14 maio, 2010

De Buenos Aires ao Líbano

É possível viajar na tela, por vezes sabe quase tão bem como se lá estivéssemos.
Revi o Tetro, belo exercício cinematográfico do mestre Coppola, e arrisco a dizer que já conheço um pouco de Buenos Aires. A Argentina é uma daquelas viagens de sonho que está na wishlist, este Tetro acalma-me a ansiedade de lá ir. O único defeito (que não é defeito nenhum) é que é a preto e branco. Se por um lado, a sua belíssima fotografia dá um ar vintage e cativador, por outro perde a essência colorida daquilo que é La Boca, o bairro argentino onde se desenrola a maior parte do filme.
Nota: a argentina Georgina Hassan, curiosamente de BA, começa hoje uma tour nacional.

Da América do Sul ao sul do Líbano é um “saltinho” e o filme homónimo do israelita Samuel Maoz consegue ser distinto no meio de tantos. Neste caso, a viagem é dentro dum tanque em plena guerra do Líbano (aquando a invasão israelita de ’82 que tencionava – e conseguiu – cessar os ataques da Organização para a Libertação da Palestina). Distinto pela sua perspectiva original, todo o filme se desenrola dentro do Rion - o tanque - pois mesmo admitindo que conseguiu deixar a habitual e explícita visão política de lado, o argumento não deixa de ser um pouco tendencioso para o lado dos judeus.
Há dias, um amigo comentava que ia à Cinemateca rever o The Thin Red Line. É um bom filme que se destaca no meio de centenas do género, mas se fosse hoje recomendava-lhe este. Foi com Líbano que pela primeira vez senti o que deve ser a guerra. Talvez o que tenha visto até hoje tenha sido demasiado polido, filmes que passam uma imagem de entretenimento e de espectáculo quando na verdade o sentimento devia ser de repulsa. Com Líbano, argumentos e história à parte, sentimos na pele a claustrofobia do momento e a desorientação dos soldados, saboreamos o amargo sabor da guerra, mas ao mesmo tempo sabemos que estamos a assistir a uma peça de arte. Resta dizer que Beirute também está na wishlist.
Nota: E filmes como o Hurt Locker ganham Óscares…

14 Comments:

At 14.5.10, Blogger Unknown said...

Por acaso quero muito ver este Líbano... The Hurt Locker deve ficar a milhas deste...

 
At 14.5.10, Blogger Scometa said...

Cada filme tem a tendência a colar-se ao registo político mais próximo da sua vivência. Por essa razão não se pode comparar Hurt Locker com Líbano, são dois filmes totalmente diferentes. De um lado temos um filme que, mais do que retratar a tensão das brigadas anti-bomba norte-americanas no médio oriente, reflecte também toda a problemática psicológica que a guerra inflinge num povo, neste caso o americano. Não tendo visto ainda o Líbano, suponho que a "atrocidade" latente resulte de um povo que vive num estado de guerra violenta há décadas. Imagino que um cineasta sudanês tivesse ainda algo mais a dizer acerca da atrocidade da guerra.

 
At 14.5.10, Blogger Pereira said...

É como comparar o "Thirst" ao "Let the Right One In". Mesmo tema,abordagens diferentes,logo impossíveis de comparar.Agora é fácil bater no Hurt Locker.

 
At 14.5.10, Blogger Tiago Esteves said...

Está na lista para ver. Agora ainda fiquei com mais vontade :D

 
At 14.5.10, Blogger Hélder Costa said...

Para quem não viu, aconselho "Waltz With Bashir", um dos melhores filmes sobre a guerra feito nos ultimos tempos, é sobre a guerra do Líbano, tem uma banda sonora fabulososa, e é em animação

 
At 15.5.10, Blogger Unknown said...

Waltz With Bashir é lindo! Já o vi 3 vezes :D

 
At 15.5.10, Blogger Priscilla Fontoura said...

"o argumento não deixa de ser um pouco tendencioso para o lado dos judeus." -> "Cada filme tem a tendência a colar-se ao registo político mais próximo da sua vivência" É o que acontece com o Líbano e na minha opinião parece-me legitimo.

 
At 15.5.10, Blogger Luis said...

Mestre Coppola???

E alguém me pode explicar o "Hurt Locker" - continuo sem perceber o interesse (e o alarido em redor) do filme.

Vou investigar este "Líbano".

Estou a ver se me vem à cabeça algum filme "de / sobre" guerra que me tenha ficado na memória...

 
At 15.5.10, Blogger Scometa said...

Realmente, esse Coppola é um realizadorzeco de segunda, comparado com os realizadores russos do periodo do "Degelo" ou até com um Jerzy Skolimowski e Andrzej Wadja da escola de Lodz. Pff. Morte aos porcos imperialistas americanos!

 
At 15.5.10, Blogger Luis said...

ironia / sarcasmo, scometa?.....

É que não sei se o Coppola é um realizador de segunda ou de primeira ou terceira, mas é sem dúvida bastante sobrevalorizado....

 
At 16.5.10, Blogger Scometa said...

Dois filmes: Padrinho e Apocalipse Now. Quer o aches ou não, são duas obras-primas do cinema. Pode ter tido uns quantos flops na carreira, mas bastam dois titulos destes para o colocar "naquele" patamar.

 
At 17.5.10, Blogger Crestfall said...

Quero ver este Lebanon.
Tenho a ideia de ter lido algures que é inspirado na própria vivência do realizador, right?

Compreendo o que queres dizer com a imagem de entretenimento que é transmitida pela maioria dos filmes de guerra, até o aqui referido Apocalypse Now do Coppola é um espectáculo bélico visualmente atractivo. Consegue é ser simultâneamente complexo e negro.
Outro clássico do Coppola é o Dracula de Bram Stoker!

Eu achei o de Hurt Locker um filme extraordinário. Uma obra de ficção apolítica muito simples, com um argumento linear, mas que me prendeu do inicio ao fim, tal a adrenalina que transmite e que funciona como uma droga para o personagem central do filme.

 
At 17.5.10, Blogger Unknown said...

Coppola é mau??

Tem muitos bons filmes, entre os quais dois que se estão a esquecer, The Conversation e o Rumble Fish!

 
At 17.5.10, Blogger ::Andre:: said...

É isso Crest, há duas décadas atrás o realizador era um dos que ia dentro do próprio tanque.

Eu também gostei do Hurt Locker, mas foi altamente sobrevalorizado.

Coppola = Apocalypse, Godfather, Tetro, Dracula, filha, etc..

 

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