31 agosto, 2011

Tattoo or not tattoo

Em algum momento da vida, tomamos a decisão de gravar na pele, de forma indelével, um desenho, uma foto, uma palavra, um símbolo ou um texto.
O que é que nos leva a tomar esta decisão?
Como e quando é que sentimos que é chegado o momento?

Para mim, a decisão final chegou algo tarde em relação à intenção (que tomei há, vá lá, uns 20 anos), mas chegou na altura em que me foi possível e em que senti que a ideia tinha amadurecido (mais do que) o suficiente em mim.
Como, suponho, acontece a toda a gente que o faz uma primeira vez, já tenho planos para uma segunda, até porque o suporte não falta, apenas o que faz o riscador trabalhar.

A decisão quanto ao desenho em si nunca foi um problema, porque nunca deixaria de ser de minha autoria, para que de alguma forma reflectisse um fragmento de mim, mas pergunto-me como faz alguém que, habitualmente, não desenha...
Neste caso a pessoa opta, claro, por um desenho realizado por outra pessoa. A identidade de quem faz esse desenho  (um amigo, um autor desconhecido ou, simplesmente, o que encontramos por aí) é relevante?
Porque é que opto por esta imagem específica e não outra, como é que escolho o que me é mais importante?

E em caso de indecisão, escolho, claro, um, dois ou três motivos que me dizem alguma coisa - mas porquê parar por aqui?
Porque não preencher-mo-nos completamente, para suprimir o nosso inquietante horror vacui?
Se não fosse por motivos financeiros, quando é que chegaríamos à conclusão de que já era suficiente e de que já tínhamos encontrado todos os desenhos que nos dizem alguma coisa e que gostaríamos de ter como nossos?
Vejo muitas pessoas com várias tatuagens de temáticas muito distintas e não consigo deixar de me perguntar como é que aquela pessoa se decidiu por tanta coisa, se ainda haverá mais a seguir e porquê.
Será que tudo é significativo, depende de várias fases na vida da pessoa ou, simplesmente, porque sim?

No fundo, o que é que uma determinada imagem nos diz de tão especial que a adoptemos como nossa e a queiramos transportar connosco para sempre?

E despeço-me da colaboração com o blogue da Amplificasom.
Obrigada pela oportunidade e pela paciência de quem me leu.

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30 agosto, 2011

Amplificasom apresenta: BARN OWL no Amplifest


29 agosto, 2011

EAK!!!!!!!!!!!!!!

Finalmente disponível para encomenda, o primeiro longa-duração dos EAK pela Major Label Industries, "Muzeak"! É clicar aqui e encomendar este espécime raro da brutalidade nacional, com T-shirt por apenas 20€!!

Deliciem-se com o primeiro video do álbum!


Rock-A-Rolla 33

A Rock-A-Rolla é uma revista Inglesa dedicada ao avant-rock, metal, noise, sonoridades experimentais e a todos os artistas que estejam de algum modo a estimular o mundo da música e a demolir fronteiras. É uma revista abrangente, que reúne uma excelente secção de notícias, artigos sobre música, entrevista e resenhas a discos e filmes, assim como nos faz chegar o que de mais excitante se passa nos palcos de todo o mundo.

Numa edição bi-mensal, totalmente a cores e com aspecto de coleccionáveis, a Rock-A-Rolla tem vindo a assegurar distribuição num número cada vez maior de países e é hoje uma das publicações mais faladas e elogiadas por todos aqueles que se interessam por música e seguem a sua evolução, tendo já adquirido estatuto de culto. Khanate, Justin Broadrick, Melvins, Mike Patton, Sunn0)) + Boris, Dillinger Escape Plan, Isis ou Earth foram alguns dos artistas escolhidos para capa da Rock-A-Rolla, pelo que podemos esperar novas escolhas impares e muitas surpresas fascinantes…

A Rock-a-rolla tem distribuição exclusiva em Portugal via Amplificasom.

Rock-A-Rolla 33:
Wooden Shjips, Secret Chiefs 3, Barn Owl, The Book Of Knots, Cave In, Hella, Retox, Caïna, Bee Mask, Spectrum Spools, Necro Deathmort, Dead Elephant, Blueneck, Next Life, Eyehategod, Sonisphere, Mono, Godflesh + Goatsnake, mais de 100 críticas a discos, etc etc etc.
Encomendas: 5€ em concertos Amplificasom, 6€ via CTT Azul.
amplificasom @ gmail.com (sem espaços)

26 agosto, 2011

Rentrée Amplificasom: RUINS alone + Maria Minerva

+ info para a semana!

Amores recentes II


No ano passado tocaram em festivais como o Asymmetry ou Supersonic (alguém que tenha ido por acaso os viu lá?) e abriram para Ulver e Shining (os noruegueses), mas só tomei conhecimento deste duo londrino há dois meses. No próprio dia em que ouvi pela primeira vez, encomendei o Music of Bleak Origin, que ia ser lançado daí a poucos dias, e o debut, This Beat is Necrotronic (2009).
Por vezes fazem-me lembrar Ulver por alturas do Metamorphosis EP - principalmente no primeiro álbum -, mas são muito mais que isso, misturando drone doom, noise, industrial, electrónica e dub. Parece uma confusão mas não é, é só (imo) fantástico. Como alguém  da Aquarius Records escreveu, This shit is amazing, so dark and heavy and unlikely...
Como vim passar uns dias a Vila do Bispo para ver se perco o tom de pele albino e estou à porta do centro cultural a roubar-lhes a net não me vou alongar mais (e não há retratos da gata para ninguém), mas ouçam por vocês; podem fazer stream do Music of Bleak Origin em baixo. O artwork dos álbuns vale bem a pena - ia dizer para passarem pela Distraction Records e aproveitarem o bundle para comprar os dois por menos de 15€ com portes, mas parece que o primeiro já esgotou.



BETHLEHEM - Verão & Alegria

Das terras germânicas costumam vir coisas tão díspares como salsichas gigantes, power metal gay, exércitos arianos, profetas socio-económicos da treta e, volta e meia, bandas fixes como Colour Haze e Mojo Jazz Mob.

No entanto, em meados da década de 90, um singular conjunto veio deixar a sua marca na galeria dos ilustres adoradores d'O Grande Bode com a sua escura versão do metal sugestionador de cometimento de suicídios em massa.

Tendo como figura central o baixista Jürgen Bartsch, o gajo do jévi métal que vocês mostrariam aos vossos pais para contrariar o estereótipo do "metaleiro drugádo", o seu mundinho interior (aka Alexander Welt) e a escolha de vocalistas claramente passados da cabeça, que gritam e erupcionam as cordas vocais a cada segundo, que espalham rumores sobre o próprio enforcamento e que mais tarde cantaram no 1º álbum de Brilhando, e que concomitantemente eram patrões de uma banda holandesa igualmente fixe (tão fixe que tinham nome de dinossauro), criaram o então ainda não utilizado rótulo "Dark Metal" para classificar a vertente nem-black nem-death, que levou inclusivé um puto idiota a matar-se e a polícia a bater-lhes à porta.

Além da quase constante mudança de vocalista de álbum para álbum, também a sonoridade vai-se transmorfando. Mesmo que os registos mais recentes tenham perdido a pujança suicida dos primeiros, a vibe e atmosfera bethlehemiana manteve-se sempre.

Há ainda espaço para uma data de EPs pelo caminho, participações na banda sonora do GUMMO, regravações desnecessárias com o nicolau dos brilhando e regressos aos palcos ao fim de quinzenas de anos (Under the Black Sun @_@).

Agora fica a sucessão cronológica youtubiana para se entreterem na praia a cortar os pulsos com navalheiras roubadas do arroz de marisco contaminado com E. cólicas do Ti Joaquim.

Dark Metal



Dictius Te Necare



Sardonischer Untergang im Zeichen irreligiöser Darbietung
(aka S.U.I.Z.I.D.)



Schatten aus der Alexander Welt



Mein Weg

25 agosto, 2011

Vocês pediram: JESU no AMPLIFEST

Mais info sobre a primeira edição do Amplifest na próxima semana \m/

1000 no Facebook = Amplifest

Já tivemos milhares, mas com esta nova política facebookiana fomos obrigados a começar do zero. O que vocês não sabem é que o Facebook é um autêntico ditador por isso não nos deixam anunciar o primeiro nome do Amplifest sem termos 1000 seguidores. Resumindo, querem começar a saber o cartaz ou não?

Atordoado até ao túmulo

Quarta-feira passou e estava eu distraído a ver como os Tombs me deixavam completamente azamboado com o novo Path of Totality.


A sério, que dia é hoje?

Eu nem sou destas coisas de fazer listas, mas, caramba, o ano ainda não chegou ao fim e sinto uma urgência enorme de dizer que estes gajos, este ano, estão mesmo lá em cima.

Acho que há uma quantidade muito limitada de chapadas que uma pessoa normal deve tolerar. Mas a agressividade deste disco passa das marcas - ao mesmo tempo que as deixa bem estampadas. Também acho que há uma quantidade limitada de porrada que uma pessoa normal consegue esquecer. Este enxerto vai andar a perseguir-me até Dezembro. Mas não sou nenhum guru, por isso aceito objeções (e, se merecidos, alguns insultos).

23 agosto, 2011

Variety is the spice of life - William Cowper

Por me agradarem as fusões de géneros musicais diferentes, trago alguns dos exemplos (começando, em cada caso, pelo original, que destaco, sublinhando) que sempre considerei dos mais interessantes:

"Marche Funèbre" de Frédéric Chopin, composta em 1837:



uma versão de Candlemass, do álbum "Nightfall" de 1987:



"Through Corridors of Oppression" dos suecos Shining, do split de 2003 (com Dolorian) , reeditada na compilação "Through Years of Oppression" de 2004:




"Hut on Fowl's Legs (Baba-Yagá)" da suite em dez andamentos "Quadros de uma Exposição" composta em 1874 por Modest Petrovich Mussorgsky:



e "Baphomet's Throne" do excelente "Ceremony of Opposites" de 1994, dos Samael:



"Serenata ao Luar" (primeiro andamento da Piano Sonata No. 14 in C minor "Quasi una fantasia", Op. 27, No. 2), concluída em 1801, pelo Old Ludwig Van:


e "Attiosextusenfyrahundra" do álbum Halmstad de 2007, dos Shining:

  
"Júpiter" da suite em sete andamentos "Os Planetas", composta entre 1914 e 1916 por Gustav Holtz (peço desculpa pelo vídeo, algo new-age, mas não encontrei melhor):



e a "Hammerheart" do álbum "Twilight of the Gods" de 1991 do grande génio, infelizmente já não entre nós (a adaptação torna-se mais evidente, no original, a partir dos 3 minutos):




"La Mer", composição em três andamentos de Claude Débussy, concluída em 1905:



e "la Mer", de 1999, de Nine Inch Nails, embora a influência seja apenas evidente pelo título e semelhança entre as atmosferas sonoras (aqui):


Existem, claro, outras adaptações de músicas clássicas, por grupos como Children of Bodom, Evanescence, TransSiberian Orchestra, Savatage ou Manowar ou o próprio Yngwie Malmsteen, mas confesso que nenhum me interessa minimamente, mas isto sou eu, que sou esquisita...
Estas que aqui refiro, pelo contrário, sempre me acompanharam...


E vocês, conhecem, outros exemplos do género?


E termino com uma música que, não sendo nenhuma adaptação de um clássico, tem uma mensagem intemporal: 



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22 agosto, 2011

"Discriminação musical"

Estávamos em 1999 e a poeira levantada pelo massacre de Columbine não tinha ainda assentado quando um psicopata qualquer, que até fazia parte de uma banda de death metal, teve a ideia de assassinar os próprios pais na sua vivenda em Ílhavo.

A discussão sobre a alegada influência da música pesada nestes e noutros assassínios deu origem a algumas reportagens semi-hilariantes nos telejornais da altura, como por exemplo esta e esta.

Eu era um puto caixa-de-óculos com 14 anos, bastante macambúzio, vítima ocasional de um ou outro bully, e gostava de ouvir Metallica e Iron Maiden. Características que faziam de mim o “most likely to become a vicious murderer” da turma.


Na altura não havia internet (haver havia, mas pronto) e como eu queria extravasar a minha indignação resolvi enviar uma carta para o Jornal de Notícias. O texto foi publicado uns meses depois na página da “Opinião do Leitor”, juntamente com uma imagem do que seria para o editor do jornal uma típica banda de metal: um conjunto de gajos a fazer caretas vestidos com camisas-de-força e calçõezinhos de saltar à vara.



O texto é fraquinho e a argumentação pobre (não que hoje faça muito melhor) mas dêem-me o desconto.

Na altura os meus pais acharam piada a ter sido publicado um texto escrito por mim, principalmente pela parte em que disse que não os ia matar à catanada, e guardaram o jornal. Encontrei-o há pouco tempo ao fazer arrumações e descobri que nesse dia as notícias davam conta de outra coisa engraçada.


Desculpem não ter postado nas duas semanas anteriores, mas estive para fora e não tinha acesso à net.

Happy Fifth Anniversary from eBay

Este fim-de-semana recebi um e-mail do eBay a dar-me os parabéns pelo quinto aniversário como membro e fiquei a pensar nas compras que por lá fiz que me marcaram. Não, não consigo lembrar-me de uma sequer embora tenha descoberto já há muito tempo que não sou um gajo de leilões: não colecciono raridades, sinceramente pouco me interessa pagar mais 50€ por aquele LP com um tema extra editado apenas no Japão; não tenho paciência para deambular online procurando discos (sabemos que o site é muito mais que discos mas não este tópico), isso faço-o numa loja; já perdi leilões por não me encontrar em frente ao computador e foi quando descobri que existe um software que faz isso por nós e me perguntei qual a piada e o grau de justiça na conquista daquele Machine Gun de '68; depois de um leilão ganho temos que contactar o vendedor, passar-lhe a morada, pagar um dinheirão de portes, correr o risco de nunca chegar à caixa de correio e depois descobrir que não foi bem embalado ou que afinal o "mint" está com marcas de que foi bem usado... Enfim, opiniões, mas gostava de saber quais os vossos grandes negócios, musicais ou não, que por lá fizeram.

19 agosto, 2011

There's something alive in here... - Luke Skywalker

When you're feeling angry, or sad, or maybe when something makes you feel afraid; do you ever make up a dance and stomp your feet, or punch an old pillow? Or do you have a loud song that you can sing when you're angry? Here's some loud music which just sounds like it's saying: I'm angry, I'm very, very angry.
(in Noothgrush – Dianoga)

Numa conversa sobre sludge, Noothgrush será provavelmente a primeira palavra a sair-me da boca. Não serão das bandas mais importantes da cena, mas estão no topo das minhas preferências no que toca a angry-doom podre dos pântanos. O que é que não há para adorar numa banda cujos temas centrais das letras são, citando o last.fm, self-hatred, general misanthropy e Star Wars? É verdade, Star Wars. Títulos como Dianoga, Alderaan, Jundland Wastes, Sith, já para não falar da cover altamente épica da Imperial March, não deixam margem para dúvida.

Embora tenham estado activos durante cerca de oito anos e participado numa quantidade admirável de splits (com bandas como Corrupted e Dystopia), nunca lançaram um full-length a sério - Erode The Person era para ter sido o tal, mas na altura acabou por sair com faixas adicionais de splits anteriores, tornando-se mais numa compilação que outra coisa.

A razão pela qual decidi falar desta gente agora já deve ser conhecida de muitos: o catálogo da banda estava out of print há algum tempo e este ano, entre novos lançamentos e reedições, vão sair seis LPs/CDs de Noothgrush, e o mais importante destes lançamentos já está disponível: Erode The Person LP, como devia ter saído em 1999, limitado a 500 (os interessados podem encomendar daqui).

(Ainda não tenho o meu por isso não há gata do doom com lágrimas de felicidade.)

Como se tudo isto não fosse suficientemente bom, voltaram a tocar ao vivo. Deram o primeiro concerto no passado dia 15, com os míticos Winter, e têm mais três datas agendadas (incluíndo uma no Maryland Death Fest). Além destes, parece que a banda quer tocar no próximo Roadburn, portanto espera-se que façam uma pequena tour europeia em 2012.

No Kill That Cat (tinha de ser), já está um vídeo de algumas músicas (6) do primeiro concerto em 10 anos, e começa precisamente com a Dianoga. Demora um pouco a carregar mas vale mesmo a pena.

18 agosto, 2011

CRAFT - Bifes do VAZIO

Foi, em grande parte, graças ao Grande Dilúvio Noventista de lixo nuclearblastiano sansconteúdo+superproduzido, de efluentes de ETARs domésticas (bathroom blackmetal, duh!) descarregados ilegalmente, de lixiviados de aterros sanitários nacionalsocialistas de países de Leste (lol, really?) e de outras formas de cocó menos consistente, que se borrou e deturpou a excelsa criação Grã-Caprina. Actualmente, as principais vias de contaminação e exposição passam pela deposição em massa de outros refugos mais hipsterianos nos poucos terrenos férteis ainda não afectados.
Contudo, pequenos esporos sobreviveram a esta devastação óculosdemassiana, brotando em hifas que se foram juntando em micélios aqui e ali, capazes de desenvolver apotécios semi-fálicos nas carcaças dos heróis caídos, prontinhos a levantar a chama negra, a espalhar a Doença e a Dor que nunca acaba.


Fora de merdas, peguemos então em CRAFT, estirpe perfeita de criptococos provenientes dos bairros de lata suecos e vejamos as suas características micotóxicas:
  • Tradição tronescuro-transilvânico-munchies √
  • Edição de álbuns quando o Rei faz anos √
  • Som perceptivelmente orgânico, mas "podre" √
  • Ausência de manifestos intelectualóide, de camisas de flanela e de merchandise manowariano √
  • Melodias niilistas cantaroláveis no banho √
  • Atitude Fuck the Universe (porque the World is not Enough) √
Ah, e o VOID é o CD de black metal de 2011 do dia.

17 agosto, 2011

Hoje, estou com a cabeça em Paredes de Coura

Eu e a pop sempre tivemos uma má relação. Ela é uma miúda fácil, filha de pais endinheirados, eu sou um tipo humilde (mas prefiro que sejam os outros a apontar-me esta grande qualidade) e de gostos simples. Claro, nesta argumentação encontra-se logo uma falha: ela é fácil, eu gosto de coisas simples, devia haver uma química aqui brutal. Mas não há.

Não que eu tenha o melhor gosto do mundo - na minha humilde opinião, até tenho, porque senão andava a ouvir coisas de que não gostava - mas porque tenho a memória de um peixe. Com a música, a minha exigência é também simples, mas grande: quero lembrar-me do que ouço. A pop é rica em parir filhos de que ninguém se vai lembrar. E o próprio Miguel Esteves Cardoso diz que essa é a maior característica da pop, o facto de ser algo que faz pop-up na nossa atenção, que nós ouvimos, e depois avançamos.

Paredes de Coura, este ano, tem uma imensidão de nomes que não me dizem nada. Eu não me lembro de nenhuma música dos Pulp (mas estou convencido de já ter ouvido alguma), não estou assim tão entusiasmado com o regresso dos Death From Above 1979, e já tapei o meu buraco, no que a Mogwai diz respeito - de resto, a única banda com um papel importante na história recente da música no cartaz do festival.

Mas, apesar de tudo, tenho um buraquinho no peito chamado Warpaint. Estas miúdas fazem música deliciosa, cheia de efeitos e frita como tudo, são umas fofas como exige a música popular e ainda gostam de inventar e fazer jams. São a minha paixão pela música avulsa temperada com azeite. Virgem extra de comprar numa garrafeira de vinho caro. E insistem em ficar-me na memória (acreditem que não é fixe andar na rua a cantar "You could be my King" ao mesmo tempo que se tenta ostentar uma barba relativamente máscula para mostrar às miúdas que mando cenário). Se as conheci em concerto, e adorei, gostava imenso de repetir a experiência. Valha-me o YouTube:


16 agosto, 2011

A

M

P

L

I

F

E

S

T

"I would like to make it clear (...), that there will definitely be NO reunion of all four original members of Black Sabbath, whether to record an album or tour."

Aproveito a notícia quente do dia para reflectir aqui sobre o assunto.
Por esta altura, já todos devem saber (aqui, aqui ou aqui), que os Black Sabbath voltaram à formação original (o que não acontecia desde 1978), prometendo tours e pelo menos um álbum de originais. 


Embora todos desejemos ver Black Sabbath ao vivo, pelo que foram e pela importância seminal para tudo o que ouvimos hoje, não posso deixar de me sentir algo duvidosa em relação a este regresso...

Vasculhando a minha (fraca) memória, não encontro exemplos semelhantes que tenham dado bons resultados (embora este juízo de valor seja, obviamente, discutível): ocorre-me o regresso à formação original dos Slayer ou dos Anthrax, mas confesso que os deixei de os seguir desde o início dos 90's (por desinteresse pelo que fizeram desde então) e dos Sabbat, que se limitaram às digressões (quero crer que ajuizadamente)  e não chegaram a editar álbum nenhum.
Os System of a Down também estão a aparecer por aí, entretanto, agora andam a multiplicar-se por digressões...


Pessoalmente, prefiro guardar na memória tudo o que a música dos Black Sabbath sempre me transmitiu, mas não deixarei, claro, de ouvir o que eles lançarem (imagino que não sem um amargo de boca) e de vibrar, como toda a gente, se houver a oportunidade de passarem por cá...

Mas isto sou eu, completamente aficionada, desde os inícios de 80, pelos early years dos Black Sabbath...
E vocês, estão entusiasmados com a ideia?

(A frase do título (retirada daqui) é do Geezer Butler, foi declarada em Fevereiro de 2011  e prova muita coisa além do habitual "nunca digas nunca")

Falso Alarme...
o próprio Toni Iommi diz, aqui:
"I'm saddened that a Birmingham journalist whom I trusted has chosen this point in time to take a conversation we had back in June and make it sound like we spoke yesterday about a Black Sabbath reunion.
At the time I was supporting the Home of Metal exhibition and was merely speculating, shooting the breeze, on something all of us get asked constantly, "Are you getting back together?"
Thanks to the internet it's gone round the world as some sort of "official" statement on my part, absolute nonsense.  I hope he's enjoyed his moment of glory, he won't have another at my expense.
to my old pals, Ozzy, Geezer and Bill, sorry about this, I should have known better.
All the best, Tony"

Se viram, como eu, o desenvolvimento desta notícia ao longo do dia e a divulgação por sites e facebook compreendem o buraco que é...

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Quem está na capa da Rolla 33?

12 agosto, 2011

Fire! - Jazz em Agosto

Antes de seguir para mais uma noite do Jazz em Agosto, desta vez no Anfiteatro ao Ar Livre com os Hairy Bones de Peter Brötzmann, deixo aqui algumas fotografias da noite de ontem.
Estou muito, muito, muito longe de saber do que estou a falar – apenas conhecia Mats Gustafsson das colaborações com Sonic Youth e só peguei em Fire! na semana passada (obrigada, André!) -, portanto não me vou alongar, mas se à primeira audição fiquei muito bem impressionada com a mistura de free jazz/rock/psicadélico (?), em concerto superaram as minhas expectativas e tanto o primeiro álbum como a mais recente colaboração com o Jim O'Rourke (é uma pena ele não ter vindo, entretanto vi uns vídeos fantásticos com os quatro) vão continuar a tocar por estes lados.






11 agosto, 2011

Myrskog - extreme metal for the old millenium.

Vagos 2011.
Depois da já esperada sessão de bocejos com o ex-(careca + imperador), da sessão de fixeza do outro careca imperialmente sinistro sinistro (só faltou terem feito uma fuuu-são em palco), e citando o não-imperial Nero (dos WAF, aquela banda supercool que lançou um disco muito giro no ano passado e que todos deveriam comprar 2 cópias), o concerto de Morbid Angel foi um soco d'O Grande Bode nos dentes, e até na barriga.
Não que eles tenham tocado a Radikult (fosga-se, a rima do "killacop" TEM piada) e que o Vicente tenha maus dotes de stand-up comedian wicca, mas o Trey Azagthoth, debaixo daquela peruca vidal sassooniana toda, mandou e cagou a LEI gran-caprina em estéreo.
Contudo, do lado oposto do palco, e com cara de transformista-pirata, estava outro igualmente virtuoso guitarrista das terras nórdicas. E são os Myrkskog, sua principal banda, que vou referir a seguir.

Há pouco mais de 10 anos, surgiu uma mini-onda/moda baptizada de "Extreme metal for the new millenium". Caracterizada por uma quase perfeita mistura entre o black e o déss metal, de tons "futuristas", misantropia limpinha e som/produção a cargo de um estúdio qualquer no meio do campo (akkerhaugen studios, de um ex-pré-imperador). Realça-se o primeiro de Zyklon (nem é preciso sublinhar o quão aborrecidos são os álbuns puramente déss que vieram a seguir - e, por amor do GB, tem o DAEMON A BERRAR À BRUTA), o segundo de Cheerios (sim, a banda promessa do BM "tuga", que rapidamente desvaneceu - mas que também TEM O DAEMON AOS BERROS em 2 ou 3 faixas) e o Deathmachine de Myrkskog.

Não sei que raio passou entretanto, mas após tanta "promessa", Zyklon diluiu-se em déss metal ultra chato (pudera, o Daemon deu de frosques), SiriuS esfumegou-se (Nuclear Blast, lol) e Myrkskog lançou apenas mais um álbum, aparentemente de "Brutal Death Metal". Quiçás às contas disso viu eu o mocinho no sábado passado ali a tocar com os EU SOU MÓRBIDO, ainda bem para ele.


Anyway, o único comentário a fazer no meio desta aparente blastfbeatfonia toda é: não vos apetece assobiar aquela "melodiazinha" no final da música?

Pois, o resto do álbum é mais ou menos assim.

Música para assobiar enquanto a geração yobiana estragada (as in spoiled) pelo Nanny State britânico se diverte a destruir impunemente propriedade privada alheia e os Bancos Centrais europeu e americano se divertem a destruir as economias mundiais num mar de linho, algodão e tinta a desvalorizar até ao infinito.

10 agosto, 2011

Fungologia musical

A música não é um cogumelo. Não aparece numa casa de banho por causa do excesso de humidade, nem no tronco de uma árvore por uma razão que desconheço e, como fim, não serve para fazer um molho de trás da orelha. Não é um elemento parasitário da nossa sociedade, mas uma bela simbiose da qual eu, admito, não me quero privar. Não surge, por isso mesmo, do ar, sem razão aparente. A música é uma expressão social, tanto quanto pessoal, ou não fosse o ser humano essencialmente comunicativo, um ser que vive em comunidade e em sociedade - e é assim que se desenvolve, por muito que a internet venha problematizar esta questão.

Não é, também, por acaso, que o contexto social acaba por ter um reflexo na música que um artista faz. Que o digam os Public Enemy, por exemplo, que os digam os Minor Threat de Ian MacKaye, e, de forma menos inflamada, que o digam, até, uns Black Sabbath, ou um Justin Broadrick.

Não será, igualmente, algo na água de Alec Empire, mentor dos Atari Teenage Riot, que o leva a fazer música como sempre fez e, agora, o leva a escrever um artigo como ESTE sobre o que está a acontecer em Londres, do qual posso destacar inúmeros momentos.

A falha, de que todos temos culpa, como sublinha bem Empire, é, para mim, tão simples que me faz confusão anunciá-la assim em tão parcas palavras, mas reconheço que fica em ausência uma explicação digna: falta reconhecer o lado social do homem; andamos a perder demasiado tempo a promover um individualismo liberal decadente.

Como bom problemetólgo, mais do que solucionólogo do ramo da politologia (aka, ciência política), essa disciplina profundamente fascinante, consigo reconhcer: a beleza da música, da arte, é a de não existir isolada, da mesma forma que eu, se falar sozinho, não estou a comunicar, pelo simples facto de não ser ouvido. Não há um eu na arte, quando é feita com alma, mais do que com cifrões. E também não há um nós. Há tudo o que está entre nós. Eu gostava de saber o será isso, por exemplo, na perspectiva dos Altar of Plagues, agora que o guitarrista vive em Londres.

Dedicado a Londres

Segunda parte, não planeada mas merecida, de fotos londrinas através da lente da Carmo Louceiro:
















A primeira aqui.

Lições de guitarra


Amplificasom agencia: The Pine Hill Haints

The Pine Hill Haints
4 de Outubro
Armazém do Chá, Porto
+ info em breve

nodding ou old-school headbanging?

já se falou por aqui da interacção dos grupos com o público nos concertos, mas os que vi este ano têm-me levantado algumas questões a propósito...

todos nós gostamos de absorver a energia que emana de espectáculos tão brutais que dispensam qualquer interactividade com o público. quando terminam, ficamos com a sensação de que, se esta tivesse existido, teria sido completamente desnecessária e mesmo, em alguns casos, estranha.

outras interacções há que fazem todo o sentido e muito acrescentam a toda a experiência e ficamos a admirar (ainda mais) os músicos por isso, especialmente, quando sabemos que gostaram da nossa reacção.
chato é quando vemos o mesmo grupo a ter a mesmíssima interacção numa altura diferente - pessoalmente, não consigo deixar de pensar quanto é espontâneo, afinal de contas, e quanto é ensaiado...

há, por outro lado, outras interacções que são um perfeito disparate, a meu ver, tão desnecessárias quanto ridículas... recordo-me de grupos que só nos sabem falar de como se faz música de grande qualidade em portugal, de nos darem dois ou três exemplos de amigalhaços, esquecendo-se de tantos outros (comprovadamente melhores) e de apelarem a sentimentos bairristas ou clubismos.
surpreendem-me as reacções exageradas do público a estas provocações populistas e desprovidas de significado...
e pergunto-me - será que é só isto que estes gajos nos têm para dizer?
e se actuarem fora de portugal, o que dirão?

em todos os concertos a que vou, tento, a certa altura, observar o público atrás de mim.
tenho pena de o não poder fazer mais frequentemente ou não o poder fotografar - imagino que qualquer pessoa a meio de um concerto detestaria sentir-se observada e fotografada...
não imaginam as expressões que se observam - desde o êxtase (quase) completo até à fúria mais agressiva...

e todo este manancial de expressividades é observado apenas por quem está no palco...
pergunto-me como é que os músicos comentam entre si a reacção do público no final de um concerto, para além da treta do costume de que "you guys really rock" e "best audience ever"...

e outra (velha) questão: como é que cada um de nós sente e reage à música de que gosta?
porque é que a mim certas músicas me fazem vibrar, contorcer e pôr a cabeça a abanar quase sem que eu dê por isso e a outras pessoas, no mesmo concerto, as mesmas músicas fazem andar aos encontrões e pontapés, voar por cima do público ou, simplesmente, acenar com a cabeça....?

e se dantes sentíamos a música abanando a cabeça, porque é que agora a maioria do que vejo no público é um (e sem ofensa, de espécie alguma) desenxabido nodding?
ok, não digo que não estejam a "curtir" a música, mas o que é que mudou, de há uns anos para cá?
o público adaptou-se a novas sonoridades e a música foi evoluindo por subgéneros interessantíssimos, já sabemos, e, ok, a reacção de cada um depende também da própria música, mas muitas vezes me sinto algo desenquadrada quando me apetece abanar a cabeça...

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09 agosto, 2011

Perdidos no brilho

Barn Owl - Lost in the Glare [Thrill Jockey 2011]

É o duo mais entusiasmante do momento. Continuam a ser um tesouro por descobrir, mas já não são novidade nestas linhas: lembro-vos que se falou deles aqui e aqui e inclusive fizeram-nos uma pequena visita de almoço. A cada edição, que acaba sempre por encher (elogio) os meus ouvidos, fico com a certeza que a sua visão instrumental está cada vez mais interessante, desafiante, confiante e essencial. Para eles e para nós.

A estreia na Thrill Jockey foi surpreendente, os temas do Ancestral Star ainda me arrepiam, mas é com este atrevimento e coragem de Lost in the Glare que se fazem discos brilhantes, que se ganham bandas para sempre. Acaba assim a colagem a instituições como Earth ou Sunn O))), os Barn Owl passaram também eles a ser uma.

Sabem quando põe um disco a tocar e não o largam? É por aqui que tenho andado, perdido nesta viagem. Drone. Sempre drone. Mas com Farfisa. A melhor trip do ano.


Ps: Artwork para o LP morar lá em casa…

"No final do dia procuramos, acima de tudo, fazer música que nos complete e com a qual nos identificamos."

A todos os fãs como nós isso é o suficiente... Obrigado!

O Ponto Alternativo foi falar com o Hugo dos nossos Process of Guilt e não podia deixar de recomendar a leitura dessa agradável e honesta conversa aqui. Muito em breve haverão mais novidades em relação aos PoG, desde o novo e muito aguardado disco até aos concertos. Muito em breve...

Little Boxes











The Holman House, Durbach Blok Architects
Australia, 2004