As Tristezas da Lua
O meu primeiro contacto com um poema de Baudelaire passou-me despercebido. Isto é, o que me passou despercebido foi o facto de aquilo ser um poema de Baudelaire, porque o veículo que propiciou esse contacto não passou nada despercebido. Foi através de um tema intitulado “Tristesses de la Lune” que fazia parte do álbum “Into the Pandemonium” dos Celtic Frost.
Ainda hoje me fascina como é que um grupo de metal, em 1987, lançou aquela faixa nada vulgar para a época. Os Celtic Frost foram bastante criticados por esse álbum, não por causa do tema que eu mencionei, mas pelo facto de abrirem logo o álbum com uma cover de um grupo new-wave - “Mexican Radio” dos Wall of Voodoo. Esse álbum, no entanto, ainda hoje ocupa um lugar bem mais especial que o “Morbid Tales”, para mim, claro está.
Com o passar dos anos, e o meu crescente interesse na poesia, uma pessoa bem próxima de mim falou-me n'”As Flores do Mal” e eu acabei por comprar um exemplar do livro em questão. E que livro! Dos livros de poesia que possuo, deve ser aquele que reli mais vezes e, qual não foi a minha surpresa na altura, quando, a páginas tantas, descubro um poema intitulado “Tristesses de la Lune” que era exactamente a “letra” da faixa do mesmo nome do “Into the Pandemonium”.
Entretanto, entre a faixa de Celtic Frost e a compra do livro, tinha descoberto mais uma adaptação do Baudelaire à música, mas nessa altura já sabia de quem era a autoria do texto – estou-me a referir ao “Les Litanies de Satan” da Diamanda Galas – e foi já em “vésperas” de adquirir o livro.
Com o tempo, “As Flores do Mal” tornaram-se no livro em que mais poemas tenho marcados e acabo sempre por voltar a pegar no bouquet ao fim de algum tempo.
7 Comments:
Post interessante, não conhecia essa faixa de Celtic Frost, mas já "encontrei" o Baudelaire várias vezes na música. Algumas bandas de black metal como os Peste Noire e Bosse-de-Nage inspiram-se no "Spleen de Paris" ( livro que costumo trazer sempre comigo na minha mala ahaha ).
uma e outra vez regressamos a Baudelaire e a Celtic Frost...
São referências, incontornáveis, assim como a Diamanda.
Óptimas recomendações, para quem quer que seja!
Pereira: é o que tem de porreiro estes intercâmbios - não sabia dessas outras "utilizações" do Baudelaire, mas já me fizeste voltar a pegar n'"O Spleen de Paris".
Vera: sempre. Ainda ontem me voltei a surpreender com o facto de ter tantos poemas assinalados no livro.
Baudelaire era hábil a misturar morte e erotismo. Isso faz de ti um necrófilo Jorge lol
Também me surpreendo quando descubro referências antigas (e que tinham passado despercebidas) no novo
Isto está-me sempre a acontecer, seja em música, cinema ou leitura. E adoro!
O meu problema com a Diamanda é que só a conheço com os Last Exit em palco, ou seja, um concerto que prova que nem sempre há quimica entre músicos de universos diferentes.
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