06 julho, 2011

Guitarrando

Acharam os meus pais por bem arranjar umas actividades extra-curriculares ao petiz lá da casa, nem que fosse para evitar derreter os olhos à frente da TV. Já naquela altura a minha incapacidade para a bola era notória, por isso fui parar à academia de música. Foi-se então comprar uma guitarra para o menino, Del Campo era a marca, o que em retrospectiva soa a uma marca de fiambre que poderíamos encontrar no Lidl.

Seguiu-se o dó, ré, mi e as coisas foram evoluindo a partir daí. Curiosamente, a minha incursão pela música como intérprete surgiu antes do meu interesse pela música como ouvinte, o que talvez justifique uma relação pouco cúmplice com o instrumento numa fase inicial. Até que um dia me espetam com os estudos dum tal Leo Brouwer.
Pode não parecer muito mas representa uma ruptura no meu percurso musical. Apresentou-me uma nova maneira de encarar a guitarra, com tonalidades e ritmos diferentes da chamada escola clássica, que até ao ponto tinha constituído grande parte do meu reportório como aprendiz.

A escola de composição sul-americana/espanhola entranhou-se em mim e hoje em dia quando recorro à guitarra de forma lúdica, tanto como ouvinte ou como intérprete, é raro pegar em temas que não se enquadrem neste som. Barrios, Piazzola, Llobet, Allbeniz, Tárrega, para referenciar alguns compositores.
Nestes dias de rápido consumo e défice de tempo, será preferível destacar apenas um de modo a não saturar e afastar potenciais ouvintes. Não há mal, a escolha é fácil : Heitor Villa-Lobos. Génio incomparável na exploração da guitarra, qualquer análise ou desconstrução que vos possa oferecer acerca da sua música ficará aquém do que esta tem para oferecer. Deixo então duas das minhas peças favoritas, um Choro para guitarra (aqui interpretado pelo fantástico David Russell) e um Concerto para guitarra e orquestra em 3 andamentos.