31 agosto, 2010

Rapidinhas

Demons - Life Destroyer box [AA Records 2007]
Sou fã do trabalho do Nate Young, sobretudo como elemento dos Wolf Eyes, mas se acompanhasse tudo o que faz acabaria por perder o entusiasmo. Neste projecto com Steve Kenney (Hatred, Isis & Werewolves), a dupla explora sintetizadores partidos e meio avariados para criar um drone também ele meio avariado (elogio). Dizem que ao vivo é que é…
Fukpig - Belief Is The Death Of Intelligence [Feto 2010]
Que jarda! Apanhar-me a ouvir grindcore é um momento raro, mas raro também me parece ser este álbum dentro do espectro que é. É sujo, é duro, é rabugento e muito acessível ao mesmo tempo. Para fãs de Nasum, Mistress, Napalm Death… E todas as bandas da vossa colecção. Sim, todas! Um gajo com bom gosto vai reconhecer que este é um álbum do coiso. Ah, e não aconselhado a meninos!!
Jesu & Fog – Kissing Kin 7’’ [Hidden Hive 2010]
A Hidden Hive anda numa de juntar bandas/ músicos à lá In the Fishtank. O casamento aqui é perfeito, as vozes de Fog acariciam as guitarras típicas de Broadrick levando as suas composições para outro nível. Imaginem Jesu para fazer o amor, pena não ter mais que oito minutos. Doomgaze!
Kevin Drumm - Sheer Hellish Miasma [Mego 2002]
Enquanto me preparo mentalmente para devorar a caixa – Necro Acoustic - que acabou de ser editada, e porque o Drumm apesar de mencionado aqui e acolá nunca teve uma crítica (salvo seja) aqui no tasco, rodei este disco recentemente numa curta viagem de trabalho para me relembrar do essencial que é em qualquer prateleira. Apesar de outros grandes registos na sua obra, é aqui que encontramos o seu trabalho mais completo. Tal como o nome sugere – e por aí fora poucos são aqueles baptizados com o nome ideal – uma autêntica emanação pura e infernal. Repito: essencial!
Khyam Allami & Andrea Piccioni - Sound of Disquiet EP [2010]
Nasceu em Damasco na Síria em ‘81, a sua família é iraquiana e vive em Londres onde foi levado pelos pais aos 9 anos de idade. Nunca esqueceu as suas raízes, mesmo antes de emigrar já sentia o fascínio da sua cultura e hoje em dia dedica o seu tempo à investigação sobre a música no Médio Oriente e ao seu alaúde. Khyam Allami vai dar que falar e estes dois temas com o percussionista italiano Andrea Piccioni estão lindíssimos. É uma questão de mente aberta, de disponibilidade. Saquem-no gratuitamente no próprio site do Khyam.
K-X-P - K-X-P [Smalltown Supersound 2010]
Trio finlandês numa espécie de kraut ora num ritmo contagiante ora numa onda mais cinemática. Tem os seus momentos bons - 18 Hours (of love) por exemplo – e chega a divertir, mas assim que o álbum acaba fica a sensação que algo importante está a faltar. É o debut, talvez no próximo.

Sakineh Mohammadi Ashtiani

"The Middle East is one place for men and an entirely different place for women."
in Unveiling the Truth

30 agosto, 2010

Amplificasom apresenta: Eagle Twin + Pombagira

EAGLE TWIN + POMBAGIRA
PORTO-RIO
2 DE NOVEMBRO, 22H
8€

Part Chimp: faltam duas semanas

"Ficamos com a ideia de que os Part Chimp se estão a cagar para os anjos. A convicção demonstrada é a mesma de quem não hesitaria em mijar para cima dos membros de um júri maldizente e absurdamente peremptório. Será longo e árdua a espera por novidades desta rapaziada. Tyler Durden teria adorado sabotar o progresso ao som de Chart Pimp."

Miguel Arsénio in Bodyspace

25 agosto, 2010

Amplificasom apresenta: MASTER MUSICIANS OF BUKKAKE

MASTER MUSICIANS OF BUKKAKE
PASSOS MANUEL
19 DE OUTUBRO, 22H
10€

Palavras para quê? É o concerto do ano!!! 7 elementos em palco de diversas bandas como os Earth, Grails, Asva, Burning Witch a criar um som único, não há outra banda assim.

Partilharemos mais info daqui para a frente, nós próprios ainda não acreditamos que vamos ter este projecto no Porto. Quem quiser garantir o lugar, primeiro e último nome para amplificasomATgmail.com

F de Fotografia

Dia 19 foi o dia mundial da Fotografia, uma das artes que mais aprecio mas pouco domino técnica e culturalmente. Tenho para mim algumas referências, alguns nomes que me deleito a apreciar os seus trabalhos, mas peço-vos que partilhem nomes e fotografias que vos são marcantes. Em cima, para juntar ambas as artes, uma foto de Martyna Adela Dzienka que deu origem a um dos melhores artworks deste ano.

Product placement

Sempre que vejo uma marca/ logo num filme/ série fico a pensar se será negócio – Product Placement – ou livre vontade do realizador/ argumentista. O Homem que sabia demasiado explora o tema neste tópico mas continuo confuso com o que/ não engloba.

Será que todos os produtos que vemos nos filmes ou séries fazem parte do Product Placement? Terá a Apple pago para que Dexter passe a vida a navegar num Macbook Pro? Sofia Coppola terá optado rodar Lost in Translation em Tóquio por causa do whisky Suntory? Terá a Continental Airlines pago para que Jack e companhia tenham sofrido o acidente num dos aviões da sua frota? Neste caso, não seria prejudicial à marca ou apesar da explosão mais famosa dos últimos tempos os americanos querem mesmo viajar na companhia área dos seus ídolos de Lost? E a Lucky Strike a Don Draper? E cada vez que alguém pede ou bebe uma Coca Cola/ atende uma chamada no seu iPhone? Acredito que sim…

Mas terão os condóminos da Torres Blancas (Madrid) pago a Jarmusch para que o Lone Man passasse os seus dias lá? Seria uma boa campanha imobiliária, mas não creio. E terá a Too Pure pago para que as extintas Electrelane fossem mencionadas no recente Io Sono L’Amore? Qual seria o objectivo? Não creio, nem mesmo quando vejo a personagem de Seth Rogen a usar uma tshirt dos Sonic Youth no “Virgem aos 40 anos”. E no maravilhoso Alta Fidelidade, por exemplo, seria impossível não acreditar na genuinidade do texto e achar que todas as referências musicais seriam product placements.

Presumir que cada pormenor seja premeditado e negociado é demais para mim, a vontade artística de quem os realiza e produz também tem que contar. Que vos parece?

24 agosto, 2010

Amplificasom apresenta: PART CHIMP

PART CHIMP
13 de SETEMBRO
O MEU MERCEDES
22H
5€


Ao terceiro disco, os londrinos PART CHIMP estreiam-se finalmente em Portugal com uma data única no Porto. É esperar uma noite de róque daquelas fodidas, bem fodidas, com alto som fodido. Estou a evitar não usar a palavra fodido mas não creio que seja possível, SÃO OS PART CHIMP!!!
Se (ainda) não os conhecem, imaginem um cruzamento entre os Sonic Youth e os Lightning Bolt com pitadas de My Bloody Valentine. Os Mogwai e a sua Rock Action Records editam os seus álbuns (o próprio John Cummings tem produzido os discos), John Peel convidou-os para as suas Sessions... E sugiro um álbum, o fabunoiso I Am Come.
Estavamos a tentar desde 2007 e é este o primeiro concerto da reentré (já lá vão três meses pós Shellac) e o único a acontecer em Setembro via Amplificasom. Dia 13 no bar mais fixe da Ribeira do Porto. Contámos convosco!!!

23 agosto, 2010

Saudades dos eventos AMPLIFICASOM?

Amanhã anunciaremos a reentré!!!!!!!!!!!!!!

Little boxes








Earth House
Byoungsoo Cho
Coreia
2009

Árvore

“Quando abatiam uma árvore, os lenhadores bávaros tiravam por alguns momentos o gorro e pediam a Deus que lhe concedesse o eterno descanso. Há uma religiosidade da madeira; o seu florescer e o seu envelhecer fazem-nos sentir irmanados com as árvores.”

in "Danúbio" de Claudio Magris

eBay

Durante o fim-de-semana recebi um mail do eBay a dar-me os parabéns pelo meu quarto aniversário como membro do site de leilões mais famoso do mundo. Nunca fiz muitos negócios por lá, não se justifica estar constantemente a licitar e depois entrar em contacto com o vendedor e blá blá blá quando na verdade se compra discos bem baratos noutros sites. Sim, falo sobretudo de música, mas partilhem quais os vossos negócios que por lá fizeram e vos deixam orgulhosos.

Quando eu era pequenino...

Eugene S. Robinson (Oxbow e mais mil e um projectos)

19 agosto, 2010

Rapidinhas

Antony-Fennesz - Returnal 7'' [Mego 2010]
Segunda tentativa para ver se os Oneohtrix-novas-estrelas-da-Mego-Point-Never batem. Não está fácil, o álbum deles tem-me parecido desinteressante, mas a ajuda de Antony e Fennesz, ao darem voz e maquinaria nos seus respectivos temas, está a revelar-se convincente.
Boris & Ian Astbury - BXI EP [Southern Lord 2010]
Os Boris são uma banda ecleticamente fascinante, não há como não gostar. Ele é drones de uma hora, punkalhadas, psicadelismos, pseudo disco… Chegou a vez de, juntamente com o líder dos The Cult aka novo Jim Morrisson, darem numa de hard rock de estádio com direito a cover da própria banda de Astbury mas com Wata na voz. Resumindo, quatro temas bem porreiros que provam que nisto da música não há colaborações impossíveis.
Dead Fader - Corrupt My Examiner [3by3 2010]
Brokebeats pós-industrial e electrónica anoisada para fãs da cena "West London" até ao Mr. Oizo passando por umas pitadas de Ben Frost. Estranho? JKB dá-me razão: “It's playful but sick. Like a puppy with extremely sharp teeth".
Factory Floor – Lying/ A Wooden Box 10’’ [Blast First Petite 2010]
Pós-punk britânico apadrinhados por Stephen Morris (Joy Division/ New Order). Mas não, não é mais uma banda chatinha. Aqui ouve-se art-rock que chega a roçar o techno hipnótico minimalista e ao mesmo tempo é reminiscente de Glenn Branca e os fãs de Liars vão gostar. Fodido, não? Banda a ter debaixo de olhos. Meus e teus.
Full Blast - Black Hole [Atavistic 2009]
O free jazz é um estilo selvagem, quer-se selvagem, que se expresse livremente. Peter Brötzmann é o reflexo disso mesmo. Já não deve saber quantos discos editou/ participou, mas nunca cansa e este projecto/ mutação, no qual é acompanhado pelos brilhantemente rápidos e precisos Marino Pliakas and Michael Wertmüller, arrisca-se a ser um dos seus mais marcantes. E excitantes, isto excita! Dedico o primeiro tema a todos os metaleiros que usam óculos de Penafiel.

18 agosto, 2010

Bolsa de apostas: que bandas vão eles convidar?

Os Sunn O))) vão ser os curadores (e headliners) do próximo Roadburn, dia 15 de Abril é a data. Que vos parece? Eis as minhas apostas/ desejos:
- Earth
- Burzum
- Lotus Eaters
- Menace Ruine
- Aluk Todolo
- Godflesh
- Boris
- Xasthur
- Runhild Gammelsæter (solo)
- Khanate (a tão aguardada reunião)
- Sunn O))) Roadburn Ensemble com Daniel O'Sullivan, Z'EV, Justin Broadrick, Kristoffer Rygg, Julian Cope, Atilla, PITA/ Merzbow, Julian Priester/ Steve Moore...

Stanley Kubrick dixit

"A film is - or should be - more like music than like fiction. It should be a progression of moods and feelings. The theme, what's behind the emotion, the meaning, all that comes later."

17 agosto, 2010

Quando só temos o amor

O tópico sobre Beirut fez-me recuperar Jacques Brel e desde aí que a colectânea que por aqui mora não sai do primeiro tema. Quand On N'a Que L'amour está em loop...

Pulmão esquerdo

Que discaço, uma audição apenas foi o suficiente para ficar com a carteira mais leve. Ken Vandermark, ainda jovem e já com uma grande marca, nunca soou tão bem no sax (no clarinete dispenso); o Paal Nilssen-Love está em todos os discos free que tenho ouvido ultimamente, nunca se repete e aqui até está numa do róque; os dois guitarristas anarcopunks dos The Ex dão ao disco ainda mais personalidade e cacofonia… É incrível, se não havia dúvidas sobre a capacidade e talento destes músicos individualmente ou até em grupo (The Thing), a verdade é que nada garantia que funcionasse tão bem. É como se os Last Exit ainda hoje existissem e estivessem em constante evolução ao longo deste anos. E não, a comparação não é exagerada, encontro neste álbum todos os ingredientes para fazer dele um clássico. Mas se o que interessa é a actualidade, hoje é um dos melhores do género.

Os riffs de Jarmusch

De Neil Young aos Boris passando por Mulatu Astakte ou Earth, as escolhas sonoras do cineasta Jim Jarmusch revelam um bom gosto inigualável. O Sérgio, ex convidado do blog, alertou-me para mais uma saída do filme Broken Flowers: Se o filme já tinha Sleep e o mestre etíope acima referido, este detalhe - Prong e Danzig - ainda o torna mais delicioso.

14 agosto, 2010

Sharon Jones and The Dap-Kings

Provavelmente alguns de vocês já tiveram o privilégio de ver este conjunto de músicos ao vivo. No site da NPR podem sempre ouvir o concerto realizado em Austin este ano - inserido nos showcases do South by Southwest. Link

13 agosto, 2010

Matthew Woodson

Matthew Woodson é um designer com um estilo muito próprio, editoras como a Type ou marcas como a Puma sabem disso e já o contrataram para dar vida aos seus produtos. É um daqueles designers o qual imagino a criar um trabalho contínuo, uma BD por exemplo, em vez de objectos separados. Alguns dos meus preferidos:






Para mais tarde recordar…o quê?

Ainda voltando a Vagos, impressionante a quantidade de telemóveis e máquinas fotográficas no ar. Quem diz Vagos diz outro concerto qualquer, é uma das pragas da modernidade, do excesso de oferta, do consumo rápido e fácil. Desde que não me incomodem, eu nada tenho contra quem passa os concertos a filmar ou a fotografar. Podem ser coleccionadores, pode até ser um hobbie. Só me faz alguma comichão e até dou um exemplo recente que vivi nas férias: assim que cheguei a Chichén Itzá e à pirâmide de Kukulcán - um templo secular, lindíssimo e cheio de história - a primeira reacção dos turistas foi pegar nas suas máquinas/ telemóveis. Não entendo.. E que tal viver o momento apreciando a paisagem, as pessoas, as cores, os cheiros? Tantas fotos para mais tarde recordarem o quê? Aquilo que não se viu e sentiu?

VOA

Este ano foi diferente, estive quatro dias em trabalho no Vagos Open Air. Foi uma experiência enriquecedora estar no backstage dum festival desta dimensão, mas não vi um único concerto inteiro. Dos grandes Meshuggah, por exemplo, só três temas. Peço-vos, uma semana depois do melhor festival de metal de Verão, para partilharem as vossas opiniões e atirarem sugestões para o VOA 2011.

12 agosto, 2010

Circulasione Totale Orchestra


Domingo em Lisboa

11 agosto, 2010

Postais de Beirut

Pelos vistos, Beirut deu um dos concertos do Sudoeste para milhares de pessoas que inclusive sabiam as letras das canções. Eu confesso que às vezes não entendo os hypes. Corrijo: não é às vezes, eu basicamente não os entendo. Porquê Beirut e porque não outra coisa qualquer? Não interessa, não quero com isso tirar o mérito ao projecto de Zachary Condon, pelo contrário, é tão bom sinal...

Fico a pensar como é que um adolescente americano edita um Gulag Orkestar aos 20 anos de idade, disco esse que é uma autêntica viagem de comboio pela Europa de leste. Canções deliciosas e maturas, melodias cheirosas, a banda sonora ideal para um interail ali nos Balcãs.

Um ano depois, outro disco fantástico: The Flying Club Cup. Zach continua a deambular solitário por uma espécie de Europa perdida e aciganada subindo (de balão) até Paris não escondendo que a influência principal deste disco era Jacques Brel. Mais uma viagem, mais um disco riquíssimo e belo.

Espero novo álbum em breve, mas acima de tudo que regresse a PT, estou super curioso para ver como resulta ao vivo.

All I want is the best for our lives my dear
and you know my wishes are sincere
What's to say for the days I cannot bear

Barn Owl

Que bela descoberta… Barn Owl, duo de São Francisco. Música elegante, contemplativa e minimalista para fãs dos Earth até aos reminiscentes da música clássica indiana passando por uns KTL, Wolf Eyes, Growing, Grails, etc. Um duo não me batia tanto desde o Thaumogenesis dos Nadja e já tenho aqui o novo disco que vai sair em Setembro via Thrill Jockey. Sobre este The Conjurer e à falta de palavras, destaco dois comentários bem elucidativos da sua qualidade:

It’s as though the first layer of American settlers has been reactivated through the music and Barn Owl are transmitters.” – Julian Cope

“Touching on everything from Tibetan chanting to sludgy doom riffs, Barn Owl never produced a sound they couldn’t stretch out like taffy” – Rolling Stone

10 agosto, 2010

A PIDE em Vilar de Mouros

O Ponto Alternativo chama a atenção para o relatório da PIDE/ DGS sobre a edição de 1971 do Woodstock português, o festival Vilar de Mouros. Esta edição, que ao contrário do que se pensa não f0i a primeira, teve em Elton John o grande cabeça de cartaz. O seu cachet foi de 600 contos. Outros tempos, outras realidades. Vale a pena ler:

"Informação nº 226-C.I.(I)

Distribuição Presidência do Conselho, Ministério do interior, Ministério da Educação Nacional

Assunto: Festival de música “Pop” em Vilar de Mouros

A seguir se transcreve o texto de uma informação redigida por um nosso elemento informativo que assistiu ao “festival” em questão, que teve lugar nos dias 7 e 8 do corrente, a qual se reproduz na íntegra, para não alterar os detalhes que foram alvo do seu espírito de observação:

“Dias antes do festival, foram distribuídos, nas estradas do País e nas estradas espanholas de passagem de França para Portugal, panfletos pedindo aos automobilistas que dessem boleias aos indivíduos que iam ver o festival.

No 1º dia, o espectáculo começou às 18h00 e prolongou-se até às 4 da manhã.
Ao anoitecer, o organizador, um tal Barge, anunciou que tinham sido vendidos 20 mil bilhetes (a 50$00 cada).
Esperavam vender 50 mil bilhetes para cobrir as despesas, que seriam aproximadamente a 2.500 contos.
Diziam que tiveram de mandar vir o conjunto Manfred Mann de Inglaterra, mas parece que estava no Algarve, e por isso, a despesa com eles não foi tão grande como parecia.

Um dos cantores, Elton John, causou desde o começo má impressão, com os seus modos soberbos e as suas exigências: carro de luxo para as deslocações, quartos de luxo para os acompanhantes e guarda-costas, etc.
O recinto do festival era uma clareira cercada de eucaliptos, com um taipal à volta e uma grade de arame do lado do ribeiro.

Na noite de 7 estavam muitos milhares de pessoas e muita gente dormiu ali mesmo, embrulhada em cobertores e na maior promiscuidade.
Entre outros havia:
crianças de olhar parado indiferentes a tudo
grupos de homens, de mão na mão, a dançar de roda
um rapaz deitado, com as calças abaixadas no trazeiro
um sujeito tão drogado que teve de ser levado em braços, com rigidez nos músculos
relações sexuais entre 2 pares, todos debaixo do mesmo cobertor na zona mais iluminada
sujeitos que corriam aos gritos para todos os lados
bichas enormes a comprar laranjadas e esperando a vez nas retretes (havia 7 ou 8 provisórias) mas apesar disso, houve quem se aliviasse no recinto do espectáculo.
porcaria de todo o género no chão (restos de comida, lama, urina) e pessoas deitadas nas proximidades

Viam-se algumas bandeiras. Uma vermelha com uma mão amarela aberta no meio (um dos símbolos usados na América pelos anarquistas); outra branca, com a inscrição “somos do Porto” com raios a vermelho e uma estrela preta.

A população da aldeia, e de toda a região, até Viana do Castelo, a uns 30 km de distância, estava revoltada contra os “cabeludos” e alguns até gritavam de longe ao passar “vai trabalhar”. Foram vistos alguns a comer com as mãos e a limparem os dedos à cabeleira.
Viam-se cenas indecentes na via pública, atrás dos arbustos e à beira da estrada.

Em Viana do Castelo dizia-se que os “hippies” tinham comprado agulhas e seringas nas farmácias da cidade.
Havia muitos estudantes de Coimbra, e outros que talvez fossem de Lisboa ou do Porto. Alguns passaram a noite em Viana do Castelo em pensões, e viam-se alguns de muito mau aspecto, parece que vindos de Lisboa, que ficaram numa pensão.

Houve gritos de Angola é… (qualquer coisa) durante a actuação do conjunto Manfred Mann (de que faz parte um comunista declarado, crê-se que chamado Hugg).
Fora do recinto, junto do rio e de uma capela, havia muitas tendas montadas e gente a dormir encostada a árvores ou muros e embrulhada em cobertores.
Houve grande confusão junto às portas de entrada.
Havia quatro bilheteiras em funcionamento permanente e muito trânsito.

Toda aquela multidão de famintos, sem recursos para adquirir géneros alimenticios indispensáveis, como se de uma praga de gafanhotos se tratasse, se lançou sobre as hortas próximas colhendo batatas e outros produtos hortícolas, causando assim, grandes contrariedades aos seus proprietários, muitos deles de débeis recursos económicos.

26-8-71"

Flying Lotus - Cosmogramma

Agora que já passaram algumas semanas desde que o disco de Flying Lotus começou a rodar, ainda há muito para descobrir, assimilar... Se por um lado parece que entramos num buraco negro com montes de pequenos sons a colidir, por outro sabemos que aqui se inscreve um tipo de espiritualidade negra ao que não parece tão disparatado invocar nomes como o de Alice Coltrane como influência (outras coordenadas poderão ser Aphex Twin, Burial ou até mesmo Bohren & der Club of Gore). Para ler a entrevista realizada pela revista Fact. Mas sobretudo gostava que me dissessem o que acham de Cosmogramma - despertou ódios ou paixões? Aqui ainda preciso de tempo...

09 agosto, 2010

Curse ov Dialect



Uma verdade universal mais ou menos aceite; O mundo continuará sempre a girar.
Curse ov Dialect giram com o mundo e não param para escolher cores ou credos.
Num constante movimento captam as vibrações do mundo e numa bandeja de Hip-Hop preparam o estrugido agridoce que nos faz abanar a cabeça. Se o vosso corpo abanar descontrolado ao sabor do tufão multicultural é porque foram aceites e a alma está em sintonia com a Natureza.

Kiss Kiss Bank Bank


Kiss Kiss Bank Bank é um site que permite aos utilizadores investirem nos artistas que gostam e permite fazerem parte do sucesso dos mesmos. Uma contribuição mínima de 10euros faz com que haja logo uma participação. Os utilizadores poderão mesmo vir a ser contactados para contribuírem nas decisões a tomar pelas bandas, poderão também deslocar o dinheiro que investiram ou simplesmente desistir do apoio realizado. É cada vez mais importante a participação pública no sucesso dos artistas e esta pode ser feita de várias formas, seja a publicitar um concerto ou a financiar o lançamento de um disco. Várias ferramentas online vão surgindo na senda desta participação.

Sasu Ripatti

Também conhecido nos meandros musicais como Vladislav Delay, Luomo e Uusitalo. Lança este ano dois discos sob o nome Sistol, o primeiro em Agosto e o outro em Setembro. Quando alguém ouvir que se manifeste.

04 agosto, 2010

A Décima Terceira bebida



Um corpo andava à deriva pela multidão. As batidas de luz e som arrastavam-no de dançarino em dançarino. Encalhava num ou outro, debitando profecias aleatórias, inspiradas pela enorme quantidade de álcool que tinha ingerido. Euforia total. Abanava-se como podia, não tendo bem a certeza onde estaria o pé direito ou esquerdo. Tinha como referência o Dj, que no alto da sua torre de controlo, ordenava a multidão a manter-se em movimento. Era o seu Norte. A casa de banho ficava para Sul. Aproximou-se do balcão e pediu mais uma bebida. A gaja morena, cheia de brilhantes na cara e um decote que lhe indicava o Oeste, sorria artificialmente. Vasco olhava nos olhos da bartender, na esperança de uma troca de olhares mais significativa, um sinal para avançar. Nada. Um sorriso profissional apenas. Registou a décima segunda bebida no cartão. Décima segunda tentativa e sempre o mesmo sorriso.

- Estás a rir de que? - perguntou ao ruído.

Ela sorriu. Serviu-lhe a bebida. Vasco bebeu de um trago. Tentou devolver-lhe um sorriso babado de whisky, mas esta já trocava sorrisos com outro bêbado. Os ciúmes impulsionaram-no para Sul.

O chão inclinava cada vez mais e Vasco apoiava-se onde podia. A casa estava cheia e havia muito gado à espera de uma foda, mas aquela era diferente. A maré arrastou-o para a casa de banho de tal forma que furou a fila de gajos aflitos para mijar sem pedir licença. Estatelou-se contra o lavatório. A torneira apresentou-se como um enigma. Tocou-a em vários pontos, rodou manípulos invisíveis, bateu palmas e disse adeus na tentativa que saísse água - “Abre-te Sésamo! Merda de tecnologia”- Um somítico fio de água escorreu e ele soltou uma gargalhada triunfal. Vasco tentou juntar o que podia na concha que formou com as mãos. Não era suficiente para beber. Esfregou as mãos na cara. Cambaleou para trás. Tinha que mijar. Os urinóis estavam ocupados. Vasco insultou os ocupantes “Quero mijar! Bazem!”. “Tem calma sócio. Mija aí” aconselhou alguém entre risos. “No lavatório? É isso”.

Voltou à multidão. Mais uma bebida. A Oeste, o decote desaparecia e aparecia atrás de corpos que assaltavam o balcão. Já sabia de cor o caminho. Seguiu de olhos fechados impulsionado pela música. Furou até ao balcão, por entre cotoveladas e empurrões. Pousou triunfalmente o cartão amarrotado em cima da mesa -“Mais uma" - Uma loira roubou-lhe o cartão. Vasco arrancou-o da mão - “De ti não quero nada. Puta!” A loira sorriu, avançou para o próximo cliente. Vasco inclinou-se no balcão à procura da sua bartender privada. Viu-a ao fundo, atendendo um grupo de bêbados. O mesmo sorriso entregue a outros. Sentiu-se traído. Revoltado, voltou as costas ao balcão, furando por entre a muralha de bêbados em direcção à pista controlada pelo Dj. Gajas e gajos agarravam-no com um sorriso parvo na cara. Por entre a espuma de corpos via a bartender distribuindo sorrisos e álcool. O sangue fervia. Queria mais. Queria muito mais do que uma bebida. Tinha que ser mais forte. Uma luz emanava daquela mulher pondo a nu as almas perdidas que rodopiavam no vórtice sonoro. Era ela quem lhe iria servir a décima terceira bebida. Só podia ser ela. Seguiu a luz do decote, voltando a furar com violência por entre o exército que se acumulava no cerco ao balcão. Desbravava terreno como um cruzado em fúria. Mais duas ou três cotoveladas e ela irá reparar na sua valentia. Irá sorrir, desta vez a sério.

Estava já muito perto quando se sentiu a ser arrastado na direcção contrária. Alguém tinha reparado no seu heroísmo. Deslizava pela confusão por entre corpos que troçavam da sua derrota. Despediam-se pela última vez. Perdeste.

Viu as luzes da cidade entrar conflito com o céu estrelado. A silhueta da cidade pregada ao céu e um dragão devorando a lua. Perdeu-se no motim colorido que se misturava à sua volta. Sentiu as costas explodir quando bateu contra a calçada. Dois homens vestidos de preto ameaçavam-no "Não voltes a por aqui os pés!" Selaram o aviso com um pontapé no estômago.

Vasco levantou o corpo dorido enquanto cuspia sangue que tinha sido desviado do seu curso natural. Ainda tentou desafiar os agressores mas sentiu-se frágil. Decidiu afastar-se protegendo o orgulho com insultos vagos. Acabou. Cambaleava pela rua. Não se lembrava com quem tinha vindo ou com quem ia embora. Decidiu continuar a cambalear até que a memória se dignasse a aparecer para ajudar.

Encostou-se a uma parede, não aguentava mais. Deixou-se cair com os olhos nas nuvens que se juntavam para molhar tudo e todos. Vinha aí mau tempo. As nuvens contorciam-se esfrega
ndo-se umas nas outras. Distinguiu uma forma. Viu o dragão aconchegando-se nas nuvens que o assediavam. Procurou um rosto. Dois olhos que o fitavam, narinas fumegando. Um braço escamoso desceu dos céus. Estendeu-lhe um copo - "Bebe" - Bebeu a oferenda em goladas curtas sem tirar os olhos da mão que aguardava. Acabou de beber e devolveu o copo - "Obrigado" - Viu o braço subir em direcção ao colosso que pairava nas alturas. O dragão cheirou o copo e pareceu sorrir. As nuvens dissiparam-se e o dragão partiu, elegante, rumo ao desconhecido de onde tinha saído.

- Que linda figura Vasco! - disse uma voz feminina.

A bartender estava em pé, à sua frente, abanando a cabeça em sinal de reprovação. Vasco sorriu com sinceridade. Já não precisava de mais bebidas. Ela pertencia-lhe.

- Anda, vamos para casa... - disse com carinho - Levanta-te, vá...

Sentiu os braços dela a sua volta. Sentiu-se a levitar. Tentou beijar aquela boca que pairava no seu perímetro. Ali tão perto. Voltou a sentir as pedras da calçada nas costas.

- Estás maluco? Que é que se passa contigo? A noite toda a perseguir-me, a arranjar confusão. Que cena triste. Juro, se voltas a por aqui os pés... nem sei que te faça. Andas estúpido...a sério! Estás a passar dos limites.

Vasco levantou-se sem ajuda e agarrou-a pelos ombros com força. Ao tocar-lhe, uma explosão de sensações percorreu-lhe o corpo inflamando cada molécula. Gritou até os pulmões virarem do avesso e encherem-se de chamas. Sentiu os músculos prenderem e a cabeça a derreter. O fio que o mantinha ligado à vida rebentou e ele sentiu-se cair num abismo por tempos infinitos. Estava calmo. Uma sensação de prazer indescritível. Continuou a cair até perder os sentidos por completo.

Acordou. A cama era dele, o computador, a janela, o candeeiro. Era tudo dele. Estava em casa. Levantou-se. Sentia o corpo dorido e a cabeça a estalar. Que ressaca. Dirigiu-se a casa de banho, abriu a torneira e lavou a cara. De boxers foi à cozinha, na esperança que ainda houvesse Coca-Cola. Não há melhor remédio. Deu uma golada infinita soltando um arroto ainda mais infinito. Parecia não estar ninguém em casa. Decidiu fazer um zapping agarrado à Coca-Cola de litro e meio, mas viu o plano ser impedido pelo presépio que se apresentava na sala. A mãe sentada no sofá parecia desmaiada e os olhos esbugalhados, pareciam querer aproveitar a situação para fugir. O pai em pé discutia com dois senhores bem arranjados. "Bom dia" atirou com precaução. A mãe, notando a sua presença deu um salto do sofá e correu a abraça-lo - "A tua irmã... encontraram-na... Deus sabe o que lhe fizeram..." - O pai imediatamente correu a dar apoio à mulher que parecia desmaiar de novo. Vasco sentiu a casa a tremer. Tudo abanava, o chão inclinava, uma erecção crescia nos seus boxers. Ouviu o som das escamas a roçar no exterior do edifício. Viu um olho gigante espreitando pela janela. Viu o pai abraçado à mãe dizendo que tudo ia correr bem. Vasco sabia que enquanto aquele porco não lhe tirasse as mãos de cima nada ia correr bem. Piscou o olho ao dragão. Aquele filho da puta tinha que morrer. Aquela mulher frágil pertencia-lhe.