31 março, 2010

Mussorgsky: mais flirts com o chifrudo


Somos .com e estamos no facecoiso

Caso prefiram, podem entrar no tasco através de http://www.amplificasom.com/. Com o tempo faremos obras, para já não estamos com pressa. Entretanto, já nos estamos a dar melhor com o Facebook por isso adicionem-nos e deixem-nos comentários, sugestões, mensagens românticas, ameaças de morte... Apitem-nos por lá também, MAS apesar das "newsletters", myspace, twitter e afins, é aqui no tasco que saberão sempre em primeira mão.

Au revoir, à bientôt

Pois é caros amigos(as), a minha comissão aqui na Amplificasom chega ao fim hoje.

Pelos vistos não cobri as runas todas - sorry - mas efectivamente não tive tanta disponibilidade quanto a que gostaria.

Quero agradecer à malta aqui do estabelecimento pelo convite: obrigado, diverti-me muito e foi uma experiência interessante, sem dúvida.

Quero agradecer também aos demais colaboradores pontuais pelos textos que, de um modo geral, me interessaram bastante.

Aos que ficarem, continuem por favor; para os que vão... vão escrevendo por aí nos vossos outros estabelecimentos que a malta vai lendo ;)

Em nome da Team Kali, deixo-vos com o Amour e com muito amor :D

30 março, 2010

A lista de DiCaprio


Não nos deixemos iludir com os gostos dos actores do star system de Hollywood. Nem sempre o que parece é. O famigerado Leonardo DiCaprio, actor em ascensão e afirmação continuada (basta confirmar a sua excelente performance em "Shutter Island"), outrora símbolo sexual juvenil (ainda é?), veio ao mundo revelar os seus gostos cinematográficos.
Ou seja, revelou os seus filmes preferidos de sempre. Para tal, escolheu 10 títulos do cinema mundial. Convenhamos que, surpreendentemente ou talvez não, se trata de uma belíssima lista, repleta de obras-primas irrepreensíveis:

- "Ladrões de Bicicletas" (1948) de Vittorio de Sica
- "Taxi Driver" (1976) de Martin Scorsese
- "Lawrence da Arábia" (1962) de David Lean
- "8 1/2" (1963) de Federico Fellini
- "O Terceiro Homem" (1949) de Carol Reed
- "Yojimbo" (1961) de Akira Kurosawa
- "Sunset Boulevard" (1950) de Billy Wilder
- "The Shining" (1980) de Stanley Kubrick
- "A Leste do Paraíso" (1955) de Elia Kazan

Sonar galego

Que bela surpresa, este ano haverá Sonar na Corunha: http://galicia.sonar.es/

Jogo do costume

1: 2: 3: 4: 5: 6: 7: 8: 9: 10:

O professor de Shini'chi Isohata

"Masayuki Takayanagi (1932-1991), guitarrista japonês, foi um dos mais instigantes exploradores do instrumento. Takayanagi é um dos pais do noise, sem dúvida, tendo feito de seu trabalho um campo fértil de testes ruidosos. Nada de rifes ou solos virtuosos: sua guitarra sempre esteve direcionada a outros campos. Com seu grupo 'New Directions' _transformado depois em "New Direction Unit"_ criou um complexo mundo sonoro, desde o fim dos 50, tendo o free jazz e a improvisação livre como pontos de partida _mas rumo a estruturas ainda mais abstratas e agressivas. Takayanagi foi um dos pioneiros da música livre no Japão. Manteve sua verve até o fim da vida, tendo passado a explorar cada vez mais ruídos proporcionados por pedais e efeitos eletrônicos em seus últimos anos."

Fabricio Vieira in Free Form Free Jazz sobre o mestre e professor de Shin'ichi Isohata, músico que vai estar no Porto no próximo dia 7.

Pritzker 2010: SANAA

Novo Museu de Arte Contemporânea - Nova York (EUA)
Escola de Design Zollverein - Essen (Alemanha)
Centro Rolex do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça - Lausanne (Suíça)
Prédio Christian Dior - Tóquio (Japão)

Music Visualization

Clavilux 2000 permite um mapa visual do que é tocado, associando a música à componente gráfica. Cada nota tem uma cor diferente e conseguimos visualizar toda a peça musical, assim como as notas que foram tocadas mais altas, as harmonias etc.

Vídeo/Info

28 março, 2010

Lou Reed e o álbum maldito


É um álbum maldito da história do rock (e se formos rigorosos, de toda a história da música). Lou Reed, uns anos após o fim dos Velvet Underground, em 1975, grava essa infâmia e embuste (para uns) ou obra genial e premonitória (para outros tantos): "Metal Machine Music". Num aspecto todos estão de acordo: trata-se de um registo radical, concebido e gravado sem concessões, feito à base de feedback de guitarra e de manipulação de ruído branco. Reed diz que gravou o disco completamente pedrado. Acreditamos. Já foi considerado o pior álbum de rock de sempre; e já foi incluído na lista dos discos mais inovadores de sempre. Em que ficamos?
Na verdade, o disco vale sobretudo como testemunho conceptual, mais do que estritamente musical. Deve tanto ao rock de guitarras dos Velvet como aos princípios estéticos e teóricos de La Monte Young, de John Cage ou dos concretistas Pierre Schaeffer e Pierre Henry. Deve também à teoria dos "intonarumori", as célebres máquinas de produzir ruído industrial do futurista italiano Luigi Russolo. E é um disco que influenciou artista tão diversos como Sonic youth, Throbbing Gristle, Merzbow e todos os subgéneros do noise, do industrial e do electro-acústico. Ouvi-lo não será o mesmo que ouvir Robert Wyatt ao entardecer enquanto se bebe um martini (que raio de associação!). Ao longo destes 30 e tal anos, não acredito que alguém, alguma vez, tenha ouvido "Metal Machine Music" do princípio ao fim sem ter tido lesões cerebrais irreversíveis. Mas quem sabe, tratar-se-ia de uma experiência limite no teste à capacidade auditiva humana. Não eram os Einstürzende Neubeutan que diziam que "é preciso ouvir com dor"?

25 março, 2010

E a banda de abertura de Shellac é...

Lá porque a Primavera nunca mais chega não quer dizer que um gajo tenha que ficar em casa

HOJE temos a terceira edição do EXPLOITATION no Maus Hábitos com os Sektor 304 e o projecto a solo de Gustavo Costa Most People Have Been Trained to Be Bored. AMANHÃ há Metal Container no Porto-Rio e o documentário Heavy Metal in Baghdad seguido de If Lucy Fell no Passos Manuel. Sábado há Osso Exótico em Serralves e Handmade Music na Digitópia (Casa da Música). O Porto não pára...

Primeira parte de Altar of Plagues

Continuamos com vontade de fazer coisas diferentes, no fundo fazemos isto por nós logo se estagnarmos aborrecemo-nos. A primeira parte de Altar of Plagues será uma leitura pelo nosso amigo Jorge Silva. Durante cerca de vinte minutos todos os presentes serão convidados a serem absorvidos pelo jogo de palavras que Stig Dagerman escreveu em A Nossa Necessidade de Consolo É Impossível de Satisfazer. Esperemos que gostem.
ALTAR OF PLAGUES
JORGE SILVA lê STIG DAGERMAN
Fábrica de Som, Porto
6 de Maio
22h
6€

JESU: adeus electrónica

"At the turn of the New Year, I signed a deal with Ghostly International to develop a new project - Pale Sketcher. Pale Sketcher is intended as a vehicle for me to explore, exclusively and in more detail, the 'electronica' side of jesu.
It occurred to me during the writing of the last Jesu EP 'Opiate Sun' in early 2009, that Jesu, first and foremost, was intended to be a guitar oriented project. The 'electronica' side of Jesu was just an inevitable direction for me, but never satisfied with this battle between guitars and electronica with Jesu, I decided to separate the two directions - Jesu, now, and for the forseeable future, being guitar based exclusively, with Pale Sketcher being the project where I can focus and develop further, the Jesu 'electronica' sound, without need for further fusion or compromise."

Little boxes




Rafael Moneo
Câmara Municipal de Murcia
Espanha

24 março, 2010

Bodysnatchers

"Bodysnatchers", o tema mais forte do álbum "In Rainbows" (o tal que deu que falar por ter sido colocado gratuitamente na internet) dos Radiohead. E quanto a mim, é mesmo uma das melhores músicas de toda a brilhante discografia da banda de Thom Yorke. Um tema potentíssimo, cheio de rasgados "riffs" de guitarra, ritmo maquinal e voz em constante contorcionismo melódico como só Yorke sabe fazer. Uma enorme canção rock.
E a prestação de Thom Yorke é sempre impressionante...

Próximo concerto: apontem na agenda

Apontem na agenda: faltam duas semanas para o concerto a 154 metros de altura. Dia 7 estrearemo-nos no ANRRIQUE, o bar no 17º andar do Hotel Dom Henrique, com os concertos de Michel Henritzi e Shin'ichi Isohata. A entrada é livre, as vistas são belas e a música desafiadora e interessante. Apareçam!!!
Ps: Amanhã anunciarei as primeiras partes de Altar of Plagues e Shellac!!

Rock-A-Rolla 25

A Rock-A-Rolla é uma revista Inglesa dedicada ao avant-rock, metal, noise, sonoridades experimentais e a todos os artistas que estejam de algum modo a estimular o mundo da música e a demolir fronteiras. É uma revista abrangente, que reúne uma excelente secção de notícias, artigos sobre música, entrevista e resenhas a discos e filmes, assim como nos faz chegar o que de mais excitante se passa nos palcos de Inglaterra e um pouco por todo o globo. Numa edição bi-mensal, totalmente a cores e com aspecto de coleccionáveis, a Rock-A-Rolla tem vindo a assegurar distribuição num número cada vez maior de países (Canadá, EUA, Japão, Austrália, e vários países da Europa). Em pouco mais de ano tornou-se numa das publicações mais faladas e elogiadas por todos aqueles que se interessam por música e seguem a sua evolução, tendo já adquirido estatuto de culto. Khanate, Justin Broadrick, Melvins, Mike Patton, Sunn0)) + Boris, Dillinger Escape Plan, Isis e Battles foram alguns dos artistas escolhidos para capa da Rock-A-Rolla, pelo que podemos esperar novas escolhas impares e muitas surpresas fascinantes…
A Rock-a-rolla tem distribuição exclusiva em Portugal via Amplificasom.

Rock-A-Rolla 25
Kayo Dot: Toby Driver talks Coyote and goth fusion!
Red Sparowes: Post-rock supergroup return with their first album in four years, The Fear Is Excruciating, But Therein Lies The Answer!
Ufomammut: Italian progressive psych-doom trio celebrate ten years with their latest masterpiece, Eve!
Black Breath: Southern Lord’s latest signing unleash their debut album!
Jucifer: Sludge metal husband/wife duo go DIY!
Eluvium: Ambient/shoegaze/minimalist explorer Matthew Cooper goes pop!
Oxbow: Eugene Robinson remembers the making of Fuckfest in the first of our Classic Albums series!
Plus! Wold, Årabrot, Public Guilt, Mouse On The Keys, Caspian, Errors, live action: Sir …

Encomendas
5€ em concertos Amplificasom (ver agenda ao lado)
6€ via CTT Azul/ Verde
amplificasom@gmail.com


Ps: Rolla 24 (ainda temos três cópias)

David Maranha: o tão aguardado segundo álbum

David Maranha é um dos músicos mais interessantes do experimentalismo português. Muitos de vocês estão neste momento a ter o primeiro contacto com o seu nome pois é daqueles que não dá nas vistas, a música fala por si. Marches of the New World (2007) foi o primeiro disco em nome próprio (não entender como a solo) depois de nos oitentas ter iniciado uma marcha brilhante com os Osso Exótico. Também faz parte de projectos como os Curia e inclusive já colaborou com Z'EV ou Ben Frost mas na minha opinião o seu auge musical encontra-se nestas explorações hipnóticas. Drone de topo, estes temas são viagens imperdíveis, são das melhores coisas que alguma vez se fez neste canto à beira-mar.
Antarctica, o segundo, sai hoje via Roaratorio que é casa de mestres como Joe McPhee, Ben Chasny ou Corsano e é aqui que quero chegar: malta do sul, se aí estivesse não perdia este momento por nada deste mundo. Antarctica é hoje apresentado no palco da ZDB pelo próprio Maranha, Bernardo Devlin, Manuel Mota, Riccardo Wanke e Afonso Simões. Em baixo uma pequena amostra dum ensaio:

23 março, 2010

Penderecki: Música do mais evil que há

Um instrumental:

Um dos meus compositores favoritos. Para não chatear muito mais deixo um exemplo típico dos jogos de coros que ele faz:

Não aconselhado a quem sofrer de sinestesia.
Polifonia inspirada, por um homem cuja missão na terra é, certamente, provocar nos ouvintes incontinência fecal.

Hoje é dia de 4 minutos e 33 segundos

"John Cage foi um esteta revolucionário, mais pelo lado conceptual e teórico do que propriamente pelas suas composições musicais. E 4’33’’, apesar de ser porventura o seu trabalho mais conhecido (tratando-se de Cage deve dar-se uma conotação relativa ao termo “conhecido”), é aquela obra que dinamitou convenções musicais e permitiu abrir o espectro sonoro com a inclusão do silêncio na linguagem musical (ainda que não tenha sido o primeiro a fazê-lo, Cage foi o mais radical). 4’33’’ é uma obra sobre o silêncio, mas um silêncio imaginário, visto que John Cage pretendeu que o público “compusesse” a obra com os ruídos produzidos espontaneamente. Claro que, para Cage, tratava-se também de provocar a audiência com um sentido de humor muito próprio.
Nos anos 40 John Cage visitou uma câmara anecóica na Universidade de Harvard. Esta câmara é, basicamente, uma sala projectada de tal modo a cancelar todos os ruídos ambientes, sendo totalmente à prova de som. As câmaras anecóicas são usadas para medir as propriedades acústicas de instrumentos e microfones, e para executar experiências psico-acústicas. Cage entrou nessa câmara com o intuito de ouvir (ou não) o silêncio absoluto, mas como ele escreveu depois, "ouvi dois sons, um alto e um baixo. Quando os descrevi ao engenheiro de som, ele informou-me que o som alto era do meu sistema nervoso, e o baixo o meu sangue em circulação." Depois desta experiência, Cage escreveu (literalmente) a peça 4’33’’ com três movimentos e apresentou-a pela primeira vez ao vivo (com uma assistência atónica) com a interpretação do pianista David Tudor, em Agosto de 1952. Cage abriu, desta forma abrupta, novas portas de percepção sonora, acústica e estética."

Terça 23 Março 2010
19:30, Sala Suggia, Casa da Música
+ 4'33'' (Tributo a John Cage)

O taxi de Joe McPhee

O Taxi Driver é perfeito, até aquele tema de sax que nos acompanha na viagem de Travis Bickle, mas Scorcese cometeu um dos maiores erros da história ao não deixar a banda sonora ao cuidado de Joe McPhee, especialmente se utilizasse o tema Song for Laureen. O filme é de ’76, o álbum Black Magic Man é de ’70, sempre que o ouço penso nisto e não sei explicar porquê…

Em menos dum ano vi/ vou ver este Mestre três vezes: a solo na Culturgest, há umas semanas com o Corsano, e em breve no Tentet do Brötzmann. É dos meus músicos preferidos, pelos seus discos, a sua abordagem perante o sax, o tom, a tranquilidade que emana em palco mesmo quando explode. É estranho saber que aprendeu a tocar saxofone aos 32 anos (embora tivesse escola de trompete). Hoje aos 70 anos é um dos melhores, já é o é há muito tempo.

Se a solo foi muito intimista, este com o Corsano foi mais experimental. Notou-se que o improviso foi o prato da noite, alguma inibição pela parte do Chris talvez por ainda não se sentir tão à vontade como na dupla com o Flaherty, talvez até ambos os músicos tenham sentido não estarem perante o seu público alvo (abriram Mono). A verdade é que o que fica registado é um brilhante concerto e a reacção da audiência foi muito muito positiva o que prova que estes espectros mais alternativos e quase marginais podem ter mais mercado (perdoem-me a expressão) caso haja um esforço por parte de quem ouve e gosta de ouvir música ou promotores como estes que arriscam numa noite eclética mas altamente interessante.
Até breve Joe!

The sound begins in the silence
of the morning
before the morning
of the day before
in a vortex of dreams
expanding
racing
to meet the dawn
racing naked across a razor's edge
through the frozen fog of memory

The sound emerges like
long shadowy fingers
snaking throughout the silence

collecting silence
in a cocoon of silence
in anticipation of the next

The sound surrenders to itself
and becomes
the place
where the meeting begins
unfolding layers
of mystery
revealing nothing
revealing all
speaking in lost languages
forgotten in a climate of
nostalgia

The sound continues
in anticipation of the
next

Discursos Revisitados

"Em 1990, um painel de notáveis arquitectos reuniu-se para as conferências “Discursos sobre Arquitectura”. Os encontros ficaram registados em vídeo e agora, 20 anos depois, vão ser revisitados numa série de sessões a decorrer no Cinema Passos Manuel, no Porto, a partir de 2 de Fevereiro, com o objectivo de analisar se as posições assumidas há duas décadas resistiram ao tempo e discutir o futuro da arquitectura."

Já alguém foi a alguma desta sessões? Tive a infelicidade da sessão do Zumthor ter calhado no dia de Russian Circles, mas pelos vistos também não é fácil arranjar bilhetes...

info

Kurosawa: 100 anos


Akira Kurosawa: 23 de Março 1910 - 6 de Setembro 1998

22 março, 2010

Mike Patton de regresso


Fiquei a saber através da página de fãs do Facebook do Mike Patton, que o músico dos Faith No More - mas também dos Tomahawk, Fantômas ou Mr. Bungle... - vai lançar no dia 4 de Maio o disco "Mondo Cane" (pela habitual Ipecac Recordings), um projecto híbrido rock orquestrado à mistura com canções italianas pop e românticas das décadas de 50 e 60.
Gravado numa série de concertos europeus, incluindo um concerto ao ar livre numa praça no norte da Itália, o álbum auto-intitulado revela as tais músicas pop italianas bem como uma releitura de “Deep Down” de Ennio Morricone (desde sempre uma referência para Patton). Mike Patton trabalhou com uma orquestra de trinta instrumentos e um coro para criar a sonoridade única de Mondo Cane (nome retirado do controverso filme italiano homónimo de 1962 realizador por Paolo Cavara). Um projecto que foge à habitual experimentação rock do músico, mas que nem por isso deixa de ser interessante.
O engraçado é que eu já falei deste projecto há um ano e meio, aqui, desejando que fosse editado o disco do espectáculo, o que vai acabar por acontecer.

A segunda rodada da Dromos

Há uns temos escrevi sobre o maravilhoso debut da Dromos, nova editora portuguesa sediada em Lisboa e que está cheia de planos para os próximos tempos. Pois bem, o segundo já está disponível. Trata-se da gravação dum concerto único entre duas figuras do underground português: Manuel Mota (Curia) e Afonso Simões (Gala Drop). Limitada a 100 cópias e com artwork sempre diferente, o Dromos002 pode e deve ser encomendado aqui: Dromos Records

A Burn Carol

Ainda estou a conhecer os TrYangle, mas sendo o João Paulo Ferreira um companheiro de diversos projectos, partilho aqui convosco o excelente trabalho dele, do André Guiomar e do André Luís na realização deste video:

Fantas sem coração

Aprecio imenso o facto de termos um festival desta dimensão na nossa cidade, aprecio, mesmo que por ano não me vejam em mais do que um ou dois filmes. O Fantástico não me diz nada, para mim o Fantasporto vale sobretudo para ver na tela filmes que de outra forma não os veria. Este ano apanhei o do Rohmer, não fui a tempo do Buñuel. Vi também o vencedor do melhor filme e é exactamente aqui que começa a minha crítica: como é que um filme como o Heartless ganha o prémio de melhor filme? O filme estão tão cheio de lugares comuns que até faz impressão, os outros candidatos tinham que ser realmente inferiores. Que credibilidade passa o festival lá para fora? É que não basta estar CONSTANTEMENTE a falar de subsídios, do Rivoliféria, etc etc etc. Não, acho que esse paleio, por muita razão que tenham, está gasto e já ninguém quer saber. E qual era a ideia de pôr o Rui Veloso a discursar? Senhores, sugiro que comecem por organizar a casa. Primeiro contratem sangue novo, há aí muita malta nova com talento e vontade de fazer muito e bem; melhorem e muito o aspecto do festival (site horrível e desactualizado, era ver a bilheteira cheia de remendos feito recados, muppies caídos...). E como se podem considerar um festival internacional se em filmes coreanos só têm legendas em português? Era ver a estrangeirada a sair ao fim de cinco minutos, já para não falar que aquelas legendas cá em baixo fora da tela onde um um gajo apanhando um metro e noventa à frente não vê nada. Mais, o meu bilhete do filme do Eric tinha um erro: É genou e não genau!!
Não estou a ser picuinhas, quero que o Fantas seja um grande festival de cinema. Repito, o discurso que os outros têm isto e nós nada não chega, é preciso concentrarem-se na essência do que é o festival: o cinema.
Termino reencaminhando-vos para a cobertura que o acordes fez: link

Volta Gabriel Alves

Eu não quero dar sugestões que contribuam para o aumento do desemprego, mas com MEOs e ZONs e as infinitas opções que os seus telecomandos permitem será que não inventam um botão que me dê o prazer de desligar os comentários dos jogos de futebol? Era tão porreiro estar descansadinho no sofá a assistir a uma futebolada só com o som do estádio, é que já não há pachorra para treinadores de bancada, imparcialidade, burrice, publicidade aos conteúdos do canal em pleno jogo... Volta Gabriel Alves, volta!

Lads parte 2

Há dias pedi sugestões com sotaque britânico, mas a banda que acabou por rodar quase em loop ninguém sugeriu: Kasabian. Lembro-me que há uns anos espreitei o debut, falava-se muito, mas este último West Ryder Pauper Lunatic Asylum era aquilo que estava a precisar: algo fresco (para os meus ouvidos) e descomprometido. Sente-se a descendência duns Stone Roses, o pop-rock abusa da electrónica nos momentos que precisa e…funciona (electro-rock psicadélico?). Para a semana talvez esteja farto, mas por agora alguns destes temas são a perfeita entrada na Primavera.

Robert A. A. Lowe

Este senhor que a Amplificasom tratou de preparar o ritual no Porto, expôs alguns desenhos em Brooklyn (juntamente com Rose Lazar) alargando assim a acção do projecto Gyromancy (já preparado livro+mini-cd). O duo edita também o LP "Eclipses". Pelo que consta, uma vertente mais Kraut daquilo que já se conhece dos drones de Lichens.

Podem ouvir o tema "Fantomoj de la Vitro Domo" - Robert A. A. Lowe & Rose Lazar.

O novo álbum dos MGMT

Parece que a coisa correu mal, ou de uma maneira estranha pelo menos... aparentemente o álbum começou a aparecer na net para download e então, os rapazes decidiram que mais valia porem as faixas todas (e na íntegra) na sua página.

Não dá para fazer download, mas podem ouvir-se lá no tasco deles. Disseram eles o seguinte:

"Hey everybody, the album leaked, and we wanted you to be able to hear it from us. We wanted to offer it as a free download but that didn't make sense to anyone but us"

Pois... imagino que a editora, apesar de tudo, não queira disponibilizar downloads gratuitos só porque sim - e até se compreende.

Primeiras impressões assim de repente (que estou no emprego o que não propicia uma audição muito detalhada): nada mau. Menos trippy diria eu, com uns certos ar de surf music, outros mais pop clássica e, acima de tudo muito coeso como álbum.
A psicadélia mais radical ficou um pouco pelo caminho parece.

Não me saltou assim nenhum single material de greatest hit de repente, mas pode só ter escapado... a tal audição mais detalhada logo o dirá.

No geral, engraçado-a-caminho-do-muito-engraçado.

Eu gostei muito do primeiro álbum e embora exista sempre aquele stress das expectativas quanto ao segundo álbum de qualquer banda, acho que até se aguentaram bem.

21 março, 2010

Psychic Ills atiçam a outra dimensão

"Astral Occurrence" é o regresso dos Psychic Ills aos discos. Esperam-se devaneios psicadélicos de qualidade. Se alguém já ouviu que se manifeste.
Novos temas levitam no myspace da banda.

Einstürzende Neubauten ao peito

Mais uma lista - Tiny Mix Tapes

Lista

20 março, 2010

A matter of perception


Um acto criativo envolve acção, movimento, inquietude. É uma alteração em relação a um estado prévio, uma manipulação e um câmbio de conotações e significados.
Ao observarmos esta situação, podemos estabelecer um paralelismo com práticas litúrgicas, por exemplo. Senão vejamos como é comum ás práticas litúrgicas atribuir significados, alterar designações ou de fazer apropriações, muitas vezes usando o banal e assim mudando a nossa percepção sobre ele.
Se usarmos como exemplo as liturgias católicas, podemos verificar isto nos simbolismos atribuídos ao pão e ao vinho, que durante a liturgia são transformados em corpo e sangue de Cristo. Da mesma forma, temos em algumas práticas de incisão cutânea em tribos africanas onde marcas especificas ganham uma conotação mágica ou de poder através do significado que lhe é atribuído.

Desta forma, o fenómeno da apropriação é uma via de modelar a apreensão do real destinada ao interveniente na acção litúrgica, que desde logo aceita esta rotação semântica. O participante na acção litúrgica, assim como o observador ou publico da obra de arte ou acção criativa está consciente deste cambio de conotações e significados e manipulações matéricas, aceitando-o dado o contexto onde está inserido.
È neste ponto em que falamos de um câmbio de semântica, num fluxo de significados, que podemos estabelecer uma comparação entre as noções de apolínio e dionisíaco. Enquanto que o apolínio representa uma clareza de discurso, uma valorização do ego e da individualidade, ou num discurso mais simbólico, a luz, por outro lado, Dionísio será o deus da escuridão onde o ego se perde e se funde com a massa, onde todas as coisas fluem e as noções e contextos se confundem e se misturam.

Neste entendimento, o artista pode ser encarado como uma espécie de sacerdote ou xamã, como um condutor da acção que vê o seu gesto, o gesto criador, elevado em termos de valor.
Temos inúmeros exemplos desta situação em artistas plásticos: Joseph Beuys, Jackson Pollock, Ana Mendieta, Hermann Nitsch, Gunter Brüs, só para citar alguns.
Podemos afirmar que o artista é um condutor de símbolos, conotações e emoções.

Mas do gesto e da acção surge sempre o resíduo, o produto, o rasto.
E é aqui que me quero prender para chegar ao objectivo deste texto.
O resíduo litúrgico não é desprovido de importância, mas sim elevado a relíquia, tal como os objectos ou registos fotográficos e sonoros de uma performance de Hermann Nitsch por exemplo, que são posteriormente apresentados ao público, carregados de uma energia simbólica avassaladora.

Aqui chegamos aos Halo Manash, colectivo finlandês que explora os meandros litúrgicos e ritualistas da musica ambiental. Vou-me focar essencialmente nos dois últimos discos: “Language of Red Goats” e “Am Kha Astrie”.
Ambos os discos são registos de algo muito superior à mera elaboração de música. Eles são registos de uma acção, repletos de espacialidade e movimento. São relíquias de acções xamânicas, onde cada som tem a capacidade de nos transportar para um espaço irreal, fora do nosso plano físico.
São registos minimais, onde cada som vale por si e tem que respirar. Sente-se o pulsar da respiração, os ecos modelados pelo local da liturgia, pela cadência com que surgem novos elementos ou os antigos se repetem.

São desde logo trabalhos onde se requer um determinado estado de espírito e onde não podemos cair no erro de os ouvir enquanto música ambiente. Estamos perante modelações e transformações de gravações de campo tornadas abstracta, onde o contraste é atingido apenas momentaneamente e sem padronizações. Será talvez o equivalente visual a uma tela de Rothko, onde o minimalismo da composição é superado a partir do momento é que tomamos consciência de outros valores matéricos. O mesmo se passa aqui. É necessário estar consciente que esta não é uma audição fácil e que estamos perante algo muito maior do que aquilo que aparenta à partida. Ou não fosse um disco que reflecte uma realidade de introspecção, ritualidade, liturgia e ascensão.

Agora pode muito bem vir a dúvida: qual a veracidade do que está por trás do disco? Será ele realmente uma prova ou relíquia de uma acção xamânica, ou apenas um engodo ou recriação de algo que nunca existiu?
Respondo com uma pergunta: isso é relevante? Serão as relíquias espalhadas por esse mundo fora verdadeiras? A “verdade” existe se quisermos aceitar os factos e deixar-nos induzir pelo poder da sugestão. A experiencia de Halo Manash não poderia ser mais “verdadeira”.

19 março, 2010

Teiwaz - Total War (NON)

«Do you want total war
Turn man into a beast once more?
Do you want to rise and kill
To show the world an iron will?
Do you want total war Throw out Christ and bring back Thor?
Do you want total war?
Do you want total war?
Do you want to stand and fight
To rip asunder this pallid night?
To smite your foes that they might die
To splatter blood across the sky?(...)»

No outro dia, no concerto de Wolfskin, Plateau Omega e Terra Oca (que foram uns excelentes substitutos de última hora para cobrir a falha do Stalker Vitki) estava o meu amiguinho João da Extremocidente com a sua habitual mini-banca de vinis, cd's e general goodiness (para quem gosta de industrial, noise e afins pelo menos) e reparei que, entre muitas outras coisas, tinha o "Receive the Flame" dos NON, do qual eu tenho (tinha) a edição em cd.

Feliz acaso do destino, ele tinha dois vinis mas não tinha a edição em cd e propôs-me a troca que prontamente aceitei: trocar o meu cd por um dos vinis (!).

Este álbum, não sendo dos melhores de NON para mim, é um excelente registo de NON num período muito interessante em que o Boyd Rice colaborava com o Tony Wakeford (Sol Invictus), com a Rose McDowall (Strawberry Switchblade, Current 93) e com o Michael Moynihan (Coup de Grâce e Blood Axis), sendo as oito primeiras faixas uma gravação do concerto em Osaka.

Mau som, boas malhas.

Este album tem uma interpretação ao vivo do que se pode chamar o greatest hit dos NON, o Total War.

É um greatest hit se calhar pelos motivos errados - pela sua conotação com o ínfame discurso da Totaler Krieg proferido pelo Goebbels, e porque a sua letra, de forte inspiração "Might is Right", rapidamente dá azo a interpretações mais ou menos cavernícolas.

Apesar de tudo, a música remete para um estado de convulsão e querela que realmente ilustra bem a runa do dia.

A runa Teiwaz (Tyr) é a do deus com o mesmo nome; este deus é uma figura interessante da mitologia nórdica na medida em que a sua etimologia o apresenta como um dos originais (ou iniciais) deuses do céu dos primitivos (ver o indo-europeu deywos para "ser celeste" que dá origem ao "deus" latino ou ao "devas" do sânscrito) apesar de no panteão nórdico, pelo menos desde que a literatura fala dele, este tenha sido relegado para um papel secundário ocupando Odhin o seu lugar como chefão da malta e, subsequentemente da guerra.

Ele é o deus da guerra de facto.

Em particular dos duelos, que eram uma práctica comum na antiguidade, usualmente entre os reis, os chefes ou os campeões da tribo, encetados antes de começar a grande batalha que envolvia os demais.

Na Edda temos um episódio que relata como os deuses queriam aprisionar o lobo Fenriz por este andar a causar estragar e a semear o caos um pouco por todo o lado; agora, sendo o danado lupino um filho do deus Loki (e mais tarde, um key player do Raganarokr) a tarefa não se afigurou fácil na medida em que este tinha uma desconfiança natural (e fundada) relativamente aos Ases.

Estes asseguram-lhe que só lhe querem colocar um adorno (na verdade, uma espécie de trela mágica feita por duendes que o aprisionaria para todo o sempre) mas o bicho não vai nisso e é nessa altura que Tyr, demonstrando o seu grande sentido de nobreza, abnegação e justiça, afiança que ninguém lhe vai fazer mal e, como garantia, coloca a sua mão direita na boca da fera.

Claro está, ficou sem ela assim que a criatura se apercebeu que tinha sido enganada.

Este gesto terá sido determinante (digo eu) para que Tyr tenha igualmente assumido o carácter de deus da justiça, sendo que era a ele que se recorria em caso de dificuldade/disputa legal e era no seu dia (a terça-feira - tuesday=tiu day) que se realizavam as assembleias (things ou althings).

Gosto particularmente desta runa, de tal modo que é uma das que tenho tatuadas na minha pessoa.

Enquanto practicante de Kendo, o Bushido é uma coisa muito importante para mim e esta runa representa-o lindamente de um modo muito sintético.
As sete virtudes do Bushido (a rectidão, a coragem, a benevolência, o respeito, a honestidade, a honra e a lealdade) parecem ter sido desenvolvidas a pensar neste deus em particular.

Ou então, em sociedades guerreiras, é mesmo importante desenvolver códigos de conduta assentes em honra e lealdade senão é o caos ;)

Para quem não conhece NON: tentem ouvir a "Embers" para algo mais clássico, ou o recente "Children of the Black Sun".

Tópico só para miúdas giras

Já todos conhecemos o excelente trabalho gráfico de Seldon Hunt, banda que é banda tem pelo menos um álbum ou poster da sua autoria. Mas Seldon não se fica por aí e acaba de se aventurar nos trapos.
Miúdas: façam o favor de surpreender os vossos hómes, ok?