17 março, 2011

Daqui Ali - Texto Um [O Dia Novo Mesto]

Clica aqui para seguir as aventuras do gajo e aqui para te amigares dele no facebook. Porque ele tem baixa auto estima e precisa de muitos amigos para se sentir melhor.

Sexta-feira, dia onze de Fevereiro, ficará na minha memória como o “Dia Novo Mesto”. Novo Mesto é uma cidade, ou vila eslovena, relativamente perto da fronteira com a Croácia. Tem um McDonalds – fará isto de Novo Mesto uma cidade?... Mas já lá chego...
               
Acordámos nesse dia com os passaportes na cabeça. Povoavam a nossa mente pois povoar a nossa mala era coisa que sismavam em não fazer. Tive de deixar Portugal com o passaporte encafuado na embaixada do Paquistão, e confiar posteriormente nos serviços de correio para o reaver. Já chegava de adiar, tinha de partir, nem que isso significasse correr o pequeno risco de um envio de Portugal à Eslovénia. Por acaso agora, em Belgrado, tenho-o comigo, e até o tive nesse dia, mas foi uma epopeia. É que foi enviado na terça à noite, chegou quarta de manhã a Ljubljana (!!!) mas só na sexta, depois de termos falado com um milhão de pessoas ao telefone e termos ido a catorze mil sítios é que demos com o malfadado documento.

Assim, acordámos pusemo-nos a caminho de Trzin, onde nos disseram que estava, num escritório da DHL. Apanhámos um táxi, algo bastante luxuoso para pobretas como nós, e quando vimos o que ia custar saltamos fora aos dez euros. Perguntámos a uma rapariga, que fez o favor de nos chamar outro mais barato, que nos deixou no tal escritório. Ter aquilo na minha mão foi um climax que, apesar de esperado, quase surpreende. É que já me estava a ver a perder o passaporte, ter de voltar a Portugal, pedir um de emergência, não ter tempo para novos vistos, etc, etc... os fillmes dum gajo...

Ao voltar, não querendo ter o luxo de outro táxi, esticámos o polegar, que passado dez minutos nos metia no carro do Gaber! Um gajo topa logo com quem se está a meter. É que entrámos naquele carro com a música aos berros, ele saca de uma pistola falsa e diz “para me despedir do meu amigo que vai ali atrás”, disparando um petardo para o céu azul. Ok, porreiro. Pois tão fixe era, que nos convidou para ir até casa dele beber um copo. Acedemos, e passados dez minutos estávamos sentados à sua mesa a beber vinho esloveno, ouvir música, relaxar, comer qualquer coisa... Quando soube que íamos para a Croácia no dia seguinte deu-nos o equivalente a dez euros sem aceitar nada em troca. Não bastando, e apesar de já estar em casa, disse que nos levava até onde íamos, em Ljubljana. Ora, por nossa vez, convidamo-lo para beber um copo em casa da Vikktoria, nossa anfitriã da noite transacta.

Ficámos por lá por um pedaço, até que tivemos de bazar. Despedimo-nos do pessoal e o Gaber levou-nos até à estação, onde nos encontraríamos com uuma boleia que tínhamos organizado, daquelas que um gajo vê na net e depois paga – boleia para meninos (digo eu que sou este expert com duas semanas de experiência!). O problema de quando um gajo anda na estrada e as cenas correm bem, é que contámos que assim continuem a correr, e detalhes como ver se havia autocarros de Novo Mesto (onde esta boleia nos deixaria) passam-nos completamente ao lado. O engraçado é que este problema que enuncio muitas vezes transfora-se numa estória curiosa...

A cena é que chegámos a Novo Mesto e não só não se passava grande coisa, como não havia autocarros ou comboios para a Croácia! Demos umas voltas, saciamos a fome com um menu no Mac e chegámos à conclusão que o melhor era irmos para a estrada que ia para Este e tentar a nossa sorte. Uso muito bem aqui a palavra sorte... porque eram dez da noite, e o pessoal que ia dar boleia a esta hora a dois gajos é tão real como o Panamá ser na Costa da Caparica...

Por isso mesmo, passado meio hora estava visto que íamos dormir ali na berma da estrada. Ainda sentia em mim os efeitos do vinho esloveno bebido ao longo da tarde, e isso fazia-me sentir como se tivesse num filme qualquer onde as temperaturas arrefeciam a alma. Deitamo-nos na relva a ver o céu e pensar numa solução...

- Ó Pedro, – disse o João – devíamos era ir ali p’ró bar, tu punhas os teus social skills a funcionar e ainda nos safávamos!
- Ui ó méne não sei se consigo... – respondi, certo de que não me encontrava no meu estado mais charmoso.

Todavia, quando um gajo não pergunta a resposta é sempre não. E quando um gajo não pergunta e a resposta é sim, sabemos que algo corre bem...

Fomos para aquele bar minúsculo, frequentado apenas por três motoqueiros locais, e o espanto foi imediato. Pá eu estava ali sentado naqueles bancos altos de balcão, a beber uma caneca, o João aguentava-se acordado um metro ao lado, numa mesa, e aqueles três faziam uma fila lateral, como uma muralha que disparava perguntas num inglês enferrujado. Atropelavam-se uns aos outros e, conscientes da força do seu entuasiasmo, não paravam de dizer para não termos medo. Foi quando lhes dissemos que íamos dormir na estrada que se passaram. Via-se a vontade genuína de quererem fazer algo por alguém... E assim o fizeram. Se pagar um copo foi o primeiro passo, oferecerem-se para pagar o jantar foi o segundo. “We go to the hotel, you check-in, then we go eat. I pay!” – disseram, dezasseis vezes. Todavia, chegados ao hotel, aquilo custava quatro vezes mais do que tinham dito ao Yannis, o mais velho dos três, quando lá tinha ido. “Ok, I call my sister, we sleep there!” – plim plim plim! Pá claro que podiam ser violadores, assassinos, e essas coisas todos que infestam a nossa mente tão sensível às notícias deste mundo cada vez mais sensacionalista... sim, podiam. Mas o que é certo é que depois fomos jantar, fomos curtir duas horas a um bar, e depois fomos para casa do Mierkov. Até este dia eu tinha uma espécie de teoria que me dizia que quando alguém se esforça por te dizer para não teres medo é porque se calhar devias ter. Mas com estes gajos foi ao contrário... via-se que eles entendiam porque é que um gajo havia de estar na retranca, mas tudo ok. Afinal de contas, como o Mierkov disse, a dada altura, ele também podia ter medo.

Dormimos um soninho dos deuses, acordámos às oito para pequen’almoçarmos café  chouriça (!!!) enquando o seu cunhado, à minha esquerda, lhe dava forte no Jagermaister.

- Do you want some?

- No thanks...

2 Comments:

At 17.3.11, Blogger ::Andre:: said...

Não estava por cá quando te iniciaste no tasco, sê bem-vindo e diverte-te por aqui também. Continua a partilhar e quando chegares a casa faz um post só com fotos, há lugares que só mesmo vendo...

 
At 17.3.11, Blogger Priscilla Fontoura said...

"Todavia, quando um gajo não pergunta a resposta é sempre não. E quando um gajo não pergunta e a resposta é sim, sabemos que algo corre bem..." É ESSA A ATITUDE!

 

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