11 fevereiro, 2011

Egipto, e agora? Part II

Mubarak deixa o Governo, estando o poder reservado para as forças Armadas, que terá a dificil tarefa de manter a paz e assegurar a transição democrática de forma credivel no país.

O que sair desta revoluçao vai mudar o mundo para sempre, mas a incógnita persiste. Subsiste o temor de mais um regime fundamentalista poder ganhar o poder, visto que, a haver eleiçoes em Setembro, a Irmandade Muçulmana é neste momento quem tem mais hipoteses de ser eleita democraticamente, dada a campanha humanitária que desenvolveu com as classes mais pobres nas últimas duas décadas, e ser efectivamente muito melhor organizada que qualquer partido politico que possa surgir nesta altura. Desta revolução pode sair sem duvida um novo Irão em '79. A irmandade pode sentar-se no poder eleita pelo povo e instaurar a sharia, tornando o mundo num caldeirão prestes a explodir de tanta pressão. Mas é a hipocrisia do mundo Ocidental e da sua politica imperialista - que qual Napoleão defende a sua supremacia vincada num principio moral categórico de que o nosso sistema é o mais justo e que deve ser defendido a todo o custo, sobre qualquer custo de vida, e apoiando todos os ditadores que for necessário para que nós deste lado possamos desfrutar desta sociedade que fecha os olhos a todos os direitos humanos, desde que possamos ter sempre no supermercado a nossa comida, e na worten os nossos electrodomésticos. É esta hipocrisia, e esta vontade de constantemente intervir no mundo árabe que levou a que regimes fundamentalistas islâmicos se possam sentar no poder em democracia. Porque o povo quer decidir por ele, mal ou bem. O mundo àrabe não quer mais estrangeiros a dizerem-lhes o que fazer e em quem votar. E se o mundo o idental nao se afastar e deixar as coisas tomar o seu rumo, seja qual for, sujeita-se a que o voto do povo egipcio seja usado apenas para contrariar as vontades deste lado do mundo.

A partir de agora o mundo não mais será o mesmo.

Edit: escrevi no principio que o poder transitava para Suleiman, sendo que estava incorrecto. Removi essa parte do primeiro parágrafo.

14 Comments:

At 11.2.11, Blogger Susana Quartin said...

"Mas deixa o poder a Omar Suleiman, um vice- presidente apoiado por ele."

Ahn? Não, é o exército.

 
At 11.2.11, Blogger Scometa said...

Tens razao Susana. Escrevi o texto uns minutos após o anuncio da retirada, so vi depois que era o exército que iria ficar com a responsabilidade de gerir a situaçao ate às próximas eleiçoes.

 
At 12.2.11, Blogger Carlos said...

A maior hipocrisia é a de um governo que há anos que financia o regime e que agora se mostra a favor da transição. É curioso como os Estados Unidos demoraram e escolher de que lado estavam para no fim escolher aquele que parecia que ia ganhar.

 
At 12.2.11, Blogger ::Andre:: said...

"A partir de agora o mundo não mais será o mesmo."

 
At 12.2.11, Blogger ::Andre:: said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 14.2.11, Blogger Pedro said...

Se os Egípcios forem idiotas ao ponto de, ao sair de um regime ditatorial, escolherem outro regime extremista, é problema deles por não aprenderem com os erros de outros países.


"Nós" não temos de meter o bedelho lá. Eles escolham o seu próprio caminho. Se esse caminho os levar para um lugar onde são, mais uma vez, alvo de opressão, a escolha foi deles.

Mas tenham noção que, se começarem a armar problemas para o "nosso" lado, com a sua jihad e tretas, temos todo o direito em nos defender. E aí, não vou ter pena.

 
At 14.2.11, Blogger Rodolfo said...

fico perplexo com o comentário do Pedro.

"se começarem a armar problemas para o "nosso" lado, com a sua jihad e tretas, temos todo o direito em nos defender"

dificilmente o Egipto vem arranjar problemas para o nosso lado... ainda estamos a uns kms valentes deles; já para o lado de Israel talvez, mas isso não é connosco também pois não?

Jihad e tretas é algo vago demais para compreender; então os srs não têm o direito de "levar a mensagem do Islão aos que não têm ciência da mesma" ou até "à protecção do Islão contra aquilo que eles vêem como influências que corrompem a vida muçulmana"?

Estas são as definições de Jihad e nisso não vejo mal, menos ainda depois de ter um Papa na Europa a exaltar a "matriz cristã", logo, a fazer a sua Jihad cá no burgo.

Pedro, acreditas mesmo que tens de te defender da "invasão muçulmana"? é que não vai haver nenhuma, não nos termos em que te possas defender dela pelo menos; talvez possas começar a criar um exército de missionários (ou um grupo de estudos ateu) para os combater.

Não podemos continuar eternamente a associar o terrorismo ao Islão, é falacioso e propagandístico.

Nunca ninguém fala (falou) do Catolicismo Radical do IRA, agora quando é um mouro a rebentar uma bomba, isso é por causa da religião dele... se calhar a motivação de homens religiosos que rebentam bombas é política, só se calhar.

Não estou a dizer que não venham a ocorrer atentados na Europa, ou que a "ameaça" do Cáucaso não seja real mas esses não representam o Islão, são só muçulmanos e há uma grande diferença nisso.

Muitas pessoas falam do perigo de um novo Irão de '79. Qual perigo afinal? O perigo de se perder influência num território? O perigo de se estabelecer um regime progressista (disse isso mesmo) onde as mulheres ocupam funções tão diversas como taxistas, bombeiros e polícia por exemplo? O perigo deles quererem ter armamento nuclear para (finalmente) poderem ter margem de manobra com os vizinhos e agressores externos?

A maior parte do que se critica no Irão é norma noutros países "democráticos". Será que não se vê isso?

O perigo era o comunismo há uns anos, depois passaram a ser os países que a CCCP apoiou, agora, parece-me que o que irrita os EUA são mesmo estes países mouros com a sua mania do socialismo...

 
At 14.2.11, Blogger Rodolfo said...

entretanto por cá, na boa Europa tudo corre bem e não são necessárias revoluções; o que nos preocupa é a ameaça virtual do Islão, não o desemprego galopante, a privação de direitos fundamentais ou a corrupção das classes políticas.

porra... anda tudo parvo ou cego?

 
At 14.2.11, Blogger Pedro said...

A liberdade de religião funciona muito bem até aparecerem extremistas dispostos a tudo para impor as suas crenças a outros.


Seja que religião for.


É que é bonito dizer que ninguém arma problemas e é tudo paz e amor, mas depois as coisas acontecem...

 
At 14.2.11, Blogger Rodolfo said...

ok Pedro, ok...

 
At 14.2.11, Blogger Pedro said...

"entretanto por cá, na boa Europa tudo corre bem e não são necessárias revoluções; o que nos preocupa é a ameaça virtual do Islão, não o desemprego galopante, a privação de direitos fundamentais ou a corrupção das classes políticas."


É óbvio que isto me preocupa mais, mas daí a dizeres que a ameaça do Islão é "virtual" parece exagero.

 
At 14.2.11, Blogger Scometa said...

"O perigo de se estabelecer um regime progressista (disse isso mesmo) onde as mulheres ocupam funções tão diversas como taxistas, bombeiros e polícia por exemplo? O perigo deles quererem ter armamento nuclear para (finalmente) poderem ter margem de manobra com os vizinhos e agressores externos?"

E a parte da sharia, Rodolfo? Ou das mortes por lapidação? Ou das condenações à morte de escritores por falarem mal do regime? Ou de prenderem cineastas porque falam sobre coisas como liberdade ou sobre o modo de vida dos iranianos? Eu sei que muita da informação que nos chega do Irão é filtrada de acordo com aquilo que interessa ao mundo ocidental, mas dai a chamar regime progressista a um cuja legislatura é subjugada ao poder do Islão e da Sharia vai um grande passo. Não te esqueças que há uma diferença enorme entre aquilo que é o poder laico e as influências que o Vaticano ou os Protestantes podem ter numa nação. Religião e Estado não se misturam. Um dos maiores problemas dos EUA é terem o "a nation under god" na constituição, e não é preciso muito para conceber que uma fatia bem grande do povo americano sente que esta nação de Deus também tem que combater os infiéis. Basta perceber o fenómeno Tea Party ou as audiências de programas como o de Glen Beck na Fox News.

Eu, como não-religioso e não-crente, custa-me viver neste tipo de mundo onde há tantos conflitos por causa de crenças religiosas. E é que a maior parte dos que provocam estes conflitos vão contra tudo aquilo que esses livros sagrados advogam

 
At 15.2.11, Blogger Rodolfo said...

scometa: da Sharia não falo porque não sou muçulmano, mas aceito que para eles seja importante.

Estado e Religião andaram de mãos dadas em muitos outros locais e tempos com relativo sucesso; nada me diz que não seja exequível no século XXI.

a morte por lapidação é menos humana que a morte por injecção letal, enforcamento ou fuzilamento? equacionar mortes humanas é risível.

e a perseguição de pensadores livres é exclusiva dos países islâmicos ou do Irão? dificilmente... há por ali ao lado uma democracia que nos mostra como tudo isto é muito relativo.

por cá no velho continente não existe essa censura velada? se calhar habituámo-nos a ela porque não a vemos de modo tão evidente; dá tempo e também o Irão progredirá na sua sofisticação e implementará a repressão civilizada que nós conhecemos.

eu compreendo a tua posição de não religioso, honestamente que a compreendo; já a mim, enquanto profundo religioso magoa-me ver tanta política ignominiosa ser feita disfarçada de religião. a religião não é uma coisa má, ab origine; infelizmente, tendo começado a ser considerada uma actividade intelectual menor com o tempo, rapidamente foi apropriada por inúmeras outras instituições com propósitos distintos - nem todos maus, certamente.

 
At 16.2.11, Blogger Scometa said...

Sou completamente contra a pena de morte, seja ela qual for. Estou a falar do plano da democracia onde vivo, e não de outras como a do outro lado do atlântico. Acho que nenhuma democracia pode ser considerada como tal sem abolir a pena de morte. Olho por olho, dente por dente (a tal lei do Talião) faz parte de conceitos primitivos de justiça.

Prefiro viver com a consciência de que a liberdade que tanto ostentamos na nossa parte do mundo possa ser, como dizes, velada, do que onde ela não existe de qualquer forma. Porque no fundo, nada me impede a priori de expressar a minha opinião. Eu não poder sequer ir para a rua manifestar-me contra o governo sem levar com balas em cima penso que diz tudo sobre a diferença entre o Irão e Portugal, por exemplo.

Mas algo também vai muito mal do outro lado do atlântico, e que não representa de todo a liberdade que tanto professam

 

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