31 julho, 2011

ABIGOR: O Chifrudo espreita beyond d'estrelas.

Após um fim de semana inteiro em Barcelos a vomitar hipsters pelos olhos, nada melhor do que recorrer a Abigor para nos purgar os sentidos e nos deixar a alma mais próxima de ser entregue a'O Grande Bode.

Conterrâneos do meu Austríaco de bigode cómico preferido, foram provavelmente a primeira grande banda a dar que falar no black metal sem merdas nem paneleirices extra-Noruega.

Não querendo ficar atrás das bandecas da moda do país que parece uma verruga na pila nórdica, construíram uma discografia considerável com obras que variam substancialmente de registo temático e "musical" entre si. A isso lhes vale a cascata de riffs valentes do PK, a hiperactividade baterística do TT (bateristas, escutainde) e a ex-presença do sempre agonizante Silenius (também em Summoning) - actualmente com um sucessor digno na forma de outro tipo com mais iniciais no nome. Tirando a anedota que é o "Satanized", temos bastantes discos para o menino e para a menina sem momentos de aborrecimento.

Fica aqui apenas a discografia dos anos 90, como desculpa para post atrasado da última quinta-feira.


Verwüstung / Invoke the Dark Age


Em 1994 os COF deviam já ser os reis para adolescentes vários com a sua temática vampi-gótica recheada de gritinhos estridentes e de teclados ultra-maricas, a caminho de serem os Iron Maiden do metal extremo.
Abigor lançou este hino à Idade das Trevas e toda a sua maldade, com direito a uma sample d'O Sétimo Selo e tudo e nunca foram expulsos do Vaticano por isso. O mundo é, de facto, injusto.


Orkblut - The Retaliation


Se há disco que lamento ainda não possuir na minha humilde colecção, é este EP de 24 minutos. 11 faixas que contam uma estóriazeca pagânica qualquer, é de uma intensidade e de uma atmosfera tal que se chega ao fim e é impossível não deixar cair uma lágrimazinha, ou de sacar uma espada e de ir matar pagões e não pagões.


Nachthymnen (From the Twilight Kingdom)


Este leva uns teclados e uma vozes femininas aqui para o meio, mais uns momentitos acústico-melódicos, mas, ao mesmo tempo, uma boa dose TTestosterónica para nunca correr o risco de haver mariconices aqui pelo meio. A sério, este gajo parte a loiça toda, mais os talheres e os copos.


OPUS IV


Aceleraram o passo, mandaram uns drunfos, e viram os chifres de Satanás para além das estrelas. Mais não é preciso dizer, para além do infeliz som afogado na banheira da segunda parte do disco.


Supreme Immortal Art


Primeiro flop na disco. Isto é, era mesmo preciso um som tão ranhoso? Era preciso encher um disco de teclados pomposos e pretensiosos? As ideias eram giras, mas era melhor deixar a sinfonia para quem a domina mesmo. O Silenius deve-se ter sentido tão envergonhado que saiu logo a seguir.


Channeling the Quintessence of Satan


Arrependidos da mariquice barroca anterior, despiram-se de todos os floreados melódicos e complexidade que foram acrescentando ao longo do tempo e trouxeram-nos esta pérola miásmica do mais puro louvor ao Grande Bode. A capa de Albrech Dürer serve de mote a este momento perfeito em que uma banda decide mostrar tudo aquilo que é da forma mais brutal possível, efectivamente sem merdas nem paneleirices.
O som e a voz poderão ser os elos mais fracos, mas pelos vistos vem aí nova edição remasterizada e tal.

28 julho, 2011

Daqui Ali - Texto Oito [A Lone Rider And His Feelings]


 para veres o resto das fotos e ires acompanhando mais de perto, segue a página do facebook, clicando aqui. para relatos com mais profundidade, segue o blog, clicando aqui

Estou em Hoi An, neste momento no quarto do meu hotel, Hoi Pho I, pelo qual tive de pagar dez dolares. Ninguém com quem dividir a conta.Tem duas camas mas ninguém na outra, como muitas vezes acontece, seja com os belgas de Da Lat, o Martin no Camboja, a Sofia na Índia, Nepal, Tailândia e Malásia ou outros amigos que se fazem em segundos de inspiração. E é pena. É pena porque Hoi An é absolutamente fantástico e tive um dia excelente, caminhando entre as ruas de casas antigas e amarelas, passando pelas senhoras com o seu chapeuzinho cónico, atravessando a ponte para o lado ainda mais autêntico e vietnamita – mas sem ninguém de imediato com quem partilhar a alegria que tais visões assentavam na minha alma.
               
Depois de ter feito o percurso que o guia sugeria, e já em êxtase com a beleza da vila, entreguei-me à aleatoridade por um par de horas, e dei por mim no coração de locais tão reais quanto o céu azul que me aguentava, a dizer “hello” de volta às dezenas de miúdos e miúdas que me cumprimentavam, com a palavra, um sorriso e um aceno. Dei por mim sentado a observar a linha onde o rio, as montanhas e o céu se confunde, com os pescadores a passar periodicamente, lançando a sua rede com paciência, e entretendo as filhas, ou netas, que brincavam no barquinho de madeira.
               
Depois fui voltando, sentei-me num cais improvisado, a olhar para o céu que misturava o azul com o laranja, ia vendo as pessoas a passar do outro lado do pequeno rio, e a senhora, também com o seu chapéu cónico, que conduzia o seu barco como uma gondoleira, e que me perguntava, apesar de eu já ter respondido “boat ride”?
               
Tudo isto me abraçava e eu senti-me profundamente feliz e até sortudo em estar ali. Sempre defendo que a sorte não tem nada a ver com o que um gajo faz. Mas confesso que me senti sortudo, quanto mais não seja sortudo por ter tido o código genético e as vivências que me permitiram ser alguém que segue os seus sonhos.
               
Atravessei a ponte, tirei a foto àquele casal que mo pediu. Tirei uma fotografia a mim próprio  - aquelas típicas do braço esticado e do sorriso modesto. Sentei-me no restaurante, mesa p’ra um, abri o computador, pedi comida e uma cerveja de 0,15€. E passado duas horas corri as ruas durante uma meia hora, sem saber já bem o que fazer. E aí senti que me faltava alguém para partilhar a beleza deste sítio, ou com quem me sentar a ver a banda passar. Ao mesmo tempo, não me apetecia meter conversa com pessoal e arranjar um grupinho p’rá noite. Não sei se me senti triste ou não. Não sei se foi bem isso, até porque, se o foi, foi triste por não ter alguém com quem partilhar a alegria que esta vila me transmite, o que, sinceramente, não faz pleno sentido.
               
Recordo-me de quando me autoatribuí, no messenger, a alcunha de “Lone Rider”. É quase ridículo admitir que isso me surgiu por ter feito algo tão mundano quanto ir sozinho ao Rock in Rio, em 2008. É ir de Vale de Cambra (ou de Coimbra, não me lembro) para Lisboa, passar uma tarde e uma noite, e voltar. Tão simples quanto isso. Mas se calhar, e até sem bem o saber na altura, foi aterrando a noção de que o facto de andar sozinho nunca me impediria de ir fosse onde fosse, de fazer fosse o que fosse. Acontece vezes sem conta com quase toda a gente, e acho uma pena. Não só porque se fazem amigos em qualquer lado, e a solidão acaba por ser algo que apenas esporádica e, creio, saudavelmente nos bate à porta, mas também porque, para mim, vale mais a solidão de estar em paraísos dispersos pelo mundo, do que a solidão de estar preso no nosso quarto, na nossa casa, na nossa terra, no nosso mundo de onde até queremos escapar, nem que seja só de vez em quando.
               
Assim, esses sentimentos aparecem, claro que sim. Sou um gajo, feito de carne e osso, que gosta de ouvir uma música mais tristinha (Moby – Rockets) de vez em quando para ir de encontro ao seu coração que docemente se auto-embala e que se sente alegre, triste, zangado, feliz, cansado, só, exasperado, entusiasmado, esperançoso, iludido, medroso, desiludido e expectante. Esses sentimentos fazem parte de mim e não lhes nego o lugar que têm aqui por estes lados.
               
E é no negar desses sentimentos, na expectativa pessimista de quem se deixa governar pelo medo de se sentir frustrado, só ou perdido que reina a indecisão de se ficar pelo que se conhece. Quem quer curtir vai curtir, seja de que maneira for, e com que ritmo for. Quem tem medo de que algo vá acontecer e age de uma forma milimetricamente preparada para que tal não aconteça, verá a segurança ao seu redor, mas as surpresas a voar, com asas de ouro, do outro lado da gaiola, perto o suficiente para se saber que estão ali, mas apenas longe o suficiente para não se poderem tocar e agarrar.
               
Vamos abraçar isto que vai cá dentro.

21h50-3ª-26-7-11
no quarto do hotel em Hoi An
                
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"boat ride, boat ride?" - que soava mais como "bô rai, bô rai?"

just chillin'

um bocadinho mais à esquerda ainda se vê um bocado dos putos, que se divertiam na água

caminhando por estas ruas mergulhei um bocado no vietname sem turistas - sublime

este cota andava com o seu barquinho, p'ra trás e p'rá frente, com as (imagino) netinhas sempre a palrar e (imagino) a sorrir. deu-me ideia de ser daquelas cenas que elas vão lembrar para sempre tipo "lembro-me quando era chavala, costumava ir pescar com o meu avê, era tão fixe..."
as casas tinham duas cores: amarelo, e amarelo esbatido


sinto-me grande no vietname. essas lonas cobriam o mercado todo e na maior parte dos sítios um gajo tinha de andar curvado, sendo que estavam p'rai a metro e meio de altura

pôr do sol

27 julho, 2011

On The Road

Our battered suitcases were piled on the sidewalk again; we had longer ways to go. But no matter, the road is life. - Jack Kerouac

Foi este o ano em que o carro entrou definitivamente para o meu quotidiano. A rotina citadina já começa a saturar mas inversamente, cada vez mais surge a vontade de explorar a estrada. A rede nacional tem potencial para proporcionar viagens verdadeiramente memoráveis, muito graças às paisagens naturais pelas quais as nossas EN se embrenham. O verde luxuriante do Alto Minho, as planícies cor-de-milho do Alentejo Interior, as magnificas praias da Costa Vicentina, a pouco explorada Serra Algarvia, até hoje não houve nenhuma "roadtrip" (perdoem-me o estrangeirismo) que me deixasse desiludido.

A próxima está já em fase de planeamento, o que por si só já me proporciona algum prazer. Entre escolher a rota, pesquisar locais de interesse, tentar descobrir onde se come bem e barato e, como não poderia deixar de ser, preparar as tais mixtapes. A receita é fácil, não tem nada que saber e resulta sempre bem: Stoner descontraído para desfrutar do sol, Punk manhoso para puxar pelo motor e Heavy Metal a gosto para levantar os ânimos.

De resto, é esperar que o tempo esteja bom e sem levantar muito calor que o carro é velho e não tem ar condicionado. Havendo um mapa (GPS não é de homem) e gasolina, há-de-se chegar sempre a algum lado.

Apontem na agenda: 26 de Setembro

Desfrutem o Verão, continuem a espreitar o blog mas já podem apontar na agenda que a rentrée Amplificasom será a 26 de Setembro. Para variar, mais uma estreia em Portugal. Mais info e outras novidades em breve.

Para não nos esquecermos

Ver o Escape From LA logo a seguir ao Escape From New York é como enfiar a cabeça dentro de uma máquina de lavar roupa cheia de pedras da calçada (em centrifugação) depois de beber duas garrafas de Whiskey espanhol e com uma ratoeira apertada em cada testículo, calçando apenas um par de galochas e com o torso barrado em Tulicreme Avelã. E tudo isto com a TV com o som no máximo a passar Buck Rogers dobrado em alemão com dificuldades de recepção enquanto uma criatura de luz chamada Chernobog da Anunciação me tenta impingir uma assinatura de dois anos da revista oficial da Associação Belga de Bombardino, Melofone e Tuba que ainda inclui como suplemento a livro “Tango, que futuro?”.

CinemaXunga, 4ever yes

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Genial

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26 julho, 2011

Mais que mil

Tópico para todas as avós do mundo, especialmente para a minha.

Verão à sombra da música

Decidi divorciar-me dos festivais e concertos deste verão. A razão? Poucas moedas no fundo da carteira, e com as passagens de avião já pagas para assistir ao (certamente) épico UP IN SMOKE vol.3 (The Machine, Samsara Blues Experiment e My Sleeping Karma) na Alemanha. E vocês? Que recordações trazem na bagageira da memória sobre os festivais/concertos a que têm ido este verão? A ressaca do Milhões de Festa promete durar muito tempo?

25 julho, 2011

Leça da Palmeira aos olhos da Carmo








Mais que mil

22 julho, 2011

O Arroz da Grande Besta

Para terminar esta minha jornada na Amplificasom que, como sempre, foi bastante estimulante e divertida p
ara mim (e porque o Neuroticon me disse no outro dia que estava à espera de mais receitas), decidi fazer um dois-em-um surpreendente: uma receita de arroz de um dos grandes ocultistas do século XX, nada mais nada menos que o Mestre Therion, a Grande Besta em pessoa, o digníssimo Aleister Crowley.

Dando créditos a quem os merece, esta receita foi trazida à minha atenção pelo meu amigo Júlio e, pelo que consegui determinar, divulgada inicialmente pela Coilhouse. Quem partilhou com o mundo foi a Universidade de Syracuse, que possui um Crowley Archive.

O arroz deve acompanhar um caril, do qual não falarei, deixando ao vosso critério o que entenderem melhor para acompanhar a fina iguaria.

Esta receita tem um problema: o Mestre não especificou as doses pelo que, após um pouco mais de pesquisa, encontrei alguém que a realizou com sucesso e adaptei as dosagens ao meu gosto pessoal, reduzindo a quantidade de passas e substituíndo a manteiga por margarina de soja. Posto isto, venha a receita.

- 1 chávena de arroz basmati (1)
- 1/8 ch de passas (sultanas)
- 1/4 ch amêndoas laminadas (ou quebradas, como gostarem mais) (2)
- 1/4 ch pistáchios
- 1 dente de alho picado finamente
- 4 ou 5 cardamomos (3)
- Pó de Curcuma (4)

Pomos a Crowleymass dos Current 93 a rolar e começamos a cozinhar.


Num tacho coloca-se o dobro da água com o sal a ferver e adiciona-se o arroz, mexendo com regularidade.

Após dez minutos de cozedura, devemos testar o arroz para ver se se encontra cozinhado:

by taking a grain, and pressing between finger and thumb. It must be easily crushed, but not sodden or sloppy. Test again, if not right, every two minutes

Estando cozinhado, coloca-se num coador e deixamos arrefecer, vertendo água fria por cima. Após esta operação de, colocamos o coador sobre a chama do fogão, agitando com regularidade - convém usar um metálico, ok? - até o arroz se encontrar todo seco, como se não tivesse sido cozinhado.

Colocamos então o arroz novamente no tacho, mas na temperatura mínima e, mexendo contínuamente, juntamos as sultanas, as amêndoas, os pistáchios, os cardamomos e a margarina de soja.

Deve-se igualmente adicionar nesta altura a curcuma de modo a que o arroz ganhe um tom dourado.

uniform, a clear golden colour, with the green pistachio nuts making it a Poem of Spring

Mexe-se até estar bom para comer; sem tempos, abordagem empírica mesmo.

Posto isto, rapaziada e raparigada, foi um prazer e até à próxima.


(1) - O Crowley propõe arroz Pilaf com pelo menos 5 a 7 anos. Não tendo conseguido determinar exactamente o que isto é - Pilaf para mim, é um método de cozinhar cereais, não um cereal em si - substituí por Basmati; suponho que se quiserem usar Thai também não fique mal.

(2) - Na receita original são amêndoas da Jordânia - onde a raínha é muito bonita - mas suponho que se usarmos as comuns do mercado não haverá uma grande diferença de sabor.

(3) - Cardamomo é uma especiaria indiana que normalmente só se encontra nas respectivas mercearias de indianos. O pessoal de Lisboa pode ir aos centros comerciais do Martim Moniz, o do Porto, ou à Rua de Cimo de Vila onde existem duas mercearias ou ao C Comercial Bombarda onde recentemente abriu também uma loja de especiarias. Pessoal do resto do país... lamento, não sei como os podem obter.

(4) - A Curcuma, também conhecida como Turmerico (Curcuma longa) é uma especiaria que muitas vezes é confundida com o Açafrão (Crocus sativus); muitos fabricantes usam o nome de uma e outra indiscriminadamente para designar o Açafrão. Apesar de não ser terrívelmente importante, chamo-vos a atenção para esse detalhe a bem do rigor. O aspecto final é idêntico, fica tudo amarelo, o aroma de ambas é diferente.

En Form para Logo

Não foi difícil chegar ao Deep in Ocean Sunk the Lamp of Light. Estávamos em 2006 e os projectos dos membros Stephen O’Malley (Sunn O))), KTL..), Daniel O’Sullivan (Guapo) e Vincent de Roguin (Shora) eram dos meus preferidos na altura. Continuam a ser. Entre essa estreia hipnótica e promissora e a confirmação, este ano com En Form for Blå, de uma das bandas mais excitantes da actualidade, tivemos pelo meio dois discos muito interessantes: a peça de arte abstrata Betimes Black Cloudmasses em 2008 e Faking Gold and Murder com David Tibet o qual adquiri num concerto em que os dois percussionistas Alexandre Babel e Nicolas Field, também eles parte do alinhamento deste álbum de 2009, deram num estranho final de tarde na Casa Viva no Porto.

Os Æthenor são hoje em 2011 um dos projectos que mais gozo me dá acompanhar. Vincent de Roguin deu lugar ao histórico e free-jazziano Steve Noble, Kristoffer Rygg dos Ulver a certo ponto passou a fazer parte do alinhamento, o próprio O’Sullivan que já não está nos Guapo é hoje presença fundamental nos já mencionados noruegueses e encontra-se envolvido noutros projectos deliciosos como Miracle com Steve Moore dos Zombi ou Mothlite na sua versão mais pop…

É com esta formação que En Form for Blå, editado mais uma vez via a extraordinária VHF e um dos álbuns que mais esperei pela luz do dia (ler download e não esquecer o deluxe double LP), é, sem dúvida, a melhor viagem das quatro. Mais do que a soma de todas as partes, documenta a evolução profunda e contínua deste colectivo que se por um lado julgar-se-ia improvável, por outro é a sua colisão/ união que o coloca na prateleira de discos únicos.
Cativante mas anti-climax, meditativo mas não sedativo, atmosférico e altamente rico e aventureiro em paisagens de sons em transição, o grupo exibe uma maturidade proveniente de sub-géneros “antiéticos” onde a união desafia e quebra barreiras. São 55 minutos de música subtil e singular onde o vocabulário aqui utilizado, por muito que se tente apontar referências, só eles o dominam.

Hoje, naquele que já é o melhor festival do Verão, o quarteto subirá ao palco Milhões (demasiado cedo se o desabafo me é permitido) para um concerto que se vai amar ou odiar. Depois de um par de tentativas falhadas em vê-los lá fora, a expectativa está demasiado alta e o que quer que aconteça às 20:15 do dia 22 de Julho de 2011 prometo que não vou partilhar com ninguém.

21 julho, 2011

O fim de tarde de ontem com os Hayvanlar Alemi

O primeiro concerto secreto da Amplificasom trouxe-nos o exótico trio de Ankara, os turcos Hayvanlar Alemi:

Carmo Louceiro


Herdeiros da única e insubstituível Sublime Frequencies liderada por Alan Bishop (vénia), casa de Omar Souleyman (Irão), Group Doueh (Saara ocidental), Group Inerane (Niger) e dezenas de compilações de música de Marrocos à Tailândia passando pelo Paquistão ou Vietname, este trio de Ankara respira e representa o psicadelismo que se viveu no seu país natal nos anos sessenta e os seus discos podem, e muito bem, serem colocados na prateleira ao lado de uns Pink Floyd, Television ou Zappa.

Antes de ontem terem tocado em Portugal pela primeira vez, passaram recentemente pelo ATP a convite dos Animal Collective, tocaram para 700 pessoas em Londres e esperam-se altos voos a curto prazo. Assim seja. Ah, se a interpretação de hino chamado Lambada (aqui como Mega Lambada) já a conhecíamos do disco, a cover do Mulatu Astakte foi o assumir de um fim de tarde perfeito. Esperamos que tenham gostado tanto como nós e seguem-se as fotos do Jorge Silva:





Kvrtas de KVLTo #1

Toda a gente com mais de um mês de experiência cibernética e com algum gosto pela música d'O Grande Bode sabe que o adjectivo "KVLT" se refere a bandas de semianónimos pré-adolescentes franceses com a mania dos sindicatos e das demos gravadas em cilindros metálicos limitadas a -10 cópias distribuídas pelos sobrinhos mortos em tiroteios entre gangs rivais argelinos, onde o ruído de fundo se confunde com música profundamente satânica. Ou então a discos gravados nos míticos lavabos em que a mediocridade era a palavra de ordem. Quiçás ainda, a toda uma forma de comédia visual.

No meio disso, ainda há quem o aplique a bandas e/ou discos que marcaram todo o bom ouvido nas lides grã-caprinas por razões de singularidade óbvias, tais estrelas cadentes numa constelação de bandas prontas a conquistar grammys nos anos vindouros.

Seguem-se então algumas breves recomendações kvlt para não mostrarem aos vossos amigos no recreio e para gastarem alguns euritos no zébei.


KVIST

Lançaram um só álbum em 3 ou 4 anos de existência mas das suas cinzas nasceram coisas bastante engraçadas (ver xploding plastix, urgehal e angst skvadron).
"For Kunsten Maa Vi Evig Vike" caracteriza-se simplesmente por um pegar no melhor que Emperor e Dimmu Borgir ofereciam antes de virarem super-modelos com óculos de sol azeiteiros, chapéus-molusco, saias de couro e demais indumentária superpop, ou seja, black metal "épico" com o grau e quantidade certos de teclados, pujança rítmica qb e "melodias" de assobiar no 200 a um sábado à tarde.


ISVIND

Enquanto os Immortal se cimentavam como a caricatura máxima do bm pateta e lançaram 2 discos míticos para disfarçar, outra banda de dois-elementos-que-fazem-tudo, Isvind, comia auroras boreais ao pequeno-almoço e cagavam icebergs à hora do lanche.
Dark waters stir é todo ele uma cascata de riffs malvados vindos directamente do permafrost, que claramente falseou no momento do salto para o estrelato dos amplificadores falsos na imperdoável falta de videoclips... patetas. Ainda há umas demos/eps poltergeistísticas convenientemente gravados abaixo do ponto de fusão da água e, ao contrário da maioria das coisas a retratar nesta rubrica, estão-se a reunir desde 2002, em vias de sublimar um segundo disco para breve (talvez antes da mini-idade do gelo que aí vem).


ZYKLON-B

O Samoth não só se deve ter sentido butthurt por ter sido condenado a um par de anos de sodomia institucionalizada, como já devia prever que se ia tornar completamente irrelevante em Emperor e completamente chato com os futuros Zyklon. Posto isto, chamou a Guarda Pretoriana d'O Grande Bode - Frost, Aldrahn e Ihsahn - e lançou este Blood must be shed para despejar toda a sua raiva pós-adolescente na forma de uma dúzia de minutos do mais puro ódio omnimisantrópico.
Also, kudos para a melhor sample de sempre: War is good, Hate is good, Mass murder is good, Gang violence is good, Crack cocaine is good - Anything that contributes to depopulating the Earth is good (lol).

20 julho, 2011

The Men

Heavy metal rules! All that punk shit sucks! It doesn't belong in this world, it belongs on fuckin' Mars man, what the hell is punk shit?
This punk shit... they can all go to hell... I don't care, you know, I don't really give a shit about that kind of punk fuck!


HOJE: primeiro concerto secreto Amplificasom

A manhã de hoje acordou com um sol sorridente, mas o final da tarde será ainda mais bonito. Logo apareçam às 19h30 no Eden House (mapa em cima) para o primeiro evento secreto Amplificasom e para convivermos um pouco com uma churrascada pós-concerto a acompanhar. A ementa para todos os gostos:
Ratatouille acompanhado de cuscuz - 3€
Folhado de tomate e queijo feta acompanhado de salada - 3€
Fêvera no pão - 1.50€
Bifana no pão - 1.50€
Caldo verde - 1€
Chouriço assado - 3€
Cerveja SB garrafa 33cl - 1.20€
Bebidas brancas - 2.50€
Mojitos e caipirinhas - 2€
Sangria 1L - 4€

Scott Kelly ou como ainda nos lembramos daquela noite arrepiante

Portugal gave us the 2 most well attended shows of this part of the tour and in fact the most respectful crowd I have ever played too (NYC it would have been you except for the cinder block guy).

Scott Kelly in We Burn Through the Night


Foto: Jorge Silva

19 julho, 2011

AMANHÃ!

Esmerine - La Lechuza [Constellation 2011]

Deixou-nos demasiado cedo, mas nunca será esquecida. Este regresso dos Esmerine, seis anos depois, é uma justa homenagem a Lhasa e à sua obra. Não é um álbum de singles nem para passeios veraneios, mas sim um disco de luto agarrado a alguma tristeza e aceitação.

O projecto é composto por Bruce Cawdrom dos míticos Godspeed You! Black Emperor e Beckie Foon (A Silver Mt. Zion) aos quais se juntaram recentemente dois ex colaboradores de Lhasa: Sarah Page e Andrew Barr. Os quatro conheceram-se nas sessões de gravação de “Lhasa”, o último álbum da cantora que viria a falecer pouco tempo depois.

Não há muitas palavras que possam ser partilhadas após a audição. Primeiro porque não consigo separar a música deste disco do seu propósito, da razão que levou estes músicos ao estúdio, e segundo porque este tipo de composição moderna e minimalista envolve o mesmo sentimento que a nossa capacidade de compreender a morte. A perspectiva de cada um varia, mas é retirando das situações, mesmo um luto sempre doloroso, que crescemos e compreendemos melhor a vida. Poucos músicos, arriscaria, foram elogiados e homenageados de forma tão matura e poética. Lhasa ficaria contente. No fim ela agradece.

Jeremy Irons and The Ratgang Malibus - Bloom (2011)

É o disco que mais tem rodado por aqui nas últimas semanas. Este segundo álbum do quarteto sueco está simplesmente magnífico. Sem nunca esquecer os clássicos riffs talhados nos saudosos 70’s, “Bloom” apresenta, também, um belo manto atmosférico bordado pelo rock progressivo e psicadélico. Às costas de um instrumental verdadeiramente requintado e estimulante, vem uma aveludada voz que nos anestesia por toda a plenitude do disco.

É mais doce que mel.

18 julho, 2011

Gerês aos olhos da Carmo