O primeiro impacto é sempre o primeiro impacto. Esquecer-me-ei mais depressa de um concerto que gostei do que os primeiros riffs de
Napalm Death. E não, não sou grande fã, mas ali estava eu acabadinho de chegar a ver um concerto num festival que sempre quis viver, um festival com o qual me identifico completamente. Da atitude e dos conselhos moralistas da banda da casa até último riff dos novos Swans foi um prazer inesgotável saltar de espaço em espaço e ver e ouvir dezenas de bandas e projectos.
Não me vou queixar dos horários da companhia aérea do Ryan – tê-la a voar da minha cidade directamente para lá é já uma sorte – mas na sexta só deu mesmo para os mencionados Napalm e os fantásticos
Dead Fader. Assim que estes limarem as arestas no que diz respeito ao seu “dubstep meets industrial para uma pista de dança” serão um projecto ainda mais interessante.
Sábado, o primeiro dia a sério, começa com os
Part Wild Horses Mane On Both Sides. A disposição para o seu som não era muita e havia que espreitar os
Blue Sabbath Black Fiji antes dos
Eagle Twin que deram um concertaço mesmo com os problemas de som. E quando falo em “problemas de som” falo do facto das bandas não fazerem soundcheck nos festivais, não há tempo, e o linecheck nem sempre é suficiente. Com as actuações a durarem cerca de uma hora, não era anormal apanhar o melhor de cada uma nos temas finais. Eagle Twin estiveram brutais em palco, mas os timbalões só para o fim é que se fizeram ouvir. Na próxima terça garanto-vos: vamos ter um concerto cheio de músculo! Tentei ver o nosso amigo Rob-
Lichens-Lowe mas a Old Library estava cheia – óptimo sinal – e
Gnaw, uma das bandas que tinha como prioridade, tocavam de seguida. Que grande concerto!! Mais uma vez o som – foi no mesmo espaço, coincidência? – esteve incoerente mas Alan Dubin e companhia arrasaram e o set deles só poderá ganhar com mais estrada.
Com tantos e bons concertos por onde escolher, os documentários e palestras com músicos que passavam/ aconteciam no Theatre Space eram cativantes mas tudo menos prioritários. O documentário da Sublime Frequencies fica para “alugar” e falarei com o Broadrick sobre o passado quando a Amplificasom o trouxer ao Porto. O nosso outro amigo
KK Null esgotava a Old Library (um espaço a ser revisto) com
Lash Frenzy ao mesmo tempo que
Dosh, para um Outside Stage cheio, se revelava um one-man band bem chatinho. Os
OvO – banda que já tivemos para trazer cá com os Skaters, lembram-se? – estavam a proporcionar óptimos momentos mas o novo projecto de Kevin Martin, os
Kind Midas Sound, estavam a começar. Grande grande concerto, autêntica viagem suburbana.
Gnod – que até têm uma baixista portuguesa – estavam a ser engraçados e os
Tweak Bird ficam para um dia destes, estava na hora dos
Godflesh!! GRANDES!! Se havia uma banda que acreditava ser impossível ver ao vivo era a banda de Streetcleaner. Agora acredito-me em tudo e acreditem também quando vos digo que foi uma noite mágica. Passei
Melt Banana, havia que digerir o que tinha acabado de viver.
Domingo começa com a maior surpresa do festival: os
Bong. Grande viagem xâmanica!
Pierre Bastien com a
Male Instrumenty entretiam miúdos e graúdos, mas era o
Peter Broderick que tinha em mente e que belo concerto foi…. Tocava guitarra, violino, piano no palco ou no meio de nós, foi enorme!
Voice Of The Seven Thunders… been there done that, já
Jailbreak – projecto do Corsano com Heather Leigh – foi uma bela surpresa. Meia hora deliciosa onde a voz idiossincrática de Heather dava um ar tão fresco aos duos típicos do free. E espaço na Old Library para ver
Ruins? Não havia, mas havia o suficiente em
Mothlite, o concerto mais descontextualizado de todo o festival. Daniel O’Sullivan disse ao fim de três temas que o Supersonic precisava de pop. Mas depois chegou à conclusão que talvez não, a adesão foi fraca e reacção do público mais fraca ainda. A segunda grande supresa do dia vinha a seguir:
Nisennenmondai. Em álbum não funcionou, ao vivo e naquele ambiente motorika o trio de japonesas foi fantástico. Antes dos
Bukkake com
Khyam Allami, deu para rever um pouco de outro amigo:
James Blackshaw, sempre um prazer. Como seria de esperar, e quem esteve no Passos apercebeu-se da quantidade de material que os MMOB trouxeram, o concerto atrasou. Ainda por cima, para dificultar o trabalho das bandas que passaram pelo Stage 2, a percurssão dos Swans esteve em palco toda a tarde. Não deu mais do que meia hora, ou seja, o primeiro acto desta colaboração que se baseava no Bósforo. Aposto que vem aí disco, ouço o resto mais tarde, é que
Barn Owl eram outra prioridade e deram um belíssimo e intimista concerto no esgotado Theatre Space. Foi uma decisão difícil pois à mesma hora tocavam os
Factory Floor, banda da qual apreciei imenso o recente Lying / A Wooden Box. Assim que Caminiti e Porras deram o último riff, deu para espreitar uns quinze minutos esquizofrénicos dos londrinos e ficar com a sensação que tomei a decisão acertada.
Com tanta tanta oferta, há ainda que arranjar tempo para as necessidades fisiológicas como comprar discos ou comer, e jantar ao som de
Black Sun & Drumcorps foi o “ter de ser”. Seguiam-se os
Zeni Geva, mais uma banda com a qual a Amplificasom trabalhou recentemente, mas a prioridade foi toda para os
Hallogallo, projecto que consiste em Michael Rother com amigos – entre os quais Steve Shelley dos SY – a tocarem temas dos Neu! Pá, um dos concertos do festival! E pronto, sem tempo para os
Deathscalator tal como não houve tempo para tantos outros concertos ou workshops ou palestras ou projecções, etc etc etc eis que chega a hora do último concerto do Supersonic 2010 com os
Swans. A entrada foi perfeita, o som estava perfeito, o novo disco é que não chega para um concerto cativante do início ao fim.
Foi mais ou menos isto e vai ser díficil não repetir todos os anos…
Fotos: Ovaia