Certo na cena da vontade e dedicação. Nós portugueses falhamos especialmente na dedicação. Isto não é ser negativo, é constatar factos.
Contudo, não posso deixar de referir que estamos a crescer no meio underground, e que as bandas que se distanciam daquilo que falei no meu primeiro post vão começar a trazer benefícios para o nosso pais. Isto aliado a um igual crescimento de promotoras que tentam mudar este panorama, uma das quais esta onde discutimos agora.
eu qd escrevi "praticamente como um hobby" não foi por acaso. Era só porque não a conseguem pôr à frente de outras coisas (como os estudos ou o emprego) em muitas ocasiões.
Mas acima de tudo não percebi por que é que isto veio à baila... Pensei que era para discutir mais a inspiração/significado da música tendo em conta as suas raízes e assim... É que música há muita por todo o lado e de todos os géneros...
Nós em Portugal temos a sorte/azar de termos influências de 1001 sítios diferentes e é giro verificar isso em bandas como Moonspell.
Já agora, em jeito de desafio, quais é que acham que são as raízes principais na música portuguesa? :3
Também me parece que aqui não é a questão de o contexto socio/cultural ou whatever influenciar o facto de as bandas singrarem ou não, mas sim, em termos geográficos, de que forma a criação de música é influenciada. Que me parece uma questão bem mais interessante também. Acredito que o número de bandas não seja necessariamente maior num centro urbano, só porque há mais meios. a natureza tem um poder muito forte, a juntar a outras influências culturais, que fazem com que se faça boa musica em todo o lado. todas as questões que o andré coloca, eu respondo que não, não poderia ser de outra forma.
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