28 fevereiro, 2011

Baal, o senhor álbum

Os Orthodox costumavam ser uma banda de metal, mas tornaram-se muito maiores para ficarem agarrados a qualquer estilo. Neste momento, tudo o que eles têm em comum com o doom ou qualquer espectro metaleiro é o sentido de espiritualidade e da sua busca através de ritos de catarse.

Ao quarto disco, o trio sevilhano move-se novamente no sentido da inovação que faz parte da sua arte. Baal é composto por 5 temas – Alto Padre, Taurus, Iatromantis, Hani Ba’al e Abrase la tierra – onde o riff de guitarra volta a ser senhor do disco. Que não se entenda como um regresso ao passado per se. É doom e stoner sim, é experimental qb, mas sempre numa língua que já é muito característica e própria da banda. Não há maior elogio que este, foram perseverantes na intensidade que os torna genuínos e inimitáveis sobretudo quando Marco Serrato, o vocalista/ baixista, opta por cantar em espanhol.

Para os seguidores talvez não seja uma surpresa, o anterior e despercebido EP “Matse Avatar” trilhou este caminho e até o próprio artwork parece-se complementar. No entanto, a todos os que acharam “Sentencia” estranho ou aborrecido, vão sem dúvida fazer (mais) uma vénia ao trabalho de uma banda que é nos dias de hoje um estímulo cultural.

Em menos de uma semana, os Orthodox pisarão os palcos do Passos Manuel e do Santiago Alquimista em formato quarteto. Concertos do ano.

And the Oscar goes to... (part II)


Pode-se dizer que o grande vencedor da noite foi o King's Speech, filme que ainda não vi e portanto me abstenho de comentar. O filme levou para casa quatro prémios importantíssimos: melhor filme, melhor realizador, melhor argumento original e melhor ator principal. Sei que vou ver o filme, vou gostar, mas tenho a certeza que não vou gostar mais do que True Grit ou Black Swan.

Os outros prémios mais relevantes foram para a bela Natalie Portman como melhor atriz, Melissa Leo como atriz secundária e o grande Christian Bale como ator secundário.

As side notes do festival vão para a Anne Hathaway, que acho que esteve muito bem como co-host da gala. James Franco também exalou uma coolness agradável, numa clara tentativa de aproximar a cerimónia de uma audiência mais jovem e mais ligada online.

Trent Raznor leva um óscar para casa, merecido diga-se. Aquele tema do The Social Network vai perdurar de forma tão irritante como o tema do Mansell no Requiem for a dream, que aparece em tudo o que é home made vídeo com cariz emocional ou fantástico no youtube.

Viram a cerimónia? Digam quais os vossos pontos altos, se concordam, etc.

Football fans,

25 fevereiro, 2011

Prazeres desconhecidos

As reuniões de bandas fazem-me alguma comichão. Compreendo-as, admiro-as mais quando os elementos são honestos com os fãs e assumem os seus motivos, e por vezes são oportunidades únicas para apaixonados como nós mas desafortunados sem máquinas do tempo. Lembro-me dos Pixies em Coura ou recentemente os Godflesh em Birmingham. Duas belas e marcantes noites. Para sempre as recordarei. E o que não dávamos nós para uma simples viagem ao passado para preenchermos aquela lacuna de viver uma das favoritas ao vivo? Hendrix! Black Sabbath! The Smiths! Jeff Buckley! Khanate! Mencionei clichés, confesso, mas sorrir-me-iam os olhos. Já por outro lado, não escondo um certo desconforto quando vejo uns Kyuss a reunirem-se sem todos os seus elementos. Estarei a ser demasiado romântico? Se vou celebrar a sua música quero que um membro como o Homme esteja em palco e, como é óbvio, a vontade dele ou o que não permitiu que tal venha acontecer pouco importa neste desabafo. Enfim, mais tarde descobrirei. Amanhã, Peter Hook no Clubbing a tocar o “Unknown Pleasures”. Não sei o que vou sentir ou até se me vou importar. Os Joy Division foram, são e serão uma banda cujas eternas canções recupero com frequência. Mas qual o sentido de as ouvir ao vivo sem ser através de Ian Curtis? Não sei, talvez saiba depois de amanhã, mas vou. Vou porque no mesmo evento haverá Massimo Pupillo e FM Einheit e um dos prazeres desconhecidos até há poucos dias atrás: o EVOL/VE.

23 fevereiro, 2011

Amplificasom apresenta: ARTHUR DOYLE no Porto

Amplificasom & Soopa apresentam:

ARTHUR DOYLE
GUSTAVO COSTA/ JOÃO FILIPE/ JONATHAN SALDANHA/ FILIPE SILVA
PASSOS MANUEL, PORTO
11 DE MARÇO, SEXTA
22H
5€

Arthur Doyle é grito, fogo e fumos. É dos poucos capazes de sobreviver à sua própria lenda. No seu sopro, o jazz tornou-se uma bala. Nenhum outro saxofone será tão imediatamente reconhecível – como confundir isto?

Natural do Alabama, no Sul profundo dos Estados Unidos da América, é na Nova Iorque dos anos 1970, entre o free-jazz que ainda descia dos sótãos de Manhattan e a no-wave que manchava os passeios, que Doyle faz sentido de uma linguagem que o sacudia e que ia do r&b da sua juventude às vanguardas ásperas do momento. A sua estreia em disco acontece em 1973, no seminal “Black Ark” de Noah Howard. Segue-se – após alguns anos de intermitência perdidos na confusão da cidade – em 1978 a primeira gravação como líder, “Alabama Feeling”, e aqui já um ruído imenso soa pela rua. Quase ninguém o ouve – fala-se em apenas mil cópias prensadas – mas aquela fúria pungente e inadiável não se calou. Com Rudolph Grey (dos Mars) e Beaver Harris forma em 1980 os Blue Humans, durante algum tempo o trio mais incendiário do mundo que era a baixa nova-iorquina. Com o avançar da década e o progressivo asfixiar de oportunidades para a sua música, Doyle atravessou o oceano até Paris, onde passou os anos seguintes rodeado de lâminas disformes, em quase completa obscuridade. Por vezes na prisão.

Arthur Doyle regressa a Nova Iorque em meados dos anos 1990. É aí, na garagem suburbana de um irmão, que inicia uma série de gravações caseiras a solo, coléricas manchas de som que Thurston Moore edita através da Ecstatic Peace! Os concertos sucedem-se, agora regularmente documentados por editoras como a Ayler Records, Qbico, Audible Hiss ou Ectatic Yod. As sirenes voltam a bramir, o ar à sua volta a alimentar-se de chamas. MP/ ZDB



+ info: Artigo Entrevista Video Video

Se os mestres dizem...

"It's not the notes you play, it's the notes you don't play."
Miles Davis

"Music is the space between the notes."
Claude Debussy

"It's taken me all my life to learn what not to play."
Dizzy Gillespie

22 fevereiro, 2011

Fantasporto 2011

E por falar em cinema,
Quem foi à pré-estreia? Vamos lá falar sobre este grande evento nacional!

21 fevereiro, 2011

Ronda Cinéfila

True Grit




Ontem fui ver este filme na grande tela. E ver isto sem ser neste formato perde, e muito. Os irmãos Coen apontam neste filme ao grande plano, ao plano americano, ao clássico John Ford, ao sujo Sergio Leone. Fazem-no com a mestria que se lhes conhece, num western que em nada fica a dever aos grandes clássicos do género. Estamos perante uma adaptação da obra com o mesmo nome de Charles Portis (que de resto já tinha ido parar ao cinema em 1969 com John Wayne no papel principal) e conta a história de uma miuda tenaz que quer encontrar o assassino do seu pai. Um épico de justiça, é isso que temos aqui, onde não deixa de entrar aquele jogo quântico, que Ethan e Joel tanto gostam, da fortuitidade.
Destaco igualmente uma direção de atores genial. O cast foi perfeito. Mais do que justa a nomeação de Hailee Steinfeld e Jeff Bridges, que com o seu fabuloso papel como Reuben "Rooster" Cogburn, o marshall displiscente e amigo do whisky, cuja noção de justiça só se pode equiparar a um Harry Callahan, tem aqui para mim o seu melhor papel desde o grande Dude. A interpretação é soberba, e cedo nos esquecemos que vemos ali um ator para dar lugar a um personagem memorável do cinema, caso raro no cinema de hoje. Altamente recomendado, e não fosse eu ter também adorado o Black Swan, diria que este era sem dúvida o mais justo merecedor do Óscar para este ano.


Never let me go


Um futuro que não é o nosso. Sem doenças, graças a um grupo de miudos que, em várias escolas pelo Reino Unido, são manipulados geneticamente e crescem com o intuito de ser dadores de orgãos. Um pouco como os Replicants no Blade Runner, eles são vistos como não tendo alma, desprovidos de sentimentos que sustentam o ser humano "normal". Mas claro, não é isso que vemos no filme, e é essa questão moral que ele levanta, tão reproduzida pelo mundo do cinema: até onde poderemos ir pela construção de uma sociedade perfeita?


Fair Game

Lembram-se daquela história em 2003, mesmo no rebentar da guerra do Iraque, em que uma notícia revela a identidade de uma agente secreta da CIA, de seu nome Valerie Plame? Noticia que tentava denegrir a imagem do seu marido, o embaixador Joe Wilson, por este ter dito que parte do famoso discurso do Estado da União de Bush era falso, nomeadamente a noticia de que Níger teria enviado 500 toneladas de material usado para fissão nuclear para o Iraque. Bem, após alguns anos na berlinda, este filme estreou nos EUA em Novembro último, e conta, entre outros, com as participações de Naomi Watts como Valerie e Sean Penn como seu marido, o embaixador Joe Wilson.
Este filme, adaptado dos livros escritos quer por Plame quer por Wilson, vem colocar mais fundo o dedo na ferida sobre o embuste que foi a invasão do Iraque e o que uma administração tão conservadora como a de Bush filho faz para perseguir interesses privados. Veja-se: a divulgação da noticia saiu, ilegalmente, de um assessor de Dick Cheney, que em 2006 foi julgado no supremo tribunal a uma pena de 2 anos e meio por difamação e revelação de indentidade secreta, e que viu logo de imediato a sua pena ser comutada em 2 anos para apenas 6 meses de prisão. Por quem? George W. Bush.

Béla Tarr

Conheci este realizador único através do ex-convidado Victor Afonso. Creio que na altura, no seu blog, ele sugeriu o The Man from London e, mesmo ainda sem saber pronunciar Béla Tarr, fiquei encantado com o que tinha visto. Voltei a colocar o dvd e revi-o. Associando que já não estaria entre nós porque já não se faz cinema assim, googlei pelo seu nome e surpreendi-me por não só estar bem vivo como planeava outro filme. Na minha mente leiga, Cinema assim com C grande só enquanto Tarkovski era vivo, mas este húngaro nascido em '55 é um caso à parte. A sua relação com a câmara é difícil de explicar, é preciso ver e sentir os seus filmes.
Esse filme, o tal que espero que me dê o prazer de ver um Tarr na tela, chama-se The Turin Horse e acaba de receber o Grande Prémio do Júri no Berlinale. Pelos vistos, é o último da carreira de alguém que não é só especial pela sua arte, mas também pela sua forma de estar bastante genuína. Fica a recomendação: descubram e desfrutem a obra de um génio contemporâneo.

Boris, o regresso

Confesso que já tinha saudades. Durante uns tempos os Boris pareciam sofrer do síndrome Nadja, mas esta pausa, pelo menos para os meus ouvidos, foi saudável. Eles estão de volta com dois novos discos - Attention Please e Heavy Rocks - a serem lançados via Sargent House a 26 de Abril e, da parte que nos toca, avisamo-vos que estamos a tratar de repetir aquela noite de 26 de Maio de 2008.

20 fevereiro, 2011

Duas semanas...

Quinze dias separam-nos da próxima e grandiosa noite Amplificasom com os únicos Orthodox e o mestre Scott Kelly dos Neurosis. Ainda há alguns bilhetes, contactem-nos através de amplificasom@gmail.com para saberem como os podem adquirir ou comprem os últimos disponíveis na Lost Underground.


The weather never changes in my world...

18 fevereiro, 2011

Rapidinhas

Hayvanlar Alemi - Guarana Superpower [Sublime Frequencies 2010]
Imaginam um trio turco a sacar uma cover da Lambada? Quem se iria lembrar? Muito bom e o álbum, cortesia Sublime Frequencies pois claro, também. Rock, psicadélico, surf… sempre com aquele cheirinho a kebab. Exotismos à parte, é até uma viagem bem diversa onde a banda mescla influências da sua região com a psicodelia do mundo criando um registo muito próprio. É ouvir!
Jooklo Duo - The Warrior 7'' [Northern Spy 2010]
Não é usual encontrar-se free-jazz em sete polegadas, mas pelos vistos vem aí um LP (também via Northern Spy que é gerida por antigo pessoal da ESP) deste surpreendente duo italiano e talvez tenha servido para apalpar terreno. É para fãs de Arthur Doyle ou do mítico Duo Exchange de Rashied Ali e Frank Lowe, é para quem gosta de se exorcizar sem fritar o cérebro. Gostei! Tenho o radar ligado para o futuro álbum.
Mark Fell - Multistability [Raster-Noton 2010]
Aprecio álbuns conceptuais. Mark Fell, um dos nomes da electrónica no ano passado editando este Multistability e UL8 via Mego, fala-nos aqui de multi-estabilidade, ou seja, a teoria/ conceito/ fenómeno em que quando confrontados com determinada figura a mesma pode ter uma interpretação ambígua. Embora não se aplique teoricamente à música, creio que o objectivo de Fell é mostrar que é igualmente subjectiva. O disco tem uma conotação académica/ filosófica, ele chega a dizer que "a música é uma tecnologia para a construção de uma experiência de tempo" e quer que cheguemos ao fim a reflectir no que ouvimos. É importante é não ouvi-lo a conduzir ou até na rua, chega a ser perigoso. Depois perceberão o porquê.
Oidupaa Vladimir Oiun - Divine Music From A Jail [Friends 1999]
Nos finais de sessenta, este natural de Tulva, era visto como uma ameaça pelas forças russas por cantar canções de protesto. Falsamente condenado por acusações de homicídio e tráfico de menores, Oiun passou 33 anos num campo de trabalho onde acabou por gravar este disco. São canções nada convencionais e bastante emocionantes em canto de garganta que, só por si, já é um reflexo sonoro bastante espiritual. Acompanhado de acordeão, quero acreditar que Oiun se manteve são por ter tal refúgio.
SLEEP ∞ OVER - Outer Limits 7'' [Forest Family 2010]
Três miúdas numa de pop sonhador para fãs de Cocteau Twins, Beach House ou Nite Jewel. “Outer Limits”, o lado A, é a canção pop perfeita e nada mais há a acrescentar. Single do ano para se ouvir de t-shirt.
The Bug - Infected EP [Ninja Tune 2010]
Várias razões para nos deixarmos infectar por este EP: primeiro é um trabalho de Kevin Martin, no dicionário do Dub é sinónimo de obrigatório; segundo marca o regresso, apesar de subtil e num tema apenas – Catch a Fire, de Kevin com Broadrick pela primeira vez pós-Techno Animal; esse mesmo tema – uma reinterpretação de Skeng – tem Hitomi, a miúda que encanta no seu outro projecto King Midas Sound; quarto Roots Manuva reinterpreta a “Tune in”; quinto há remixes de Autechre e Scratcha DVA; sexto e finalmente porque me parece que este EP serve para fazer a ponte ganhando tempo entre London-esse-álbum-genial-Zoo (editado em 2008 também via Ninja Tune) e o próximo disco com dois mestres: Kevin, pois claro, e o produtor Adrian Sherwood. Ah, são dois 12’’!! Grande!

Vou ter saudades...

17 fevereiro, 2011

Little boxes











Sede da Vodafone
Porto, Portugal 2009
Barbosa & Guimarães

16 fevereiro, 2011

No cinema não há limites

Revi o Ghost Dog (1999) recentemente mas quando o vi pela primeira vez o último Jarmusch – o único e maravilhoso The Limits of Control (2009) - ainda não tinha rodado.

SE NÃO OS VIRAM E TENCIONAM ENTÃO NÃO CONTINUEM A LER

Isto soa um bocado a fanboy, mas deixou-me a pensar na pseudo intencionalidade num eventual elo entre ambos os filmes. É verdade que ambas as personagens têm traços de personalidade bastante semelhantes, a começar na sua solidão até ao facto de poderem ser psicopatas aos olhos do niilismo, mas comecei a pensar nisto a sério quando a personagem encarnada por Forest Whitaker (Ghost Dog) engole uma mensagem em papel tal como a de Isaach De Bankolé (Lone Man em TLOC) fazia constantemente nas diferentes que recebia. Entretanto, Raymond que em Ghost Dog é também interpretada por Bankolé, mostra a sua preocupação por estar ilegalmente no país e fala em francês enquanto que Lone Man, no “Limites…”, termina o filme vestido com um casaco dos Camarões, país africano e onde o francês é a língua oficial. Já mais tarde, numa das cenas finais, Ghost Dog entrega o seu fato (imagem) e o seu kit de assassino a Raymond. Terá sido uma passagem de testemunho? Enfim, com esta espécie de nova obsessão encontraria mais pontos em comum se os visse novamente. É que não me parecem coincidências, o vendedor de gelados e único amigo de Ghost Dog podia, até para vingar a sua morte, ter-se transformado no Lone Man. Não?

15 fevereiro, 2011

R.I.P. Tura Satana (1938-2011)

A Varla nunca morrerá…

Theo Parrish dixit

"As a human being, if you keep doing the same shit, you are irrelevant"

14 fevereiro, 2011

Recomendação da semana

EXIT THROUGH THE GIFT SHOP


Gostam de street art? Ótimo. Curtem o Banksy? Espetacular. Acreditam na subversão do kitsch? Baril. Querem algo para vos fazer esboçar um leve sorriso durante 86 minutos? Então este documentário é para vocês. Muito bom.

E para quem não se importar de ver sem legendas, ele aqui está na íntegra no Vimeo:

OM: duas semanas depois














fotos: Carmo Louceiro

11 fevereiro, 2011

Do top para o blog: discos que não passaram por estas linhas

Eleh - Location Momentum [Touch 2010]
Quem é Eleh? Ninguém sabe. Não tem um nome próprio, uma face, uma morada ou um telefone. Quem quer que esteja por detrás deste projecto quer, sem dúvida e por mais que ao mesmo tempo aumente a curiosidade à volta do mesmo, que as pessoas se concentrem apenas na sua música. Em Location Momentum, o seu disco mais refinado, a viagem continua arquitectada e conceptualizada a drones em camadas adicionadas suavemente, com mudanças harmónicas e melódicas subtis em diferentes frequências através de um sintetizador analógico. Belo exemplo é o primeiro tema – Heleneleh – que apesar de à primeira audição parecer austero é muito cativante e meditativo, chega a transmitir uma estranha sensação de paz. Não sei se é o meu preferido dele(a), mas… Sim, é!
Não o ouçam a conduzir, trabalhar, etc etc. Sigam a sugestão do artwork e deixem-se estar no meio dos lençóis… sozinhos.
Helena Gough - Mikroklimata [Entr'acte 2010]
Tal como um escultor, a música da inglesa Helena Gough é o reflexo do longo processo de recolha e manipulação de material, amassando-o, rasgando-o, colando-o… e sabendo parar no momento certo. O resultado deslumbra, mesmo! Não se trata de música ambiente e da sua homogenia cada vez mais aborrecida, mas sim de algo cheio de vida, que nos agarra, envolve e estimula. Helena sabe onde colocar cada textura e retirar dela o máximo partido balanceando ao mesmo tempo o lado cinemático. Electroacústica moderna de topo, um clássico assim que o tempo o permita. A minha dúvida agora é saber se ela considera o seu trabalho acusmático ou não, é que estou mesmo curioso para ver como será ao vivo.
Oneohtrix Point Never - Returnal [Mego 2010]
Se bem que por vezes o que escrevo é terapêutico no sentido de até a mim me ajudar a compreender o que ouço, não escondo que fico satisfeito se após estas linhas forem googlar ou até comprar determinado disco. Não estou aqui para convencer ninguém, partilhar é o objectivo, mas se aqui vêm e se já chegaram a esta linha então é porque estão suficientemente abertos a propostas, sejam novas ou velhas. E isto tudo para dizer o quê? Que nada me dá mais gozo do que discutir, partilhar e receber propostas musicais de pessoal com mente aberta e cada vez tenho menos paciência para aquele que só ouve x ou y. E pronto, é esta a minha crítica ao “Returnal” do Daniel Lopatin pois não me acredito que quase um ano depois alguém ainda não o tenha ouvido um dos melhores discos dos últimos tempos.
Rene Hell - Porcelain Opera [Type 2010]
Mesmo que alguém não conheça o trabalho de Jeff Witscher nos seus diferentes pseudónimos, olha-se para o artwork deste belíssimo disco e, perdoem-me senhoras o sexismo, queremos saber de que se trata. Uma jovem senhora agarrada a uma estátua de Jesus Cristo com a bela da zona compreendida entre o quadril e o joelho à mostra? As meias cor-de-rosa a dar-lhe um ar lascivo, as pernas cruzadas, a mão no nosso senhor… A capa reflecte os temas do álbum e o seu desejo consciente de chocar e amar. Esteve em todos os tops, Jeff tem aqui O álbum da sua carreira – os temas, a produção, tudo – numa perfeita exploração analógica. Mas, aquilo que se esqueceu foi de dedicar este disco a todos os sedutores, principalmente aos introvertidos. Ouçam-no, quando sentirem as suas unhas nas costas já nunca mais o largarão.

Egipto, e agora? Part II

Mubarak deixa o Governo, estando o poder reservado para as forças Armadas, que terá a dificil tarefa de manter a paz e assegurar a transição democrática de forma credivel no país.

O que sair desta revoluçao vai mudar o mundo para sempre, mas a incógnita persiste. Subsiste o temor de mais um regime fundamentalista poder ganhar o poder, visto que, a haver eleiçoes em Setembro, a Irmandade Muçulmana é neste momento quem tem mais hipoteses de ser eleita democraticamente, dada a campanha humanitária que desenvolveu com as classes mais pobres nas últimas duas décadas, e ser efectivamente muito melhor organizada que qualquer partido politico que possa surgir nesta altura. Desta revolução pode sair sem duvida um novo Irão em '79. A irmandade pode sentar-se no poder eleita pelo povo e instaurar a sharia, tornando o mundo num caldeirão prestes a explodir de tanta pressão. Mas é a hipocrisia do mundo Ocidental e da sua politica imperialista - que qual Napoleão defende a sua supremacia vincada num principio moral categórico de que o nosso sistema é o mais justo e que deve ser defendido a todo o custo, sobre qualquer custo de vida, e apoiando todos os ditadores que for necessário para que nós deste lado possamos desfrutar desta sociedade que fecha os olhos a todos os direitos humanos, desde que possamos ter sempre no supermercado a nossa comida, e na worten os nossos electrodomésticos. É esta hipocrisia, e esta vontade de constantemente intervir no mundo árabe que levou a que regimes fundamentalistas islâmicos se possam sentar no poder em democracia. Porque o povo quer decidir por ele, mal ou bem. O mundo àrabe não quer mais estrangeiros a dizerem-lhes o que fazer e em quem votar. E se o mundo o idental nao se afastar e deixar as coisas tomar o seu rumo, seja qual for, sujeita-se a que o voto do povo egipcio seja usado apenas para contrariar as vontades deste lado do mundo.

A partir de agora o mundo não mais será o mesmo.

Edit: escrevi no principio que o poder transitava para Suleiman, sendo que estava incorrecto. Removi essa parte do primeiro parágrafo.

Catherine Hennix e o cravo eléctrico

Sueca de nascença mas criada entre Estocolmo e os Estados Unidos, Catherine Christer Hennix é uma reconhecida matemática, filósofa e artista de 63 anos que desde cedo começou a estudar a música de Xenakis ou Stockhausen embora o seu grande turn on tenha sido quando conheceu e aprendeu, durante os anos setenta, com os mestres La Monte Young e Pandit Pran Nath.

"The Electric Harpsichord" é uma peça inquietante tocada apenas uma vez em 1976 (imagem em cima) e foi composta com três Yamaha afinados manualmente e em entonação justa, ou seja, as frequências das notas relacionam-se por razões de números inteiros, e um gerador de ondas senoidais. Vinte e cinco minutos hipnotizantes de relexão espiritual que parecem uma eternidade em movimento, relutantes na percepção se os padrões são repetitivos ou se se transformam a cada audição. Brilhante!

É uma obra-prima do minimalismo. Esquecida. Em alguma gaveta ficou e finalmente em 2010, trinta e cinco anos depois, viu a luz do dia numa edição de 5 polegadas em que inclusive traz ensaios de Glenn Branca e Henry Flynt e dois poemas do já mencionado LMY. Um mimo!
Embora situada entre o drone, a raga e a música erudita, os drones continuam a ser, para mim, uma das experiências audio mais poderosas que a música pode dar. Não me deixam indiferente.

Hennix’s The Electric Harpsichord is a gigantic piece, ma killer, a work which exists outside of style or genre. It is unbelievable. It creates blocks of sound that move min and out of each other to create the effects. It is a pure perfect piece of music that resonates and resounds and creates a universe that it is impossible by other means. In our primitive and unenlightened culture it becomes a work of transcendent power.
Glenn Branca