A burka francesa
O Parlamento francês aprovou ontem a proibição do uso da burka em locais públicos. Falta a aprovação do Senado, mas o diploma está definido: multas de 150 euros para as mulheres que a usem e 30 mil euros para os homens que as obriguem.
O que é a burka senão uma invenção ridícula e machista? Segundo o Corão, as mulheres devem-se vestir de forma a não atrair a atenção dos homens, são consideradas um mero objecto, obrigadas a casamentos forçados, um ser inferior ao homem poligâmico. Em muitos sítios continuam a serem vítimas do analfabetismo, serem proibidas de votar, de se manifestarem, apedrejadas até à morte caso tenham uma relação sexual mesmo sendo viúvas, presas por pedirem o divórcio ou acabam com os dedos decapitados por pintarem as unhas.
É, sem dúvida, um assunto delicado e que terá sempre posições repartidas, mas com esta atitude não estarão os franceses a defender os direitos da mulher? A Human Rights Watch afirma que “A liberdade de exprimir a religião e a liberdade de consciência são direitos fundamentais”. Mas que liberdade? Liberdade a serem oprimidas? Será que elas escolhem quando os seus genitais são mutilados? O homem e a mulher têm os mesmos direitos (!!!) e a mim parece-me que a burka é uma bandeira religiosa vísivel aos olhos de toda a gente que prova o contrário, que a mulher é um ser de segunda categoria.
Atitude repressora ou libertadora? Tema a acompanhar nos próximos tempos, até porque há quem diga que se tal for aprovado é provável que grande parte dos homens proibam (mais uma) as mulheres de sairem de casa do que vê-las na rua sem burka e aí surgirá mais um problema. Diz-se também que Espanha e Bélgica poderão seguir o mesmo caminho. Enfim, religiões…
Atitude repressora ou libertadora? Tema a acompanhar nos próximos tempos, até porque há quem diga que se tal for aprovado é provável que grande parte dos homens proibam (mais uma) as mulheres de sairem de casa do que vê-las na rua sem burka e aí surgirá mais um problema. Diz-se também que Espanha e Bélgica poderão seguir o mesmo caminho. Enfim, religiões…
17 Comments:
muito do que disseste é verdade infelizmente mas a minha opinião é que quando um estado começa a tutelar as escolhas dos seus cidadãos, começa igualmente a privá-los da sua liberdade.
ninguém comenta que as mulheres são oprimidas no Vaticano quando são obrigadas a cobrir os ombros e a exibir decoro. por ser em Itália? por serem católicos?
a liberdade de expressão religiosa vai sendo, cada vez mais, um mito distante; é possível na medida em que se professe uma das religiões correctas, nunca a dos "inimigos".
têm sido tomadas muitas medidas de carácter anti-islâmico desde o 11 de Setembro e nenhuma delas visa dar direitos iguais às mulheres - que os têm quando se encontram em países cujas leis os contemplam e aplicam -, nem alfabetizá-las - o que é propagandista, pois em muitos países islâmicos elas têm acesso a ensino superior e tudo.
o que se passa a meu ver, é que determinados governos estão a pegar em argumentos que polarizam as massas e a apresentá-los como os problemas que querem combater quando, na verdade, querem é combater a (re)islamização da europa.
a FIFA baniu (e recentemente removeu essa proibição) o uso da hijab pelas mulheres iranianas da selecção de futebol. porquê? porque supostamente isso interferiria com a capacidade delas jogarem futebol... ora se elas sempre treinaram com hijabs, o problema seria delas e a FIFA não deveria interferir com escolhas pessoais; e não é como se elas andassem de capacete e cabeceassem com mais força que as suas oponentes...
a islamofobia é moda... e uma moda triste e com repercussões graves.
não vejo qual o mal de se exibirem bandeiras religiosas, deveria fazer parte da tal "liberdade" de expressão religiosa... qualquer dia a "polícia das religiões correctas" vai começar a chatear-me por causa das minhas tatuagens, símbolos visíveis da minha fé, e lá vai a minha liberdade de expressão religiosa também.
em frança os católicos andam com cruzinhas ao pescoço e outros símbolos de fé mas quando um muçulmano anda com uma burka já é ofensivo e saca-se logo do "laicismo do estado" para os atacar... laicismo ou fascismo?
o laicismo nos países ocidentais é uma tanga, basta ver a quantidade de igrejas - símbolos bastantes grandes e visíveis - que são construídas, em adição às existentes, mas depois temos exemplos como a Suíça (que imagino venham a ser seguidos em breve) onde já não se podem construir minaretes...
quando vir este laicismo em acção com os cristãos da europa até acredito na coisa, até lá, é só mesmo perseguição. (...)
(...)
vamos continuar a ser os colonos do mundo durante quanto tempo? durante quanto tempo a visão eurocêntrica e ocidental vai ser a "correcta"? durante quanto tempo o desrespeito pelos outros povos e pela sua cultura?
quando os meus andavam pela europa em maioria, havia liberdade de expressão religiosa, de tal modo, que os cristãos até puderam construir igrejas em bosques sagrados... depois os cristãos queimaram-nos às dúzias e passaram-nos pelo fio da espada.
quando eles ainda não eram a maioria e conviviam com os judeus e os muçulmanos, a europa conheceu momentos culturais gloriosos. e eles começaram a matar a moirama toda. não satisfeitos com isso, decidiram matar e expulsar a judiaria toda também e mergulhámos confiantemente na idade das trevas...
eu não vou nisso, eu li os livros... neste caso, apoio a minoria de eleição de agora, os muçulmanos. eles têm hábitos diferentes e objeccionáveis, sim, mas são os deles e ninguém tem nada a haver com isso. a cultura ou religião que não tenha nada que lhe possa ser apontado que levante agora a mão...
termino com algo que foi escrito por um padre sobre a inacção dos intelectuais alemães aquando da ascenção nazi ao poder.
"THEY CAME FIRST for the Communists,
and I didn't speak up because I wasn't a Communist.
THEN THEY CAME for the trade unionists,
and I didn't speak up because I wasn't a trade unionist.
THEN THEY CAME for the Jews,
and I didn't speak up because I wasn't a Jew.
THEN THEY CAME for me
and by that time no one was left to speak up"
Pastor Martin Niemöller
Rodolfo, muito rápido que agora não tenho tempo: comentei um assunto actual tal como no outro tópico da nova Alemanha, o que não quer dizer que ignore ou esteja de acordo com outros casos semelhantes seja que religião/ regime for.
eu sei andré, só estava a dar a minha opinião ;)
Antes de mais, sou ateu e repito o que disse anteriormente: este é um tópico sobre a burka, não quer dizer que alinhe nessa palhaçada do vaticano ou da Fifa ou de qualquer outra religião.
Concordo quando dizes que mais que os direitos das mulheres, a europa está preocupada com a "(re)islamização". Não deixa de ser verdade, na França já vai nos 10 milhões e também me parece estratégico. Mas isso não tira o mérito deste caso: não está em causa a fé de cada um, nunca esteve, todo o ser é livre de escolher os seus caminhos. Está em causa em pactuar com uma religião que é tudo menos a favor dos direitos humanos.
Para terminar, eu não sou contra a burka propriamente dita mas sim aquilo que ela representa. Nada tenho contra os simbolismos, é-me indiferente que seja uma burka ou uma cruz ao pescoço. O problema é que todos nós sabemos o que ela representa.
eu não sou ateu como terás compreendido.
"Está em causa em pactuar com uma religião que é tudo menos a favor dos direitos humanos"
O Islamismo é a favor dos direitos humanos, tanto quanto outra religião das principais. As políticas internas de alguns países islâmicos talvez não o sejam; essa é outra questão.
vamos começar cá por casa então, vamos fazer uma limpeza interna, a sério.
e quando todos os países fizerem o mesmo, deverá restar a fé Ba'hai e talvez o Sikhismo :)
a questão para ti talvez sejam os direitos humanos, para estes governos opressores não o é, garanto-te.
a pena de morte atenta contra os direitos humanos e no entanto países cristãos têm-na e muitos outros, não se vissem coagidos pelas directrizes da união europeia e já a teriam (novamente).
fala-se da excisão feminina e não se refere o contexto antropológico em que tal se verifica: países africanos onde até há bastante pouco tempo (historicamente) se vivia no Neolítico e que depois foram islamizados. a excisão não é um predicado muçulmano.
igualdade de direitos para as mulheres... se existissem de facto nos nossos países "avançados", não teríamos de falar deles; não existiriam grupos feministas, nem se exploraria a mulher como mercadoria na publicidade (exemplos simples).
eu conheço raparigas islâmicas, convertidas por casamento, que querem usar a burka e com orgulho. nenhum dos seus maridos lho impôs - mais a mais, vivem em países onde nem sequer é obrigatório - o governo francês diz que elas não o podem fazer; essa é a questão.
dizem-me que muitas mulheres começaram a usar burkas e hijabs voluntariamente com o escalar de acontecimentos recentes... talvez estes sejam intencionais, talvez se queira mesmo polarizar e radicalizar o Islão para ter uma boa desculpa para acabar com todos eles de uma vez.
A polícia iraniana é criticada por poder multar rapazes/homens que não tenham cortes de cabelo aprovados pelos mullah e o mundo ri-se.
Uns não querem símbolos externos que representem o ocidente e são criticados; outros não querem símbolos externos que representem o médio-oriente e são aplaudidos... padrões ambíguos que não compreendo mas que me deixam apreensivo.
quanto tempo faltará até começarmos a demolir as mesquitas na europa em nome da liberdade e da igualdade de direitos?
Liberté, Egalité, Fraternité... my ass.
não podemos confundir religião com política. a religião não é o ópio do povo, a sua burrice inerente e incapacidade de questionar o que vê é que é.
Uns obrigam-nas a usar burca. Outros proíbem-nas.
No meio disto onde é que fica a auto-determinação das mulheres? :)
Eu percebo o que queres dizer, a sério que sim, mas o mundo não é perfeito nem nunca será (e arrisco-me a dizer, sem ofender a tua religião, que grande parte dos problemas partem daí). Mas devemos então ficar parados sem nada fazer porque no passado aconteceu aquilo e hoje em dia acontece aqueloutro?
Por curiosidade, já foste a algum país muçulmano?
As pessoas eram livres de ser estúpidas e orgulhosas e usar burkas à vontade, e essas são uma minoria. Daí o aparecimento desta lei.
Muito interessante a visão geral apresentada pelo Rodolfo. Partilho a opinião em relação a alguns pontos. Preocupa-me no entanto um olhar mais humano e próximo. Já tive ao lado do dia a dia de algumas destas mulheres, sei que algumas até respondem com o tal orgulho das vestes, mas nem sempre é assim... Um rosto escondido é uma "vida" que se esconde aos olhos dos outros. Podemos olhar para a forma como estas mulheres são formatadas desde muito novas e o impacto que isso tem na sua vida adulta. Estou a concentrar-me na representação da mulher, independentemente de esta viver num país europeu ou noutro lado qualquer. Interessa-me que esta possa fazer escolhas, que seja livre e independente. Politizar demasiado a questão pode ofuscar o essencial.
pedro
andré: não ofendes a minha religião nem me ofendes a mim, tranquilo. compreendo perfeitamente o que dizes embora, insisto, os problemas em nome da religião são quase sempre de ordem política. isso e do clássico-sempre-actual "medo do outro".
não digo que fiquemos parados, antes, que ajamos no interesse do próximo e não no nosso; outro clássico, o altruísmo :)
o único país islâmico onde estive foi marrocos; lá não há stresses nem polícias de costumes. as moças tanto andam de burka, de hijab como com a cabeça destapada. e ninguém olha de lado quando vê um homem e uma mulher a falar na rua.
pedro nunes: a questão da "mulher" ainda tem muito que se lhe diga, aqui ou em outra parte do mundo... é lamentável que assim seja.
Bem, a decisão da proibição ou não da Burka só seria moralmente bem imposta se se soubesse o que a maioria das mulheres sentem. Provavelmente uma parte terá medo de dizer que não gosta de usar a burka, outra parte aceitará com normalidade porque nunca questionou a sua religião, e outra parte sentir-se-á aliviada por não ter de usar a burka.
Visto que é muito díficil determinar o verdadeiro sentimento das mulheres islâmicas, a questão que se põe em França é outra. França é um país de costumes que contrariam o uso da Burka, quem vem de fora terá de se habituar à cultura do país de destino, tal como as mulheres ocidentais que vão para um país islâmico se têm de tapar.
É certo que estamos em processo de globalização acentuada, e a liberdade religiosa deveria ser um direito fundamental em França, mas do que a história assassina das religiões nos tem mostrado, a humanidade já tem 'idade' suficiente para ser livre da própria liberdade religiosa, e assumir que infelizmente existem mais altos valores éticos que ultrapassam qualquer valor religioso (seja de que religião for), nomeadamente o valor da felicidade (que no caso da burka dificilmente pode ser determinado) e o valor da igualdade entre homens e mulheres, e aí só consigo aplaudir esta decisão do governo francês.
Em jeito de curiosidade, eu vivi em Paris 8 meses e era muito comum ver por exemplo duas irmãs, uma sem véu e vestida 'à ocidental', e outra com véu toda coberta, a caminharem lado a lado. Apesar de não se tratar duma burka, demonstra que em grande parte dos casos andar coberta ou não parte muito da iniciativa pessoal da mulher.
Este comentário foi removido pelo autor.
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Rodolfo, eu acho que tanto tu como eu queremos o mesmo. O teu incómodo está em achares que os franceses não têm que ser polícias de ninguém, percebo isso. Por outro lado, como o Nuno disse, são os muçulmanos que vêm de fora logo eles devem-se adaptar tal como tu terias se fosses a um Arábia Saudita ou quê. Enfim, tal como disse é uma questão delicada, discutirmo-la só nos ajuda.
ompreendo que a alguma parte da sociedade fique apreensiva quanto a esta proibição. Começa tudo a pensar que é uma afronta à liberdade religiosa e de expressão. Acho que hoje em dia se dá um sentido muito estranho à liberdade. Permitir que um grupo religioso oprima as mulheres e as torne em objectos é respeitar liberdade? E quem respeita a liberdade delas? No inicio da divulgação deste tema ouvi representantes de grupos de mulheres mulçumanas a pedir que não fossem com a proibição para a frente pois usavam burka ou véu por opção própria, porque assim o queriam. Pobres parvas que pensam que o fazem porque escolheram. Fazem-no porque foram e são influênciadas pelo que é dito ser correcto.
Mas não pensem as mulheres não mulçumanas que são melhores ou menos vitimas. Todas as mulheres, homens não tem liberdade. A grande maioria pensa que faz o que pensa ser melhor mas a verdade é que a forma como nos comportamos é influênciada pelas normas que foram instituidas na sociedade. Até quem é anarquista ou se comporta fora da norma é influênciado pelas regras.
Voltando ao tema da burka especificamente, apesar de achar que temos direito a usar o que quisermos , no geral estou a favor da proibição. Claro que agora poderiamos discutir o porquê de não serem proibidas todas as demonstrações de religião. De qualquer religião.
Mas penso que temos que entender que esta proibição não é estar a embirrar com os mulçumanos , é o defender um comportamento que achamos estar errado.
Chega de permitir tanto disparate e que pelo nome da liberdade se vire as costas.
Um dos casos mais flagrantes dessa tão aclamada liberdade é o que se vem a passar na Holanda. Há anos que o Estado holandês deixa dezenas de mulheres morrerem de forma cruel no seu próprio país só porque estas pertencem a uma religião minoritária e todas devem ser respeitadas. Num país desenvolvido e simbolo da liberdade dezenas de mulheres mulçumanas, cidadãs holandesas, são apredejadas até à morte pelos parentes por algum comportamento que pensam ser menos favorecido à sua honra. Isto não acontece em nenhum país em desenvolvimento, acontece aqui na Europa. Nada é feito porque temos que ser tolerantes com todas as culturas, religiões e afins.
Sinceramente já nem peço ou aclamo liberdade. Com o que vejo neste mundo só peço bom senso.
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