Hoje é dia de 4 minutos e 33 segundos
"John Cage foi um esteta revolucionário, mais pelo lado conceptual e teórico do que propriamente pelas suas composições musicais. E 4’33’’, apesar de ser porventura o seu trabalho mais conhecido (tratando-se de Cage deve dar-se uma conotação relativa ao termo “conhecido”), é aquela obra que dinamitou convenções musicais e permitiu abrir o espectro sonoro com a inclusão do silêncio na linguagem musical (ainda que não tenha sido o primeiro a fazê-lo, Cage foi o mais radical). 4’33’’ é uma obra sobre o silêncio, mas um silêncio imaginário, visto que John Cage pretendeu que o público “compusesse” a obra com os ruídos produzidos espontaneamente. Claro que, para Cage, tratava-se também de provocar a audiência com um sentido de humor muito próprio.
Nos anos 40 John Cage visitou uma câmara anecóica na Universidade de Harvard. Esta câmara é, basicamente, uma sala projectada de tal modo a cancelar todos os ruídos ambientes, sendo totalmente à prova de som. As câmaras anecóicas são usadas para medir as propriedades acústicas de instrumentos e microfones, e para executar experiências psico-acústicas. Cage entrou nessa câmara com o intuito de ouvir (ou não) o silêncio absoluto, mas como ele escreveu depois, "ouvi dois sons, um alto e um baixo. Quando os descrevi ao engenheiro de som, ele informou-me que o som alto era do meu sistema nervoso, e o baixo o meu sangue em circulação." Depois desta experiência, Cage escreveu (literalmente) a peça 4’33’’ com três movimentos e apresentou-a pela primeira vez ao vivo (com uma assistência atónica) com a interpretação do pianista David Tudor, em Agosto de 1952. Cage abriu, desta forma abrupta, novas portas de percepção sonora, acústica e estética."
Terça 23 Março 2010
19:30, Sala Suggia, Casa da Música
+ 4'33'' (Tributo a John Cage)
6 Comments:
Ao que parece a performance vai ser transmitida pela casadamusica.tv!
quanto é mesmo?
atónita! lol teve piada sair atónica..podia ser! podia ser!
Só apanhei o fim. Boa qualidade de som que o feed teve. Nao na 4'33'' claro lol
Interessante qb, sobretudo ouvir as peças do Cage ao vivo. Uma das originais (encomendada pela CdM) era muito boa, foi um dos momentos altos da noite sobretudo pela intensidade. As projecções foram fraquitas, tentaram um conceito minimalista mas que na minha opinião falhou. De qualquer maneira, grande concerto no geral. É bom recordar John Cage, um dos tipos mais originais que a música viu nascer. E é bom recordá-lo no Porto.
o Cage tem obras que eu adoro em termos musicais,composições que escreveu para o David Tudor.
Acho sempre engraçado que o mais reconhecido compositor da segunda metade do século passado fosse um anarquista assumido.Aconselho a ouvir e a ler as entrevistas que deu.
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