5ive - Hesperus [Tortuga-Hydra Head 2008]
Atenção bandas sem nome: estão-se a esgotar os nomes da mitologia grega, egípcia e afins. Neste caso, Hesperus (Deus da Estrela Matinal), marca o renascimento dos 5ive sete anos após o primeiro álbum. Não é que tivessem morrido (há um EP pelo meio e tal) mas foi essa a mensagem que passaram tanto foi o tempo que estiveram sem “apitar”. Para quem esteja esquecido, relembro que estes 5ive são um duo americano (Jeff Caxide dos Isis chegou a tocar com eles) que pratica uma espécie de “instrumetal”. O regresso é “doomy”, “sludgy”, sujinho e recomenda-se. Não deixa marcas nem cicatrizes mas fãs de Pelican, Knut e todo aquele espectro “post-metal” devia, sem dúvida, ouvir este disco.
Ai Aso & Wata - She's so Heavy Split 7'' [Diwphalanx 2007]
Wata… Quem é que não conhece a deusa dos riffs? Neste split com a também nipónica Ai Aso, a guitarrista dos Boris não dispensa a sua banda e Michio “Ghost” Kurihara para o seu primeiro trabalho a “solo”. Provavelmente, este tema até resultou da colaboração “Rainbow” de ‘06, mas estou demasiado preguiçoso para esclarecer isso. O que eu sei é que tanto Wata como quem a acompanha, fazem uma justa e merecida homenagem a Masashi Kitamura, um grande visionário do underground japonês que faleceu há cerca de dois anos.
De Ai Aso sei muito pouco mas depois desta cover elegante de “Islands” dos King Crimson, fiquei com muita vontade de continuar a conhecer o seu trabalho. Resumindo, não gastava um dinheirão neste split mas ficava muito bem na colecção.
Boris - Smile [Southern Lord 2008]
E por falar em Wata… Aí estão os Boris de regresso depois de “Vein” de 2006. Mas, regresso? Não se pode falar em regresso quando entre estes dois álbuns houve duas colaborações com Merzbow, o “Altar” com os SunnO))) e o já mencionado “Rainbow”. Este trio japonês é inclusive conhecido por dar entrevistas sobre determinado álbum quando já têm outros a sair do forno, mas concentremo-nos no “Smile”. Novamente com uma ajudinha de Michio e de Stephen O’Malley, os Boris mostram (se é que alguém ainda tinha dúvidas) que estão aqui pelo prazer da música e vão continuar a experimentar e a fazer o que lhes apetece. Logo ao primeiro tema (extenso mas com um groove do caraças) se descobre que arranjaram uma drum machine e decidiram brincar com ela. A partir daí, Wata, Atsuo e Takeshi oferecem-nos aquele que é provavelmente o álbum mais experimental, psicadélico e disfuncional (elogio) da sua extensa discografia. A produção esquizofrénica contribui. Pá, são uma banda do caralho por isso sorriam, estes são os Boris.
Ps: Esta “review” é sobre a edição japonesa. A edição americana, a que provavelmente vai morar em casa de todos nós, tem um artwork diferente (SOMA) e a seguinte tracklist:
01 Flower Sun Rain (PYG Cover with Michio Kurihara)
02 BUZZ-IN
03 Laser Beam
04 Statement
05 My Neighbor Satan (c/ Michio Kurihara)
06 KA RE HA TE TA SA KI – No Ones Grieve
07 Untitled (c/ SOMA)
08 You Were Holding an Umbrella
Brethren Of The Free Spirit - All Things are from Him, through Him and in Him [Audiomer 2008]
Inspirado na mística francesa Marguerite Porete que foi condenada como herege e queimada em 1310, James Blackshaw e Jozef Van Wissem apresentam-nos aqui a sua primeira colaboração. Quatro belos temas conduzidos pela guitarra de doze cordas de Blackshaw e acompanhadas lindamente pelo alaúde de Wissem. Excelente álbum, um marco na carreira dos dois músicos.
Earth & Sir Richard Bishop - Split 12'' [Southern Lord 2008]
Consigo imaginar o Dylan num qualquer bar refundido do Porto a encantar-nos com a sua guitarra. Quem sabe um dia… Neste split, uma daquelas edições limitadas produzidas apenas para celebrar uma tour, o tema dos Earth é um tema a solo do próprio Mestre Dylan Carlson. Paisagem perfeita desenhada a guitarra de um dos visionários dos nossos tempos. Quem está habituado aos sons de músicos como Fear Falls Burning e Aidan Baker não vai estranhar, e no fim dos 12 minutos só dá vontade de carregar no play outra vez. Mestre, atirar aí um álbum a solo, ok? Sir Richard Bishop, outro músico de outra dimensão, parece não esgotar a imaginação e continua a “sacar” riffs deliciosos. Também não esconde a sua admiração pela cultura indiana e explora o seu Sitar (da família do banjo) e Tambura (família do alaúde), este já mais conhecido pelo mundo fora. Rick contou aqui com a ajuda de Randall Dunn, técnico de som nos concertos de SunnO))). Parece que este doze polegadas já esgotou por isso um bem-haja a quem se continua a dar ao trabalho de ripar vinil. Música maravilhosa…
KTL - 3 [Or 2007]
Será este o último trabalho deste projecto de Stephen O’Malley (Sunno))), Khanate, etc) e Peter “Pita” Rehberg? Espero que não.... Formaram-se sobretudo para a peça “Kindertontenlieder” da francesa Gisèle Vienne e acabaram por se tornar num dos melhores projectos “abstractos” que já ouvi. Este “3” é talvez o menos ambicioso, até porque só tem dois temas, mas também o mais acessível, se é que se pode usar esse adjectivo na música dos KTL. Não é para toda a gente, verdade, mas a partir do momento que nos deixamos entrar neste mundo ficamos possuídos, viciados e excitados. Este LP conta com um “etching” de Edwin Pouncey num dos lados, é um autêntico item de coleccionador. A ver se os vejo ao vivo um dia destes…
Ps: Ando à procura, em mp3, do Live in Krems e o IKKI. Se alguém tiver links...
Shit and Shine - Cunts with Roses [Noisestar Music 2007]
Grupo baseado em Londres, os Shit and Shine são conhecidos pelas suas prestações filhas-da-puta e psicadélicas. Este “Cunts with Roses” documenta isso mesmo. 28 minutos de noise, berros e um incrível e viciante riff de bateria. Desafio qualquer de um de vocês que está a ler estas linhas a dizer que isto não presta. Deixem-se foder, a música também é isto.
Stephen O'Malley & Attila Csihar - 6°FSKYQUAKE [eMego 2008]
Há quem diga que este álbum não é nada mais que o O’Malley a brincar com um “toy phone” enquanto o Attila faz que canta dentro de uma baleia. Este tipo de comentários têm sido constantes neste tipo de trabalhos. Tornam-se incompreendidos e objectos de insulto apenas por serem diferentes e se vamos falar do “quebrar barreiras” então nem saímos daqui. Este 6°FSKYQUAKE é uma composição criada em 2001 mas só no ano passado viu a luz do dia numa exposição de Banks Violette, um escultor nova-iorquino. Na quinta colaboração Banks-SOMA, a ideia era revisitar temas como a perda e a ausência interagindo o som e as obras, tentando que este, o som, se transformasse em algo físico. “Sound pressure in substantial space, relative dimension between concrete and perceptual mass, gravity induced by heightened sonic action and standing sub-bass pressure.” Sendo assim, quem não pôde assistir ao resultado final nunca poderá dar uma opinião final mas ainda bem que estas instalações são editadas. Peço desculpa por gostar. Fotos da exposição
aqui e
aqui.
Ps: Procuro o “SALT”.