31 maio, 2010

Koboku Senju


Depois de uma mini-tour nos países nórdicos e uma breve passagem pelo Japão, foi a vez dos EUA receberem o quinteto dos japoneses Tetuzi Akiyama (guitarra) e Toshimaru Nakamura (mesa de mistura sem entradas) e dos noruegueses Martin Taxt (tuba), Eivind Lønning (trompete) e Espen Reinertsen (saxofone e flauta), denominado Koboku Senjo. O primeiro disco deste grupo saiu há um par de meses pela norueguesa Sofa Music e apresenta uma espécie de extensão do grupo formado há dois anos pelos mesmos músicos sem a presença de Nakamura.

O concerto em Filadélfia teve lugar na galeria Fleischer / Ollman, no primeiro andar de um edifício histórico bem no centro da cidade onde a maioria da actividade nocturna acontece.

O grupo oscila ora entre momentos mais melódicos (seja pela guitarra de Akiyama ou pela presença dos sopros) ora por outros mais abstractos que vão do pulsar do feedback da mesa de mistura de Nakamura e da percussão metálica dos sopros até a deambulações de textura e dinâmica. A presença “electrónica” de Nakamura, por comparação com o quarteto atrás mencionado e em contraste com a restante instrumentação acústica, traz um novo elemento de surpresa constante (muitas vezes a roçar o subversivo minando direcções que se constroem para talhar novos caminhos inesperados) para além de libertar os sopros, do seu papel de manipulação do timbre do todo, para outras aventuras. O concerto começou com um longo período onde saxofone e trompete criaram uma massa sonora hipnótica para ser repentinamente cortada pela distorção de feedback de Nakamura, o pulsar grave da tuba e os acordes soltos de Akiyama num dos momentos mais dinâmicos e rítmicos de toda a noite. A partir daí oscilou entre o mais próximo do silêncio e momentos mais ruidosos dando cada músico espaço aos restantes para introduzirem as suas ideias e sons. Notou-se uma atenção acrescida de cada músico relativamente aos outros, especialmente entre os norugueses e dos noruegueses para com os japoneses, procurando constantemente novas dicas para criar momentos de sinergia amplificada. Perto do final tudo se conjugou para uma extensão que lembrou ennio morricone e os westerns spaghetti, com os sopros a criarem uma melodia dramática, pano de fundo à guitarra slide de Akiyama. Em muitos momentos durante o concerto, tal como nesta extensão final, parecia que estavam em jogo elementos pré-compostos, mas uma conversa com os músicos no final indicou o contrário, tendo sido o concerto completamente improvisado.


Serve também este post para chamar, mais uma vez, a atenção para o grande guitarrista japonês Tetuzi Akiyama. Se o comentário da revista The Wire de há uns anos, onde se afirmava que o japonês estaria a “desafiar o título de guitarrista mais interessante do planeta”, poderá parecer excessivo, não há dúvidas que é um dos mais inventivos de sempre de tal instrumento.

Dos discos a solo destacam-se: “Relator” [2001], “Don’t Forget to Boogie” [2003] e “Route 13 to the Gates of Hell” [2005] e a monumental faixa da compilação “Wooden Guitar” [2003] onde se encontra ao lado de nomes como Jack Rose, Sir Richard Bishop e Steffen Basho-Junghans. A discografia colaborativa é imensa e atravessa várias abordagens. Se tivesse de escolher um só disco penso que escolheria “Till We Meet Again” [2005] em dueto com a electrónica percussiva de Jason Kahn – apesar de o disco não estar bem alinhado na sua totalidade, algumas das faixas encontram Akiyama no seu melhor.

Não esquecer também que Akiyama tem dois discos em editoras portuguesas: “Terrifying Street Trees” [2006] a solo na Esquilo; e “Moments of Falling Petals” [2009] em trio com Éden Carrasco e Leonel Kaplan na Dromos. Em Filadélfia falou-se novamente num regresso a Portugal, ainda este ano, após mais de dois anos de ausência – vamos a ver se as estrelas se alinham para tal.

Para terminar, Akiyama no seu mais destrutivo e ruidoso, num dueto com Michel Henritzi, recentemente em Portugal pelas mãos da Amplificasom. Este concerto saiu em disco com o nome “Broken Blues” [2007].



E com isto termino (da melhor maneira) as minhas transmissões do outro lado do atlântico e a minha colaboração online com a Amplificasom pelos próximos tempos.

O fim dos Isis pode não ser mau de todo

O fim de algumas bandas que nos deixaram marcas acabou por dar origem ao nascimento de projectos que hoje idolatramos tanto ao mais que os anteriores. Se pensarmos que GY!BE deu origem a A Silver Mt. Zion, Sleep a Om e High on Fire, Kyuss a Queens of the Stone Age então o fim dos Isis até pode nem ser mau (se bem que os próprios elementos já têm uma serie de projectos de qualidade, leia-se Jodis, Red Sparowes, Old Man Gloom, MGR, etc etc). Deixemos a banda de Oceanic de lado e dêem-me mais exemplos como os de cima.

29 maio, 2010

Birds & Frost



Fico-me por aqui após estes 2 meses bem passados, e deixo-vos o tema que mais rodou por aqui nos últimos meses, é um tema de Ben Frost feito para uma curta de Marc Silver. Provavelmente o conjunto mais belo de sempre (opinião demasiado pessoal para ser válida).

Até sempre e obrigado à amplificasom pela oportunidade,
adriano

28 maio, 2010

Que Rangda desilusão

Rangda - False Flag [Drag City 2010]
Os super grupos nem sempre resultam, mas depende sempre da perspectiva e disposição de cada ouvinte. Eu confesso que sou grande fã de Ben Chasny, Chris Corsano e Sir Richard Bishop, mas eles todos juntos no mesmo disco está-me a criar uma espécie de comichão impedindo-me de o ouvir mais e mais vezes até finalmente ter uma opinião final. Quer dizer, três tipos tão talentosos a fazer música não pode ser má, o defeito tem que ser meu, mas algo aqui não me está a saber bem. Já alguém ouviu estes Rangda?

Era uma vez um americano, um sueco e um alemão


Ken Vandermark, Mats Gustafsson e Peter Brötzmann. Roda por aqui o terceiro álbum deste trio de sopros, Call Before You Dig. É duplo, foi gravado ao vivo e em estúdio, tem 22 temas improvisados e está cheio de energia expressiva e poder melódico. Que grande Sonore!!!

27 maio, 2010

Kurt Kren


A arte marginal tem muito que se lhe diga. Há reflexões que nos atrapalham a lógica assim como questões que nem uma eternidade saberia responder. Se formos à memória da história sabemos que muitas culturas e raças foram excluídas simplesmente por serem diferentes e por não se encaixarem nos cânones vigentes.

O documentário “Reel bad Arabs: How Hollywood Vilifies a People” espreme bem esse assunto - os vilões dos filmes blockbuster de Hollywood assumem, frequentemente,  o papel dos personagens “sombra” (alusão à figura dos vilões dos filmes noir em que só se via metade do rosto): os italianos são os mafiosos, os árabes os terroristas e por aí adiante. Também é difícil aceitar o que é marginal.

A arte marginal tornou-se numa ameaça por não se prostituir em becos de esquina; ela é destemida, rebelando-se contra a propaganda, e não se escraviza. A Entertete Kunst (Degenerate art) é um dos exemplos maiores de como a arte pode instalar uma verdadeira ameaça.  A prostituição da arte ultrapassa a dignidade. Ainda assim ela tem o dom da premeditação imbuída de metáforas e ficção.

O austríaco Kurt Kren (1929-1998) é um exemplo puro dessa fidelidade. Curiosamente nasce de uma união entre dois povos em choque -  mãe alemã e  pai judeu. Na década de 50 iniciou a sua carreira nos filmes experimentais filmados em 8 mm, paralelamente à sua colaboração com Konrad Bayer cujos filmes perderam-se de vista. Sete anos depois começou a filmar em 16 mm. Talvez muitos dos vídeo artistas de hoje sem saberem da existência de Kurt Kren vão, talvez, encontrar, inconscientemente, referências ao seu trabalho. Kren ajudou-nos, certamente, a preparar para grupos como Survival Research Laboratories e  Modernos Primitivos. Os temas dos seus filmes foram objectos do quotidiano – paredes, árvores, pessoas, mas manipulada de acordo com a elaboração de diagramas e gráficos que mostraram uma sensibilidade da técnica e do conteúdo. Uma das suas primeiras obras 4/61: Walls, Positive and Negative, tal como o título sugere, consegue hipnotizar qualquer espectador com uma sequência de fotografias estroboscópicas alternada em ritmos, criando, per si, uma espécie de estado onírico. 

O que este artista tem de interessante são as imagens capazes de gritar música sem na realidade ela existir. Embora apareçam numa aparente sequência desordenada, as imagens regem-se por uma partitura criada por Kren. Todos os seus filmes são registados mediante a ordem cronológica, a data de criação e a duração, 10/65 Self-Mutilation (10/65 Selbstverstümmelung, 1965). Este filme não se trata de uma provocação frente a uma câmara. Vai além de uma performance literal. Podemos ver como as obras de Kren são actuais ainda hoje. Faz mais sentido vermos o filme sem música mas a verdade é que não incomoda ao som de Arvo Pärt.


Em contraste com a sua criação original, o vanguardista do cinema experimental viveu uma vida conturbada. A exibição dos seus primeiros filmes, na Áustria, foram vaiados pela audiência e muitas pessoas abandonaram as salas de projecção chocadas. Pediram a Kren para abandonar a sala e nunca mais voltar. Os seus filmes foram confiscados pela polícia em 68. Dois anos antes participou no simpósio da Arte Autodestrutiva de Londres. A partir de 68 Kren viveu fora da Aústria e viveu muito tempo nos Estados Unidos. Chegou a dormir no carro e trabalhou como segurança no Museum of Fine Arts de Houston. Em 89 regressou à Áustria.  Kren morreu em 98, mas continua a ser um marco na história do cinema experimental. 

Santos e pecadores

Barry Guy & Mats Gustafsson - Sinners, Rather than Saints [NoBusiness 2009]

Se existisse o tal céu e inferno que nos enfiam na cabeça desde pequenos, para qual “trabalhariam” vocês? Para a pacatez e sossego do anfiteatro de nosso senhor ou no calor do amigalhaço vermelho? Este álbum é tão cheio de contrastes que não poderia ter sido gravado nem num lado nem noutro, talvez na fila de espera enquanto S. Pedro não os atendia. Barry Guy - que no ano passado passou por cá com Evan Parker - é um contrabaixista riquíssimo criativamente mas com uma escola clássica, já Mats Gustafsson (sax) - que tocou cá na semana passada no Tentet do Brotz - é mais roque, mais explosão e pulmão. Essa fusão de escolas, estilos e até gerações deu origem a um disco rigoroso mas bonito tanto nos momentos duros como nos mais calmos. Obrigatório para quem gosta de improv e free europeu. Aliás, é pecado não o ouvir.

I Am Love



Recomenda-se vivamente que vão ver este filme. Com uma banda sonora notável de John Adams (apesar de durante o filme me soar constantemente a Steve Reich) que comanda toda a história.

Imperdível, nem que seja só pela Tilda Swinton, ou para tirar o açucar da boca do restante cinema que anda por aí.

Falar de Sun Ra também é falar de Phill Niblock


Após o tópico do Fabricio faz sentido mencionar o filme abstracto e dum preto & branco delicioso que Phill Niblock fez sobre Sun Ra. As imagens são raras e exclusivas, obrigatório para fãs do mestre ou até aproveitar como introdução ao trabalho cinéfilo de Niblock (que também é compositor e fotógrafo).

Como sabem, a Amplificasom está a agenciar um concerto em Vigo promovido pela Sinsal onde o mesmo terá lugar nuns jardins maravilhosos. Fiquem atentos e apontem no telemóvel: 17 de Julho.

Ser fã é sair do trabalho às 20h, arrancar para Vigo a 180, jantar uma empada a conduzir e ainda chegar a tempo de ver os enormes Shellac pela 2ª vez



Os concertos Sinsal são amor, obrigado Luís!

30th Century Man



Documentário sobre Scott Walker - 30th Century Man é uma amostra relevante da sombra que paira sobre a sua obra. Recomendando principalmente para quem não gosta da obra deste nome ímpar do experimentalismo (ou demência), que se tornou referência da grande maioria dos músicos actuais com "Tilt" e o mais recente "The Drift".

Que opinião têm da sua obra?

Shellac + Burma em fotos*









*Jorge Silva

Cromagnon

(não consegui resistir a mais um post hoje)

As sugestões de Sun Ra do Fabrício levaram-me ao site da ESPdisk o que por sua vez me levou a revisitar um dos objectos mais estranhos alguma vez editados nesta ou qualquer editora (o qual já não saía da prateleira há um par de anos): “Orgasm” [1968] dos Cromagnon.

Com uma mistura delirante entre absurdismo, atitude rock, subversão e uma impossível tentativa de combinar noise e proto-drone com os beach boys podemos ver os Cromagnon como percursores ou pioneiros de bandas como Nurse With Wound, Throbing Gristle, ou outros grupos do noise-rock mais actual como White Out ou Wolf Eyes mas também de toda a psych-freak-weird-folk (ou lá o que é). Um disco que desafia qualquer classificação. Notem outra vez que estamos a falar de 1968!

A primeira faixa do disco é um hino proto-metal, proto-noise-rock e sabe-se lá que mais – não podia abrir de outra forma (ouvir em volume máximo):



Tal hino de abertura é logo minado na faixa seguinte da forma mais dura e impensável – genial!:



Há de tudo até ao final. Acho alguma piada à forma como alguém descreveu o disco num site qualquer: “Gravação ao vivo num hospital psiquiátrico / Antes e depois dos electrochoques / Homo Sapiens / Homo Erectus / Homo Habilis / Dr. Jekyl / Mr. Hyde”. Uma viagem que poderá não ser para todos, mas que vale (muito) a pena.

26 maio, 2010

A parceria que nunca houve

Há quatro décadas morria Johnny Allen Hendrix. Nascido em Seattle, Jimi Hendrix (1942-1970) morreu cedo e deixou, inevitavelmente, várias indagações em aberto: o que teria feito dali para frente? Permaneceria, placidamente, tocando os mesmos ‘hits’ até hoje, preocupado apenas em ensacar pilhas de dinheiro, como os Rolling Stones (e tantos outros, claro)? Ou teria continuado desbravando sons e criando novos rumos artísticos?


Pensei em Hendrix relendo a autobiografia de Miles Davis ("Miles: The Autobiography". Ed. Touchstone, 1990, 441p.). E essa era uma parceria que prometia: Hendrix e Miles. No fim dos 60s, Miles vivia seu processo de 'eletrificação', estava altamente seduzido pelo som de Hendrix e, por meio de sua então namorada, Betty Mabry, conheceu e passou a conviver com o guitarrista. O trompetista conta que chegou a tocar com ele em sua casa, que tinham planos de gravar juntos etc, e que Hendrix estava antenado no jazz naqueles tempos:

“[Jimi] liked the way Coltrane played with all those sheets of sound, and he played the guitar in a similar way”. “He influenced me, and I influenced him, and that’s the way great music is always made.”

Em agosto de 1970, o trompetista se apresentou com seu grupo no festival Isle of Wight, na Inglaterra. Hendrix também estava por lá e combinaram de, finalmente, gravarem algo juntos: “He and I were supposed to get together in London after the concert to talk about an album we had finally decided to do together”. Depois de um desencontro em Londres, Miles vai excursionar na França, onde recebe um telefonema de Gil Evans, com quem marca de se encontrar em NY. Os dois se juntariam, então, a Hendrix em breve, para trabalharem em algo. “We were waiting for Jimi to come when we found out that he had died in London”, contou Davis. Infelizmente, ficamos sem o registro desse encontro. Nada de Miles e Hendrix.

Tentando descobrir se ao menos algo caseiro dos dois gênios havia vindo à tona _isso vive acontecendo, mas não foi o caso aqui_, me lembrei do single Doriella Du Fontaine.

Editado pela primeira vez em 1984, Doriella Du Fontaine traz Hendrix na guitarra, acompanhado de Lightnin’ Rod e Buddy Miles. Conta-se que o single é fruto de improvisações-sobras de estúdio de uma sessão do fim de 1969, que permaneceram, como muita coisa boa por aí, engavetadas e esquecidas por longo tempo. Foram resgatadas e remixadas por Lightnin’ Rod, vocalista que esteve nos primórdios do ‘Last Poets’. Não encontrei uma fonte que explicasse, claramente, o passo-a-passo de Doriella Du Fontaine. O que me pareceu mais crível foi a versão de que Lightnin’ Rod trabalhou e adicionou vocal encima da gravação feita originalmente por Jimi e Buddy. Por isso, alguns fãs mais ‘hardcore’ do guitarrista não gostam do álbum, o desautorizam: afinal, Jimi nunca escutou esse produto final. O que temos aqui é um som funkeado, com ar proto-rap gerado pelo canto-fala de Lightnin’ Rod (a letra é dele e conta a história de uma prostituta). O resultado é realmente instigante. De qualquer forma, há uma versão instrumental, que deve estar mais próxima do que foi captado originalmente.

Hendrix teria feito associações com o rap, a eletrônica? Com o jazz? Mergulharia fundo no blues? Continuaria uma referência no rock?

Ps: eu publiquei originalmente esse post no meu blog, Free Form, Free Jazz. Mas, como o pessoal que frequenta esse espaço gosta/conhece mais rock que os leitores de lá, resolvi reproduzi-lo por aqui. Quem não conhece e quiser ouvir o disco, basta passar no Free Form.

Sun Ra Arkestra


A Arkestra como devia ser sempre: no andar de cima de um bar da esquina simpático na sua terra “natal”, Filadélfia, rodeada de amigos e entusiastas. Festejou-se, na passada terça-feira, o 86º aniversário de Marshall Allen, o director interino da Sun Ra Arkestra há já 15 anos desde a partida para o espaço de Sun Ra em 1993 e a breve direcção de John Gilmore até 1995, com um concerto especial de mais de duas horas e meia. Não me considerando um melómano de Sun Ra (e muito menos da Arkestra pós-Ra) ou estando habituado a escrever sobre free-jazz prefiro não entrar por grandes escritos sobre concerto e deixar apenas algumas fotos. No entanto quero salientar que poucas bandas existirão com tanta alegria contagiante e energia em palco como esta Arkestra. E parece haver algo especial em ver músicos com mais de 60 anos a dançarem de forma louca em frente ao palco arrastando todo o público com eles. O mote que cai melhor à Arkestra vem mesmo de uma linha de uma música que está sempre presente nos seus concertos: “Be in tune, free your mind, be yourself, and watch the sunshine.”





Discos favoritos de Sun Ra ou da Arkestra, alguém? Eu pessoalmente gosto quando estão em modo mais exploratório e oblíquo, especialmente os discos “Solar-Myth Approach Vol. 1 & 2” [1971] e “Strange Strings” [1966]. Mas claro, quem não gosta dos super clássicos “Space is the Place” [1972] ou “Nuclear War”[1982]? Ficam estas duas músicas para fechar o post. “Space is the Place” em versão ao vivo – que apesar da má qualidade de som (mal se ouvem as três baterias / percussionistas e as várias camadas de sopros) capta grande parte da energia que é suposto ter. E a “Nucler War” na versão que se encontra em disco (como é que isto ainda não foi editado em versão remasterizada?)





A Arkestra esteve na Casa da Música em 2005 – com muita pena minha falhei o concerto. Alguém esteve lá? Como foi?

Rock-A-Rolla 26

A Rock-A-Rolla é uma revista Inglesa dedicada ao avant-rock, metal, noise, sonoridades experimentais e a todos os artistas que estejam de algum modo a estimular o mundo da música e a demolir fronteiras. É uma revista abrangente, que reúne uma excelente secção de notícias, artigos sobre música, entrevista e resenhas a discos e filmes, assim como nos faz chegar o que de mais excitante se passa nos palcos de Inglaterra e um pouco por todo o globo. Numa edição bi-mensal, totalmente a cores e com aspecto de coleccionáveis, a Rock-A-Rolla tem vindo a assegurar distribuição num número cada vez maior de países (Canadá, EUA, Japão, Austrália, e vários países da Europa). Em pouco mais de ano tornou-se numa das publicações mais faladas e elogiadas por todos aqueles que se interessam por música e seguem a sua evolução, tendo já adquirido estatuto de culto. Justin Broadrick, Melvins, Mike Patton, Sunn0)) + Boris, Dillinger Escape Plan, Earth, Isis e Mogwai foram alguns dos artistas escolhidos para capa da Rock-A-Rolla, pelo que podemos esperar novas escolhas impares e muitas surpresas fascinantes…
A Rock-a-rolla tem distribuição exclusiva em Portugal via Amplificasom.

Rock-A-Rolla 26
COVER STORY: MIKE PATTON. Frontman, composer, alt-metal icon, improviser, besuited crooner… Not content with releasing some of the most groundbreaking albums of the past two decades and touring the world with Faith No More, Patton turns his attention to 60’s Italian pop music with his latest project – Mondo Cane!

HARVEY MILK: “I never really enjoyed band practice. Do you want to study for an exam all the time, or just take the exam and get it over with?” The Milk tell us why they’re “barely an actual band” and talk latest album, A Small Turn of Human Kindness.

GODFLESH: Justin K Broadrick discusses the making of his seminal 1989 album, Streetcleaner, in our Classic Albums series.

EMERALDS: Cleveland kosmische kings talk synths, drone and their best record to date, Does It Look Like I’m Here?

TWILIGHT: Black metal/post-metal supergroup return with their sophomore album, Monument To Time End.

COLISEUM: Hardcore punks go rawk on House With A Curse!

PLUS: STARKWEATHER, CELESTE, CLERIC, KNUT, CRUCIAL BLAST, ONEOHTRIX POINT NEVER, plus live action: Roadburn 2010, Boredoms, Lou Reed’s Metal Machine Trio, Pavement, Silver Mt Zion, Earthless, Wooden Shjips, plus over 100 album reviews and much, much more!

Encomendas (até dia 2 de Junho!!!!!):
5€ em mão
6€ via CTT Azul/ Verde
amplificasom@gmail.com

25 maio, 2010

Can you hear me now?

Uma voz baixinha martelou o dia todo, "tens que ir, tens que ir, não os podes perder!"
Consegui resistir-lhe por umas boas horas.
O bunker de sempre, não me parecia o certo para a descarga e o bolso arejado não me dava margem.
Cruzei-me com eles já por duas vezes, e uma terceira está por dias.
Mas quero mais, e mais ao perto!
Ao cair da tarde, uma oferta das boas.
Só o sim é resposta!
Deal!
Chegámos cedito, queríamos sentir o cheiro do palco!
Vimo-lo mais subido, ao centro o kit de bateria vestido com uma redoma de acrílico.
Haverá palavra menos rock n' roll que acrílico?
Seria o bateras um animal possesso, do qual tivessem que nos defender?
Quatro senhores entradotes sobem ao palco. O de roupita de trekking na Serra de Sintra assalta o micro e retenho o seu "1, 2, 3, party!".
Apareceu só para nos dizer ao que iam, não volta ao palco.
O João não perde tempo, já traga na botelha do Red Label.
E eu estou com ele, pois então!
O senhor com as calças mais foleiras daqui a Tóquio é quem agora cospe ao micro, dispara a cartilha do pós-punk com a certeza de quem sabe da poda a rodos.
O pai da tua ex-namorada, aquele que te passou uns discos porreiros, desanca no Fender Jazzmaster mais coçado que as calças que mais amas.
O bateras tem afinal o ar daquele amigo que encontras sempre no pub e com quem acabas sempre por virar mais do que a tua conta.
Estes senhores fazem-me gritar de punho cerrado, letras que mal conheço.
Bailamos em Luxúria-Canibal mode e tragamos uma e outra vez.
A findar, atiram Revolver.
Atiram no alvo!
"Party", disse o gajo!
Pois sim, dissemos nós aos Burma.
Gramo o aconchego e o quentinho, mas a sala ardia!
Foda-se, os Shellac pisavam agora o palco desenrolando cabos e afins pré-gig.
O Albini com o seu ar de geek com um fato-macaco de cable-guy e o Todd com o ar mais esgazeado do mundo e arredores, que quadro!
Bob dá ares de lazy dude e batia uma soneca poucos minutos antes.
A guitarra de Albini corta qual naifa aguçada a cada riff, cada acorde de Bob no baixo é um punhetaço forte nos queixos a gritar knock-out. Todd toca com os pauzinhos ao contrário o tempo todo, só para nos desmanchar ainda mais!
Às tantas param, deixam-nos respirar um pouco e até fazer algumas perguntas.
Bob vai respondendo.
Às tantas, um popular pergunta se acham que alguém lhes fará uma boa pergunta.
Bob responde que não lhes interessa, que só param para que os instrumentos retomem o fôlego.
Albini diz que as perguntas são boas, que têm dado para boas respostas.
Pensamos que nos grama, mas voltam para nos arrear à valentona.
Quando quase não nos mexemos, deixam-nos ir.
Saímos bem amassados, qual casqueiro no forno-a-lenha da avó.
Da próxima, levo a redoma comigo!

(foto de João 'Party Animal' Ferreira)

Matt Elliott - Aveiro 28 Maio

Sexta, 28 Maio 2010 - 22:30h no Teatro Aveirense.

3 pérolas do tamanho da lua

Os dias não são fáceis, fiquem com 3 temas clássicos que de alguma forma me carregam as baterias (quer para limpar feridas de derrotas, quer a acompanhar um suposto vinho para celebrar conquistas ou simplesmente para acompanhar o suspiro quando o telefone deixa de tocar e o mail pingar).

NICK DRAKE (1969)


SCOTT WALKER
(1967)


SKIP JAMES (1931))


O que seria a vida sem músicas destas?

trash talk delivers

Um destes dias vais querer o teu barulhinho badalhoco de volta.
Um destes dias vais querer de volta as bandolas que to atiram assim como gostas, sem espinhas.
Um destes dias vais querer de volta o sangue, o cheiro a vómito e a corpos suados.
Vais querer sentir o chão colar debaixo dos teus pés com a cerveja que já derramaste.
Esse dia é hoje.
Agora ou foges ou nasces de novo.

Serralves em Festa 2010

Já está aí o programa para o próximo Serralves em festa (aqui) a ter lugar a 5 e 6 de Junho. O meu destaque vai todo para a comitiva de improvisadores do eixo Viena-Berlim que estará presente para vários concertos em várias formações, especialmente para Christof Kurzmann (pioneiro do laptop e da fusão de linguagens e estruturas da música pop com a música experimental), Kai Fagashinski (clarinetista, cara-metade dos Rebecca cujo disco derradeiro saiu pela Esquilo em 2008) e Martin Brandlmayr (baterista dos Radian e Trapist, ambos na Thrill Jockey).

Os vários músicos actuarão em diferentes formações das quais fazem parte. Recomenda-se: The Magic Id (clarinetes, guitarras e vozes - apesar de não ser particularmente adepto deste grupo alargado tem um dos discos recentes mais falados e curiosos devido ao seu objectivo de criar música pop com um background experimental onde os arranjos mais arrojados e exploratórios convivem com o habitual verso / refrão); Schnee (Kurzmann / Stangl; laptop e guitarra - com possíveis vozes convidadas; os grandes pioneiros da fusão da linguagem pop com a música experimental; o disco “Erstlive 002”, na americana Erstwhile, é um marco; estavam no papel há mais de dois anos como obrigatórios no eventual Festival Dínamo 2); The International Nothing (Fagaschinski / Thieke; clarinetes; toada minimalista com muito espaço para explorações tonais controladas). A presença de Margareth Kammerer (voz e guitarra) em alguns dos grupos (The Magic Id, Ruby Ruby Ruby e Margareth Kammerer Trio) vai trazer re-invenção da voz para o jazz “adaptada” a contextos mais experimentais. Mas há mais – ver o cartaz. Só ficou mesmo a faltar, de entre as combinações possíveis, aquele que é o meu grupo favorito, Kommando Raumschiff Zitrone (Kurzmann / Fagaschinski), cujo único disco é um dos melhores dos últimos anos nestas áreas da música improvisada.

Alguns links:

Christoff Kurzmann: http://www.myspace.com/charhizma
Martin Brandlmayr: http://www.myspace.com/martinbrandlmayr
Margareth Kammerer: http://www.myspace.com/margarethkammerer
Kai Fagaschinski: http://www.myspace.com/fagaschinski

24 maio, 2010

A Leica de Kubrik

Antes do cinema, Stanley Kubrik foi um génio precoce da fotografia e até chegou a passar uns tempos em Nazaré. Não se conhecem registos fotográficos dessa passagem, mas quem estiver por Milão ou fizer questão de lá dar um salto não pode perder a exposição de cerca de 300 fotografias pré-Fear and Desire.
Mais info aqui: http://www.mostrakubrick.it/

Uma espécie de díptico

Joanna Newsom

No site da NPR encontra-se disponível para ouvir e descarregar um concerto da Joanna Newsom na Sixth and I Synagogue em Washington.

Ouvir

23 maio, 2010

Gang Gang Dance


(aqui vai mini-comentário com 2 meses de atraso)

Após um concerto quase desastroso dos Gang Gang Dance há uns cinco anos em Famalicão ficou a dúvida no ar sobre se as suas músicas resultariam num formato ao vivo. Para responder a esta questão desloquei-me a Morgantown, West Virgina (!), para os ver numa das quatro datas de uma mini-tour pela costa este dos EUA.

Bastaram as duas primeiras músicas para tirar as dúvidas: o poder do som era esmagador e banda em palco movia-se freneticamente para criar uma barreira de percussão, electrónica e excentricidade. Comece por dizer-se que dos álbuns editados houve apenas “House Jam” do “Saint Dymphna” tendo o restante tempo sido preenchido por ou novas composições ou improvisos alargados. Em várias músicas parecia ficar a sensação que os GGD estavam a testar novas composições já que apesar de haver espaço para deambulações e hesitações tudo o resto parecia estar bem programado. Tal era a almagama de som que é difícil relembrar e avaliar tudo o que se ouviu: mas ficou a sensação de que se estas eram de facto novas músicas seguirão a mesma linha dos dois álbuns anteriores, sem grandes surpresas. Notou-se contudo uma presença crescente e dominante da secção rítmica deixando, claro, sempre algum espaço para as restantes texturas de electrónica, voz e guitarra. Com o passar do concerto os segmentos maioritariamente percussivos (com a vocalista Liz Bougatsos a ajudar à confusão) pareciam estender-se infinitamente aproximando-se progressivamente de certos segmentos mais descaradamente dançáveis como aqueles que se encontram por exemplo em “Retina Reddim”


A noite terminou com um encore em jeito de rave noise-retro-futurista gerando a invasão de palco por alguns membros do público que não se inibiram em pegar no que havia à mão para tocar percussão juntamente com a banda. Foram quase duas horas em palco e já passava das 2:30 da matina (hora impensável para o standard americano). Estava convencido – e esgotado.

(Tinha também outro texto terminado sobre o concerto de Joanna Newsom, em Washington DC, de há dois meses atrás, mas decidi não o postar. Fica contudo este link que agora descobri para um stream gratuito da gravação desse mesmo concerto: http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=124711752)

Ben Frost

Ben Frost é um músico/compositor/produtor Australiano que se mudou para a Islândia e é uma peça fundamental no círculo criativo da Bedroom comunity (Nico Muhly, Daníel Bjarnason, Sam Amidon, Valgeir Sigurðsson, Ben Frost). Estiveram recentemente em Portugal no Maria Matos para um belíssimo concerto sob o nome The Whale Watching Tour em Novembro de 2009.



Com um início notável em 2003 com aquele que ainda é um marco de ambiente/experimental - School of Emotional Engineering (SOEE), Ben Frost tem progressivamente conquistado novos terrenos em cada trabalho que edita e serve-nos um cocktail de minimalismo, punk, black metal e noise como ninguém.



Se em Steel Wound ainda se nota o mesmo caminho sónico de SOEE, com numa tónica mais solitária onde a guitarra é o centro de toda a composição, foi o trabalho seguinte "Theory of Machines" que o projectou no mapa do panorama ambiental/experimental.



O mais recente "By the Throat" é uma obra igualmente notável (entre os melhores do ano passado) e que agradará imediatamente aos fãs de de metal, especialmente o primeiro tema Killshot.



Na minha opinião a Bedroom Comunity foi o berço dos projectos mais interessantes dos últimos anos, e que irá continuar várias ramificações a nível de Produção (Valgeir Sigurðsson e Ben Frost são uma parceria notável no estúdio GreenHouse e Nico Muhly é um autêntico tornado que trabalha com tudo e todos sempre com resultados acima da média.

É sempre difícil escrever sobre quem gostamos mais, mas Ben Frost está no mesmo nível de Jakob e dos primeiros trabalhos de Sigur Rós: Emotional Bliss sem concorrentes.

Com um concerto esgotado em Londres no final deste ano, aguarda-se que Frost pise o solo Português muito em breve sob nome próprio.

22 maio, 2010

Machinefabriek - Dauw





Do melhor.

21 maio, 2010

Heather Woods Broderick em Vinil

Está disponível em vinil via Boomkat/Digitalis o álbum de estreia da irmã de Peter Broderick (não se deve livrar desta descrição até fim da carreira).



From The Ground é intimista, nada pretencioso, e vai certamente agradar aos fãs de Mazzy Star e Nina Nastasia por exemplo, mas que tem outras pistas verdadeiramente relevantes (e que curiosamente contam com o irmão nos arranjos) das quais se destacam "For Misty", e "Left" um ensopado de Satie/Grouper.



Um novo talento a observar de perto.

Steve Albini, o mestre

Ainda não era nascido quando o Steve Albini já partia tudo com os Big Black ou os Rapeman, mas lembro-me das primeiras vezes que ouvi falar dele sem conhecer qualquer das suas bandas. Era puto, ouvia as típicas bandas da adolescência como Bush ou Nirvana e já na altura se falava dos seus "skills" na gravação dos discos. Daí até ter ouvido Shellac foi um pequeno passo. Ainda me lembro do impacto, não tinha ouvido nem ouvi nada parecido até hoje. Aquele rock minimalista e angular, um som perfeito, uma voz que tanto narra como faz birra... Um som único.

Comecei pelo 1000 Hurts, descobri o resto da discografia (são das poucas bandas que me dei ao trabalho de coleccionar os sete polegadas) e depois parti para a banda de Songs About Fucking e Two Nuns and a Mule Pack. As três bandas do Albini são qualquer coisa, mas também é daqueles produtores/ engenheiros musicais em que assim que fazemos play a determinado albúm sabemos imediatamente que foi gravado por ele, sobretudo o som da bateria (ninguém grava baterias assim).

E que bandas são essas? São bandas que todos vocês que estão a ler este tópico têm em casa. Podem não saber quem são os Shellac pois eles sempre tiveram e têm uma filosofia à lá Fugazi, fazem questão de não entrar no circo e fazer o que lhes apetece quando lhes apetece, mas em vossa casa vocês têm discos dos Mono (em cima na foto no estúdio de Albini), dos Neurosis, da PJ Harvey, dos próprios Fugazi, dos High on Fire, dos Pixies, o In Utero da já mencionada banda de KC, dos Mogwai, dos Stooges, dos Oxbow, Jesus Lizard, Slint, Low, Nina Nastasia, Joanna Newsom, Manic Street Preachers, Robert Plant... Têm ou não têm? É preciso continuar?

Um concerto de Shellac não é apenas mais um concerto. Um concerto de Shellac é um evento único e irrepetível, é uma lição de história e é obrigatório. Mais, é muito provável que esta seja a única vez que passem por Portugal. Sendo assim, na próxima terça-feira encontramo-nos em Serralves. Ah, e levem os vossos álbuns pois ao contrário do que se pensa ele o resto da banda são gajos 5 estrelas e no fim do concerto vão conviver com os fãs, assinar discos, vender merch... Imperdível!!! Até lá!!

To the one true God above
here is my prayer

Próximo AMPLIFICASOM: Shellac + Burma

O Eugene, um dos gajos mais fixes de sempre, foi hoje embora depois de três dias bem passados no Porto. Ontem depois do furação Brötzmann houve copos de despedida e ficou a promessa que os Oxbow virão cá em breve.

Terça-feira há SHELLAC e MISSION OF BURMA, não é preciso dizer mais nada.
O site de serralves informa-nos que estão disponíveis 0 bilhetes para o concerto de terça-feira, mas garantimo-vos que há cerca de duas dezenas que poderão ser adquiridos nas bilheteiras do museu. Aproveitem este fim-de-semana veraneio para dar um passeio pelos jardins, comprar o bilhete e terminar com um mergulho ou um gelado na praia. Vemo-nos terça no último concerto AMPLIFICASOM. Vamos tirar o verão para descansar, depois logo se vê.

No entanto, não faltarão concertos. Recomendamos que espreitem os nossos amigos da Lovers (que hoje com High Places começam uma fase diabólica que só acaba no Milhões de Festa em Julho e pelo meio há Health, Suma, etc); o Mouco que partilha a noite connosco na próxima terça; o pessoal do SWR que para além dos concertos em Braga dará um salto ao Porto para trazer Between the Buried and Me e Converge a Lisboa; os GIAA também tocarão em Guimarães e Lisboa via Oh Damn! Productions; falar de Lisboa é também falar da excelente programação da ZDB onde destaco Z'EV c/ David Maranha... E depois há o Vagos, há Coura, há Serralves em Festa. Enfim, vai ser um belo verão.

Até terça!!!

Ps: foda-se... SHELLAC... começo a cair em mim que para a semana os vamos ter cá...

Richard Skelton

Richard Skelton (aka A Broken Consort) é um caso único por conseguir traçar no cenário ambiental e experimental o seu próprio caminho. Música assombrada por uma tristeza e beleza infinitas, os drones do Skelton são baseados em cordas e piano em ciclos minimalistas a roçar o aleatório.




Com o nevoeiro campestre de um cenário de UK a música certamente deverá fazer mais sentido, mas o "Marking Time" e o mais recente "Landings" são duas referências obrigatórias em qualquer colecção que se preze.



Toda a sua obra está resumida aqui.

20 maio, 2010

Trent Reznor renovado

Aproxima-se o lançamento do EP homónimo do novo projecto de Trent Reznor, How to Destroy Angels, que conta com a parceria da sua mulher muito sensual, desculpem o desabafo, Mariqueen Maanding. Tenho a dizer que o teledisco da música The Space in Between, realizado por Rupert Sanders, desperta o interesse de qualquer cinéfilo porque tem, manifestamente, uma linguagem cinematográfica e é tão apelativo...

howtodestroyangels.com

A verdadeira selecção joga hoje!!!

Peter Brötzmann Chicago Tentet
Casa da Música, 22h

Peter Brötzmann saxofone, clarinete
Johannes Bauer trombone
Jeb Bishop trombone
Mats Gustafsson saxofones
Per-Âke Holmlander tuba
Kent Kessler contrabaixo
Fred Lonberg-Holm violoncelo
Joe McPhee trompete
Paal Nilssen-Love bateria
Ken Vandermark saxofone, clarinete
Michael Zerang bateria

"Dentre os ensembles criados pelo músico alemão Peter Brötzmann, Chicago Tentet é o mais reconhecido. Formado em 1997, reúne improvisadores de grande relevo na cena de Chicago com alguns dos seus congéneres europeus e tem tocado desde então em digressão pelos EUA e Europa. A contribuição dos seus membros já não passa pelas composições originais, dado que nos últimos cinco anos o grupo passou a privilegiar a improvisação total. A musicalidade de cada elemento é explorada ao limite e de forma completamente espontânea."

Eugene Todolo: a bela noite de ontem





Duas fotos da Carmo e duas do Silva de mais uma noite inesquecível...

19 maio, 2010

ISIS: a notícia mais triste de sempre

Falta uma tour americana, falta um par de edições, mas os Isis já se estão a despedir de todos nós. A declaração longa, dolorosa mas também honesta pode ser lida no myspace da banda.
Pelo que significaram/ significam para mim, pelo impacto que tiveram, pela música, pelos quatro concertos que vi, pelo fim-de-semana com eles em Portugal e porque hoje é dia de festa amplificasom, vou adiar o desabafo para mais tarde. Para já, roda o intemporal e belo Panopticon.

18 maio, 2010

O Eugene tem um recado para vocês


Entretanto a bateria acabou e já não foi possível gravar a parte em que ele diz para aparecerem amanhã na Fábrica de Som ou________________________.

Amanhã teremos jam?

Não chegam os dedos das duas mãos para contar a quantidade de vezes que Eugene foi convidado a dar voz a temas de outros. Muito recentemente esteve em Glasgow a gravar com os Black Sun, mas antes disso participou em álbuns de bandas como os Capricorns, Xiu Xiu, DJ Rupture, Todd, Strings of Consciousness, etc etc. Isto para não falar que a maior parte surge após uma jamming em palco sem qualquer preparação. Nós vimo-lo a javardar com Isis e foi um dos momentos dessa noite, a própria colaboração com os Black Sun nasce dessa forma… É essa versatilidade, abertura e ecletismo que me fazem acreditar que amanhã teremos um momento único. A confirmar… Deixo-vos aqui 8 temas de algumas bandas já citadas cuja voz pertence a Eugénio: link

Sempre sonhei que os High on Fire...

...se estreariam em PT via Amplificasom com um concerto daqueles suados ali no Porto-Rio. Mas não, infelizmente vão-se estrear esta noite como banda de abertura de mais um concerto igual dos Metallica, para milhares de pessoas, e se esta tour correr bem é o início duma nova etapa, etapa essa que já não passará por eventos da dimensão que todos nós gostamos e preferimos. Neste momento são agenciados pela mesma companhia dos Metallica, Mastodon, etc por isso tal como a banda de Leviathan, dificilmente os veremos num concerto a sério em nome próprio. Alguém vai logo? Depois contem como foi.

Apichatpong Weerasethakul


Dados os acontecimentos recentes na Tailândia, um post recente a ligar cinema a lugares e conflitos distantes, e após visionar uma das suas mais recentes curtas-metragens, lembrei-me de escrever um pouco sobre este realizador tailandês cuja curta obra é certamente uma das mais interessantes do cinema contemporâneo. Com apenas 4 filmes de ficção de longa duração em nome próprio (o 5º estreia agora em Cannes), filmados à margem da indústria cinematográfica tailandesa e com vários problemas com as autoridades da censura, Weerasethakul, conseguiu criar um espaço completamente único no panorama do cinema actual.


Tematicamente é inventivo, focando temas de sexualidade, crenças e mitos, memória, tradição e imaginário onírico, entre outros ingredientes à mistura. A sensação que fica ao ver os filmes dele é que existe algo por detrás do (ou imanente ao) filme, algo que só é percepcionado há medida que o filme se vai desenrolando (e perdura muito tempo após, mas só como uma sensação) e nem sempre, penso que propositadamente, inteligível. As narrativas deixam de ser importantes (muitas das linhas da narrativa e relações entre as personagens iniciam-se mas não chegam a desenrolar-se ou sequer a ter conclusão, pelo menos fisicamente perante os nossos olhos) e abre-se o espaço (físico e temporal) para absorver tudo o resto, havendo mesmo uma sobreposição vertical, tal camadas, de ideias e sentimentos. Como diria, Henri Langlois, vai para lá da quarta dimensão. De destacar também a forma como filma os espaços, os jogos interior-exterior e a relação das personagens com estes, incluindo uma ligação especial à natureza. Utiliza frequentemente não-actores e joga com alguns ambientes e condições (incluindo da construção fílmica) tal como são, criando por vezes um misto de documentário e ficção (veja-se a primeira longa metragem “Misterious Object at Noon” (2000).


Bem, não vale a pena estar a escrever muitas palavras pois é difícil de descrever de forma fidedigna os filmes de Weerasethakul – ou seja, é vê-los! Em DVD, em Portugal, existe apenas “Febre Tropical” (prémio do júri em Cannes 2004). Em Inglaterra encontram-se os DVDs de “Blissfully Yours (prémio Un Certain Regard, Cannes 2002) e “Syndromes and a Century” (2006). De destacar também, de entre as dezenas de curtas dele, a contribuição para “O Estado do Mundo” (2007), um dos melhores da série de mini-filmes encomendados pela Fundação Calouste Gulbenkian da qual faziam também parte filmes de Pedro Costa, Chantal Akerman entre outros – já passou na tv2 e no Curtas de Vila de Conde.


Fica o trailer de “Syndromes and a Century”:





E o trailer de “Tropical Malady”:



Fish & Sheep

Deixaram marcas e muitas saudades, os Fish & Sheep foram um dos projectos mais fixes do nosso underground. Um projecto marginal que servia um ruído coerente mas livre e até conseguiu furar e ter os seus momentos lá fora. Não tivesse o guitarrista Jorge Martins (também ex-Frango) emigrado para os states e não sei onde poderiam ter chegado. Ou então é apenas aquela visão romântica e saudosista da cena e hoje continuariam na mesma a lançar grandes discos e dar altos concertos sem o reconhecimento merecido. Enfim, continuamos a ter o baterista Afonso Simões por aí com os Gala Drop, David Maranha, etc, mas se algum dia houver um concerto-reunião ou algo parecido eu quero estar presente. Até lá vão rodando os discos. Hoje o Double Banana.

17 maio, 2010

Quarta há ALUK e EUGENE!!!

Amplificasom apresenta:
ALUK TODOLO [fr/ utech] + EUGENE ROBINSON [us/ hydra head]
19 de MAIO, QUARTA
FÁBRICA de SOM
22H
7€
Já tivemos 800 pessoas num concerto como já tivemos 16, a dedicação é sempre igual, o prazer é sempre o mesmo. Não temos dúvidas que quando preparamos uma noite destas não estamos à espera de centenas de pessoas, não nos iludimos, mas a verdade é que também não nos desiludimos. Temos um enorme orgulho na nossa programação, na nossa flexibilidade e no nosso ecletismo.
Quarta teremos mais uma noite Amplificasom, a penúltima durante uns tempos, e este e-mail é para vos relembrar que vai valer a pena.
A noite começará com uma leitura do inesquecível EUGENE ROBINSON. Eugene é músico, escritor, jornalista, lutador, etc e vem a Portugal pela primeira vez para uma leitura do seu novo livro A Long Slow Screw. Nós que já o vimos com os seus Oxbow prometemos uma coisa: este senhor ao vivo, seja em que tipo de performance for, deixa marcas e quarta não será diferente. É o rei do avant-filha-da-putice! O resto é segredo... Os parisienses ALUK TODOLO estreiam-se no Porto e vêm mostrar porquê que são uma das bandas mais evoluídas do metal. Ritmos densos e obsessivos e guitarras em desarmonia num cruzamento estranho e frio entre o black metal, o krautrock, noise, electrónica espacial e ainda têm tempo para brincar no escuro com um experimentalismo ameaçador e hipnótico. É ouvir para crer, mas tal como diz um amigo: "acima deles só os Sunn O))) e os Orthodox".

Vemo-nos então quarta-feira no 27 da Rodrigues de Freitas (metro: Heroísmo).
Se houver tempo ainda vos escrevemos antes dos SHELLAC. De qualquer maneira, ainda há 9 bilhetes em serralves.pt
Para mais info, os sites do costume: amplificasom.com e myspace.com/ amplificasom

Abreijos,
AMPLIFICASOM

Rapidinhas

Blood of Heroes - Blood of Heroes [Ohm Resistance 2010]
Cocktail artsy entre a guitarra de Justin Broadrick, o cérebro de Bill Laswell, a electrónica de End.user e Submerged, e o vocalista Dr. Israel, tudo pessoal de mente aberta sem receio de continuar a explorar novos horizontes. Aqui há metal, industrial, ambient, hip-hop, dub e até pitadas de jungle. Tem sido uma boa companhia.
David Maranha - Antarctica [Roaratorio 2010]
É um dos meus álbuns do ano, para já é tudo que tenho a dizer. Mais em breve.

Deftones - Diamond Eyes [Warner 2010]
Há bandas que têm o seu tempo, não no sentido generalizado mas pessoal. O White Pony disse-me algo naquela altura, este Diamond Eyes hoje não me diz nada. No entanto, não é por isso que não lhe consigo reconhecer qualidade e dizer que os Deftones estão em grande forma. Mais aqui.
Harvey Milk - A Small Turn of Human Kindness [Hydra Head 2010]
Fiquei curioso com o título do disco, é também o nome do primeiro tema do primeiro álbum datado de ’96. Já lá vão uns anitos, poderá ser uma forma de relembrar que após todo este tempo os Harvey Milk continuam a ser uma banda singular e distinta dentro do seu espectro. Ou não, a “pequena mudança” pode até estar relacionada com o álbum anterior, álbum que não convenceu grande parte dos fãs e passou despercebido. ASTOHK é um álbum inconstante (elogio), de altos e baixos, não aconselhado a corações partidos. É um álbum sem clichés, um álbum duma banda que será sempre desvalorizada para bem da mesma….e de nós próprios.
Rachel Grimes - Book of Leaves [Karate Body 2009]
Quem não se lembra dos Rachel’s, essa belíssima e esquecida banda que faria corar de vergonha 90% do post-rock que por aí anda? Os próprios Sigur Rós não seriam o que são… Rachel Grimes, um dos elementos do trio - e não a razão pelo nome da banda - estreou-se no ano passado com Book of Leaves, disco solitariamente ENCANTADOR para fãs da própria banda como Michael Nyman, Erik Satie ou Charlemagne Palestine.